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História Teach me... - Fighting some demons


Escrita por: thatfun

Notas do Autor


Olarrrr.
bom, tivemos mts reações diferentes por aqui, pelo tt, enfim...
Obrigada as lindas que entenderam todo o porque e o contexto da história, e aos que não entenderam, n tem problema tmb, juntas conseguiremos haha.
Eu gostei muito de escrever esse cap. saiu fácil, sabe? flui bem nele, eu acho pelo menos, vcs que me dirão haha.

PS: n sei se ja botei essa musica em algum cap, mas vale a repetição. Se tiverem disposição pra checarem a letra, é realmente muito muito bonita, fala de um puta amor e tal. E vi mt nela oq a Lexa desperta na Clarke. Espero q gostem.

Capítulo 36 - Fighting some demons


Música do Cap.

https://www.youtube.com/watch?v=dzNvk80XY9s

Sleeping At Last - Saturn

CLARKE POV

Eu corria, corria por uma rua vazia e escura, de uma sombra enorme que me perseguia, estava frio, mas por dentro de meu casaco, me sentia suar. Eu estava cansada, a sombra corria bem mais rápido que eu, e eu já não podia continuar. Parei e apoiei as mãos nos joelhos, tentando recuperar o ar, quando senti aquela presença se aproximar cada vez mais:

- Não adianta tentar fugir de mim. Disse Jaha, contra a luz, sorrindo sadicamente. Deus sabia qual seria o castigo da vez, talvez ele se sentisse comovido por meus hematomas, ou talvez não... Afinal, esses hematomas não tiveram tempo de se recuperar na espera da chegada dos próximos.

- Vem ca! Ele disse se aproximando, e o medo de seu toque violento era tanto, que me fez acordar em questão de segundos.

Acordei e instintivamente bati na mesa ao lado desligando meu despertador exagerado. Mas não tinha mesa ao lado, ou despertador, na verdade, minha mão bateu numa estrutura dura diferente, e quando abri os olhos vi que eram os braços de uma cama de hospital. Por um breve momento me perguntei onde eu estava, não me recordava de chegar lá ou de passar mal. Foi quando ao ver no pé da cama meus pais parados, sussurrando baixinho para Lexa que estava bem ao lado deles. Ninguém havia percebi que eu estava acordada, minha mãe chorava... Acho que ela já sabia. Lexa não chorava, mas seus olhos estava tão inchados que parecia que tinha levado um soco em cada um.

Queria voltar a dormir, na verdade, nem sei mais o que queria. Se dormia tinha pesadelos, se acordava vivia um outro ainda pior. Será que haveria algum estado de espirito que me fizesse viver em paz? O estado da amnésia, talvez.

- Filha. Meu pai disse ai me ver de olhos abertos.

Todos se aproximaram de mim e me olhavam com um olhar irritante... De pena.

- Como você está? Minha mãe perguntou.

Que pergunta idiota, mãe... Como acha que estou? Pensei.

Eu não respondi. Na verdade, percebi que não conseguia. Olhei pra Lexa e ela não conseguia me olhar nos olhos, que merda era aquela?

Me virei rudemente, me cobrindo até os ombros e fechei meus olhos, me forçando a pegar num sono que eu nem tinha. Após alguns minutos, escutei os passos indo em direção a porta. Ninguém dissera mais nada, nem mesmo entre eles. Desculpem causar todo esse climão.

Abri meus olhos novamente e encarei a parede. Essa sensação na boca do estômago não passaria nunca?

Eu nem mesmo sabia como devia me sentir, eu tentava ao máximo não pensar em nada, não lembrar, não me machucar mais do que estava, mas tinham momentos meio inevitáveis. Vontade de chorar o tempo todo, minhas mãos suavam hora ou outra por nenhum motivo. Era como uma ansiedade constante e eu não conseguia controlar.

Um enfermeiro entrou em meu quarto:

- Como está nossa princesinha? Disse tentando ser carinhoso, mas tudo que eu menos queria era que me chamassem assim. Eu não era uma princesinha mais, princesinhas não apanham, nem são sexualmente abusadas.

Não o encarei, continuei a olhar pra um espaço vazio, talvez na esperança de encontrar uma fenda no tempo em que eu pudesse reverter cada passo que dei no dia de hoje.

- Deixa eu checar essa febre. Esse seu ferimento ameaçou infeccionar, mas demos um jeito rapidinho. Ele disse colocando o termômetro na minha boca sem ao menos me perguntar se podia. Mas tudo bem, acho que fazer coisas com meu corpo sem minha permissão tinha se tornado uma rotina na minha vida.

Ele esperou alguns minutos e retirou o termômetro de minha boca:

- Você ta com bastante febre ainda. Vou te medicar. Disse colocando um novo tubo de plástico de soro na estrutura de ferro que segurava agora um plástico vazio de um soro que eu estava ingerindo. – Logo você estará novinha em folha. Bonita assim tem mais é que sorrir.

