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História Tão parecidos Cobrina - O acidente verdades part 2 -


Escrita por: isabellapequena

Capítulo 4 - O acidente verdades part 2 -


Com aquela novidade na minha cabeça então eu pedi para eles saírem precisava daquele tempo sozinho

Puxei alguns fios de cabelo, ainda em choque com as recentes descobertas.

Era isso. O fim da minha ilusão de que seria realmente feliz um dia. Deveria ter imaginado, estava bom de mais para ser verdade, era como um maldito conto de fadas. Entretanto, essa é a vida real e nela não existem finais felizes.ainda mais para mim  Só amargura era isso.

Eu não era filho de Gael. Nem um cara correto. Sempre seria isso, um marginal. Por um tempo, eu consegui ser alguém certo, dentro da lei e dos limites éticos e morais. Mas aí estava, mais uma rasteira do destino, me arrastando novamente para minha sina: ser infeliz.

Sempre fui o vilão, e vilões não merecem ser felizes. Fui um idiota. Um iludido.

Me prendi a sonhos estúpidos. A expectativas surreais.

Como pude? Como pude acreditar que teria a sorte de ser filho de Gael Duarte?

Agora só me restara isso. As lágrimas e a solidão.

E naquele dia, me permiti ser fraco. E sentir a dor dilacerante de ver meus sonhos destruídos em mim.

Enfim

A exaustão me atigira e me fez dormir por algumas horas. No momento, um pouco mais calmo e almoçando tardiamente a quase indigesta comida de hospital, pensei novamente em tudo.

Esse anos foram... Fantasiosos. Feliz demais, completo demais.

Saber que Gael era meu pai foi extasiante. Foi incrível, único. Eu tinha um pai, a quem admirava imensamente.

Família sempre foi um assunto complicado pra mim. Meu pai biológico morreu quando eu tinha apenas 8 anos. Fora um baque. Um cruel choque de realidade.

Tive que crescer. Comecei a ajudar mais minha mãe em casa e a cuidar de meu irmão mais novo, de 5 anos. Pouco mais de um ano depois, tudo mudara novamente quando minha mãe se casou com um caminhoneiro. O casamento durou um ano e poucos meses, embora o tempo tenha sido pouco, trouxe sequelas. Mais um filho e alguns traumas. Meu padrasto não era nem um pouco amigável, vivia bêbado e após um alguns meses de matrimônio com minha mãe, começara a bater nela. Tive sorte de nunca realmente assistir um dos episódios violentos, mas os gritos ainda estavam gravados em minha memória e provavelmente sempre ficariam.

Então, depois do divórcio conturbado, lá estava dona Quitéria, três crianças para cuidar, um emprego com um salário de merda, e mais uma vez machucada.

Minha mãe fora uma guerreira. Não deixou seu abatimento transparecer e começou a fazer diversos bicos, como costureira, lavadeira, manicure e de vez em quando ainda arrumava tempo para fazer algumas faxinas.

Felizmente todo o esforço de minha mãe havia dado certo, nunca passamos fome. Todavia, acabei crescendo com um certo rancor das injustiças da vida. Tanto grantindo praticamente jogando dinheiro fora e minha mãe tendo que juntar centavos para pagar a conta de luz.

Toda essa raiva só eclodiu na minha adolescência. O começo da minha fase de “marginal”. Roubei pela primeira vez aos quinze. Um chocolate e uns trocados, coisa pouca. Porém acabou virando um hábito. Nunca fui um bandidão, nunca trafiquei. Permaneci naquilo. Pequenos furtos.

As coisas permaneceram assim por quase um ano, e aí tudo mudou. Um lutador de muay thai foi dar uma palestra na minha antiga escola. Ele falou das dificuldades que passou com a família e sobre como o esporte o ajudou a mudar sua vida. Naquele dia eu mudei. De repente aquele garoto de dezesseis anos não queria mais roubar. Eu queria lutar. E vencer.

Queria ajudar minha família, tirá-los daquela miséria e lhes dar uma vida decente. Ficaria rico de maneira honesta. No entanto, é claro que se fosse preciso fazer outras coisas para ser um campeão, eu faria.

No dia seguinte fui até uma academia de luta. Conversei com o mestre de Muay Thai, contei sobre minhas dificuldades financeiras e sobre minha vontade de lutar profissionalmente. Ele se comoveu com a minha situação e deixou que eu lutasse lá, em troca de o ajudar a limpar a academia e a consertar seu carro. Meses se seguiram e minha mãe não havia descoberto do meu período de marginal. Ela nunca descobriria, mas eu contei. Era culpa demais pra suportar. Chorei como nunca havia chorado, mais que na morte de meu pai. Implorei por seu perdão. E ela, com seu olhar carinhoso, me perdoou.

