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História Taurus - Capítulo Único


Escrita por: kamilakerber

Capítulo 1 - Capítulo Único


Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 12 de dezembro de 2015.

Carolina estava sentada em seu caixa, como em qualquer dia normal de trabalho, porém ela não atendia ninguém. Em sua frente, uma cliente a olhava abismada. Ela acabara de ver Carolina socando o monitor de preços para depois se por em lágrimas. 

A cliente, que era assídua no local, não sabia o que fazer além de pedir calma para a menina que estava atrás do caixa.

— Fica bem, querida. Vou passar em outro caixa, certo?

Assim ela o fez e Carolina pôs um aviso de "caixa fechado" para que não acontecesse algo parecido de novo.

Contudo, como era de se esperar, aquela cliente não foi a única a notar seu comportamento. À sua volta, todos os funcionários e clientes cochichavam entre si, olhando constrangidos para a sua direção.

— Vai lá falar com ela. - ouviu uma colega falar - Ela está chorando.

Carolina estava de cabeça baixa, mas sentiu quando alguém colocou as mãos na sua frente. Era Samuel.

— Você quer falar sobre o que aconteceu? - perguntou ele com cara de não muitos amigos.

— Não, é só uma cólica.

— Tudo bem, mas a gente ainda vai conversar. - ameaçou, saindo para a direção oposta. 

"Ótimo!", pensou a garota, nem um pouco animada com a ideia. Ela ainda secava as lágrimas. Odiava se portar daquela maneira imatura, mas ultimamente estava sendo mais forte do que ela. Algumas pessoas não foram feitas para ter um relacionamento amoroso e Carolina era uma delas.

— Oi, guriazinha!

Carolina olhou novamente para o lado, era a sua supervisora que olhava preocupada para ela.

— Por que você não vai ao banheiro lavar o rosto e depois volta para trabalhar novamente?

— É! Você não pode dar o gostinho dele te ver chorando, Ca! - complementou a colega que trabalhava no caixa da frente.

Carol concordou com a cabeça e desceu as escadas em direção ao estacionamento e ao banheiro. Quando chegou lá, ficou paralisada com o que estava vendo.

Sua ideia era fazer exatamente o que tinham lhe sugerido: lavar o rosto e ficar alguns minutinhos no banheiro, até estar totalmente calma.

Mas o que ela viu foi o corpo de Samuel caído no chão, na frente dos dois banheiros. Uma poça de sangue, o qual brotava do seu estômago, estava por quase todo o chão. 

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 13 de dezembro de 2015.

— Então você está afirmando que chegou ao local na hora em que a vítima já estava morta, correto?

— Sim. 

— A quanto tempo você trabalha lá?

— Cerca de cinco meses.

— Seus colegas de trabalho nos falaram que você estava em uma espécie de relacionamento com a vítima. Isso é verdade?

— Sim, ficávamos de vez em quando e ele foi lá em casa três vezes. Mas não namorávamos. Se é isso que o senhor deseja saber.

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Apartamento de Carolina, bairro Mont'Serrat, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 08 de novembro de 2015.

Samuel acariciava as pernas de Carolina e beijava o seu pescoço. Suas mãos foram deslizando suas coxas em direção a vagina dela. Carol permitiu que ele fizesse aquilo, apesar de não ter muita certeza se estava gostando ou não.

Quando ele a deixou apenas de calcinha e esfregou seu pênis duro por cima da calça, ela não teve dúvida em pedir para que ele parasse.

— Desculpa, eu não estou preparada. - foi apenas o que conseguiu dizer, antes de vestir as calças o mais rápido que pôde. 

— Tudo bem. - ele disse-  Vou fumar, ok?

Ca ouviu a janela da sala de estar sendo aberta para que a fumaça do cigarro não impregnasse o apartamento. Ela também ouviu Samuel se masturbando e, por mais que ela tentasse negar, uma grande imagem de um pênis com esmegma vinha em sua cabeça e a deixava completamente enjoada. "Tudo bem", ela pesava, "deve ser normal ter esse tipo de pensamento quando não se é experiente, né?"

Depois do que pareceram quinze minutos, Samuel voltou ao quarto e os dois ficaram abraçados, jogando conversa fora e rindo. Carolina até esqueceu que tinha se sentindo enojada. Era isso o que ela gostava nele. O jeito que ele a fazia rir e acariciava o seu braço. Será que eles não podiam ficar apenas nisso?

