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História Tão parecidos Cobrina - O treino- Lembranças que me faz te amar


Escrita por: isabellapequena

Capítulo 18 - O treino- Lembranças que me faz te amar


Adentrei, e nem precisei procurá-lo, o avistando assim que não vi mais necessidade em usar a jaqueta, graças à temperatura agradável que as paredes da academia conservavam. O suor não o deixava menos atraente, pelo contrário. As costas nuas brilhavam enquanto ele desferia golpes em um dos velhos sacos de pancadas, cada movimento seu continha uma precisão minuciosa. Ele estava ficando bom nisso. Eu sabia que a falta de camisa não era uma provocação, munido com uma privacidade que nunca estava presente enquanto o sol brilhasse no céu, ele se vestia como um lutador em combate, nenhum usa camisa porque atrapalha, durante a luta um tecido cobrindo o tronco impediria que a pele respirasse, causando mais calor ainda, e com isso a agilidade também seria prejudicada.

— É aqui que está acontecendo uma invasão de propriedade privada? — tirei a jaqueta e a joguei em um canto perto dos equipamentos, em seguida me livrei de meus tênis. — Só pra eu saber, mesmo. Não é para avisar ao dono que ficaria irado se soubesse.

— Quem disse que isso é uma invasão? — indagou, virando-se para mim.

— Alguém pode ter mencionado isso em uma conversa qualquer. — dei de ombros.

— Bom, acho que se eu conheço o dono não é invasão.

— Só se o dono não ligasse pra você lutar à essa hora na academia dele, o que, só pra constar, eu acho impossível. — Cobra arrancou as luvas e começou a se aproximar de mim.

— O dono talvez não gostasse. Mas eu também conheço a filha dele — retrucou, parando a uma distância razoável de mim, nem tão perto nem muito longe.

— Tudo bem, imaginando que o dono deixe a filha treinar à essa hora, por que você acha que ela permitiria seu treinamento tardio? — desafiei, sorrindo.

— Ela deixa... se eu a chamar pra vir junto. — gargalhamos.

Virei-me, disposta a dar fim a nossa encenação barata.

— Então, posso saber o que você quer comigo? — inquiri, andando pelo tatame.

— A tua fisioterapeuta disse que você vai poder voltar a treinar em pouco tempo. Eu imaginei que fosse bom você começar a treinar de leve, só pra recuperar uma parte do seu condicionamento físico. — assenti, sem saber se eu queria fazer aquilo, se eu conseguiria.

Minhas roupas eram, infelizmente, adequadas para lutar, um short de moletom e uma regata, ambos pretos, então não poderia usar essa desculpa. 

— É, mas eu ainda não consigo firmar o pé sem sentir dor. Não estou pronta pra isso, Cobra — confidenciei, ficando escorada no ringue.

— K, você tá praticamente sedentária. Você precisa voltar a treinar. E eu sei que isso é medo. — o marginal subiu no ringue, com o par de luvas, que usava minutos atrás, em mãos e mais um. Ele largou o que carregava e começou a se alongar.

— Cobra, eu não vou dar conta. Meu joelho — interrompi minha tentativa de lhe negar seu pedido ao vê-lo fazendo um gesto pedindo para falar algo.

— Quem disse que nós vamos usar as pernas? Eu sei das tuas limitações, marrenta. Vai ser só um boxe leve. — fui até o réptil, sendo auxiliada por ele para subir. Ele havia me convencido.

— A Bi tá mega nervosa com a estreia da novela — comentei, colocando o par de luvas vermelhas.

— Normal. Posso não conhecê-la tão bem quanto você, mas qualquer um vê que a Bianca é ansiosa. — concordei, balançando a cabeça.

Instantes depois já estávamos envolvidos na luta. Eu não mancava mais, mas minha perna falhava às vezes e doía quando eu pisava, por isso minha agilidade estava prejudicada. Me esquivei de um jeb e aproveitei a falta de proteção no abdômen do lutador para atingir a área descoberta com um gancho. Recebi um cruzado de volta e cambaleei com o golpe forte. Eu estava mesmo desacostumada com aquilo. Mais golpes foram executados de ambas as parte e a luta acabava com minha energia.