Com vinte anos tive uma surpresa. Meus colegas da academia organizaram uma festa surpresa pra mim. Estranhei. Não era meu aniversário nem nenhuma outra data especial. Até que meu mestre explicou tudo. Ele havia conversado com um mestre do Rio de Janeiro e ele permitira que eu treinasse em sua academia por uma mensalidade mais em conta. Como se aquilo tudo já não fosse incrível, o tal mestre do Rio dissera que tinha uma loja precisando de funcionários perto da academia. No mesmo instante entendi que aquela era uma festa de despedida. Fiquei eufórico. Ainda que talvez não tivesse grana suficiente, eu daria um jeito.

Uma semana depois parti rumo ao Rio de Janeiro. No caminho pra cidade maravilhosa, roubei um posto de gasolina.

E aquela foi a última vez que eu roubei.

Uma enfermeira entrou no quarto, me tirando das minhas lembranças. Ela aparentava ter uns 50 anos, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque firme e ela vestia um típico uniforme de enfermeira, as linhas de expressão em sua face denunciavam sua idade e seu olhar atencioso mostrava sua extensa experiência em sua profissão. Recolheu o prato e os talheres, e deu-me a medicação, saiu em seguida.

E mais uma vez fui levado para o mundo dos sonhos, onde não existem problemas nem dor.

***

Acordei praticamente pulando e suando muito. Pesadelo. Um maldito pesadelo em que Karina morria. Respirei e inspirei. Uma, duas, três vezes.

Ela é tudo que eu tenho. A melhor pessoa que eu conheci, a mais doce, bondosa e linda. E quem mais acreditou em mim.

Ela precisou insistir muito para que eu a deixasse entrar. Embora eu já tivesse me livrado de minha fase de marginal, ainda me sentia um. E Karina era tão inocente, tão jovem, não me sentia digno de sua companhia. Mas uma coisa que eu notei desde o primeiro momento e que me mostrou que ela tinha algo em comum comigo, foi seu olhar, um olhar de quem havia sofrido. E depois de muito tempo, ela virou algo constante em minha vida, a garota com o céu nos olhos e com sonhos no coração. E que me encantara mais do que deveria.

É, até que existe um lado positivo nessa descoberta.

Karina não é minha irmã.

Nunca gostei desse laço. Porque ela nunca foi como uma irmã essa era verdade eu brigava internamente comigo a havia um bom tempo porque. Era horrível desejá-la como mulher e me sentir um imundo por isso eu a desejei por tantas coisas e motivos de gosta dela era pura verdadeira via melhor de mim quando ninguém mais via . Sempre gostei dela mais do que deveria. Gostava de fitar seus olhos tão azuis. De vê-la sorrindo. Do perfume levemente doce, mas não enjoativo, de seus cabelos. Da maciez de seus lábios.

No entanto, ela não me queria. Me via e provavelmente ainda vê como um irmão mais velho. Eu tinha que me contentar com o posto de melhor amigo.

E eu me contentei. Virei o melhor amigo, o brother. Ainda assim, às vezes eu pensava nela. Às vezes eu a analisava por tempo demais. Contudo, nós nos tornamos amigos, apenas amigos. Não sei quando começou. Quando Karina deixou de ser minha melhor amiga e se tornou algo inalcançável. Talvez ela nunca tenha sido apenas uma amiga. Talvez ela seja muito mais. Mas eu não sei. Ela é mais que eu uma amiga, sempre se fez presente em meus pensamentos. É a minha dúvida constante.

No entanto, eu nunca seria o bastante para fazê-la feliz. Um amigo sim, eu poderia ser seu amigo. Mas um amor não, porque eu nunca seria o certo para ela. Não seria bobo como Pedro. Não conseguiria agir como um adolescente apaixonado. E ela merecia isso.

Admito que por uma mísera noite, eu me permiti sonhar e pensei que pudesse fazer Karina feliz. Eu faria tudo por ela. Surpresas românticas ou qualquer merda que ela gostasse. Ela me rejeitara, no entanto. E junto com a lua ao nascer do sol, meus planos foram embora.

A lutadora provavelmente nunca sairia de minha mente e certamente sempre estaria em meu coração. De um jeito que eu não sei explicar.

