História Tão Doce Quanto Pimenta - HIATUS - - Café Gostoso

Sair daquela sala com a notícia de que estávamos liberados era surreal, agora provavelmente conhecia a maior parte da equipe do BTS. Managers, staffs, CEO da Big Hit, fora os outros importantes, o que poderia ser melhor? 

Os meninos nos acompanharam pelos corredores da empresa, o sol invadia as janelas, me dando a falsa impressão de uma iluminação perfeita. Talvez realmente houvesse uma iluminação perfeita, mas também podia ser a pintura branca das paredes. Os garotos eram muito brincalhões andando e irritando uns aos outros, renderam cenas engraçadas, por mais que não entendesse o que falavam, Taehyung e Jungkook tentavam se comunicar com um inglês muito quebrado, mas já valia a tentativa.

Me levaram para uma das salas de dança, uma parede com um espelho enorme destacava aquele lugar. Só via aquelas salas pelos vídeos, ver tudo ao vivo me passava uma sensação incrível. E não teve ilusão de ótica, ela era realmente bem iluminada, quase me doía os olhos. 

Todos se sentaram formando um círculo no chão, mais uma vez Yoongi me puxou para seu lado. Depois de trocarem várias palavras e eu perdida olhando para eles provavelmente com uma cara muito estranha. Finalmente uma boa alma, Namjoon me explicou o que estava acontecendo.

-Suga disse que você queria aprender uma coreografia, só que ele não é bom em dançar como Hoseok e Jimin.

Me assustei um pouco com a tão repentina notícia, mas não era uma má ideia. Yoongi estava um pouco emburrado, talvez os meninos estivessem arruinando seus planos para o dia.

-Agora? Vou ficar toda suada - Não contive risada.

-E quero levar ela pra tomar café! - Yoongi não deixou Namjoon responder.

-Aquele café horrível que só você gosta?! 

Dessa vez sim ri alto fazendo com que todos me olhassem, eu tinha certeza que não iria gostar, Yoongi fez careta de reprovação.

-Desculpa.

-O café é forte, só isso.

-Então quer deixar para outro dia? - Jin se intrometeu.

-Pode ser hoje mesmo, mas peguem leve.

-Fire?

-Sim.

Os meninos traduziram para os outros, Jimin e J-Hope se levantaram, acompanhei. Me instruíram para que eu ficasse do lado deles em frente ao espelho. Eles começaram a cantar e mostrar os passos lentamente, não parecia ser tão difícil enquanto acompanhava apenas com os olhos. Mas na hora de por em prática, todos deram risadas com minhas tentativas, onde eu parecia mais com uma porta se mexendo. 

-Ainda dá tempo de eu desistir?

Todos acharam graça de início, então viram que realmente não seria possível eu aprender a sincronia de tudo logo de primeira. E depois de umas quinze tentativas, começava a suar e achei melhor encerrar a aula de dança por ali mesmo.

-Estou começando a suar, melhor continuar outra hora.

-Quero ninguém fedendo do meu lado - Me vi na necessidade de mostrar o dedo médio para Yoongi, mas notei que precisava de um pouco mais de classe, interrompi minha mão já levantada - Podemos ir agora?

Pedi para que esperasse enquanto eu descansava um pouco, eu e os dois meninos retornamos ao círculo e nos sentamos. A conversa estava fluindo tão bem que já estava até explicando as diferenças de algumas palavras em português que sempre causaram confusão, que nem "mas","mais" e afins. Taehyung também participava mais, quando Yoongi não o interrompia.

-Vamos, Lucy.

Suga pegou na minha mão e se levantou, deu algumas puxadinhas quando viu que eu não sairia do lugar. Levantei assim que ele já quase me pegava no colo, me despedi dos meninos e fomos. No elevador ele me encarava constantemente, talvez tivesse algo de errado.

-O que foi? 

-Nada, só estou um pouco animado.

-Acho que prefiro nem saber em que sentido você disse isso.

A porta se abriu, o olhar dele desviou, já não segurava mais minha mão. E assim que pisamos no térreo, o boné e outra máscara retornaram para seu rosto.

-Como vamos comprar café sem ninguém te reconhecer?

-Não tinha pensado nisso - A voz um pouco abafada pela máscara.

-Vamos voltar para o hotel, aí quando anoitecer nós vamos?!

