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História Teach me... - Don't go away


Escrita por: thatfun

Notas do Autor


Olá!
Desculpem a demora, na verdade pensei muitas vezes sobre voltar ou não e a vontade sempre pendeu pro não. Mas, escrever, afinal sempre me distraiu muito e isso não iria mudar agora.
A segunda desculpa é pelo capítulo, esse capítulo exigiria mais emoção, mais das duas e eu não consegui desenvolver isso como planejei desde o começo da fic, isso devido as coisas que recentemente aconteceram cmg. Comecei esse capítulo e minha vida era de um jeito, termino ele com ela completamente diferente, por isso, escrever a parte emocional veio a ser bem difícil pra mim. Espero que entendam.
E por último, esse é o penúltimo capítulo. O próximo já é o último, isso nada tem a ver comigo, é algo que já estava planejado mesmo. Enfim, espero que gostem, pelo menos até a metade do cap. foi escrita de puro e completo coração, isso eu lhes garanto. Um beijo e boa leitura <3

Ah, e os erros... Desculpem os erros, revisei bem preguiçosamente, admito.

Capítulo 37 - Don't go away


POV LEXA

 

- Respira. Respira. Puxa o ar, solta o ar, vamos lá. Puxa, solta. Vamos, Clarke, você têm que me ajudar.

Estávamos na minha cama, Clarke tinha tido um de seus pesadelos novamente. Eu honestamente temia que ela fosse enlouquecer. Sua psicóloga aparentemente dava conta nos dias de sessão, mas em todos os outros, ela ficava assim. Acordava todas as noites, chorava, reclamava, perambulava pelo apartamento. Estava pior do que quando descobrimos sobre o orfanato.

- Tudo bem. Tudo bem. Eu to mais calma. Disse se sentando e levando as mãos ao rosto.

- Vou pegar água.

- Não precisa. Fica aqui comigo. Pediu.

Obviamente que fiquei. A abracei de conchinha, isso parecia lhe acalmar, e desliguei as luzes.

- Eu estou enlouquecendo, Lex.

- Eu vou te trazer sanidade quantas vezes forem necessárias.

Senti que minhas palavras não surgiram efeito, embora Clarke se sentisse segura comigo, existia algo a mais. Algo que ela sentia, que não compartilhava. Como se apesar das crises de ansiedade, fosse uma bomba relógio, prestes a explodir a qualquer momento.

 

******

No dia seguinte, embora a universidade estivesse fechada por conta das férias de verão, precisei assinar uns papéis. Deixei Clarke dormindo e mandei mensagem avisando onde eu estaria para não preocupa-la.

 Chegando em meu escritório, Harper estava lá:

- Harper! Está de férias, o que faz aqui? Perguntei irritada.

- Precisei redigir esse contrato pra você assinar. O Rh simplesmente não responde.

A olhei irritada concordando. Maldito departamento de preguiçosos.

- Pois vamos lá com isso, temos um verão pra aproveitar, não é mesmo? Perguntei me sentando na cadeira a sua frente, ali mesmo na recepção, eu tinha pressa. Não gostava de deixar Clarke sozinha. – Sobre o que é esse contrato?

- Então...

- É problema né? Pelo seu tom. Disse reclamando.

- Depende da perspectiva, Lexa. Disse sem jeito.  - É a demissão de Charles Pike, juntamente com a liberação de alguns arquivos confidenciais que estavam em seu nome, já que depois de Wallace Dante, ele era o funcionário mais antigo. Pediram a assinatura dele.

Me irritei só em ouvir seu nome. Assinei o documento sem nem mesmo ler, já que confiava plenamente em Harper.

- Pronto!

- Espera. Tem mais.

- Mais documentos?

- Não. Ele precisa assinar também.

- Ué. Mande um boy entregar pra ele.

- Lexa eu vou resumir isso, porque eu realmente preciso ir. Disse sem graça.

Ela devia estar com pressa mesmo, nunca vi Harper falando assim. Ergui uma sobrancelha.

- Eu entrei em contato com a delegacia. Algum responsável precisa entregar isso. O boy não pode visitar Pike, ele não tem permissão, existe uma lista previamente redigida permitindo visitas. Pensei no advogado dele, mas você não quer, alguém tem que ir, faze-lo assinar e retornar com o documento e envia-lo pra esses três e-mails. Ela disse apontando um papel contendo uns endereços de email.

- Entendo. Ok. Boa sorte. Eu disse virando as costas.