Eu sei que ele estava tentando ser alegre e simpático, mas minha vontade era bater a cabeça dele contra a parede até que ficasse inconsciente. Olhei pra ele com um meio sorriso pensando seriamente nessa possibilidade.

**********

Faziam dez horas que eu estava naquele quarto, estava agoniada, ainda mais por ter todos esses pensamentos, esses flashs na cabeça mesmo acordada e não conseguir externar isso. Eu não conseguia. Meus pais se recusavam a sair do corredor e Lexa entrava e saia o tempo todo...E não dizia absolutamente nada. Sei que ela estava desconfortável, mas acredite... Eu estava bem mais.

Lindsey entrou dessa vez:

- Você não vai falar mesmo, né? Perguntou sutilmente.

Aquele tom de voz suave era até cômico.

Eu não conseguia encara – la, era difícil quando tudo que eu sentia era vergonha até mesmo de receber o olhar de alguém. Não queria vê-los me olhando com pena, isso doía muito, era humilhante e ninguém entendia isso.

Queria que todos saíssem, todos!

- Tudo bem, eu posso ficar aqui em silêncio se você quiser.

Lindsey, por favor.... Vai embora. Pensei angustiada.

Eu só queria... Nem sei mais o que queria, o silêncio era ensurdecedor, mas as vozes alheias também me feriam. Era como se tudo fosse insuportável, todas as sensações, todos os lugares que eu tentava fugir dentro da  minha cabeça, sentia como se não houvesse onde me esconder.

- Tem uma pessoa com uma ideia que acho que pode te animar, mas só amanhã.

Por favor, que ninguém tentasse me animar, por favor.

Lexa entrou no quarto, colocando a mão no ombro de Lindsey. Quando foi que elas se tornaram tão íntimas?

- Linds, vai dormir. Eu fico aqui com ela.

- E o Sr. E Sra. Griffin?

- Depois de muito implorar, consegui fazer com que eles fossem dormir também. Seus pais vão ficar hospedados num dormitório aqui no campus.

Respirei fundo, protestando.

As duas se entre olharam surpresas.

- Eu posso ficar,  Lexa, mesmo.

- Não! Prefiro que você vá dormir, dei um toque de recolher pra todos os alunos, não quero que pensem que estou dando preferencias. Por favor. Pediu.

- Tudo bem. Amanhã bem cedo volto. Viu, tapadinha. Ela disse deferindo um beijo em minha testa.

Depois de Lindsey sair, Lexa pairou em frente a minha cama, me encarando. Aquilo me perturbou, não queria ser observada por ela daquela forma. Recostei a cabeça no travesseiro e me cobri, deixando claro minha opinião sobre isso:

- Desculpa. Não quero que pareça que estou te pressionando.

Ela entendeu.

- Eu queria que você falasse comigo, Clarke.

Pelo menos conseguia me olhar nos olhos.

- Eu não sei o que fazer. Ela disse, agora gesticulando e olhando ao redor do quarto. – Você deve ta me culpando.

Não, eu jamais faria isso.

- Tudo bem, você jamais faria isso. Mas quero saber o que ta sentindo, pensando, por favor.

Não, Lexa, deixa estar.

- Eu deveria deixar estar, eu sei, tempo ao tempo. Mas não da, Clarke.

Era impressão minha ou parecia que estávamos sim tendo uma conversa na qual eu nem precisava falar nada?

- Eu preciso saber o que fazer, como cuidar de você, como fazer essa dor passar.

Ela não passa. Ninguém consegue fazer isso por mim.

- Sei que é uma luta sua, mas me deixa participar, me deixa ser sua força, seu porto, sua segurança meu amor. Ela tocou minha mão e num instinto eu a tirei rapidamente. Não entendi o que tinha acontecido, só a ideia de sentir o calor de outro ser humano me tocando, me embrulhava o estomago.

Lexa me olhava impressionada, e aquilo fez com que abrisse a torneirinha.

Meus olhos se encheram de lágrimas e sem que eu fizesse qualquer movimento, elas caíram em debandada pelo meu rosto.

- Desculpa, eu não vou te tocar, Clarke. Eu espero o que for preciso pra ver você bem e se é de espaço que você precisa, é isso que vou te dar.

As palavras de Lexa me cortavam, eu estava com raiva, angustiada, estava brava... Mas suas palavras me levavam para uma zona de harmonia e amor que eu não queria, meu corpo repelia. Mas meu coração com suas batidas altas não me deixavam mentir.

Me virei de costas para Lexa e fechei os olhos.

“Obrigada por me respeitar, amor” Pensei. Como era possível que alguém agora tão danificada e impura como eu, pudesse sentir um amor tão grande por outra pessoa?

**********

Sem perceber havia adormecido na noite anterior, acordei com a luz do sol entrando por uma fresta da janela, quase queimando minha retina.  Será que nem o sol cooperaria comigo? Custava nascer mais suave? 

Lexa estava sentada na poltrona no canto do quarto. Eu havia entendido porque ela preferira que meus pais não ficassem lá, eles não teriam paciência, minha mãe principalmente iria tagarelar na minha orelha até que eu pedisse pra ser internada em um manicômio.