— Vou ser promovido, sabia? - ele contou. 

— Sério? Pra quê?

— Vou começar a ser treinado para fiscal de caixa semana que vem.

— Tomara de dê certo!

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 13 de dezembro de 2015.

— Ele começou o treinamento para a sua nova função e foi depois disso que tudo mudou e ele começou a me tratar de forma diferente. - Carolina contou ao policial.

— Você pode ser mais específica?

— Bom...

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Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre 18 e 30 de novembro de 2015.

Já havia se passado um pouco mais de uma semana desde que Samuel começou seu treinamento para a nova função e, desde que a começou, tratava Carolina com uma frieza jamais vista. No começo, ela tentava perguntar se tinha algo errado. Ele argumentava que estava ocupado com o treinamento e Carol aceitava, apesar de não entender porque o "ocupado" significava apenas para ela, já que Samuel jogava conversa fora com os outros colegas de forma muito frequente.

Quando começaram a ficar, combinaram que ninguém deveria ficar sabendo do relacionamento. Apenas duas pessoas acabaram sabendo, os que ajudaram a aproximar os dois: Natacha e Maurício. 

Foram os dois que, no começo, tentaram levantar um pouco o ânimo de Carolina. Natacha dizendo que ela não deveria chorar por um babaca como o Samuel e Maurício supondo que ele deveria estar estressado pelo treinamento, e que logo voltaria ao normal.

Por mais que as intenções dos dois fossem boas, não ajudavam muito. A coisa piorou quando Carol percebeu que os outros funcionários do supermercado a olhavam de um jeito debochado e cochichavam entre si, mas nada disso doeu mais do que ver o próprio Samuel conversando com uma garota e olhando para Carol como se ela fosse parte de um circo. Depois de um tempo, ela descobriu que os seus colegas tinham descoberto certas coisas sobre a sua intimidade, que ela jamais tinha feito com Samuel. 

A partir daí, Carol começou a mudar seu comportamento. De garota que sempre se vestia bem e fazia piadas para todo mundo rir, ela virou uma pessoa desleixada e que se comportava de maneira imatura na maioria das vezes, fosse agredindo alguém verbalmente ou chorando de forma soluçante na frente dos funcionários e clientes.

Quando chegava em casa a noite, ela não conseguia dormir, esperando que, longe de todo mundo, Samuel a tratasse de forma melhor quando ela o chamasse no What'sApp. Mas tudo o que ele fazia era lhe chamar de louca e criança.

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DEIC, Necrotério, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 13 de dezembro de 2015.

— Temos alguma novidade? - perguntou o investigador ao médico legista. 

— Ah, sim. A vítima foi morta com um revólver Taurus 82. 

— Mas, como ninguém que estava no mercado disse ter ouvido algo, é bem provável que o assassino ou a assassina tenha usado um silenciador. - constatou o investigador. 

— Uma batata. - corrigiu o médico - Está vendo isso? ele sacudiu a mão para que o policial se aproximasse mais da ferida - Um verdadeiro purê. 

— Isso quer dizer o quê? Que o assassino sabia o que estava fazendo ou que estava tão desesperado para fazer que apenas torceu para que a batata funcionasse?

O legista deu de ombros.

— O assassino sabia como não deixar digitais, mas talvez você devesse falar com a equipe de segurança do supermercado.

— Já interroguei eles. Apenas usam armas de choque. Mas voltarei a falar com eles se for preciso. Muito obrigado, Arthur. 

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Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre 18 e 30 de novembro de 2015.

— Oi, Carol! - disse uma voz animada e carinhosa no caixa a frente dela. - Tá tudo bem contigo?

— Eu tô sim, André. - mentiu Carolina - E você?

— Melhor impossível!

Carolina deu um sorriso amarelo, mas continuou conversando com o seu colega. Talvez aquilo a distraísse um pouco.

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 13 de dezembro de 2015.

— André Toschetto, correto? - perguntou o policial.

— Correto. 23 anos de idade e residente de Porto Alegre desde 1993. 

O investigador arregalou os olhos e deu sorriso de canto de boca para André.

— Pelo visto o senhor assiste muitos seriado policiais, - no que André concordou com a cabeça - mas me diga qual a sua proximidade com a vítima.

— Éramos apenas colegas de trabalho. Além do mais, a gente trabalhava em turno diferentes, então apenas nos víamos durante umas três horas.

— Estou vendo. Também fomos informados que você sentia algo especial pela senhorita Carolina Kaffer. Isso está correto? 