-É melhor, mas você não quer passear? - Saímos da porta de entrada.

-Quero, só de noite. Vi que tem previsão de neve - Ele deu um olhar torto de forma estranha.

-Você vai se arrepender.

-Por quê?

-Neve é uma bosta.

O resto do caminho fiquei anestesiada olhando para o céu nublado. 

- x -

No hotel deitamos no cama e nos cobrimos até o pescoço. Só então os pensamentos de que não tínhamos ensinado palavrões em nossas línguas nativas me vieram.

-Me ensina um palavrão em coreano.

-Mas, Lucy - Ele também não conteve a risada e a soltou em belo tom.

-Só um, por favor - Virei para olhá-lo melhor, mas ele manteve o olhar no teto.

-Okay, mas é melhor você não sair por aí falando essas coisas.

-Não vou.

-Dondongori! - Fez uma careta de provável desconforto.

-Até os xingamentos são difíceis! O que ele significa?

-Não sei explicar direito, mas é algo como merda, ou pedaço de merda. Agora você me ensine um em português.

-Porra!

Ele riu de novo com o som daquela palavra, se divertia com alguns sons que existia em português, quando falei o significado ele riu ainda mais, dizendo que aquela palavra não parecia ser tão agressiva. Ficamos treinando os palavrões por algum tempo, pode parecer estranho, mas foi divertido.

-Palavrão você consegue pronunciar bem! - Sua boca tomou um formato oval que ficou cômico para a situação.

-É meu talento natural para coisas pejorativas!

-Que errado, Lucy!

Dei de ombros e sorrimos, olhei a janela e me assustei quando vi que já estava anoitecendo. No dia anterior não tinha reparado que os dias estavam acabando tão rápidos.

-Por que já está anoitecendo? 

-É inverno, é normal começar a anoitecer cedo.

Me levantei com uma empolgação não natural, fiquei na janela observando. Não estava acreditando que me encontrava dentro de um quarto na Coreia do Sul e com Min Yoongi encolhido na cama.

-Podemos finalmente ir comprar café?

Ele era algum tipo de viciado em drogas, cafeína no caso. Finalmente pareceu animado quando confirmei e ele se levantou para calçar os tênis, agora só iria de máscara, porque não fazia muito sentido usar boné a noite. Também calcei os meus e fomos, ele era quase como uma criança saltitante e empolgada para o natal.

- x -

Em frente a loja tinha alguns banquinhos e árvores que secavam pelo frio. A fachada anunciava "coffee" com nuvens rosas, ele me deixou sentada em um banquinho daqueles enquanto ia comprar. Como não sou muito fã de café não quis nada, esperei por dez minutos, entãoYoongi apareceu, vinha em minha direção com dois copos e canudos já dentro. Quando chegou, se sentou do lado e me deu um copo quentinho.

-Capuccino?! - Me ofereceu.

-Pode ser, obrigada - Era o menos pior, Peguei com as duas mãos, estava quente na medida certa.

-Experimenta - Colocou o seu copo na minha frente. Fiquei em dúvida se bebia direto do canudo ou não, mas para quem já tinha trocado saliv... Deixa quieto.

Posicionei a boca no canudo e suguei, no mesmo momento um amargor muito forte entrou, não evitei em fazer uma careca.

-Puta merda! - Engolir foi a coisa mais difícil que fiz naquele dia, mas o fiz.

Os olhinhos me encarando até desviaram, ele pareceu se decepcionar um pouco, mas fui sincera, estava uma merda. Mesmo assim ainda tentei consertar a situação, tomei dois goles do meu capuccino e falei.

-Não é tão ruim, só muito amargo.

-Tudo bem, e o capuccino?

-Esse está gostoso! - Estava mesmo.

-Vamos andar pelo bairro, quero te mostrar as ruas.

-Okay!

Nos levantamos dos banquinhos e começamos a caminhar, o habitual silêncio prevaleceu de início, mas logo tornamos a conversar. As ruas eram iluminadas por postes e o chão brilhava como se estivesse úmido.

-De qual cor você acha que devo pintar o meu cabelo na próxima vez?

-Volta com o platinado ou o verde! - Ele apenas me olhou como se não esperasse por aquela resposta.

-Você não gosta do escuro?

-Gosto, mas tenho um carinho especial pelo platinado. 

