História Tancinha e Candinho - A Love Story - O Primeiro Encontro

- O qui que cê pensa que tá fazeno em cima da minha barraca?

Tancinha estava furiosa. Não tinha vendido nada na feira e ainda por cima apareceu um sujeito do nada pra destruir tudo.

- Óia, eu já pidi discurrpa, é qui...

- Tanto lugar pra cair e cê me cai justo na minha barraca? Ah, mas eu num me aceito as discurpa nenhuma se cê num me ixplicá o que que tá conteseno!

Candinho já estava ficando irritado. Afinal, não era culpa dele se a barraca estava bem ali no lugar onde ele caiu.

- Óia, moça, eu já pidi discurpa! Eu num tenho curpa se a sinhora põe as barraca no meio da rua.

Tancinha ficou possessa. Estava a ponto de partir para cima daquele homem quando Francesca apareceu.

- Mas o que é que tá acontecendo aqui? Alguém pode me explicar o que é isso? E quem é o senhor? - perguntou ela, olhando para Candinho.

- Ô mãe, esse moço aqui, ó, ele me distruiu toda a nossa feira!

Francesca levou as mãos à cabeça e se deu conta de que sua barraca estava totalmente destruída. Não sobrou muito para contar a história, talvez uma laranjazinha amassada ou uma alface que ficou presa na orelha de Candinho...

- Me dá isso aqui! - Francesca puxou a alface da orelha de Candinho, que massageou o local - Ma cê vai me explicar tudo direitinho, moço, e vai consertar todo o estrago que o senhor deixou na minha feira! Vamos, Tancinha, vamos lá pra casa.

Francesca puxou Tancinha pelo braço, e ela cochichou no ouvido da mãe:

- Ma mãe, esse moço aí, ele vai também?

- Vai, né? Ele parece não ser daqui, deve ser do interior, e ele tem que pagar o estrago que fez! Não podemos deixar ele fugir!

Na casa dos Rigoni Di Marino, Candinho bebeu um copo d'água gelada.

- Uuuiii, mai essa água aqui tá é trincano os dente! As água qui ocêis bebe são tudo assim?

Carmela, que estava fingindo cólica pra escapar do serviço, não pôde deixar de prestar atenção no forasteiro.

- Ih, Tancinha, esse caipira aí fala igual a você!

Tancinha jogou uma almofada na irmã, que passou longe, e Candinho ralhou com a garota.

- Aaaaara, mai eu sô caipira mermo e tenho é orguio disso, viu moça? E se a sinhora acha que me ofendeu, num me ofendeu nadinha. Como eu ia dizeno, Policarrrpo foi sequers... seque... levado e eu tô atráis dele!

- Essa cidade tá perigosa mesmo! - Francesca fez o sinal da cruz - E você sabe quem foi?

- Foi a diaba lôra, a Sandra. Cêis cunheçe?

As três mulheres negaram com a cabeça.

- Mas como é esse Policarpo? - perguntou Francesca.

- Ai, dona, o Policarrrpo é o meió amigo d'eu. É bicho, mai é mais sabido e boa gente que uns e ôtro aqui - disse Candinho, olhando para Carmela.

- Que tipo de bicho é o Policarpo?

- Mãe, é só olhar pra cara dele! - interrompeu Carmela - Um caipira desse só pode ser amigo de um burro, de um porco...

- Aaara, mai ocê é bem nojentinha, né moça?

- Liga não, seu Candinho, minha filha é assim mesmo.

Carmela fez uma careta para a mãe e subiu para o quarto. Tancinha, tentando consertar as coisas com Candinho, interveio:

- Ói, mas eu intendo ocê, viu, ô...

- É Candinho, dona - disse ele, todo bobo e sorridente.

- Candinho! Intão, eu intendo ocê, mai porque eu me tenho o Tito, né? Tito é o cãozinho da vila, né, e todo mundo aqui cuida dele! Eu sempre tomo conta do Tito, e gosto de cunversá com ele também, nóis se intende mermo ele seno bicho, porque bicho é que nem gente...

- E você tem a mesma idade mental daquele pulguento!!! - Carmela berrou do quarto.

- Ah, mas essa menina tá indo longe demais! Carmela! Ô Carmela! Desculpa, eu vou ter que dar um esporro na minha filha, essa menina é impossível.

Francesca subiu as escadas, deixando Tancinha e Candinho a sós. Ela ficou nervosa, afinal tinha brigado feio com Apolo e não queria que pensassem  que ela estava traindo o namorado.

- Ehhh... E... Eu também fico louca da vida quando vejo alguém me maltratano os bicho, qualquer que seja. Eu vô me ajudar você, Candinho, a encontrar os Policarpo.

- Mermo? Brigado, moça, vai ser bom ter a ajuda de uma muié tão bunita e forrrmosa como ocê...

Antes que terminasse, Candinho levou um tabefe de Tancinha. E outra chuva de esporro.

- Mai o que que cê me tá pensano? Óia aqui, mai eu me sô muito digna, tá me ouvino? Sô moça de família e tenho um namorado, e eu me amo ele! E num vai pensano que pode se aproveitar de mim não que eu lhe ponho pra fora de casa!!!

Tancinha subiu correndo as escadas para o seu quarto. Candinho ficou admirando aquela mulher. Tancinha era mesmo um furacão.