Eu fiquei la, olhando aquela figura cansada, ainda com seu salto alto e sua roupa impecável, dormia harmoniosamente recostada ao apoio da poltrona, olhar pra ela me fazia crer que talvez tudo fosse ficar bem.

Ela parecia sentir que eu a observava e abriu os olhos, antes que aquele emaranhado esverdeado me encarasse, olhei em outra direção.

O enfermeiro entrou no quarto, fazendo todo aquele escândalo que havia me irritado no dia anterior:

- Olá meninas. Vamos checar essa bonitinha aqui hoje? Disse indo em minha direção. – Não to falando da senhora, Pramheda, to falando da outra bonitinha. Disse tentando ser gentil.

Lexa não teve nem mesmo o trabalho de encara-lo, respirou fundo e se levantou, permanecendo ao meu lado. Aquilo me fez rir internamente.

- Menina! Mas essa febre não abaixa, vou ter que te dar um medicamento mais forte, que coisa.

- Porque ela ta com tanta febre desde ontem? Lexa perguntou.

- É um sintoma pós – traumático. Isso existe por conta de seu estado emocional, a Srta. Griffin passou por muito estresse ontem e essa é a forma de seu corpo reagir. Não parece ser perigoso, estamos mantendo – a aqui justamente por conta dessa febre chatinha.

-  E porquê ela não fala? Perguntou Lexa, magoada.

- Outro efeito pós – traumático.

- Mas será que tudo é culpa do trauma, você não tem uma resposta mais cientifica pra me dar não? Perguntou claramente irritada.

- Olha, infelizmente não, sra. Pramheda. Disse o enfermeiro compreensivo. – O emocional da gente reflete muito na nossa saúde. Clarke não consegue falar, não é falta de vontade, ela só não consegue. Não é? Disse olhando pra mim.

Simpatizei com esse enfermeiro.

- Não se exalte, tenha paciência. Ela vai falar eventualmente, só não se sente segura. Pediu.

Lexa me encarou, chateada. E concordou com a cabeça.

Me senti envergonhada com aquela cena, tudo isso por minha causa? Era como se eu estivesse estragando tudo. Eu queria mesmo falar, pedir o colo dela, chorar até doer... Mas não conseguia.

- Tudo que ela prende dentro dela, lágrimas, palavras, gritos... Tudo, acha uma forma de sair e essa forma está sendo esta febre. Ele disse depois de trocar meu tubo de soro.

- Entendo. Muito obrigada, o senhor me foi muito útil.

Lexa era tão suave como uma lixa de parede.

Assim que o rapaz deixou meu quarto, voltei a me deitar, encarando a janela, ela dava para algumas árvores e janelas das salas, pensei se alguma daquelas salas davam onde tive minha aula de ontem, o pensamento me deu arrepios.

Lexa deixou a sala e isso me fez sentir ainda mais vazia. Nem pedir pra ela ficar eu conseguia.

Após alguns minutos ela voltou:

- Clarke, tenho alguém aqui que quer te ver.

Encarei Lexa apreensiva. Eu não queria receber visitas, eu não tinha ganhado um bebê ou colocado silicone, tinha sofrido abuso sexual, será que ninguém entendia isso? Respirei fundo com irritação.

Lexa saiu da sala e deixou a porta aberta, entrou uma moça morena, com os cabelos enrolados e eram enormes. Enormes não de compridos, mas enormes de altos, era um penteado cheio meio surreal.  Eu achei aquilo sensacional, mas quem diabos era aquela garota?

Atrás dela entrou outra e outra e outra...

Que merda era essa?  Eu não conhecia ninguém. Era alguma ONG que vinha sentir pena de vítimas de abuso? Aquilo começou a me deixar nervosa, minha respiração começou a falhar, me fazendo respirar fundo muitas vezes. Foi quando, depois de seis meninas, a última... Era Octávia. Isso me acalmou um pouco.

- Clarke. Ela disse seriamente.

Eu olhei para cada uma delas e percebi o que tinham em comum... Nenhuma me olhava com pena. Elas só me encaravam, docemente, claro. Mas não pena.

- Lexa me contou de seus sintomas pós traumáticos, não espero que você diga ou reaja, não se preocupe. Queria te apresentar minhas amigas, essa é Luna. Octavia apontou para a garota com os cachos cheios. – Aquela é Echo, a da ponta é Emori, Maya, Zoe e Cece.

Todas sorriram brevemente ao serem apresentadas.

- É, Clarke. Foi por causa delas que eu não explodi por não contar nada pra Lindsey ou pra você. Nós nos encontramos e nós ajudamos. Cada uma delas, sabem o que é estar onde você está, assim como eu.

Nossa! Essas eram todas vítimas de Wick. Meu coração disparou.

- Eu passei sete meses sem conseguir tocar ou receber o toque de alguém. Isso afastou duas amigas e minha própria família.

Arqueei a sobrancelha, quando ouvi isso da mulher que chamava Zoe.

- Passei três meses sem admitir o que havia acontecido comigo. Disse Echo.