— Chega! — pedi, ofegante. Deitei no chão, morta de cansaço. Meu corpo estava quente e exausto. Ricardo, por outro lado, parecia pronto para outro combate.

— Eu não disse que você estava sedentária? K, quase uma hora de luta e você já está desistindo! — apontou, abaixando-se entre as cordas. Seu corpo estava curvado para fora do ringue.

— Aqui. — me entregou uma garrafa d'água, ele carregava outra, provavelmente para si. Bebi um longo gole, respirei com dificuldade em seguida. Eu sentia que não me levantaria tão cedo.

Fitei a luz amarelada fraca acima de nós, relaxando. A academia talvez fosse o único lugar fixo que eu tinha, um lugar que não mudaria, que eu não precisaria deixar, era como um segundo lar. Tantas lembranças aquelas paredes guardavam. Olhando para um canto escuro, me recordei de quando lutei com Cobra pela primeira vez.

— Você lembra de quando nós lutamos juntos pela primeira vez? — questionei, me esticando por um instante para ver o que ele fazia. O marginal estava sentado na outra extremidade do ringue, bebendo água.

— De quando eu te dei uma surra, você quis dizer, certo? Claro que lembro. — sua voz indicava que ele estava sorrindo. Sorri também.

— Eu tava tão puta aquele dia. Tudo que eu precisava era descontar na luta. Ninguém entendia isso, até hoje não entendem. Mas você sempre entendeu.   

— Não acho que aquilo tenha sido te ajudar, K. Eu te arrebentei. — seu tom era baixo e carregado de repreensão. Inacreditável, ele se martirizava por algo de anos atrás.

— Você me ajudou, Ricardo. — Eu gosto de chamá-lo pelo nome. Não para provocá-lo – muito raramente, sim. Mas porque chamá-lo de Ricardo, de certa forma, o deixava mais real. Cobra era a consequência de todas as merdas que ele passara na vida, revoltado, fechado, bad boy. E Ricardo é quem um dia ele já foi, quem eu sentia que ele era comigo em alguns momentos. Eu gosto dos dois lados de sua personalidade, do Cobra provocativo, marginal, e do Ricardo que se abria comigo. — Se não fosse você, eu teria procurado confusão na rua. O que seria bem pior do que uns arranhões.

Ele permaneceu calado, talvez refletindo sobre minhas palavras.

— Você me ajudou mais uma vez, pouco tempo depois daquele dia — declarei. — Eu fui mais uma vez te pedir pra lutar comigo de novo. — ri um pouco, me recordando de minha primeira tentativa frustrada, no dia seguinte à festa. O desastre foi completo, Cobra estava irredutível e, para completar, Lobão deu uma passada na loja, justamente quando eu estava lá. — Cê lembra?   

— Lembro.

As lembranças de um dia em que ele me ajudou muito invadiram minha mente.

“Eu simplesmente odeio dias quentes. Odeio a alegria que as pessoas emanam nesses momentos onde as ondas de calor praticamente nos derretem. Odeio o suor. Odeio ir a praia. E morando no Rio de Janeiro, esses dias eram constantes. Mas, felizmente, minha família sempre andava muito ocupada para inventar de ir à praia.

O problema é que existem os finais de semana. E os feriados. E hoje é sábado. Papai e Bianca planejaram esse passeio o mês inteiro, e nesse tempo tentei planejar uma maneira de escapar. Não consegui. Então fui, contra minha vontade. Duca, o imbecil, também esteve presente. Cheguei em casa suada e ardendo graças ao sol forte. Tomei um banho e saí. Antes que o mestre e a atriz pudessem inventar alguma comemoração simplória. Eu também não queria aquilo. Precisava lutar, apanhar até, quem sabe fosse uma boa punição pra mim mesma. E eu sabia exatamente quem procurar.

Cobra estava distraído. Contava algumas notas de dinheiro. Entrei no estabelecimento temerosa, eu não confiava muito nele.

— E aí, tá afim de lutar? — perguntei, sem cerimônias. Não tinha tempo para embromações.

— Não.

— Qualé, cara? Você sabe que o meu pai nunca vai descobrir! — tentei convencê-lo.

— Não, garota! Me esquece! Não vou lutar contigo de novo.