André engoliu em seco, mas concordou. Disse que estava apaixonado por Carolina.

— Vendo assim, você teve muitos motivos para matar Samuel. Carolina chorava todos os dias e você, um homem apaixonado, não gostava de a ver sofrendo e resolveu tomar uma atitude.

— Você tem razão, - disse André de cabeça baixa - mas apenas pela parte de não gostar de ver ela sofrendo. Não vou mentir e dizer que não gostei de ver o Samuel morto, mas não fui eu que matei. 

O interrogatório terminou e agora Antônio tinha, além de Carolina, um outro suspeito no assassinato de Samuel.

Quando saiu da sala, ouviu seu nome sendo chamado. Era Camila, uma das peritas.

— Consegui acesso às câmeras de segurança daquele dia. - contou ela, um pouco animada - O crime aconteceu por volta das 22h, então elas foram as únicas testemunhas.

— Temos a imagem de quem cometeu o crime?

— É, mais ou menos...

Os dois assistiram a fita juntos e viram o momento do assassinato. Infelizmente, o assassino estava com o rosto coberto, mas Antônio teve que dispensar seus suspeitos mais prováveis. O assassino era um homem, então não podia ser Carolina, e era baixo, o que descartava André, com seus quase dois metros de altura, imediatamente. 

Eles tinham voltado a estaca zero. 

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 14 de dezembro de 2015.

— Você pode me dizer o seu nome?

— Maria Júlia Freitas. 

— Você é a supervisora de caixa do supermercado, certo?

— Sim, policial.

— Pode contar o seu relacionamento com a vítima?

— Eu o via como um filho, mas ele estava agindo de forma estranha e errada ultimamente.

— Poderia me explicar melhor?

— Ouvia ele contando aos outros funcionário sobre Carolina e o que os dois faziam na intimidade. Era de um jeito debochado, entende? Um dia eu chamei ele no canto e disse que, se era para ele agir daquela forma, era melhor que ele nem falasse mais com a Carol, que não desse esperança ou enganasse mais ela. Só que ele levou isso ao extremo e fez a garota sofrer mais ainda.

— Entendo. E isso, se eu estiver certo, gerou muita confusão para a senhora.  

— Sim, começaram a espalhar que Samuel e eu estávamos em um relacionamento. Uma mentira que poderia prejudicar meu casamento e fazer muito mal ao meu filho se chegasse até ele.

— Então você tinha motivos para querer Samuel morto? - perguntou o policial.

— Não! Nunca resolveria algo dessa maneira! Quando soube dos boatos, relatei ao setor de Recursos Humanos e creio que eles resolveram tudo, pois não ouvi mais mentiras ao meu respeito. 

— Só mais duas coisas: você acha que a senhorita Carolina seria capaz de matar? Ela tinha muitos contatos?

— Ela estava sempre tão frustrada e triste, mas não penso que ela seria capaz disso. E ela é tão reservada e pouco participativa dos eventos e festas que fazíamos, que penso que ela apenas conhecia o pessoal que trabalhava no supermercado.

Ao sair da sala, Antônio foi surpreendido por Micaela, a adorável e irritante garota da balística. A mais nova de toda a equipe, com apenas 23 anos.

— Descobriu algo útil, Mi?

— Bom, o tiro foi dado a queima roupa. Mas não era sobre isso que eu queria falar, pois essa informação é óbvia demais.

— Então o que era?

— Estava olhando as fitas de segurança com a Camila e resolvemos ver se havia algo de diferente nos outros dias que pudesse nos ajudar. O supermercado foi assaltado duas semanas antes do assassinato, mas os seguranças interviram e adivinha o que eles seguravam na mão? Dica: não eram armas de choque.

— Uma Taurus 82?

— Na mosca!

Antônio sentia estar cada vez mais próximo do culpado. Para ele, não devia ser coincidência a vítima ter sido morta com a mesma arma que os seguranças portavam, mas ele ainda não podia descartar um possível assassino de aluguel no meio daquilo tudo.

Mais tarde, naquele mesmo dia...

— José, preciso que você colabore comigo. Coisa que você não fez da última vez que conversamos.

— Não estou entendo, senhor.

— Perguntei se a sua equipe de segurança portava armas de fogo. "Não, apenas armas de choque". Mas a filmagem das câmeras que mostrou o último assalto que o supermercado sofreu, também mostrou que vocês portavam revólveres, do mesmo modelo que foi usado para o assassinato da vítima.