- Passei quatro meses sem conseguir derrubar uma lágrima. Disse Cece.

- Passei oito meses sem entrar em uma rede social com medo dele divulgar minhas imagens. Disse Emori.

- Passei seis meses sem conseguir ouvir as palavras festa no campus e não chorar. Disse Luna.

- Passei quatro meses achando que a culpa era minha. Disse Octávia.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

- Eu trouxe as meninas aqui, Clarke pra te mostrar que o que fizeram conosco, embora muitas tenham demorado a entender, não foi nossa culpa. Você sabe, sei que sabe porque me disse muitas e muitas vezes. Mas nosso medo era sempre maior. Nossa vergonha. Mas não temos que sentir vergonha de nada. Disse Octávia.

- Não foi vergonhoso, foi um crime, pelo qual o culpado têm que pagar, Clarke. E graças ao que aconteceu com você, ele vai. Disse Luna.

- É como se tivessem te cortado um pedaço de felicidade, não é? Como se tirassem aquele sentimento puro, infantil que você mantém dentro de você. Como se tivessem tingido esse sentimento colorido e deixado de uma única cor, uma cor que você não reconhece, que não faz parte de  você. Disse Echo.

- Porque não faz. Continuou, Octávia. – O que aconteceu com a gente, não define quem somos, só faz parte de quem somos. E aprendemos a seguir a vida apesar disso. Lembra, Clarke... Não só sobreviver? Ela disse.

E sim, eu tinha mesmo tentado incentivar Octávia de todas as formas a não se sentir como ela se sentia, mas eu não fazia ideia do que era aquilo, até descobrir.

- Agora você não tem vontade de comer, de conversar, de viver...Disse Echo.

- E os olhares de pena? Disse Zoe olhando pra elas e neste momento todas elas reviraram os olho concordando como se fosse um problema corriqueiro. Aquela forma de tratar essa situação me deu uma pontada de esperança.

- Não vamos te dizer que vai ser fácil e cada uma tem uma forma de lidar com isso. Disse Cece.

- Eu me interessei por culinária, faço um curso incrível nas horas vagas. Disse zoe. - Penso até em mudar de curso as vezes. Disse sorrindo.

- Eu consegui me expressar através da poesia. Tenho um site bem acessado. Disse Emori. - Posso te mostrar se quiser, uma galera se identificou com as besteiras que escrevo.

- Eu descobri em alguém o que nunca senti por ninguém. De brinde ganhei uma amiga meio retardada que me diverte com suas trapalhadas e seu romance instável. Disse Octavia sorrindo e me encarando, enquanto se referia a mim.

Sem querer me peguei sorrindo de volta. Não era um sorriso “nossa senhora, olha como ela tem muitos dentes”, mas já era um começo.

Elas sorriram de volta.

As meninas ficaram mais alguns bons minutos naquele quarto, começaram até mesmo a se sentirem a vontade e sentar na cama, na poltrona, no chão.

Ninguém me tocou ou me forçou a falar, ninguém me perguntou nada, elas só vieram dizer como se sentiam e me agradecer. Nessa parte me doeu um pouquinho, me sentia um estigma que teve que ser sacrificada para que aquilo tivesse um fim. Me culpei por isso novamente.

Ouvi palavras lindas, e nada no mundo tinha me causado tanto efeito do que ouvir aqueles relatos... Nada exceto... enfim.

Consegui esboçar um sorriso ainda maior quando Octávia fez uma piada sobre o que dizem pra vítimas de abuso achando que é consolo. Eu não conhecia esse lado dela, era sempre tão séria, tão sábia. Parecia até mais evoluída que todas nós. E no fundo era. Acho que é por essa Octávia que Lindsey se apaixonou, porque essa era a Octávia de verdade. A Octávia antes de Wick.

Pensar em mim como uma vítima de assédio sexual me causava pânico, sentia que era a isso que havia sido reduzida, quer dizer, além de ter tido um começo de vida de merda, sofrendo todo tipo de abuso físico, tinha que passar por isso? A quem fiz tão mal? A quem matei na vida passada? Algum papa provavelmente. Eu não gostaria de saber que as pessoas se referem a mim como vítima, não sou uma porcaria de vítima... Mas na verdade eu era sim. Aceitar é q eu era a parte mais difícil pra mim.

************

Meu corpo já não reagia da mesma forma, depois de passar a manhã com elas, me senti cansada, exausta mesmo. Como se tivesse corrido ou feito exercícios pesados. Decidi tirar um cochilo, mas aí:

- Meu deus, parece que essas meninas não iam sair daqui nunca. Disse minha mãe entrando com toda sua gentileza, seguida por meu pai.

- Minha filha. Disse se recostando na cama.

- Clarkezinha. Como você está? Perguntou. Dei de ombros.

- Ah, com a história de não falar ainda? Disse minha mãe impaciente.

- Abby, o enfermeiro disse que era natural, que isso levaria tempo, se controla. Censurou meu pai.