Mais um tempo se passou e a mesma enfermeira de mais cedo entrou no quarto. Perguntou como eu estava, disse que também foi entregar a medicação de Karina e que ela perguntara sobre mim, e me entregou algumas pílulas.

— É... — com um pouco de esforço me lembrei de seu nome, que ela havia me dito mais cedo. — Clara, será que eu posso ir ver minha amiga? — pedi, receoso. Ela me encarou e soltou um suspiro cansado. Dava para notar que ela estava exausta. Os fios de cabelo estavam bagunçados e os olhos meio fechados.

— Eu não sei... — hesitou — Mas como você vai ter alta amanhã de manhã, vou tentar falar com o seu médico.

— Ok, obrigado — agradeci, contendo um sorriso de expectativa.

— De nada. Eu já volto. — Clara saiu do quarto. Comecei a olhar o cômodo, buscando meu celular, torcendo para que não tivesse sido destruído no acidente. O encontrei em uma mesa, ao lado de uma mochila preta, um pouco abaixo da TV. Levantei com dificuldade, tendo que me apoiar na cama para andar. Peguei o aparelho e o analisei, a tela estava rachada e nem sei como consegui ligá-lo. O visor se acendeu, e não me surpreendi ao ver as horas, 20:14.

Respondi algumas mensagens, e, na hora em que a senhora voltou ao quarto, coloquei o aparelho na cama.

— Ricardo, eu falei com o Doutor Paiva e ele autorizou a sua visita à Karina. Quando você voltar, você toma seus remédios. Se você quiser, pode tomar um banho antes — sugeriu. Assenti e ela se retirou do quarto, sabendo que eu não precisaria de ajuda, e antes de sair, avisou que voltaria em 15 minutos. Peguei uma calça cinza de moletom e uma blusa branca na mochila e após revirá-la, encontrei um sabonete, um shampoo e uma toalha. Caminhei até o banheiro com meus pertences em mãos. Pendurei as roupas em um gancho e a toalha no box.

Tomar banho não foi fácil. Os remédios de mais cedo ainda me entorpeciam e tive muita dificuldade para não molhar meu braço enfaixado. Sequei-me porcamente graças à minha falta de habilidade tendo apenas um braço para usar, e me vesti.

Sentei na cama, e esperei pela enfermeira. Ela chegou poucos minutos depois e me ajudou a me locomover.

Paramos em frente a porta do quarto vinte e cinco. As persianas estavam fechadas, cobrindo o vidro do quarto. Mas a porta também era transparente, me proporcionando a visão de Karina. Ela não notou minha presença e continuou fitando algo à sua frente, certamente a TV.

— Ricardo, isso é uma visita rápida. Só alguns minutos. Sua amiga precisa descansar. Eu vou esperar você do lado de fora — advertiu, abrindo a porta.

— Ok — entrei no cômodo e a garota nem notou minha presença. Assistia uma novela, mas o olhar estava vago, evidenciando que não prestava atenção no programa. E os olhos brilhavam. Eu logo percebi que ela havia chorado.

Seu estado físico não era tão assustador. O joelho direito estava enfaixado e apoiado em um travesseiro. Algumas escoriações no rosto. Uma agulha perfurava um de seus braços, injetando soro.

— Sabia que essa é minha primeira vez em um hospital? — perguntou, me assustando.

— Nossa, você tinha me visto aqui? — inquiri retoricamente, sentindo os batimentos de meu coração acelerados devido ao susto.

— Vem cá — chamou, apontando para o pequeno espaço vago em sua cama. Deitei-me ao seu lado e a abracei pelos ombros, com o braço bom, é claro.

— Tô me sentindo num desses seriados de médicos — brincou. Estranhei um pouco o tópico da conversa, mas então compreendi. Ela não queria falar sobre as recentes péssimas notícias.

— Também é minha primeira vez. Internado, quero dizer. Uma vez tive pneumonia, mas só precisei tomar uns antibióticos — ela riu brevemente e apoiou a cabeça em meu peito.

— Estreamos com o pé direito, hein, Cobreloa? — me cutucou. — Parece até House. Meu médico só falou comigo uma vez. Curto e grosso — reclamou, porém parecia estar se divertindo.

— Sério? — maneou a cabeça. — Eu nem vi o meu. — começamos a gargalhar como loucos. Nem era tão engraçado, mas aquela era a primeira vez no dia em que eu me sentia bem, feliz até. Ri muito, com ela, por estar feliz, não por nossas “reclamações”.

