História Taking Over Me - Eu sou apaixonada por você, Percy.

Encarei o seu cabelo bagunçado que caía sobre a sua face, enquanto observava os movimentos que a sua barriga fazia conforme ele respirava. Não conseguia afastar o sorriso que se formava em meu rosto, será que ele está tendo um sonho bom?

Percy continuava apagado desde ontem à noite e isso já estava me preocupando. Com sorte, quando meus pais chegaram já estava quase amanhecendo e eles foram direto para o quarto, o que me livra de ter que inventar uma boa desculpa para explicar o que o meu “namorado” estava fazendo sem camisa na minha cama.

Resolvi parar de encará-lo e desci as escadas. Ao passar pelo o quarto dos meus pais, agradeci ao vê-los dormirem e espero que não acordem tão cedo. O sanduíche que Nico havia feito ainda estava ao lado da cama e eu espero que ainda esteja bom, nós não esperávamos que ele fosse demorar tanto para acordar e eu desejo que ele tenha conseguido inventar uma boa desculpa para Sally.

Assim que passei pela cozinha e cheguei na área de serviço, vi a camisa de Percy. Eu havia lavado mais cedo, e considerando que nunca fiz isso, eu espero que tenha ficado bom. Eu não queria me arriscar a ligar a máquina para apenas uma peça de roupa!

Apesar do cheiro bom, eu ainda conseguia sentir o aroma do mar que apenas Percy conseguia exalar. Felizmente, não havia mais resíduos de vômito. Eu merecia ganhar um prêmio de melhor amiga do universo por ter colocado as minhas mãos em sua camisa, quando ela estava completamente suja e nojenta.

Voltei para o quarto a tempo de vê-lo se mexer. Percy mudou de posição e franziu o cenho poucos segundos depois. Piscou umas três vezes antes de finalmente abrir os olhos e percorrê-los por todo o cômodo, como se tentasse se acostumar com o ambiente ou entender onde estava.

— Você está bem? -Perguntei assim que me sentei ao seu lado, ainda com a sua camisa em minhas mãos. Percy abriu a boca, mas desistiu de falar. Ao invés disso, levou as mãos até a cabeça, me fazendo soltar uma risada fraca. — Tome isto! – Peguei a água e a aspirina que estavam no móvel ao meu lado e entreguei. Ele estreitou os olhos, mas engoliu o remédio sem contra argumentar.

— O que... – Fechou os olhos novamente e se calou, completamente confuso. Coloquei o dedo indicador em seus lábios, indicando que ele não precisava falar.

— Você andou bebendo bastante. – Expliquei. — Nico e eu te encontramos desacordado em seu carro, totalmente embriagado. Você poderia ter causado um acidente, Percy. O que aconteceu. – Ele apoiou os braços na cama e impulsionou-os antes de sentar.

— Eu não faço a menor ideia. – Falou baixo, ainda com os olhos entreabertos. Ele desviou o olhar para as minhas mãos e só então pareceu perceber que estava sem camisa. — Por que você está segurando isso? – Apontou para a peça de roupa presente em minhas mãos.

— Porque, meu caro amigo... – Revirei os olhos. — Ela estava completamente suja de vômito e eu tive que cuidar disso. – Ele corou.

— Sinto muito. – Sorriu. — Eu realmente não lembro de nada.

— Da próxima vez que for beber desse jeito, é melhor tomar cuidado! – O encarei. — Você poderia ter se metido em problemas...

— Obrigado por ter cuidado de mim. – Me encarou também.

— Não agradeça só a mim, Nico também ajudou bastante. E torça para que ele tenha inventado uma boa desculpa para os seus pais...

— Sim. – Concordou.

— Percy, por que estava tão chateado a ponto de começar a fazer bobagens? – Perguntei mesmo sabendo a resposta. Ele olhou para o chão.

— Porque...

— Por minha causa! – O interrompi.

— Eu estava confuso, ok? Eu não sabia se você tinha escutado e aí você começou a me ignorar...

— Eu escutei! – Peguei o seu queixo com as mãos e o forcei a olhar para mim.

— Era realmente verdade, Annabeth! Eu acho que sou apaixonado por você desde sempre, mas foi apenas por volta dos dez anos que comecei a compreender todo esse sentimento. Eu sei que você gosta do Luke e provavelmente não sente o mesmo... – Encostei a cabeça no seu ombro, o surpreendendo.