- Ela não tinha nem que estar aqui. Deviamos leva-la pra minha clínica, Jake. Lá temos profissionais mais qualificados e psicólogos que podem cuidar de Clarke com mais propriedade.

Hora, hora, hora...teve que ter sua filha abusada, sra. Griffin, para me levar a um psicólogo real. Aquilo embrulhou meu estomago e me fez sentir muita raiva. Mas logo passou.

Após alguns minutos tagarelando, me deitei mesmo com eles ali mesmo e fechei os olhos, minha mãe não parava de falar, meu pai bufar e aquilo estava sendo demais pra mim.

- Acho melhor deixarmos você descansar um pouco, filha. Disse meu pai.

- Não, mas ainda temos muito o que conversar sobre amanhã...Interrompeu minha mãe.

- Abby. Por favor. Não estamos em clima de festa como você pode notar. Vamos.

Meu pai deferiu um beijo terno em minha testa, e minha mãe fez o mesmo, decepcionada. Eu ainda me impressionava com toda sua insensibilidade.

Passados alguns segundos que saíram, minha mãe retornou apressadamente, sozinha, sentou em minha cama e tirou uma mexa de cabelo que estava em meus olhos:

- Você pode ficar sem falar pra sempre se quiser, se comunique por bilhetes, internet, sinal de fumaça se for preciso. Dessa vez eu vou estar aqui pra ouvir.

Ela nunca havia falado assim comigo. A encarei.

- Vou fazer tudo pra você ficar bem, filha. Você é o maior amor da minha vida. Disse com a voz embargada, me deferindo agora um beijo mais lento que o último, em minha testa.

Eu a vi sair, mas pela primeira vez, em minha garganta eu gritava pra ela ficar.

**************

O dia havia sido bem intenso, após essas duas visitas, Finn passou por lá, me levou flores e alguns chocolates, me contou sobre como a universidade estava lidando com tudo isso e que ele queria muito matar o Wick com as próprias mãos.

Me contou que Wallace Dante estava sendo deposto... Fiquei magoada por não saber disso diretamente de Lexa. Que aceitaram o depoimento de Pike incriminando Wick e que a situação do loiro era bem feia, já que nem o próprio pai queria ajudar o filho. Ele me contou ainda, que estava muito afim de uma garota, cujo nome eu nem me lembro. Fiquei feliz... Finn merecia tanto isso. 

*********

Já era noite e eu ainda não conseguia colocar um pedaço de alimento em minha boca, meu estomago embrulhava e eu havia vomitado sem nem ter nada dentro de mim. O enfermeiro insistia com toda sensibilidade pra que eu comesse, ainda dizia:

- Você com certeza quer manter esse rostinho catito. Vamos comer, bonitinha, ficar com as bochechas rosadas, anda.

Beleza....

Era algo que tão pouco me importava. Era como se eu tivesse perdido o gosto por algo que me dava sentido, assim de repente. Sentia que estava mesmo era perdendo minha identidade, aos pouquinhos, perdendo o caminho de quem eu era e não existia nada mais vazio do que isso.

Adormeci instantaneamente quando recebi um calmante de brinde do rapaz gentil, eu gostava daqueles calmantes...Vivia tomando eles em minha adolescência, gostava porque eles bloqueavam meus pesadelos.

***************

O sol brilhava mais uma vez pairando sobre meus olhos...Já era o terceiro dia que eu estava naquele lugar. Queria sair andando, mas me sentia tão fraca.

As coisas ainda não faziam tanto sentido, as lembranças ainda me rodeavam a cabeça como um alerta:

“Não seja feliz, porque sorrir? Você não tem motivo pra isso”.

Era mais irritante que meu despertador.  

Minha cabeça começou a latejar com essas ideias, foi quando fui distraída por um estampido, a porta se abriu e entraram o enfermeiro simpático e mais duas das mulheres que eu nem mesmo conhecia e atrás deles Lexa com a cara mais amarrada do mundo, o enfermeiro trazia um pequeno cupcake com uma vela.

Mas que palhaçada era aquela?

- Parabéns pra você. Cantavam.

Olhei pra aquilo tudo assustada, quem é que tinha dito que era meu aniversário? Lexa? Que ódio.

Ela me encarava sem graça e não era pra menos, quando eles terminaram de cantar, ele aproximou o bolo de mim pra que eu apagasse as velas, mas eu sentia tanta raiva por aquela festinha de merda naquele dia em que eu não tinha absolutamente nada pra comemorar, que a única coisa que consegui fazer foi jogar o bolo pra bem longe, fazendo com que ele caisse contra a parede e escorregando até o chão.

Os enfermeiros ficaram sem fala encarando o bolo e a mim:

- CLARKE! Censurou Lexa.

Que ela fosse pro inferno também. Ideia mais imbecil, pelo amor de Deus.

- Senhores, desculpem, eu espero que compreendam. Disse Lexa escoltando-os até a porta.

Eles saíram de cabeça baixa e isso me fez sentir muito chateada e arrependida, mas meu ódio pela atitude de Lexa conseguia ser maior, ela fechou a porta e se virou pra  mim:

- Qual o seu problema?