— O House disse algo sobre isso uma vez, “você prefere um médico que segure sua mão e te assista morrer ou um médico que te cure, mas não olhe para sua cara?” — citou.

— Eu me lembro dessa cena — permanecemos calados por alguns segundos, só o som da TV impedia o silêncio de se instaurar. Entretanto, não era ruim, era confortável.

Franzi o cenho ao sentir Karina me cheirando.

— Tá cheiroso. Você tomou banho? — questionou, curiosa.

— Sim. Você não? — indaguei.

— Eu estou muito cansada pra levantar dessa cama. E não queria que ninguém ficasse cuidando de mim. Me sentiria uma inválida. — assim que terminou de falar, o som da TV voltou a preencher nossos ouvidos.

— K? — tomei coragem para tentar conversar sobre os assuntos “proibidos”. Ela murmurou um “quê?” e continuei — Como você está? — era isso que eu queria perguntar desde o momento em que havia pisado no quarto.

— Normal. — me afastei para encará-la. Um suspiro saiu de seus lábios e a expressão desolada, que estava em seu rosto quando a encontrei alguns minutos atrás, voltara. — Assustada. E você?

— Um pouco quebrado, mas tô bem — menti.

— Meu pai me contou tudo, Cobra — disse, parecendo penalizada.

— Não sei como estou me sentindo. Nem sei se quero falar sobre isso — desabafei, sem saber que me sentia assim antes de praticamente cuspir as palavras.

Eu não sabia ao certo qual era meu sentimento pela revelação de que Gael não era meu pai. Havia chorado, sentido meu mundo desabar. Mas naquele momento estava confuso, sem conseguir me entender.

— Eu só queria te dizer que... Nada mudou pro Gael, você sabe, né? — assenti. Ela desviou seu olhar e respirou fundo. — E que, pra mim, também nada mudou — declarou, meio receosa.

Um soco teria doído menos.

— Como? — balbuciei.

— Eu nunca te vi como um irmão. — uma sensação de felicidade se instaurou no meu corpo e tive que me controlar pra não sorrir. Não imaginava ouvi-la dizendo isso nem que fosse ficar tão feliz escutando suas palavras.

— Não? — indaguei, estupefato.

— Acho que eu insistia naquela história por causa do nosso beijo. Era muito estranho pensar que eu beijei um irmão, até tentei insistir nessa história, tentei te ver como um irmão, mas não consegui.

Queria saber mais. Queria lhe questionar sobre o por quê de ter agido diversas vezes como uma irmã. Todavia, a resposta estava escancarada. Ela pensava que eu a via como uma irmã.

A situação era tão irônica que chegava a ser engraçada.

— Eu também não — ao ouvir minhas palavras, ela sorriu timidamente. Retribui seu sorriso.

Talvez, quem sabe, ainda existisse esperança para nós? pensei e a escutei

— Você já falou com a Jade sobre o acidente? — perguntou, dando fim ao clima que havia se formado entre nós.

— Não. E você, conversou com o Pedro? — piscou, surpresa com minha pergunta.

— O que tem ele? — questionou, intrigada.

— Você decidiu o que vai fazer?

— Ainda não. — voltou a deitar a cabeça no meu ombro. — Acho que tô mais confusa do que antes — sussurrou.

— Por quê? — agora quem estava intrigado era eu.

Será que ela não quer mais terminar com ele?pensei

Quando Karina ia responder, Clara entrou no quarto e me chamou:

— Ricardo, vamos.

— Eu tenho que ir, pequena. — Dei um beijo no seu rosto e sorri, levantei-me da cama em seguida.

— Amanhã, quando o médico me der alta, eu passo aqui pra te ver — avisei, pronto para sair do recinto.

Em resposta, ela me lançou um sorriso radiante.

***

No dia seguinte, acordei meio grogue com o toque do meu celular. Atendi sem olhar quem estava me ligando.

— Alô.

— Cobra! Você tem noção que aqui são 13:00 e eu só fiquei sabendo do seu acidente agora?! — Jade gritou irritada.

Ótimo, em vez de perguntar como estou, ela preferiu me xingar por não tê-la avisado do acidente.

— Acho que eu estava muito ocupado dormindo por causa dos analgésicos que tive que tomar, porque eu sofri um acidente, porra! — perdi o controle.

