— Então é verdade? — papai estava chocado com a notícia do divórcio.
— Sim — respondeu, tentando disfarçar seu tédio.
Há alguns minutos papai estava conversando com Ricardo. Na verdade, não era nem uma conversa, era só o meu pai tentado assimilar a notícia do divorcio como mora com ele e perguntou
— Você vai cuidar da minha filha? — perguntou sério.
— Mais do que da minha própria vida, mestre. — garantiu, olhando pra mim.
Meu coração se aqueceu com sua resposta e eu sorri, olhando em seus olhos.e ele nos meus e escutei mestre fala
— Karina, você é muito teimosa — relutou, mas acabou aceitando — Tudo bem. Mas, Cobreloa, eu tô de olho — fez seu famoso sinal dos olhos dele apontando para ele de volta e foi dar à aula e escuto .
— E aí, novinha, animada pra ir morar com o marginal? — questionou, colocando as ataduras.
éComo que é Cobra marginal nãovocê não é um e você sabe disso e sim eu estou
— Muito. Cobra, será que eu posso dar uns socos? — pedi com medo de sua resposta.
Estava sem lutar há muito tempo, e já tinha feito essa pergunta algumas vezes pro Duca, papai e Cobra. Mas eles sempre diziam não, costumo ser bem teimosa, no entanto, como se trata da minha distensão não insistia muito nisso, ainda que estivesse louca para lutar.
— K, como você vai se equilibrar? — indagou paciente.
— Eu consigo me equilibrar. Por favor, Cobra — implorei e o marginal me olhou preocupado.
— Seu pai não vai gostar disso — falou.
— Por favor — essa era minha última tentativa.
Ele ponderou por alguns segundos, e balançou a cabeça, como se não estivesse acreditando no que faria.
— Tudo bem. Mas pega leve. — alertou. Deixei as muletas perto do escritório e voltei mancando até onde o réptil estava. Ele me emprestou suas luvas pretas e me ajudou a colocá-las.
— Filha! O que você tá fazendo? — gritou Gael, parando sua aula. Todos olharam pra mim.
— São só uns socos, pai. Eu vou ficar bem — disse, morrendo de vergonha. Meu pai bufou e voltou a comandar sua aula.
— Pronta? — meu amigo questionou animado, usando os dois aparadores.
— Com certeza — comecei a dar jebs e diretos nos aparadores.
— Cruzado, K — conduziu. Gotas de suor marcavam meu rosto, meu coração pulsava diante da sensação maravilhosa que lutar me proporcionava.
Dei alguns cruzados e ganchos.
Passar esses minutos lutando foi revigorante, entretanto, infelizmente acabei me empolgando.
Tomada pelo êxtase de estar lutando, chutei as costelas de Cobra, com a perna machucada. O chute não doeu no marginal, mas em mim foi como ter chutado uma barra de ferro, na hora caí no chão agonizando.
— K! — Cobra ajoelhou-se ao meu lado, desesperado.
Logo todos da academia se aproximaram.
A dor no meu joelho se intensificou quando o marginal me pegou no colo e me colocou deitada em um banco ao lado da escada, porém, no momento não consegui dizer nada.
— Eu cuido dela, Gael. Tira esse povo daqui, eles só estão atrapalhando — pediu baixo, me ajudando a retirar as luvas, depois jogou-as no chão.
— Você não acha melhor levá-la pra um hospital? — papai perguntou ao marginal.
— Marrenta, você quer ir num hospital? — neguei com a cabeça, incapaz de falar.
— Filha, você devia ir no hospital — tentou me convencer.
— Mestre, eu cuido dela — Cobra encarou meu pai.
— Tá bom, você tem fisioterapia hoje, então a médica dá uma olhada no seu joelho.
— Valeu, pai — a dor estava menos intensa e finalmente consegui falar.
— Quer ir pro QG? — Cobra perguntou. Concordei, balançando a cabeça. Ele se levantou e guardou suas luvas na mochila que havia trazido, então a pendurou em seus ombros.
— Que que cê tá fazendo? — questionei embaraçada, Cobra havia me pegado no colo novamente. Antes de sairmos, ele apanhou minhas muletas.