Eu a encarei irritada.

- Porra, Clarke, estamos tentando. Eu sei que essa ideia foi uma porcaria, mas não foi minha, esse enfermeiro entusiasmado queria tentar te alegrar, desculpa, eu concordei.

Olhei pra baixo com a respiração forte.

- Eu só queria saber como lidar com isso, como sanar o que você sente.

Mas você não pode.

Ela andava de um lado pro outro impaciente, olhou pra poltrona e a arrastou para ao lado de minha cama.

Se sentou nervosa, respirou fundo, parecia lutar contra seus pensamentos naquele momento.

Eu nunca vira Lexa tão incomodada em falar alguma coisa, ela mantinha as mãos nas coxas, alisando, enquanto bufava insistentemente.

A olhei com as sobrancelhas franzida.

Fala logo, mulher.

- Clarke...

Quê?

- Clarke, lembra quando te contei da minha infância? De como meu irmão não fala comigo, minha mãe faleceu e etc.

Fiz que sim com a cabeça.

- A história é um pouquinho maior eu isso.

Lexa parou de me encarar nesse instante.

- Veja bem, meu pai era do exercito, cargo alto. Mas era separado de minha mãe. Por muito tempo eu achei que ele tinha optado nos deixar, mas depois descobri que minha mãe que decidira expulsa-lo.

Arqueei a sobrancelhas em surpresa.

- Ele sustentava a casa, mas, era uma pessoa violenta. Muito violenta. Batia na minha mãe sempre que algo ruim acontecia no trabalho e eu ouvia. Sempre ouvi. Mas meu irmão, quatro anos mais novo, não lembra disso. Ele era doente pelo meu pai. Era completamente irritante esse fascínio. E meu pai sabia que eu ouvia as brigas, por isso ele nunca se aproximava de mim, pra dar presente, carinho, nada. Tudo sobrava pro meu irmão. E minha mãe.. Minha mãe, Clarke... Sua voz embargava. – Era a mulher mais linda e incrivel que já conheci. Ela era sofrida, sabe? Teve uma infância difícil, trabalhou desde cedo, mas era tão forte e tão inspiradora. Aquele colar que te dei outro dia em casa, ela quem me deu, sabia? Disse que era pra me proteger, porque quem ama protege.

E nesse momento, Lexa começou a chorar de verdade. Digo, de soluçar. Eu queria abraça-la, mas tinha medo de encostar em alguém e sentir aversão novamente, ainda mais esse alguém sendo ela.

- Desculpa. Disse respirando fundo. – Como eu dizia, éramos uma dupla, sabe? Principalmente quando ela decidiu se separar, ficamos mais unidas que nunca. E meu irmão cada vez mais apegado ao meu pai. Mas meu pai, mesquinho, pra se vingar de minha mãe, parou de suprir a casa.Ela não conseguia um emprego a muitos anos, meu pai não deixava ela trabalhar fora. Não tínhamos mais dinheiro pra nada e minha mãe, sem formação, sem experiência permaneceu desempregada.

Lexa voltara a me encarar, com seus olhos ainda lacrimejados eu podia sentir sua dor dentro de mim. Compartilhar essa história devia estar sendo difícil pra ela.

Ela respirou fundo mais uma vez, olhando pra cima, evitando que sua lágrima caísse.

- Passamos fome, dias em que minha mãe me olhava nos olhos e dizia pra eu beber água que minha fome diminuiria. Ninguém queria saber de ajudar uma mãe solteira. Naquela época arranjar um advogado pra exigir pensão era inviável. Ainda mais meu pai, ostentando o cargo que ostentava. Foram meses de ausência de dele até que chegassemos nessas condições. Era desumano, Clarke. Tomavamos banho num lago próximo de casa, no inverno dependiamos da caridade de estranhos. Após um ano nessa rotina, minha mãe conheceu uma moça, um verdadeiro anjo. Ela cuidava de uma ONG muito especial, que ajudavam pessoas como minha mãe. Depois de muita conversa, minha mãe conseguiu um emprego de recepcionista. Seu sorriso caminhando pela rua pra me contar, é uma imagem que eu nunca vou esquecer.

Ela sorria. Um sorriso triste, mas sorria nostálgica.

- Até roupas essa mulher emprestou pra minha mãe. Tudo parecia muito promissor, mas claro... Meu pai, sórdido, descobriu. Foi em minha casa e quebrou pratos, jogou panelas, disse que minha mãe não ia trabalhar fora. Que ele arrancaria os filhos dela.

Eu ficava cada vez mais impressionada. Nunca imaginei que Lexa havia passado por tudo isso.