- Lexa, eu tenho uma passagem de avião pras 12:00 com destino ao Havaí com uma moça encantadora que conheci faz algumas semanas, eu realmente to tentando te superar. Se você realmente não puder ir, eu vou, nunca vou negar algo a você, mas eu realmente preciso ir embora, gastei minhas economias nessa viagem e a passagem de emergencia vai estar olho da cara. Ela disse apreensiva.

Fiquei um pouco sem reação e ligeiramente chocada com a sinceridade de Harper.

- Cade o Kane? E as secretárias? Disse tentando não gaguejar.

- A essa hora, Sr. Marcus Kane está nas águas de Viena com sua esposa. As secretárias também estão de folga.

- Não é possível que não exista um funcionário pra fazer isso. Eu disse descrente.

- Existe muitos, mas você não confia em ninguém.

Eu não confiava mesmo. Ainda mais se tratando de Pike.

- Você quer dizer que eu vou ter que ir até a cadeia pra fazer aquele criminoso assinar um documento?

- Só se você tiver muito muito amor nesse coraçãozinho.

Bufei!

Filha da mãe. Eu deveria muito bem manda-la ir, mas meu coração andava mesmo meio mole ultimamente.

- Vai logo pra sua ilha. Some! Eu disse e Harper sorriu agradecida, pegando suas coisas

Antes de sair, voltou e me deu um abraço por trás. Não pude deixar de achar aquilo angelical.

- Vaza, Harper! Proferi.

Respirei fundo e olhei pro documento. Estava achando aquilo inadmissível, mas não tinha mais ninguém em que eu pudesse confiar para aquilo. O advogado de Pike era um corrupto nojento, não confiaria documentos confidenciais da universidade pra aquela cobra. Peguei meu celular e mandei mensagem pra Clarke, avisando que eu iria ter alguns compromissos, mas voltaria logo. Não quis preocupa-la com a ideia de ver Charles Pike.

Me dirigi até aquele presidio e expliquei a situação para o delegado que como sempre, um grande admirador de meu trabalho, entendeu minha falta de confiança na equipe de advogados de Pike. Ele me indicou uma sala privada:

- Aqui ficará mais à vontade. Deixa eu chamar o rapaz. Espero não encontra-lo brigado com o moleque de novo. Desabafou ao fechar a porta.

- Que moleque? Perguntei.

Ele abriu a porta ao me ouvir:

- O loirinho. O esquecido pelo pai... Como se chama... Disse estalando o dedo tentando se lembrar.

- Wick?

- Kyle Wick. Isso mesmo.

- Eles dividem cela? Perguntei me levantando.

- Por enquanto sim. O orçamento não está fácil, como a senhora sabe. Respondeu sem jeito.

- Será que... Disse sem graça. Eu poderia conversar com Pike diretamente da cela. Gostaria de trocar uma palavrinha com o garoto.

- Poder, poder, não pode. Existe uma lista de autorização, já que o rapaz é figura pública, mas... Disse me encarando. -Eu vou abrir uma exceção pra senhora. Disse abrindo a porta totalmente. Eu não sei o tipo de simpatia que esse delegado sentia por mim, mas me era sempre tão útil.

O delegado gentilmente me guiou até a cela, onde haviam guardas por todos os cantos, garantindo minha segurança. Ao chegar naquela sala mal iluminada e malcheirosa, avistei Pike sentado em um banco nada convidativo e Wick em pé com as mãos pra fora da cela.

- Essa cena é um paraíso pros meus olhos. Disse ao me aproximar. Chamando a atenção dos dois rapazes.

Nem sempre a justiça nesse país funcionava, mas quando funcionava, era lindo. Ver Pike tão prepotente sentado, todo acabado naquele banco gelado de cimento me encheu de um sentimento parecidíssimo com alegria. Mas a maior satisfação foi ver o olhar cansado de desconforto de Wick ao saber que estava dormindo embaixo de duas goteiras que caiam no que ele devia chamar de... Cama.

Wick me encarou irritado:

- Sentiu saudade, professora? Ou será que foi sua namorada quem sentiu.

- Seu moleque... Eu disse partindo pra cima dele e torcendo o pouco pulso que havia pra fora da grade.

- Ai, ai, ai, isso é agressão. Disse choramingando.

Um dos guardas tirou minha mão com cuidado da torção que estava dando:

- Senhora. Por favor! Pediu.

Assenti com a cabeça. Me virei para encarar Pike.

- Pike, preciso que assine esses documentos. Consegue? Perguntei. Ajeitando minha roupa.