Ri com a careta que ele fez, me dei a liberdade de rir mais alto, as ruas estavam quase vazias. Tomamos o restante de nossos cafés em silêncio durante a caminhada, o tempo estava consideravelmente mais frio.

-Ali tem lixo, deixa eu jogar os copos.

Dei meu copo em sua mão, ele caminhou até a lixeira verde, jogou e voltou. Me deu uma vontade muito grande de o abraçar quando chegou perto, então fiz sem pensar muito. Pareceu que ele ia recuar, pelo passo que deu para trás rapidamente, mas parou e retribuiu em um abraço apertado. Espiei para cima e ele olhava para os lados, sorri sutilmente. Abaixei a cabeça de novo e encostei em seu peito, fechei os olhos.

-E quando vai ser?

-O quê?

-Você pintar seu cabelo.

-Não sei, mas acho que logo.

Tornei a ficar quieta.

Voltei a abrir quando levei tapas fraquinhos nas costas, me afastei e olhei para o chão. Ao olhar, vi que tinha algumas poças que não estavam ali antes e algumas coisinhas brancas caíam daquele céu quase preto.

-YOONGI!!! - Comecei a rir insanamente - YOONGI!

-O quê?

-YOONGI! TÁ NEVANDO! - A risada aumentou ainda mais e meus pés pularam sozinhos - Tá nevaaaaaando!!! Yoongi!!!

Quem começou a rir quase descontrolado agora era ele, parado me observando a pular de um lado para o outro e tentando pegar os floquinhos. Algo me diz que ele rezava para que nenhum conhecido aparecesse.

-Para com isso, Lucy! - Mal conseguia falar por tantas risadas.

-Não ri de mim! Eu nunca vi neve, você sabe - Os pulinhos pararam para o olhar melhor.

-Tá bom, pode pular mais um pouco.

Não esperei para saber se era uma brincadeira, voltei a pular assim que pude. Minhas mãos não estavam geladas antes, mas quando os flocos começaram a cair, eles derretiam quase que queimando de tão frio com minhas tentativas de pegar. 

-Acho melhor a gente ir, você vai ficar doente.

Só então percebi que nossas roupas já começavam a ficar molhadas pelos flocos que já tinham derretido, minhas mãos estavam meio duras também, mas na hora de o encarar para refutar soltei um espirro.

-Aí! - Vi que não iria adiantar me opor, só fui sem reclamações.

O caminho de volta nem percebi que ele falou pouco, pelo jeito estava divertido ver meu rosto encantado pelos floquinhos ainda caindo e molhando todo o chão. 

-Olha para frente.

Mal vi a existência de um degrau para a calçada quando chegávamos no hotel, dei um pequeno tropeço, fiquei sem graça o bastante para prestar a atenção. Torcia para que as pessoas da recepção não tivessem visto, entrei até de cabeça baixa.

Salão principal, elevador, corredor dos quartos, cartão para entrar e porta. Só então percebi que o quarto era bem mais quentinho e que minha boca dava leves espasmos.

-Vai para o banho antes que você congele - Disse fechando a porta. 

Minhas bochechas estavam doloridas pelo tanto que sorri no decorrer daquele dia. Corri para a mala e encontrei os pijamas sem muita dificuldade, a adrenalina me fez ignorar Yoongi involuntariamente, fui para o banheiro.

Sem dúvidas aquele foi um dos melhores banhos da minha vida, por mais que ainda não tivesse estreado a banheira, a água quentinha e o cheiro de sabão me fizeram relaxar muito. Me sequei e vesti o pijama vulgar novamente anestesiada, destranquei a porta e guardei as outras roupas em um ritmo consideravelmente rápido. 

O olhava com malícia me preparando para pular na cama, mas me dei conta que estava sendo meio vergonhoso quando ele deu risada e se levantou.

-Também preciso tomar banho.

Fazia sentido, então encerrei minhas atividades de pular. Deitei me cobrindo até o pescoço, virei e o observava mexendo numa sacolinha que tinha trazido. Ele entrou no banheiro, o barulho do chuveiro começou a ecoar na minha cabeça, quase como uma música de meditação. Meus olhos foram ficando cada vez mais pesados, lutava contra o cansaço e a vontade de dormir, mas antes de perceber e relutar com mais veemência meus olhos já tinham se fechado por completo.