José ficou assustado e pareceu esquecer como se fala sem gaguejar. Ele admitiu que havia ocultado a informação, mas fora por puro nervosismo. Segundo ele, tinha sindo o seu primeiro interrogatório e ele não sabia como se portar. Sobre as armas, ele contou que, normalmente, usavam as armas de choque, mas que as armas de fogo ficavam trancadas em seus armários para momentos como aquele assalto. Ele ainda disse que, felizmente, nunca precisaram usar aquelas armas. 

— E, senhor policial, naquela noite só estávamos eu e um outro segurança. Os dois no andar de cima e temos testemunhas para isso. Não pode ter sido nenhum de nós dois.

Antônio concordou com a cabeça. José estava certo. Ele, provavelmente, estava salvo de ser acusado. A teoria mais provável é que um segurança havia voltado para um turno que não era seu, entrado com uma máscara pelo estacionamento e executado o crime.

O investigador conversou com o resto da equipe de segurança, mas nada que lhe desse algo útil, apenas homens jurando que não eram culpados pelo assassinato. 

Mas ele ainda tinha alguém fora da segurança para interrogar. 

— Senhorita Daiane Miller, sim?

— Certo. 

— Qual a sua relação com a vítima?

— Conversávamos pouco. Pra ser sincera, eu não gostava dele... Mas eu nunca teria matado ele! - disse ela rapidamente, tentando reparar um possível erro.

— Você acha que Carolina, sua colega, tinha motivos para matar ele? 

— Bom, do jeito que ele estava tratando ela, ela tinha todos os motivos do mundo para fazer isso. Mas não acho que ela tenha feito. No fundo, a Ca sabia que não deveria ficar com ele. Só estava com ele para preencher o vazio.

— Que vazio?

— Quando ela começou a trabalhar, disse que nunca tinha ficado de forma séria ou namorado com alguém. A maioria de nós debochou dela e eu acho que ela tentou reverter aquilo ficando com o Samuel, mas acabou ficando carente demais dele. Ela te contou que tem alguns problemas?

— Apenas que tem epilepsia.

— É. Não sei quase nada sobre isso, mas li que está um pouco ligado ao autismo. Talvez o comportamento meio agressivo dela seja por isso? Bom, não sei, eu li em algum artigo na internet. Pode ser que não tenha nada a ver e...

— Então você acha que que Carolina foi induzida a gostar do Samuel por causa de algumas brincadeiras e uma certa fragilidade por causa de seu problema de saúde? - interrompeu Antônio, que não aguentava a voz irritante de sua interrogada. 

— Ah, tenho quase certeza. Além disso, ela não gostava do Samuel no começo. Digo, ela nem prestava atenção nele. Ela gostava de outra pessoa.

— Quem? - perguntou Antônio, esperando que a resposta fosse André.

— Isabel.

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Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 12 de setembro de 2015.

— Ca, você gosta de alguém aqui do mercado? - perguntou Daiane.

— Não. - respondeu a outra garota constrangida e um pouco sorridente.

— Ah, você gosta sim! Pode ir me falando!

Carolina apontou a cabeça na direção de uma garota que estava em pé de braços cruzados. Era uma segurança que, naquele momento, não parecia estar muito feliz. 

— A Isabel?

— É esse o nome dela, então?

— Tu não sabia?

— Eu fiquei com vergonha de perguntar, porque uma vez eu acho que fiquei encarando ela demais e ela não gostou. Pelo menos eu ouvi ela reclamando sobre algo parecido com a Natacha.

— Ah, ela tem namorada. Deve ter sido por isso.

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 14 de dezembro de 2015.

— Depois disso - continuou Daiane - eu vi que o Samuel se aproximou mais dela e eles começaram a ficar. Quando eu perguntava a Ca o que ela via nele, ela só dizia que ele era engraçado. Mais nada.

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Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre 14 de outubro e 30 de novembro de 2015.

Carolina estava ficando com Samuel, mas nos momentos em que eles não estavam juntos, ela automaticamente pensava em Isabel. A outra garota tinha perdido a sua casca grossa e as duas puderam se conhecer melhor. Ela ainda tinha namorada, mas nada impedia que Carol começasse uma amizade com ela. Sem contar que ela nunca havia ficado apaixonada por uma garota antes, não desse jeito, então era bem provável que estivesse confundindo as coisas. 