Era sempre assim. O egoísmo de Jade me tirava do sério. A convivência pode revelar muito sobre uma pessoa. Morando com a Jade, eu descobri que ela pensa que o mundo gira em torno de si mesma. Tudo era sobre ela. Se eu perdia uma luta era porque ela não estava presente ou porque havíamos brigado. Se ganhasse era porque ela era meu amuleto da sorte. Se por um acaso me esquecesse de fazer algo era porque só pensava nela.

Jade! Jade! Jade!

Tudo que eu falava ou fazia, ela sempre dava um jeito de se tornar o centro de tudo. Quando brigávamos a culpa sempre era minha. Eu fui grosso, eu tive um ataque de ciúmes.

Até que chegou em um ponto que eu não aguentava mais. As brigas eram praticamente diárias. E foi por isso que pedi o divórcio. Nós voltamos pro Rio juntos, havíamos prometido tentar ser amigos. A reforma do apartamento foi um presente dela, um símbolo do início da nossa amizade. Mas essa conversa me fez perceber que não vai funcionar.

Não contei para Karina sobre o divórcio porque Jade ainda não assinou os papéis. Sei que não foi por birra – ela quer esse divórcio tanto quanto eu –, mas sim porque os papéis ainda não chegaram na África.

Havia decidido esperar ela voltar de viajem. Entretanto, depois da nossa discussão no aeroporto, mudei de ideia.

Antes de ir para a academia falar com a K, liguei pro meu advogado e pedi que enviasse os papéis do divórcio pra Jade. E como ela está em outro país, isso deve demorar em torno de um mês.

— Cobra, você é um grosso!

— Tchau, Jade.

Já ia desligar, porém a bailarina me impediu:

— Pera aí! Desculpa, Cobra. Como você tá? — perguntou contrariada e ao mesmo tempo preocupada. Jade simplesmente odeia pedir desculpas.

— Eu tô bem. Só quebrei o braço.

— E a Maria macho? — revirei os olhos ao ouvir o apelido maldoso, não adiantava eu repreendê-la, ela sempre chamaria Karina assim.

— Ela distendeu o joelho, mas vai ficar bem.

Resolvi não falar sobre a possibilidade de Karina não poder lutar mais. Jade não se importa com ela, não tem por que falar sobre isso.

— Que bom — comemorou, com uma falsa animação. — Cobra, eu tenho que ir. Tchau, espero que você fique bem.

— Eu vou ficar. Tchau. — desliguei o celular e voltei a dormir.

Algumas horas depois tive alta. Passei o resto da manhã com a loirinha. Ao sair da porta do hospital, encontrei João.

— João? — franzi as sobrancelhas ao vê-lo.

— Nossa, Cobreloa, que pressa. Eu ia te buscar lá no seu quarto.

— Me buscar? — indaguei surpreso, apontando pra mim.

— É, você teve alta, né? — assenti .

— Então, vamos. — ele começou a caminhar, e ainda sem entender direito o porquê do nerd estar me buscando, o acompanhei até um carro.

Entramos no veículo e eu me perguntei mentalmente de quem era aquele carro.

— Você não precisava ter vindo me buscar — murmurei, colocando o cinto. Odeio que as pessoas tenham pena de mim, e depois de pensar um pouco cheguei a conclusão de que, claramente, esse era o motivo para o viciado ter vindo me buscar.

— Cara, você pode ser meu ex-meio irmão, mas ainda é meu amigo — explicou como se lesse meus pensamentos. Mas trazer esse assunto à tona, enfureceu-me.

— Você nunca foi meu amigo — minha voz saira com uma mágoa não esperada. Me xinguei mentalmente. Parecia um garotinho magoado.

— Você está enganado, Snake. Desculpa ter falado sobre o lance da paternidade, é difícil, né? — se desculpou.

— É, tudo bem — assegurei sinceramente. Ele não havia feito por mal. E eu não podia ficar descontando minha raiva em todo mundo.

***

— Valeu pela carona, viciado — agradeci enquanto saía do carro.

— Amigo é pra isso. — o nerd fez o mesmo e acionou o alarme.

— Mas você não precisava ter me trazido na porta do QG, eu quebrei um braço, não uma perna — debochei, levantando um pouco o braço com a tipóia.

João fez questão de me deixar na porta da loja, embora eu tenha dito umas mil vezes que não precisava, já que a casa dele fica à apenas alguns metros de distância do estabelecimento.

— Deixa de ser orgulhoso, Snike. Agora vamos entrar que eu vou jogar um pouquinho.