- Claro. Disse educadamente, pegando o bloco de papel e a caneta que lhe entreguei. Ele estava solicito e eu arrisco dizer, que tinha um olhar cabisbaixo, envergonhado.

- Meu pai vai se arrepender e vai me tirar daqui. Escuta o que to dizendo. Wick disse massageando o pulso machucado.

- Eu não vou deixar que ele se arrependa. Além do mais, nem com todo poder do mundo você sai daqui. Tenho Clarke pra testemunhar, mais seis garotas e minha advogada como testemunha ocular de que você tentou me agredir. Eu disse segura.

- Há! Acho que sua advogada está mais como minha testemunha do que sua, Pramheda. Ele disse presunçoso.

- Ta com problema na cabeça, garoto? Perguntei não levando a sério.

- E todo mundo te achando a esperta heim? Disse rindo.

O encarei esperando uma explicação.

- Sua advogada nervosinha que me falou onde Clarke estava. E quer saber, agradeça a ela por mim. Se não fosse seus conselhos e insistência eu nunca teria visto tua cara ao ver sua namoradinha no chão. Disse sorrindo sadicamente.

Ameacei ataca-lo novamente, mas ele foi pra trás, impossibilitando com que eu o alcançasse por conta da grade.

- Do que você ta falando? Perguntei.

- A senhora é lerda, heim Pramheda. Ele disse se achando dono da situação. A mocinha foi bem clara ao dizer o quão puta você ficaria se eu tentasse algo com Clarke. Me disse até a sala que ela estava e o que eu deveria fazer. Eu nem queria machucar a Clarke, mas ela me tirou do sério. Ficou me provocando. Disse ficando irritado com a lembrança.

- Costia pediu pra você machucar, Clarke? Eu disse com fúria nos olhos. Tentando entender.

- Lexa, calma. Esse moleque é um demente. Pike disse sentado com os papeis em mãos.

- Ele é e ele vai pagar por isso, pode apostar garoto.. Eu disse querendo mata-lo com minhas próprias mãos.

Wick ficou de risinhos me provocando até Pike terminar de assinar os documentos.

- Espero que não estejam me passando a perna. Disse ao me entregar os papeis.

- Esse documento foi checado com seu advogado, eu só não confiei nele na hora de entrega-lo. Você vai receber tudo que é seu por direito, alguma vez fui desonesta? Perguntei duramente.

- Confio em você. Disse me entregando os papeis.

- Por hora. Adeus aos dois. Os vejo no julgamento. Eu disse me virando e saindo de lá.

Ao cruzar a porta de saída, liguei desesperada pra Costia, que me atendeu na quarta tentativa:

- Que desespero é esse por mim, meu amor? Perguntou.

Sua voz cínica me atingiu profundamente, quis xinga-la de todas as palavras mais baixas que conhecia, mas não existia nada no vocabulário inglês que expressasse o tamanho da minha raiva.

- Podemos nos ver? Perguntei friamente.

- Agora? Não está com a loirinha? Perguntou interessada.

- Não. Quero ver você.

Ela respirou fundo, se empolgando com a ideia:

- Claro. Podemos nos encontrar no bistrô da rua...

- Não. Eu disse interrompendo-a. Eu queria te ver num lugar mais privado.

- Ulala! Tem certeza?

- Absoluta. Respondi.

- Está com saudade, Lex? Perguntou confusa.

- Você me conhece bem. Disse irritada.

Combinamos de nos encontrar em seu apartamento. A minha raiva era tanta que sentia meus poros abrirem sobre minha pele, meus pelos se arrepiarem, sentia que podia explodir e queria explodir do ladinho de Costia pra que ela virasse um emaranhado de pedacinhos. Cogitei até mesmo levar um taco de baseball e mata - lá lá mesmo, mas o trabalho que eu teria pra esconder o corpo me fez mudar de ideia.

Olhei meu celular e Clarke não havia visualizado minha mensagem. Comecei a me preocupar, mas percebi que havia chegado no prédio onde Costia morava. Antes de entrar, me lembrei da maldita documentação. Tirei uma foto, na luminosidade da luz do carro e mandei pros e-mails que Harper havia me passado.

Entrei e pedi para ser anunciada pelo porteiro.

Subi pelo familiar elevador, respirando fundo a cada andar. Eu juro que podia assassinar essa mulher, que Deus me ajudasse.