— Sabe o que você é? Um covarde — disse lentamente, queria atingí-lo. — Foge de mim. Foge das responsabilidades. Foge de si mesmo. Dos seus demônios. — aquilo em partes se aplicava à mim também. Porque existia um lado meu que era muito parecido com o marginal.

Seus olhos faiscaram de raiva e ele assentiu. Lutamos muito. Por  umas duas horas. Levei socos, chutes, rasteiras, mas era bom. Bom porque ele lutava de verdade comigo. Não tentava pegar leve só por eu ser uma garota.

Acabamos jogados no chão, bebendo uma garrafa de água cada.

— Desembucha. Que que houve dessa vez?

— O quê? Ah... É, não houve nada. — neguei, bagunçando meu cabelo. — Eu só queria lutar. Mesmo.

— Até parece, Karina. Se você realmente só quisesse lutar, se contentaria com um saco de pancadas. Ou com algum panaca da academia do seu pai.

Ficamos calados por alguns minutos. Apenas respirando, ofegantes. Eu sentia uma vontade louca de desabafar. De praticamente vomitar tudo em cima dele. E eu não sabia o porquê daquela ânsia. Poderia ser pelo simples fato de que o réptil era praticamente um estranho pra mim, ele não me lançaria olhares penosos quando soubesse de tudo, não tentaria me confortar. Mas, no fundo, eu sabia que era porque ele era parecido comigo. Porque havia algo em Cobra que eu também tinha: dor. Eu via em seus olhos todas as revoltas que ele possuía, todas as dores que ele carregava.

Quando ele fez menção de levantar, comecei.

— Há quase dezessete anos, eu matei minha mãe. Interessante, não? —estava sendo cínica para não deixar minha dor transparecer. — E hoje, é a data em que ela descobriu que estava grávida. Meu pai é um idiota, quer comemorar tudo. E... Mesmo sabendo que eu odeio tudo relacionado ao meu nascimento, ele sempre inventa algum passeio bizarro nessa data.

Demorou alguns minutos para que ele dissesse algo, minutos esses que me pareceram séculos.

— Karina, escute isso bem que eu só vou dizer uma vez. Eu já fiz muita merda, tenho muitas coisas das quais eu me arrependo de ter feito. Eu sei o que a culpa .muito bem

- Aceite esse conselho de alguém que realmente errou,e eu sei que não errou você não tem culpa. Você não matou sua mãe. A culpa é da medicina precária. Você tem o que... 15, 16 anos? — tentou adivinhar, gesticulando com as mãos.

— 16.

— 1998, K. A medicina já não era das melhores, no Brasil ainda. A culpa também pode ter sido do médico. A questão é, isso não é sua culpa. Não é, K. — por um momento eu senti uma paz tão grande ao escutar suas palavras. Era como se eu tivesse sido acusada de um crime que não cometi e acabasse de ter sido considerada inocente. Eu sabia que a culpa voltaria alguma hora, mas naquele dia eu pude respirar sem ela”.

— Eu tava me sentindo tão mal naquele dia. E você, falando que não é minha culpa a morte da minha mãe, tirou um peso das minhas costas. Eu acreditei nas suas palavras, Cobra. — bebi o resto da água, com os braços fracos. O cansaço ainda habitava o meu corpo, mas um pouco menor.

— Não adiantou. Você voltou a se culpar — afirmou, fazendo pouco caso de suas atitudes. — Quem te ajudou mesmo foi o guitarrista. E eu sou grato por isso, sério. — ele estava sendo sincero, eu tinha certeza disso.

— Não foi só o Pedro, Cobra. Ele armou uma maluquice de réveillon fora de época no meu aniversário, e eu odiei, obviamente.

— É, eu lembro disso. Você me contou — me cortou, tentando dar fim ao meu relato.

— Depois disso ele conversou comigo. Não foi só ele, não tinha como ser. Tudo que eu ouvi a minha vida inteira da Bianca e do papai sobre eu não ter culpa veio à minha mente. Mas, principalmente, as tuas palavras, Cobra. — permanecemos em silêncio por um tempo, ouvindo os barulhos da rua, carros, cachorros latindo. — Isso vai ser bem brega, mas... Você é meu melhor amigo e a sua opinião importa pra mim. Então, se você diz que eu não tenho culpa, faz uma grande diferença.   