- Ela tomou uma decisão e com a ajuda da moça, nos fugimos. Mudamos de cidade, e minha mãe de emprego. Meu irmão já começava a ver quem era meu pai. Foi quando ele me procurou. A mim, não a meu irmão, não a minha mãe... Ele me ligou e disse que queria conversar comigo. Eu era esperta, Clarke, não ia cair nessa... Mas quão esperta você pode ser aos oito anos? Ele começou a chorar no telefone, simplesmente chorar. Disse que se arrependia muito por tudo, que só queria fazer as coisas certas. Disse que nunca havia me dado a atenção que eu merecia e não havia tratado minha mãe como um verdadeiro homem. Aquilo me quebrou, meu pai mal dirigia a palavra pra mim e no fundo eu queria ser vista por ele, queria que ele me amasse como amava meu irmão, eu não discernia o tamanho do mal que ele fazia a minha mãe, mesmo sabendo que boa coisa não era.

Aquilo tudo estava me deixando apreensiva e ansiosa demais.

- Ele me ligava todos os dias, marcamos um horário e eu ficava ao lado do telefone aguardando sua ligação. Foi quando ele pediu pra me ver. Eu sabia que não podia dizer a ele onde estávamos, não desobedeceria minha mãe que me pediu com tanto medo pra guardar segredo. Então sugeri que nos encontrássemos numa lanchonete perto da minha escola. Mas ele não sabia disso. O plano era perfeito em minha cabeça.  Eu não trairia minha mãe e veria meu pai.

Respirou fundo novamente.

- Nos encontramos e foi incrível, comemos e rimos, vi um lado de meu pai que eu nunca tinha visto, ele pediu pra me deixar em casa, disse que não entraria e nem chamaria por minha mãe. Mas eu não deixei. Disse que obedeceria minha mãe. Ele entendeu, me deu um abraço apertado, disse que me amava e ficou observando enquanto eu atravessava a rua, se assegurando que eu chegasse bem ao outro lado. Pela primeira vez, eu sentia que tinha um pai, sabe? Cheguei em casa com um sorriso enorme, minha mãe perguntou onde eu havia ido e eu inventei qualquer coisa, não queria magoa-la. Foi quando, a porta abriu de repente, como uma explosão. Era ele, com uma expressão completamente diferente da que eu tinha presenciado uns minutos atrás. Ele havia me seguido. Quando o vi, fui correndo pedir pra que fosse embora, disse que minha mãe não podia vê-lo. E bom... Ele me empurrou, empurrou tão forte que bati minha cabeça na mesa da cozinha e desmaiei. Lembro vagamente de acordar zonza, sem conseguir levantar e ver meu irmão no corredor, desmaiado também. Tentei levantar pra acudi-lo, quando ouvi um gemido. Fui até o quarto ainda cambaleando e afastei a porta. Minha mãe estava deitada no chão, coberta de sangue. Ele havia batido nela até que ficasse inconsciente. Já ele? Bom, ele estava em pé, abotoando as calças como o nojento que era. Corri sem equilíbrio até ela e a sacudi inocentemente, ela tentou dizer algumas coisas, algo como “corra” ou “fuja”, nunca terei certeza. Meu pai encarou tudo aquilo como se fosse uma cena corriqueira, disse a ela, que ela não podia ter fugido dele, que isso tudo era sua culpa. E não era, Clarke. Era minha e eu sabia. Chorei e chorei e chorei desesperada, corri pra pegar o telefone, mas ele me segurou, jogando o telefone pela janela. Disse que se eu gritasse ele me mataria  e mataria meu irmão também. E ao sair pela porta, por fim...Disse as palavras que eu nunca vou esquecer, “você foi uma boa menina”.

Ela desabou nesse momento. Não em lágrimas ou desespero, mas senti que tinha trincado um coração que já estava a tempos ferido. Meus olhos permaneciam secos, tamanho meu choque com tudo isso.

- Me desculpa por não contar isso antes, mas essa é minhas história. Meu irmão assim como eu me culpa por tudo. Fui morar com a moça que nos ajudou na outra cidade, enquanto ele preferiu ficar com uma tia qualquer, nem a conheciamos, ela não queria ficar com ele, mas ele queria tanto ficar longe de mim que fez a moça que nos ajudou pedir pra essa tia. Não foi fácil, mas ela aceitou. Meu pai... Bom, não posso reclamar de seu destino. Anos mais tarde ele bêbado, abusou da filha de um general, que o denunciou. Ele passou o resto de seus dias preso, entre eles fora pro hospital quase toda semana, o pai da garota pagava os presos para lhe agredir. Eram ferimentos de facadas, lesões, de tudo um pouco. Descobri isso quando fiz dezoito anos e fui atrás dele, atrás de uma resposta, explicação, qualquer coisa. Eu estava passando por alguma crise idiota de identidade. Ele faleceu, três anos atrás, na cadeia ainda... Teve câncer no estomago e então metástase. Até as pernas ele precisou amputar antes de morrer. Disseram que ele chamou o nome de minha mãe algumas vezes, com a palavra perdão em seguida.

Lexa tinha uma expressão mais calma ao falar da morte do pai, do que da mãe. O que me aliviou, ela limpara as lágrimas de sua bochecha.

- Enfim, é isso, Clarke. Só queria que fizesse parte disso. Eu... Eu... Vou te deixar descansar, já até anoiteceu. Volto amanhã. Disse meio sem jeito indo até a porta.