Subi 14 andares, com a esperança de me acalmar, mas nem a música brega do elevador conseguiu fazer esse trabalho. Cheguei em seu andar e sua porta estava entre aberta. Costia estava ansiosa pra me ver.

Entrei sorrateira, ela estava sentada no sofá, com uma roupa casual, daquelas que você demora horas para escolher, mas diz “vesti a primeira coisa que encontrei”. Antes que ela pudesse se levantar pra me encarar ao ouvir minha movimentação, contra todos meus princípios e etiquetas, virei um tapa canhoto em seu rosto, fazendo – a cair no chão. Ela colocou a mão na face agora avermelhada e me encarou estupefata.

- Mas, o que...

- Diz que é mentira. Me diz que você não instigou Kyle Wick Wallace a ir atrás de Clarke. Eu disse, já gritando.

- Lexa. Ela disse com os olhos cheios de lágrimas, se levantando.

- ANDA, COSTIA! DIZ! DIZ QUE VOCÊ NÃO INSISTIU PRA QUE ELE FOSSE A SALA AO LADO ESTUPRAR UMA GAROTA QUE NADA TINHA A VER COM SEUS SENTIMENTOS POR MIM. QUE NADA TINHA A VER COM AS COISAS QUE EU FAÇO OU FIZ COM AQUELE DOENTE. DIZ! Eu implorava. Eu não estava me dirigindo a uma qualquer. Era Costia... A Costia da qual eu dividi cinco anos de minha vida, que conheceu minha intimidade, que por algum momento eu realmente cheguei a me apaixonar. A Costia que me apoiou quando precisei, que me ouviu, que era além de tudo uma grande amiga que por mim, levaria pra vida toda. Era ela quem eu estava acusando, não só de um crime, mas de uma atitude nojenta e repugnante. E tudo isso contra a mulher que eu mais amava no mundo, contra a pessoa que eu mais amava no mundo. Eu de todo coração, não queria que fosse verdade.

Já em pé, ela se aproximou, ainda chorando:

- Não foi exatamente assim...Tentou se explicar inutilmente.

- Olha nos meus olhos e diz que você não fez isso. Você consegue? Consegue mentir pra mim, Costia? Perguntei fuzilando-a com os olhos, a centímetros de seu rosto. Sentindo o ar quente de sua respiração diretamente nos meus lábios. Minha voz já vacilava, embargada em ódio.

Costia fechou os olhos, deixando múltiplas lágrimas que esperavam pra escapar. Coloquei a mão na cabeça ainda sem conseguir acreditar:

- Você é a pior pessoa que eu já tive o desprazer de conhecer. Você é nojenta, Costia. É pequena, você não machucou uma pessoa, você machucou uma pessoa que já era machucada desde pequena. Isso foi maldade, foi absurdo, foi doente. Você não é melhor do que aquele moleque que está atrás das grades esperando julgamento. A única diferença entre vocês dois, é que tenho provas pra prendê-lo pra vida toda. Eu disse batendo o punho no balcão da cozinha a cada palavra proferida.

- Lexa, eu não devia, eu sei. Me arrependi assim que vi Clarke ser levada de lá numa cadeira de rodas. Choramingou.

- NÃO FALA O NOME DELA. Eu disse deferindo outro golpe com a mão aberta na outra face de Costia. Empurrando-a.

Costia estava no chão, mas isso não me foi o bastante. Subi em cima de sua cintura, abrindo minhas pernas e me sentando em cima dela. Deferi um soco em seu nariz, mas a impedi de cobri-lo. Agarrei seu pescoço com as mãos.  A raiva me cegava, eu não sei o que me dava mais ódio, seu arrependimento, sua cara de pau, sua atitude...ou talvez fosse tudo isso junto. Apertei seu pescoço aumentando minha força cada vez mais e a senti ficar sem ar, arregalou os olhos e mexia seu corpo em desespero embaixo de mim. Me vi tirando o ar de seus pulmões, quis honestamente ver a vida se esvair de seu rosto, mas...

A soltei e levantei apressadamente de cima dela. Costia ficou de quatro, enquanto tossia em busca de ar. Eu não me reconhecia. Não era uma assassina e Costia não me transformaria em uma.

- Eu não vou te matar, não vou acabar com a minha vida e com a vida que quero ter com Clarke, sujar minhas mãos e minha liberdade por sua causa, Costia. Seria um castigo fácil demais.