Diferente da vez anterior, em que a dor era tanta que eu não prestei atenção em seu gesto e nas reações que ele causara em mim, senti meu estômago revirar e os lugares em que suas mãos tocavam queimavam.
— Você ainda tá com dor, K — não foi uma pergunta, e sim uma afirmação. Eu não podia fazer nada, a dor era excruciante, não conseguiria ir pro QG andando.
***
— O que aconteceu? — Thawik questionou temeroso ao me ver no colo de Cobra.
O réptil me colocou sentada na ponta da mesa dos computadores e deixou as muletas apoiadas no balcão.
— Só um pequeno acidente — disse e o lutador me olhou com dúvida — Eu fui dar uns socos, acabei me empolgando e chutei o Cobra — esclareci.
— Novinha, eu vou pegar uma bolsa de gelo pra você — vi Cobra levando sua mochila passar pelas correntes e, me esticando um pouco, consegui vê-lo por entre as caixas entrar numa porta nos fundos da loja.
— Foi no loft — Thawik explicou, apontando pra porta que o réptil adentrara. — Novinha, como você tá? — usou o apelido que o peçonhento havia me dado.
— Eu tô... — Cobra apareceu com a bolsa de gelo.
— Não chama ela de novinha, mané. — deu um pescotapa no amigo e me entregou a bolsa de gelo.
— Ai! — Thawik pôs a mão na cabeça e gemeu de dor.
— Pra você é Karina — repreendeu bravo.
— Tudo bem, chefe. Tchau, K — deu ênfase no “K” e saiu com um capacete na mão.
— Chefe? — debochei.
Cobra se sentou ao meu lado e deu de ombros.
— Coisas de Thawik — soltei uma risada. — Melhorou? — passou os dedos levemente por meu joelho e me arrepiei.
— U-um pouco — gaguejei. Idiota!
— Eu posso fazer uma massagem — sugeriu inocentemente.
— Não! — neguei, sentindo-me quente só de imaginar suas mãos em meu corpo.
O marginal me olhou estranho. Acho que fui um pouco rude.
— Valeu, Cobra. Mas não precisa, a dor já tá passando. — consertei minha fala anterior.
— Tudo bem, K — o peçonhento fitou a vitrine da loja e apoiei minha cabeça em seu ombro.
— Eu tenho medo de não poder lutar mais — confessei.
— Você não disse que existe uma grande chance de você voltar a lutar? — me consolou.
— Sim. Mas o medo é uma coisa irracional. Às vezes quando deito na cama antes de dormir, eu começo a pensar nisso, nessa pequena chance de não poder lutar mais. Eu tô apavorada, Cobra — meus olhos se encheram de lágrimas.
— K, — ele pôs as mãos em meu rosto e me fez olhá-lo — vai dar tudo certo — falou aquilo com tanta convicção que suas palavras me atingiram e uma sensação de alivio tomou conta de mim.
— Eu estou invisível — Thawik entrou na loja e nós nos afastamos constrangidos.
— O que você tá fazendo aqui, cara? — Cobra perguntou perplexo.
— Vim pegar minha mochila — o lutador pegou o objeto e saiu do estabelecimento.
— E aí, galera — cumprimentou João, animado.
— Oi, Cobra. K, a gente tem que ir — disse a Bianca.
— Ir aonde? — arqueei as sobrancelhas.
— Eu não tenho gravação hoje, e nós vamos aproveitar pra fazer umas compras, depois eu vou te levar na fisio — explicou, sem me dar chance de opinar.
— K, você quer ir comigo fazer compras? Claro, Bi. Obrigada por perguntar — ironizei.
— Chega de show, K. Vamos — chamou, e Cobra me ajudou a descer da mesa. Sorri agradecida, entregando a bolsa de gelo a ele.
A atriz era uma pessoa inflexível, por esse motivo não tive como negar à ida ao shopping. Mesmo sendo meio feminina agora, ainda odeio tal tarefa combinei de irmos a fisio pelo golpe que dei de manha e ela concordou e João pergunta.
— Aconteceu alguma coisa, K? — o nerd perguntou quando percebeu minha dificuldade em andar com as muletas.
— O Cobra te conta — respondi e, ao sair da loja, o ouvi dizer convencido ao marginal:
— Eu salvei a vida da K hoje.
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