Soltei uma risada debochada.

— Então você só me buscou no hospital pra poder jogar de graça? — caçoei, um pouco, mas só um pouco, desapontado.

— Claro que não, Cobra, você pode perguntar pra K, eu não sou mais viciado em games, só jogo quando é um jogo foda ou quando tô precisando desestressar — explicou.

— Não sabia que você era tão sensível assim — debochei, querendo mudar de assunto.

— Pois é. Nem eu. Mas acho que eu tenho motivos, não? — ironizou. — Vamos? — apontou para o estabelecimento.

— Bora lá — concordei.

Quando estava abrindo a porta do QG, ouvi uma voz familiar me chamando. Virei-me e me deparei com Bianca.

— Cobra! — ela aproximou-se de nós. A atriz estava arrumada como sempre. Contudo, sua expressão mostrava como estava mal. Os olhos castanhos, geralmente evidenciados por alguma maquiagem, cansados, depreciados por grandes olheiras. E sua face já levemente arredondada, um pouco inchada, certamente uma consequência de muitas lágrimas.

— Como você tá? — perguntou tímida.

— Eu tô bem — fisicamente, pensei.

— Eu já sei de tudo, Cobra. Eu só queria te dizer que… — a atriz apertava as mãos e olhava pros lados, sinais claros de seu nervosismo — eu sinto muito.

— Tudo bem, Bianca — tentei tranquilizá-la.

Estranhei a preocupação da patricinha, ainda que tivesse passado dois pensando ser irmão dela, nós nunca nos aproximamos muito. Mas olhando pra Bianca agora, eu podia ver que mesmo nunca tendo visto a marrenta como irmã, a atriz conseguiu essa façanha. Talvez nós nunca seremos grandes amigos, porém esse fato não muda o sentimento fraternal que criei pela patricinha.

— Cobra... — começou insegura — será que... Eu poderia te dar um abraço?

Fiz que sim com a cabeça e a patricinha se aproximou hesitante de mim, envolvendo meu pescoço com os braços enquanto eu fechava os meus em sua cintura.

— Eu sinto muito — sussurrou.

Alguns segundos depois, nos separamos, e a atriz pediu a João:

— João, você pode me levar no hospital pra eu ver a K?

— Claro — respondeu prontamente, deixando de lado seus planos de se afundar no mundo fantasioso dos games.

Nossa atenção foi ganhada por um carro vermelho catando pneu. Para nossa surpresa, o motorista irresponsável estacionara com dificuldade o veículo em frente ao QG. Ao ver que era Thawik quem chegara não me surpreendi.

— Cara, como cê tá? — perguntou, me dando um daqueles meio abraços, com batidinhas nas costas.

— Eu tô bem — respondi.

Thawik e eu mantivemos contato nesses anos, o lutador está cursando educação física e trabalha numa academia.

— Como você ficou sabendo do acidente? — indaguei.

— Eu vim aqui mais cedo pra conversar com você, mas o QG tava fechado, então eu falei com aquela senhora da banca e ela me disse que você tinha sofrido um acidente com a loirinha. Eu queria ir te visitar no hospital, só que ela me disse que você ia ter alta — contou.

— Ah, mas o que você tava querendo falar comigo?

— Eu fui demitido e como você é o novo dono do QG pensei que pudesse voltar a trabalhar aqui — disse, sem graça.

— Thawik, você é um mané, mas tudo bem, você pode trabalhar no QG. — dei um suspiro cansado e pressionei a ponte do meu nariz.

Eu estava exausto, só queria dormir, será que é pedir muito querer que todo mundo vá embora?

— E a Karina? Como ela tá? — perguntou.

— Ela tá bem, mas existe a possibilidade de que talvez ela nunca mais possa lutar — informei triste.

— Porra — exclamou o lutador, também preocupado com a loirinha.

— Nós já estamos indo, cara. Você vai ficar bem? — questionou João, destravando o carro.

Assenti. Após ver minha confirmação, ele entrou no veículo com a patricinha.

— A gente vai trabalhar agora? — inquiriu Thawik.

— Eu vou dormir e você vai pra sua casa — mandei. Entrei no QG sem esperar pra ouvir a resposta do lutador.

Enfim poderia deitar minha cabeça num travesseiro e tentar me recuperar das emoções vividas nas últimas 48 horas. No entanto, pegar no sono não foi fácil, minha preocupação com Karina tomou meus pensamentos por alguns minutos antes de eu finalmente conseguir dormir.

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