Costia me olhava, ainda tossindo:

- Sua sorte é que não posso obrigar o moleque a contar o que você fez, mas como você já sabe...Vou assumir o cargo do Dante em alguns dias. Ela me olhou com os olhos arregalados em surpresa:

- Ah, acho que você não sabia. Eu disse cinicamente. Ninguém quer a imagem do pai de um aluno estuprador ligada a universidade, e o conselho entrou em um acordo de que eu estava preparada para assumir o cargo. E assim que eu assinar aquele contrato, considere-se demitida.

- Lexa, por favor. Em consideração... Aos nossos anos de amizade... De amor... Disse com dificuldade.

-  Amor, Costia? Você só ama a si mesma. Ninguém com amor no coração, por qualquer ser humano que for, faria algo tão baixo quanto o que você fez.

- Eu fiz isso porque quis proteger você.

A olhei incrédula.

- Ele te perseguiria enquanto pudesse. Disse passando a mão por seu pescoço. – Ele queria se vingar, Lexa. Era você ou ela... É claro que escolhi proteger você.

Me aproximei de Costia, que se mantinha ereta:

- Meu deus... Você é doente, Costia. Pro seu bem e pras pessoas que te cercam, procure ajuda. Eu disse medindo-a, sem acreditar no que dizia.

- Não faz isso comigo. Não corta relações comigo de novo. Eu não vou levar o que você fez a sério. Me perdoa, eu peço perdão pra ela também... Só não se afasta. Ela disse pegando meu braço:

- Costia! Me solta. Eu não quero mais olhar pra essa sua cara. Eu não te matei hoje, mas pra mim você morreu. Eu disse me desvencilhando violentamente de sua mão. Costia permaneceu me olhando ir embora, com os olhos estatelados e a respiração ainda difícil.

Saí de lá sem uma lágrima nos olhos e sem nó na garganta algum. Eu podia ter feito mais, machucado mais, mas sabia que sair da vida de Costia, dessa forma, era ferimento o bastante pra ela. Além do mais... vou demiti-la e queima-la profissionalmente pra todo mundo que eu puder, sinceramente dou a carreira de Costia por encerrada.

Olhei meu celular no caminho de volta pro apartamento e haviam cinco ligações perdidas de Clarke. Me desesperei na hora. Clarke estava depressiva demais e a terapia não estava fazendo tanto efeito quanto da outra vez que sentira essas crises. Eu estava com medo do que ela pudesse fazer. Corri, corri muito com o carro enquanto tentava contata-la sem sucesso.

Após alguns eternos minutos cheguei esbaforida no meu apartamento. Entrei:

- Clarke? Clarke? AMOR? Chamei andando apressadamente pelo apartamento amplo.

- Lexa! Ouvi sua voz suave me chamar, do quarto.

Entrei desesperada, avistei Clarke sentada na cama, vestia calça jeans e uma regata branca. Nunca mais a vi de vestido. Sentia falta daquela leveza que Clarke emanava. Usava sandálias com tiras de salto alto, estava arrumada.

- Amor? Onde você foi? Ta tudo bem?

- Está sim. Respondeu. Tinha os olhos vermelhos. Se levantou e se aproximou de mim, parecia que ia me abraçar, mas passou reto e agarrou uma mala de rodinhas atrás da cama, que eu não havia notado.

- O que é isso? Perguntei confusa. – Foi pegar mais coisas no seu dormitório, amor?

- Fui. Respondeu, me aliviando.

- Vamos arrumar tudo. Colocar no guarda roupa. Eu ajudo, você comeu? Eu fui falando desenfreada. Estava nervosa.

- Lexa, para, para! Ela me impediu. – Senta aqui. Disse me guiando até a cama.

Sentei. Minhas mãos tremiam. Realmente eu não estava me reconhecendo naquele dia.

- Lex. Eu tenho ido nos meus pais quase todos os dias, como você sabe. Temos conversado muito. E bom, meu pai me deu uma ideia... Que ele pensou juntamente com minha avó, acredite ou não. Ela disse achando graça. – Eu vou viajar, por um tempo.

- Quanto tempo? Perguntei ansiosa.

- O quanto for necessário. Disse objetiva.

Senti minhas bochechas quentes.

- Clarke, calma. Vamos pensar nisso juntas, como um casal, ok?

- Não Lexa! Ela disse se levantando. Não podemos pensar nisso como um casal, porque não sofremos como um casal. Ela disse irritada.

- Como não? Eu tinha realmente me magoei com aquilo. – Eu to aqui com você todos os dias, posso não sentir exatamente sua dor, mas ver você assim me deixa sem chão.

