Candinho estava deprimido. Já fazia uma semana que tinha acabado de perder Filó. A jovem teve um fim trágico: atropelada por um bonde. Pancrácio já não sabia mais o que dizer para consolá-lo. Nem mesmo seu filho, Candinhozinho, que já tinha três anos de idade, o fazia sorrir.
Foi caminhar para espairecer e sentou-se na grama da fazenda D. Pedro II, que tinha sido o lugar onde ele e Filó viveram lindos momentos juntos. Deitou-se e ficou olhando o sol se pôr quando Mafalda chegou esbaforida.
- Candinho! Ô Candinho! Corre aqui que eu num tô achano o Policarrpo em lugar ninhum!
Candinho se levantou. Estava pálido.
- Cuméquié, Mafarrrda?
- O Policarrrpo. Sumiu! Eu fui dar de cumê a ele e rodei os quatro canto dessa fazenda, mas nem sinarrr dele!
Candinho, Mafalda e todos da fazenda saíram procurando Policarpo, gritando o nome dele, mas nada dele aparecer. Cunegundes foi a única que ficou, usou como desculpa que tinha que ficar cuidando do Quincão e do Candinhozinho, mas na verdade ela estava morrendo de preguiça.
À noite, Anastácia, Pancrácio, Pirulito e Maria foram à fazenda para visitar Candinho e souberam do acontecido.
- Eu penso que seria melhor darmos queixa à polícia.
- Cuncorrrdo, mãe. Amanhã mesmo nóis vai lá na cidade falar co delegado.
- Mas não tem nenhum lugar onde ele possa ter ido?
- Não, Maria, o Policarrpo só fica por aqui mesmo ca Rita Rrreyuórti, comendo grama e falando cumigo...
Pirulito chegou à sala correndo.
- Filho, você saiu e nem percebemos? Onde foi?
- Candinho, Candinho! Olha o que eu achei!
Pirulito entregou um papel a Candinho, que caiu sentado na poltrona.
- O que diz aí, Candinho?
- Maria, penso que há de ser algo muito grave - falou Pancrácio.
- Deixa eu ler!
Pirulito tomou o papel da mão de Candinho e leu em voz alta.
"Seu burro foi sequestrado. Entregue-me um milhão de contos de réis, senão nunca mais o verá"
- Oh, céus! - Anastácia levou a mão à cabeça e depois abraçou o filho. - Não se preocupe, meu filho. Farei o que for para trazer Policarpo de volta.
No dia seguinte, Candinho procurou a delegacia e as investigações começaram. Maria resolveu investigar por fora, e já sabia exatamente quem procurar.
- Cara de Cão!
- Sim, senhorita?
- Policarpo foi sequestrado. Sabe de algo?
- O que eu haveria de saber? Desde que fui preso nunca mais tive notícias de Ernesto, se é o que queres saber.
- Ernesto está morto.
- Mesmo? - Cara de Cão fez pouco caso - Uma pena. Nada sei sobre Policarpo. Se era só isso, deixe-me voltar à minha cela.
Voltando à mansão, Maria se encontrou com Clarice, que estava alarmada.
- Maria, Maria! Não sabe da última!
- O que há, Clarice?
- Sandra fugiu da cadeia!
Um clique se fez no cérebro de Maria. Óbvio que Sandra sequestrou Policarpo.
Voltando à mansão, avistou Celso, que andava de um lado para outro.
- Creio que já sabe da última de sua irmã.
- Maria... Preciso falar-lhe! Encontrei-me com Sandra.
Maria fez o esposo se sentar no sofá, e Celso, depois de beber um copo d'água com açúcar, contou:
- Sandra estava diferente. Magra, destroçada, nem parecia mais a mesma de antes. Parecia louca, creio que enlouqueceu na prisão. Falava o tempo todo em recuperar o que perdera, em vingar-se de todo mundo, tentei convencê-la a não fazer isto, até arranjei um casebre para que ela ficasse por uns tempos, mas quando fui vê-la novamente, não estava mais lá.
- Celso! Tinha que ter me contado!
- Desculpe, Maria, mas eu queria contar depois que Sandra se recuperasse. Eu até cheguei a pensar em interná-la num sanatório, mas achei que estivesse sendo cruel.
- Sinto pelo que está passando, meu esposo, mas creio que Sandra não tenha mais redenção. Suspeito que ela tenha sequestrado Policarpo.
- Policarpo? O burro de Candinho?
- Ele mesmo.
Candinho foi avisado da fuga de Sandra e ele, Anastácia, Pancrácio, Pirulito e Mafalda foram à cidade.
- Temos que informar isto à polícia!
- Já tratei deste assunto, Anastácia. Agora temos que nos acalmar. Ela não pode ter ido muito longe.
- Professor, digo, pai, não acha melhor irmos ao esconderijo de Sandra pra ver se ela voltou lá?
- Não acho que seja uma boa ideia, filho, afinal Celso mesmo disse que Sandra não estava mais ali. Certamente sabe que ele teria contado algo a Maria e que seria o primeiro lugar que iríamos procurar.
- Apois eu vô assim mermo.
- Candinho!!! - Anastácia e os outros tentaram segurá-lo, mas Candinho saiu correndo da mansão, procurando o lugar onde Sandra estaria, mesmo sem ter a menor ideia de onde ela pudesse estar.
- Tão oianu o quê? Vamo atráis dele! - disse Mafalda.
Candinho andou por toda a cidade. Foi ao bar onde Ernesto costumava beber e encontrou Romeu e Sarita comemorando mais um golpe.
- Candinho! Você por aqui!
- Agora eu num tô de prosa não, seu Romeu, que eu tô atráis do meu miór amigo.
- O que houve com o Policarpo?
- Foi seqers... se... levaro ele, e eu tenho certeza que foi a diaba lôra!
- Ah, sinto muito... - Sarita tentou abraçar Candinho, mas teve o braço segurado por Romeu - O que podemos fazer para ajudar?
- Se ocêis tivé calquer nuticia de Sandra, cêis me avisa.
- Sandra é uma moça loira, alta e muito bonita? - foi a vez de Sarita olhar feio para Romeu.
- Ah, sim, é ela merma. Cêis viro ela?
- Nós a vimos há pouco, estava num carro e foi naquela direção, à esquerda.
- Ocê tem certeza que era ela, seu Romeu?
- Absoluta, estava diferente, mais abatida, mas ainda era a mesma mulher arrogante de sempre. Tentei falar-lhe, mas nem me deu atenção. Estava num carro preto, grande, fechado, e andava em alta velocidade.
- Muito agradecido por ocêis terem me ajudado, calquer nuticia de Sandra cêis me avisa!
- Não foi nada, Candinho. Boa sorte!
Candinho seguiu a pista dada por Romeu, perguntou a todos sobre um carro preto e andou, andou até chegar num lugar onde só tinha mato. Estava saindo da cidade e resolveu entrar pela floresta, achando que Sandra se escondera num casebre como da vez em que ela sequestrou Filó e seu filho. Achou um buraco colorido. Era um buraco grande, engraçado. Candinho foi olhar e acabou sugado por ele. Ele foi girando, girando, até que caiu em cima de uma barraca de feira.
- Ai! Ô, me adiscurpa eu, é que...
Candinho ficou mudo. Era um lugar estranho, diferente. Colorido, cheio de pessoas usando roupas curtas. Principalmente uma mulher muito bonita que tinha cabelos castanhos, olhos azuis, seios fartos e uma cara de brava. E estava indo em sua direção.
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