Saber da história de Lexa mudou tanta coisa em mim. Não vou culpar minha infancia problematica novamente, mas a verdade é que nunca vi o mundo como ele realmente era. E dessa vez eu vi, eu vivi e eu senti e continuava sentindo a cada dia que passava, com aquelas meninas vindo me visitar, são meninas que eu esbarrava no corredor e não fazia a menor ideia do que elas estavam enfrentando. Porque todo mundo é um assim, nunca sabemos de fato q dificuldade de ser quem somos. Percebi que minha sensibilidade diante as outras pessoas mudara, eu não mais olhava pras pessoas ao meu redor, eu as via, as enxergava de fato.

Me lembrei de repente da primeira vez que vi Lexa, como a achei presunçosa e arrogante e então lá estava eu, perdidamente apaixonada por essa mulher incrível, forte e até ontem pra mim, invencível. O que sentia por Lexa naquele momento eu já não era capaz de nomear. Ela tinha se tornado mais humana pra mim, e mesmo na situação que eu me encontrava ainda achava espaço pra querer cuida-la. Ainda mais por perceber que éramos duas quebradas, duas peças partidas que se encontram em uma só.

Talvez eu sentisse aversão ou medo de seu toque, mas estava disposta a arriscar, não por vê-la fragilizada, mas por vê-la como eu, alguém que sobrevive tentando enfrentar seus demônios também. Assim que ela abriu a porta, afastei o lençol e fui pro lado, deixando um espaço em minha singela cama de enfermaria, um espaço que eu queria que fosse dela. Ela olhou uma última vez pra mim, o que foi muita sorte, sem conseguir falar não sei como iria chama-la de volta.

Me encarou e depois olhou o espaço que sutilmente a chamava e sorriu. Dessa vez não um sorriso triste como todos os outros daquela conversa, mas um sorriso aliviado, como se fosse exatamente disso que ela precisasse naquele momento.

Sem dizer nada, ela tirou os sapatos e o cinto, colocando na poltrona do lado, e deitou. Eu me virei e a senti sorrateiramente me abraçar por trás, de leve, com cuidado, medo. Me aconcheguei mais em seu abraço, dando a ela segurança para aperta-lo cada vez mais. Quando dei por mim, estava ajustada exatamente em seus braços, onde sempre havia um espaço pra mim, senti seu rosto encostar em meu ombro e isso abriu uma ferida que eu insistia em fechar, insistia em fechar da maneira errada... Um turbilhão de sentimentos me invadiu, invadiu exigindo sair. E então saíram... As lágrimas desciam descontroladamente enquanto eu chorava feito criança, apertava seu braço contra minha cintura e ela correspondia. Em silêncio, me preenchia. E pela primeira vez depois de tudo, adormeci sem ajuda de medicamentos.

*****

Na manhã seguinte fomos acordadas um pouco rudemente pelo tal enfermeiro gentil. Eu não podia culpa-lo.

- Isso aqui não é motel, meninas. Disse enquanto retirava meu soro. – E você. Precisa comer.

Eu o olhei um pouco envergonhada e Lexa despertou:

- Se eu quiser, é motel sim senhor. Lexa disse ainda sonolenta.

Tão cedo, tão grossa.

Ele a olhou sem graça, acho que esqueceu por um momento que ela era sua chefe.

Eu estava mais calma aquela manhã, ele mediu minha febre enquanto Lexa colocava seus sapatos e cinto:

- 35 graus. Que conquista. Disse secamente. Acho que já podemos retirar a medicação.

Sorri satisfeita.

Juntei forças e depois de quatro dias me senti preparada para dar outro passo em minha recuperação:

- Me desculpe por ontem. Eu disse! Um pouco lenta demais, meio tonta demais, mas disse.

Lexa arqueou as sobrancelhas e me encarou num susto:

- Clarke, você...

- Acabou de falar. Completou o enfermeiro satisfeito.

- Acho que sim. Disse com um meio sorriso.

- Não se preocupe, recebemos alunos com problemas bem menores e bem mais mimados que você. Disse em tom de piada.

- Mais mimados que ela? Impossível. Brincou Lexa. -  O que mais precisa pra ela receber alta? Perguntou ansiosa.

- Ela querer. Respondeu o enfermeiro dando de ombros.

Os dois me encararam apreensivos e acho que tinham razão. Talvez essa febre toda fosse medo de sair desse quarto, afinal, ao sair eu teria que admitir isso. Admitir que fui abusada sexualmente, não só pro mundo, mas principalmente pra mim mesma.

Respirei fundo e com os olhos ameaçando lacrimejar respondi:

- É hora de ir.

Lexa me encarou e não pôde evitar abrir um sorriso do tamanho do céu.

Seja o que for que eu enfrente, não vai ser sozinha. Tenho certeza. 


Notas Finais


Eeee ai? deu pra aquecer um pouquinho o coração?
me odeiam menos? hahaha

Beijos de paz pra vcs, suas rebeldes <3

tt: @thatfun


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