— Sabe, Percy. Quando eu olhei para o Luke pela primeira vez, eu pensei ter visto o menino mais bonito do universo. Era como se o meu corpo inteiro o desejasse, e eu sentia ciúmes e tudo mais, porém quando ele não estava perto, eu mal pensava nele. Acho que confundi as coisas, sabe? Eu nunca tinha sentido isso, e achei que uma simples atração fosse algo maior. – Ele não desviou os olhos nem por um segundo, mas parecia apreensivo.  — Em uma conversa com a Thalia, ela me disse o que sentia por ele. E deuses, o meu sentimento não chegava nem perto. – Sorri. — E quanto mais eu a ouvia falar sobre ele, ou quando a Piper falava sobre o Jason, eu percebia que eu sabia sim o que era gostar de alguém. Eu sempre te tratei como o meu irmão, então acho que acabei mascarando todos os meus sentimentos e pensando ser algo de amigos. – Engoli em seco, eu nunca havia me declarado para alguém antes. — Mas ontem, enquanto eu dirigia e não te achava, coisas horríveis passaram pela a minha cabeça e o medo de te perder me fez perceber que...

Desviei o olhar. Mesmo sabendo que o sentimento era recíproco, era difícil falar tais palavras. Por que nos filmes pareciam ser tão fácil? Quando penso sozinha, tudo parece mais confortável. Mas ao olhá-lo, o medo de errar alguma frase e não conseguir consertá-la é grande. Me pergunto quem foi que definiu que isso era algo tão especial e por que nos gera tanta expectativa?

Voltei a encará-lo e ignorei o tremor nas mãos e o frio na espinha. Ele me fitou com aqueles olhos verdes, como se me decifrasse. Mas então, ele sorriu. Não foi um sorriso de ponta a outra, mas fora tão sincero que seria impossível não sorrir junto. Ele entendeu o que eu queria dizer. Eu pensei em me aproximar, mas ele tomou a iniciativa no momento que envolveu os seus braços na minha cintura e me puxou para si.

O seu beijo foi a melhor resposta e foi o que me encheu de confiança.

— Eu sou apaixonada por você, Percy. Ele me olhou com a boa entreaberta, como se procurasse o que falar.

— Eu realmente não estava preparado para isso. – Riu. — Eu só ensaiei até a parte que você diria que não sente o mesmo.

— Ensaiou? -Arqueei as sobrancelhas.

— É uma longa história. – Deu de ombros. Ele estava cheio de olheiras e parecia cansado, pela sua expressão dava para ver que a dor de cabeça ainda não havia passado, mas apesar de tudo, ele parecia estar feliz.

— Por mais que eu adorasse que você ficasse aqui... – Mudei de assunto.

— Eu tenho que ir para casa, eu sei. – Fez uma cara triste e pegou a sua camisa.

— Eu te levo. Seu carro está com o Nico. – Ele concordou antes de levantar.

— Você faltou esses últimos dias e eu não sei se te falaram, mas iremos visitar algumas faculdades pela escola. Na segunda os representantes de algumas falarão sobre elas e no dia seguinte iremos para a que escolhermos.

— Qualquer faculdade? – Perguntei esperançosa.

— Precisa ficar no máximo a quatro horas de distância para a escola nos levar até lá.

Fiquei imensamente animada com aquilo. Só de pensar que faltava apenas dois meses para terminarmos a escola, eu sentia um frio na barriga. Sempre pesquisei sobre as melhores faculdades de arquitetura do mundo e sempre fiquei em dúvida entre Massachusetts Institute of Technology e Harvard. A MIT liderava o ranking das dez, enquanto Harvard ocupava a sexta posição, e ambas seriam boas opções, pois não ficavam tão longe dos meus pais, ou pelo menos eu conseguiria ir sem precisar de um avião.

Resolvi deixar para pensar nisso apenas na escola, eu ainda precisava deixar Percy em casa. Já namorávamos de acordo com aquele acordo estranho, mas agora eu não sabia como as coisas seriam e honestamente, eu não queria apressar nada.

***

Eu nunca tinha visto a quadra tão lotada. Os locais reservados para esportes estavam ocupadas com diversas mesas e várias pessoas com roupas sociais distribuíam folhetos. A maioria dos alunos estavam felizes porque mal tivemos aula e não por termos que decidir o nosso futuro. Na verdade, era comum grande parte das pessoas darem uma pausa a mente após o ensino médio, antes de entrarem em uma universidade, mas eu não pretendia fazer isso.

— Acho que vou fazer oceanografia. – Percy disse atrás de mim.

— Sempre pensei que você fosse fazer biologia marinha! – Falei, estranhando sua decisão.

— Eu também, mas andei pesquisando sobre o curso e é realmente incrível. Porém as melhores faculdades são longe de Nova York, ficam na Califórnia ou na Pensilvânia. – Deu de ombros. — Mas de qualquer forma, eu vou para a que você for. – Sorrimos. — Quer dizer...você pretende ir para uma das melhores do mundo e eu realmente espero que a minha entrevista e a minha bolsa de natação consigam impressionar mais que as minhas notas.

