História Tê-lo. - Capítulo Único

Há aquelas pessoas que entram em nossas vidas tão de repente e nos causam confusões emocionais tão fortes, assim como saem sem ao menos nos dizer tchau.
Este não foi o meu caso.

Não nego que a sua simples presença me incomodava, éramos tão diferentes afinal.
Ele tinha sorrisos fáceis, assuntos diversos para prender a atenção de qualquer um, uma personalidade tão dócil que me irritava. 
Irritava-me, pois o invejava, sempre rodeado por pessoas tão incríveis quanto ele, eu não deveria ser uma delas, mas a sua personalidade não o permitiria me menosprezar, o que me deixava cada vez mais invejoso.

Meses e mais meses se passaram com aquele garoto do rosto bonito e espalhafatoso me integrando à sua vida e, ele na minha. 
Levou mais alguns meses para que eu percebesse que o amava. O amava a ponto de cada pedaço de meu corpo reagir quando minha visão ia de encontro a si. A boca seca, a pulsação acelerada, o maldito nervosismo que me assolava a ponto de me dar náuseas, estava tudo sempre presente quando nos encontrávamos tão perto.
Nossa amizade não se resumia a apenas conversas e intervalos compartilhados no colégio, minha ida à sua casa era tão frequente que sua mãe sabia mais sobre minha pessoa que a minha própria. A ausência dos meus familiares era algo no qual já me habituara.
Sua família me adotara como um novo filho, e ele me adotara como seu novo...
Irmão, sua visão e sentimentos sobre mim não passavam de fraternidade, aquilo sempre me fora tão visível, mas ainda assim, eu não conseguia me afastar, evitar amá-lo a cada momento mais.

A maioridade me atingira primeiro e com ela todas aquelas responsabilidades de faculdade, emprego, independência e mais alguma outra coisa que eu não dava a mínima, me assolaram.
A cobrança era insana, juntada ao fato de que eu nem ao menos me assumira para ninguém, também vinha a tão famosa frase “Você precisa de uma namorada, não acha?”. Tudo isso levou ao nosso afastamento, mesmo que aos fins de semana eu me empenhasse em tentar me englobar aos seus novos amigos e ele aos meus, não era mais a mesma coisa. 
Sua irmã mais velha que a tanto não via voltou para cidade depois de anos no intercâmbio e, com ela a vontade de trabalhar e a mim a vontade de ajudar. Nos tornamos amigos e funcionários da mesma empresa, isso o deixou feliz e orgulhoso, e a mim? Eu fiquei mais que feliz e novamente os finais de semana voltaram a ser em sua casa na presença daquela família que eu considerava como minha.
Foi quando tudo desmoronou, ruiu e se desmantelou em frente aos meus olhos de uma forma tão assustadora que a minha vontade inicial era de afogar-me no primeiro rastro de água que visse.
Hoseok estava namorando!
Uma estudante linda, assim como ele. Eram insuportavelmente perfeitos juntos.
Mais uma vez o medo de ser deixado, de perder o pouco de si, me fez tomar a decisão mais infeliz de minha vida. Não era como se eu fosse cego e não notasse que sua irmã não tivesse o mínimo de interesse em mim, mas eu não me importava, não até os dias que se seguiram.
Ela aceitou meu pedido de um compromisso, sua família nunca parecera tão feliz e ele olhou-me nos olhos para sorrir e dizer “agora sim, somos uma família”

Me casei e constituí uma família ao lado de sua irmã, uma mulher tão doce quanto Hoseok, incrível e com os anos passei a amá-la. Era a mãe dos meus filhos afinal, o meu pilar quando necessário e a ponte que ainda me ligava ao homem que eu amava, e ainda amo.
Não direi que sou plenamente feliz, mas apenas por tê-lo por perto e o ver tão feliz me é o motivo de ainda acordar todas as manhãs.