A hora do dia que Carolina mais gostava era o intervalo, pois ele quase sempre coincidia com o de Isabel e as duas ficavam jogando papo fora no refeitório.

Isabel passou a ser um ponto de fuga para Carol desde que Samuel mudou seu comportamento para com ela. Enquanto ele sentava em um ponto do refeitório totalmente afastado de Carol, fingindo não a conhecer, Isabel tentava aumentar o seu ânimo. Com ela, Carol não sentia necessidade de falar sobre o seu relacionamento frustrante. Na verdade, só de estar no mesmo lugar que ela, sem mesmo falar nada, já lhe fazia um bem tremendo.

Um certo dia, Carol começou a se indagar se os momentos em que ela chorava eram apenas por causa de Samuel ou se era tristeza pelo fato da amizade com Isabel não estar sendo o suficiente.

Lá pelo final de novembro do ano de 2015, Isabel foi demitida. Carolina ficou pior depois daquilo. 

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DEIC, Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, 14 de dezembro de 2015.

Camila e o investigador voltaram a ver as fitas de segurança do dia do assassinato, mas desta vez resolveram prestar mais atenção na parte de cima do supermercado, onde estavam os caixas e os clientes fazendo compras.

Uma cliente em especial chamou a atenção. Lá pelas 20h30, uma mulher baixa de cabelos pretos e curtos havia comprado alguns itens de higiene e alimentação.

— Você acha que ela vai fazer sopa com essas batatas? - perguntou Camila.

— Claro. - respondeu Antônio, ironicamente. 

A aparência daquela mulher batia com a que Daiane havia lhe dado de Isabel. A ex-segurança também vestia roupas masculinas, o que fez com que Antônio percebesse que havia descartado uma assassina mulher rápido demais. Eles tinham a culpada. 

Fazia todo o sentindo. Ela provavelmente também sentia algo por Carolina, mas acabou sendo demitida antes de poder contar, se é que ela faria isso. Isabel também devia manter contato com alguns de seus ex-colegas e foi sempre informada do estado emocional de Carolina. Aquilo a frustou tanto que ela resolveu se vingar pela amiga. Sem contar que, como ex-segurança, ela sabia como abrir os armários com as armas.

—-----

Algum grande supermercado, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 15 de dezembro de 2015.

Antônio e sua equipe foram informados de que Isabel estaria no supermercado naquele dia, pois teria de pegar alguns documento relacionados a sua demissão, pelo menos foi o que o setor de recursos humanos informou a eles. 

Ao chegarem lá, dito e feito. Isabel estava no caixa de Carolina, conversando com ela. Por algum momento, Antônio se sentiu culpado do que iriam fazer, pois as duas pareciam tão alegres juntas. Porém, ele tinha de fazer o seu trabalho e fora a própria Isabel que havia estragado tudo para as duas.

— Isabel Garcia Silva. - chamou Antônio.

A garota o olhou atônito, mas quando viu as algemas em suas mãos já sabia do que se tratava. Não tentou fugir e nem nada, como se já estivesse esperando por isso.

— Achei que vocês demorariam um pouco mais. - ela disse. 

— Você está presa pelo assassinato de Samuel Barbosa Lins. Tem o direito de permanecer em silêncio.

O supermercado todo entrou em alvoroço. "A Isabel? Não acredito", "Será que eles têm certeza disso?", "Mas vendo assim, ela tinha motivos e conhecimento pra fazer isso.", foram alguns dos cochichos que Antônio ouviu. De fato, eles eram demais naquele supermercado.

Quanto a Isabel, ela ficou em quase completo silêncio. A única coisa que falou foi um "desculpe" quase inaudível e envolto em lágrimas para Carolina. Essa, por sua vez, abraçou Isabel. Antônio não impediu.

— Tá tudo bem, Isabel. Vai dar tudo certo. Vou conversar com meu primo, ele é advogado. Também vou testemunhar a seu favor, tudo bem?

Isabel concordou, mas estava na hora de irem.

(...)

Atualmente, Isabel está cumprindo pena na Penitenciária Feminina Madre Pelletier. Ela não se arrepende do que fez, mas pode ter a pena diminuída por bom comportamento. O paradeiro de Carolina, desde que pediu demissão do supermercado, é desconhecido. Ela excluiu e bloqueou a maioria de seus ex-colegas de trabalho, sem medo de magoar ninguém. Talvez ela esteja querendo apenas começar uma vida do zero. 

 

(FIM)

 



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