— Você também já me ajudou muito, K. — levantei minha cabeça, apoiando-me com os cotovelos e o encarei. Aquilo era, inegavelmente, surpreendente. Não o fato de eu ter o ajudado. O inesperado era ele estar dizendo aquilo, admitindo, pelo menos uma vez, um de seus raros momentos de fraqueza. — Você se lembra daquela vez em que eu te liguei no ano passado? — ele estava sendo vago demais. Tentei lembrar de alguma conversa em especial, mas muitas haviam sido importantes.

— Cobra, você me ligou várias vezes. Seja mais específico.

— Era muito tarde. Eu tinha brigado com a Jade. — então eu lembrei. Uma noite qualquer em meados de março.

“Fazia tempo que eu não olhava para o relógio. Devia ser bem tarde, algo em torno de 00:45. Mas eu não me importava. Na TV, uma de minhas séries preferidas, Demolidor. As cenas de luta eram espetaculares, do tipo que faz a gente ficar pulando no sofá, com vontade de lutar. Meu pai estava na cozinha, preparando um leite com achocolatado para ele. Seu Gael não dorme sem tomar um copo de leite.

Senti meu celular vibrar ao meu lado e me assustei. Só podia ter acontecido uma desgraça pra alguém estar me ligando àquela hora.

Era o Cobra quem me ligava. Me assustei mais ainda. Atendi na mesma hora.

— Cobra? Aconteceu alguma coisa? — questionei preocupada. Ouvi ele respirar fundo. Meu pai me viu ao telefone e me lançou um olhar questionador. — É o Cobra, pai — esclareci, afastando o celular de meu rosto.

— A vida é engraçada, não? Num momento você acha que vai dar tudo certo, que tudo pode funcionar. — estava filosófico demais. Melancólico até.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou-me mestre Gael. Estava aflito, preocupado com Cobra. Era seu filho, afinal. Cobra é filho do meu pai, meu irmão...

Molhei os lábios, tentando tirar o gosto amargo que senti.

— Cobra, diz logo o que houve. Eu não estou entendendo nada desse teu papo depressivo. — não queria ser grossa, mas o sono me dava um mau humor imenso. Gael me fitava com expectativa.

— Quando eu pedi a Jade em casamento parecia que tudo daria certo. Eu sou apaixonado por ela, eu acho — sussurrou a última parte mais para si. Fiquei calma ao ver que aparentemente nenhuma merda havia acontecido. ‘Não aconteceu nada, pai’, disse a seu Gael inaudivelmente, o tranquilizando. — Eu sentia que tudo daria certo. Mas agora eu só me sinto... estranho, como se algo estivesse fora do lugar.

— Vocês brigaram? — inquiri, solidarizando-me com os problemas do réptil. Eu já imaginava que o relacionamento de Cobra e Jade não seria muito fácil, por causa dos temperamentos difíceis de ambos, mas meu amigo estava tão desanimado, de um jeito que eu nunca cogitaria que ele pudesse ficar. Estava cético, sem esperança nenhuma.

— Sim. E eu já perdi as costas de quantas vezes nós fizemos isso só nessa semana. Eu não sei o que fazer, Karina.

— Vem pra cá. Passa uma semana aqui em casa. Tenho certeza que cê consegue uma folga — sugeri, afobada. Eu sentia muita falta dele.

— Não sei, marrenta. Será que tem lugar pra mim aí? — levantei do sofá num pulo, animada.  

— Claro que tem, Cobreloa. Você vem?

— Tenho que ver se consigo uma folga e conversar com a Jade. Mas acho que sim, eu vou. Daqui uns dois dias, talvez, no final de semana. — dei alguns socos no ar, eufótica”.

Estava tão animada Cobra mais sabe 

— Posso te fazer uma pergunta? — questionei, vendo-o assentir, dando de ombros. — O que você ainda sente pela Jade? — seguir, séria. Essa era uma dúvida antiga minha. Não era por um ciúmes idiota, era apenas curiosidade de uma ''amiga preocupada''. Cobra e Jade foram casados por dois anos, é normal que ele ainda sinta algo por ela, mesmo que essa quase constatação me dê um embrulho no estômago aquele medo esvaindo em mim novamente insegura olhando em seus olhos unica certeza que eu tinha

Um tinha um e outro para conta esperei sua resposta.

 

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