História Tão profundo... - Pesadelo à Pesadelo

*Sábado de tarde*

Eu estava terminando de me arrumar quando Kim e Em chegaram. Lúcia atendeu a porta e pedi que Kim viesse até meu quarto:

- Kathe?- disse ela, batendo à porta meio aberta. 

- Pode entrar, já estou terminando. 

- Não se preocupe, eu estou adiantada. 

- Okay. Pode me ajudar com o cabelo? 

- Claro. No que? 

- Apenas prenda ele aí em cima e ajeite. 

Ela começou a mexer no cabelo e fez um excelente trabalho. 

- Uau Kim, adorei.- exclamei, olhando no espelho. 

- Obrigada. 

- Onde aprendeu? 

- Minha mãe me ensinou.- disse mudando de feição.

- Kim, eu disse alguma coisa errada? 

- Não, eu apenas estava pensando na minha mãe. Nada demais. 

- Se quiser conversar, a casa de James é um pouco longe. 

- Claro. Obrigada Kathe. 

- De nada, vamos? Já terminei. 

- Vamos.- peguei a bolsa e saí do quarto. 

Shawn estava em casa quando saímos para a festa. Passei pelo quarto de Henry e a porta estava apenas entreaberta, espiei pela brecha e vi os dois e Em brincando e se divertindo. Ele é um ótimo pai. Bati na porta e a abri:

- Shawn, eu e Kim já estamos indo. Prometo não voltar tarde. 

- Tudo bem, quero que se divirtam. Okay?- ele disse sorrindo. Como eu amo esse sorriso.

- Sim. Beijo.- dei tchau para eles, fechei a porta e desci para a garagem acompanhada de Kim. 

A casa de James era longe e demoraria um pouco para chegarmos lá. Eu havia colocado um vestido e um salto alto, que era definitivamente um tipo de look que me deixava confortável. Kim estava muito arrumada também com uma cropped acompanhada de saia até os joelhos. 

Dirigi por uma meia hora até chegar à casa dele. Na entrada, casais se beijando e adolescentes com alguns drinques na mão. James logo que nos viu, veio de encontro e introduziu os convidados, que eram na maioria seus amigos da faculdade. Os pais dele estavam viajando e a casa estava inteiramente para os convidados, como ele havia dito. 

Eu e Kim decidimos ficar numa mesa, apenas conversando quando um grupo de garotos se aproximou e nos chamou para dançar aceitamos e fomos para a pista. Começou no casual só que o garoto passou a mão na minha cintura e me puxou para mais perto, querendo um beijo. Eu recusei dizendo que tinha namorado mas ele ignorou e encostou nossos lábios, até que eu resisti e o empurrei para longe. Tentei sair de perto mas ele me segurou e puxou-me para outro beijo, só que dessa vez ele sussurrou em meu ouvido:

- Vamos para o quarto.

Quando ouvi essa voz, lutei com mais força e saí de perto. Não consegui acreditar que havia gente da escola naquela festa. O garoto era Daniel, um dos piores homens que já conheci. Ele percebeu meu espanto e disse então:

- Qualé gata? Eu beijo tão mal assim? 

- Eu já disse que sou compromissada, seu idiota.- disse o mais baixo possível, tentando não chamar a atenção. Ele ouviu minha voz e provavelmente a reconheceu. 

- Katherine?

- Eu mesma. 

- Uau, você tá muito gata. 

- Muito obrigada. 

- Tu merece. 

- Ah é?! 

- Sim, mó gostosa. 

Eu não disse nada, fiquei apenas observando. Ele esperou eu me acalmar um pouco e beijou meu pescoço, me chamando para os quartos outra vez. Qual o problema dele? 

Antes que aquilo precisasse continuar, James chegou e tirou ele de perto de mim. Pediu desculpas e se retirou. 

Kim e eu continuamos curtindo a balada, sem mais incômodos, quando começou uma gritaria em torno do bar. Fomos para mais perto e descobrimos que estava rolando uma competição de quem virava mais shots de tequila. Eu me interessei assim como Kim e nós ficamos assistindo. Logo que começou, um dos primeiros já passou mal com 10 doses. Veio o próximo e também já saiu cedo do páreo, chateando o até então vencedor, que lançou:

- Dou 10 mil dólares para quem me vencer.- disse jogando um cheque encima da mesa.- Vamos! Quem se dispõe? 

- Eu!- disse Kim, em tom sério. Indo em direção à mesa. 

O homem pareceu debochar dela, mas de repente, viu que o jogo era sério. Ele começou com uma dose e Kim virou duas. Passados 10 minutos, ela persistia firme na competição e o vencedor começava a dar sinais de mal estar. Quando tudo acabou, Kim saiu com o cheque em mãos, e um total de 30 doses. 