— Seu pai é rico, Percy. Ele pagaria qualquer faculdade. Eu realmente preciso da bolsa!

— Talvez, Poseidon é bem imprevisível. E você tem as melhores notas do colégio e eu tenho certeza que irá impressionar na sua entrevista, é claro que vai conseguir.

— Deuses, eu não sei o que fazer da minha vida! – Leo chegou perto de nós.

— Annie, segure isso! – Thalia se jogou ao meu lado, atropelando Leo.

— O que é isso? – Perguntei assim que ela me entregou um chapéu cheio de papéis.

— E você, pegue isso. – Thalia falou antes de jogar vários papéis na mão de Percy.

— Thalia, o que você vai fazer? – Leo perguntou confuso. Ela apenas o ignorou e pegou um dos papéis que estavam dentro do chapéu que eu segurava.

— Ok, eu irei fazer Design. – Foi até Percy e pegou um papel que estava na sua mão. — Na The New School. – Nos encarou sorrindo. — Agora eu espero que eu consiga entrar.

— Design não combina muito com você! – Percy afirmou antes dela socar o seu braço, totalmente brava.

— Você vai deixar que um sorteio bobo defina o seu futuro? – Perguntei totalmente perplexa.

— Algumas aventuras são necessárias, Annie. – Me encarou com os seus olhos azuis. — E olhe, tem representantes dessa universidade aqui! – Apontou para uma das bancas que tinha o nome da faculdade que ela havia dito. Então, colocou os papéis que Percy segurava dentro do chapéu e o colocou na cabeça de Leo, depois correu na direção de três mulheres que estavam sentadas na banca da The New School.

— Isso foi... – Percy começou a falar.

— Incrível! – Leo completou. Ignorando os pequenos papéis amassados que estavam na sua cabeça e os que caíam no chão. — Ela é intensa. – Ele encarou uma garota com o cabelo da cor de mel que conversava com alguns profissionais e eu me perguntei se ele estava falando da Thalia ou da Calipso.

— Se eu fosse você, iria até lá. Vai que você se agrada com a mesma universidade? – Percy o olhou malicioso. Leo assentiu e foi na direção dela...sem tirar o chapéu.

Vi Piper e Jason conversarem enquanto seguravam alguns folhetos. Jason iria fazer administração, por insistência do seu pai e ela estava confusa. Mas eu achava que a sua habilidade de manipulação daria certo no curso de Direito.

— Oi, Nico. – Percy falou me despertando dos meus pensamentos. Eu nem tinha percebido a aproximação do nosso amigo.

— Que curso vai fazer? – Perguntei.

— Nenhum! – Deu de ombros. — Não me interesso por nenhuma faculdade.

— E o que vai fazer então? – Percy o fitou.

— Eu realmente não... – Perdeu a fala ao olhar para a mesa mais afastada, onde Will e Rachel ouviam atentamente as explicações de um grupo de homens. — Mas quem sabe eu não acho alguma que me interesse? – Olhou para baixo e saiu, me deixando sozinha com o Percy.

— Você já decidiu qual universidade? – Ele perguntou com as bochechas coradas. Desde que eu me declarei para ele, as coisas ficaram um pouco estranhas. Ainda estávamos sem jeito para tomarmos qualquer atitude.

Eu ouvi várias instruções sobre o curso de arquitetura e universidades. Durante todas as explicações e a cada folheto que eu recebia, estranhamente eu me apaixonei por Harvard. Sempre foi uma das minhas opções, mas imaginava que iria gostar mais da Massachusetts Institute of Technology, já que era a melhor.

Percy pareceu um pouco apreensivo quando eu disse a minha escolha. Eu sei que a universidade o assustou um pouco, afinal representa grande prestígio. Você realmente precisa se destacar para conseguir uma bolsa e eu também estava com medo. Mas de qualquer forma, decidi não pensar nisso agora.

— Parece que ficaremos sozinhos amanhã! – Falei ao constatar que de todos os meus amigos, apenas eu iria querer visitar Harvard. Acho que todos os outros tinham a mesma insegurança que Percy.

— E isso é ótimo! – Ele sorriu e se aproximou, sem jeito. Acho que como sempre fomos amigos, era difícil dar um passo maior, pois tudo era um pouco novo. Ele me encarou como se tivesse pedindo algum tipo de permissão.

— Se a sua intenção for me beijar... – Fingi estar brava e ele me olhou assustado. — Saiba que você está demorando muito para fazer isso! – Sorri.

Ele sorriu também e eu devo admitir que fiz a melhor escolha da minha vida. Comecei a ficar ansiosa, essa visita de amanhã começou a me parecer uma excelente ideia.