Olhei o tempo todo abismada. Como ela aguentava todas aquelas doses? Quando foi em direção à nossa mesa e passou por mim, apenas piscou e seguiu seu caminho. Pensei em perguntar algo, mas James nos chamou para partir o bolo. Eu me coloquei em frente à mesa, apenas para observar, só que ele me chamou para ir com ele apagar as velas e aparecer nas fotos. 

Depois de comer, eu e Kim decidimos ir embora pois já estava tarde. Me despedi de James e fui até meu carro. Quando ia entrar nele, avistei uma van branca estacionada em frente à casa onde estávamos. Parei para observá-la e reconheci-a imediatamente. Entrei no carro e sai o mais rápido possível de lá. 

Kim estranhou a rapidez e decidiu perguntar:

- Kathe, algum problema? 

- Papparazzis. Eles estavam na casa. 

- Oh não. Será que fotografaram aquele idiota roubando beijos de você? 

- Não quero nem pensar nas possibilidades. Isso causaria um problema muito grande, não para mim, mas para Shawn. 

- Sim... 

- A propósito Kim, onde você 'aprendeu' a beber daquele jeito? Virou aquelas doses como se não fossem nada. 

- Tem muita coisa que às vezes nem eu sei como faço. Eu aprendi, se é assim que devo colocar, no meu lugar preferido para ir passar o tempo quando não estou com Em. 

- E que lugar seria esse? 

- Biker's Cove. Uma bar para motoqueiros. Trabalho lá como bartender. 

- Não sabia que você curtia esses lugares barra pesada.- dei uma risada.- Se não gosta que os outros saibam, disfarça bem.- Pisquei e ela assentiu. Quando paramos no sinaleiro, ela se virou para mim e tocou minha perna, fazendo com que eu me virasse para encará-la.

- Olha, Em não sabe que eu vou lá. E não acho que ela gostaria que eu continuasse indo lá, se soubesse. Peço que não fale nada à ela. Por favor Kathe. 

- Claro Kim. Não vou contar à Em. Mas quero que saiba que uma hora não vai dar mais para esconder.- o sinal abriu e voltei os olhos para frente. 

- Sim, eu sei. Espero que quando isso acontecer, ela já esteja grande o suficiente para entender. 

- Também espero. 

Chegamos em casa e quando abri a porta da garagem, Em e Henry, seguidos de Shawn, vieram nos receber. Pedi à Lúcia para arrumar o quarto e em seguida me virei para as crianças: 

- Vocês não deveriam estar na cama?

- Eu queria brincar mais mamãe.- disse Henry. 

- Eu os deixei acordados amor. Estavam tão animados e hoje é final de semana. 

- Tudo bem, mas só hoje. Okay? 

- Okay Kathe.- soltou Em, com as bochechas vermelhas. 

- Vão brincar. Dou mais um tempinho para vocês. 

Enquanto eles brincavam, eu decidi ir tomar banho e depois Kim foi tomar a ducha. 

Sonhei com a festa no começo porém de repente, o pesadelo voltou mais violento. Dessa vez, eu estava sentada em uma cadeira, amarrada, e Shawn estava lá também mas amarrado, nu, na minha frente. Do escuro, surgiu uma figura masculina com um terno bege, portando a minha pequena adaga. Não conseguia ver seu rosto, embora tivesse luz. Ele ficou rodando minha cadeira e de vez em quando, raspava a adaga no meu rosto, o fazendo sangrar. 

Shawn tentava se soltar para que ele não tocasse em mim, mas era em vão. Depois que ele parou de tentar, o homem se virou para ele, me dizendo coisas sem sentido. Por eu não dizer nada, ele fazia cortes em Shawn, que sangrava cada vez mais. Eu gritava 'pare!', mas ele parecia não ouvir. Eu gritei mais um pouco, até que ele parou e me esfaqueou, fazendo Shawn gritar. Eu também gritei, só que no mundo real. 

Minhas mãos e corpo estavam suando, eu tremia muito, o que assustou Shawn. Ele me abraçou e perguntou:

- Kathe, meu amor, o que houve? 

- Pesadelo. Tive um pesadelo.- lágrimas desciam do meu rosto. E eu as secava, para que Shawn não visse, mas ele já percebeu e secou algumas para mim. Me abraçou e disse: 

- Calma meu bem, vai ficar tudo bem. Já acabou. 

- Oh Shawn. 

- Ssh, calma, já acabou.- continuei abraçada à ele, até que me cansei e decidi dormir de novo. 

Eu não aguento mais. Pare por favor. Pare.