- Pois é, Lexa. Você não sente exatamente minha dor. Ninguém sente. É tudo muito lindo o que as pessoas fazem por mim. Sempre me apoiando, me querendo bem, mas ninguém sabe a merda que isso é.

- Mas eu quero tentar entender. Me levantei.

- Mas eu não quero que sinta isso, não você. Eu não sou mais eu mesma. Pensa que não vejo como me olha.  Como sente saudade de como eu era. Algo mais do que essa casca seca e vazia que me tornei? Você sente falta, dos papos, dos vinhos, dos almoços, do sexo. E eu já não sou capaz de te dar isso.

- Clarke, eu não me importo. Eu espero, será que já não te provei isso? Espero você voltar a ser quem era. Eu disse num desespero.

- E se eu não voltar? E se essa for quem eu sou agora...

-  Então vou amar essa Clarke mal humorada da mesma forma. Eu disse chorosa.

Clarke tinha os olhos marejados, eu sei que isso estava doendo pra ela, mas caramba...Estava doendo demais em mim também.

- Pra onde você vai? Perguntei.

- Por aí... Disse vagamente.

- Não vou nem mesmo saber pra onde você vai? É isso, então? Está me deixando e cortando qualquer contato comigo?

- Não! Não é isso.

- Não faça isso comigo. Pedi já chorando.

- Eu preciso, Lex. Eu preciso fazer isso por mim. Ela disse agarrando a mala.

- Me deixe te levar até o aeroporto, que horas é o voo? Eu disse com um resquício de sensatez. Abraçando a realidade.

- Não! Meus pais vão passar aqui pra me levar, não posso fazer isso com você.

Me ofendi tanto. O que eu me tornara pra ela?  Meu deus, que desespero. Que falta se consideração. Me senti uma completa estranha em sua vida.

- Clarke, não é possível que não sinta nada. Que vá embora, que deixe o que somos e não sinta nada sobre isso.

- Lexa esse é o problema, eu sinto demais. Ela disse com a voz quase inaudível.

Se aproximou de mim e deferiu um selinho sutil em meus lábios. Eu tentei abraça-la e intensificar o beijo, mas ela se afastou prontamente ao perceber isso. E com a voz embargada disse:

- Não! Eu te imploro...Me deixa ir.

- Fica! Eu que te imploro. Pedi, segurando sua mão.

Ela fez que não com a cabeça enquanto chorava como uma criança que acabara de raspar o joelho no asfalto. Se virou e foi devagar até a porta:

- Como pode me deixar? Depois de tudo? Perguntei insegura.

- Se eu não deixar você, estaria deixando a mim mesma. Ela disse segurando a maçaneta.

Nesse momento pude ver o quão insuportável isso estava sendo pra ela. A vi sair e fechar a porta lentamente. Meus olhos não podiam acreditar, tanto que lutamos, tanto que tentamos e sofremos e agora... Pra que?

Eu sentia mais revolta do que qualquer outro sentimento. Não revolta com Clarke, pelo menos não só com Clarke, mas por tudo. De tudo. Dessa situação de merda. Porque nunca tinhamos tempo de ter uma relação normal.    Calma. Leve. No mínimo, juntas.

 Sentei no sofá e me permiti sentir. As lágrimas correram desesperadas, uma atrás da outra e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.

Levantei e cambaleei até minha cama, agarrei seu travesseiro e o abracei com força, inalando todo cheiro que Clarke havia deixado e como aquilo doía. Senti a fronha ficar molhada tamanho eram minhas lágrimas, quando dei por mim...cochilei.

Acordei algumas horas depois, ainda era dia, num instinto imbecil, chamei por Clarke:

- Clarke?

Pra então me lembrar o que havia acontecido naquela tarde. Me levantei e sentei na cama, antes que aquele desespero retornasse, foi quando vi que tinha algo embaixo de onde estava o travesseiro de Clarke. Era uma folha dobrada. A peguei confusa e a abri. Era uma carta, escrita as pressas por ela:

“ Sei que deve estar me odiando agora, mas acredite, você não é a única. Precisei sair dessa forma, ou não sairia. Como deixar você, Lexa? Eu não sei. Cada pedaço de mim está faltando de alguma forma, acontece que hoje acabei deixando o mais importante deles. Entenda que, eu preciso disso. Preciso ou outrora acabaria com esse sofrimento de alguma outra forma. Sei como isso soa, vindo de mim que sempre tive essa plenitude com a vida. Mas essa não sou mais eu. Aquele dia na universidade, sinto que me foi arrancado não só a vontade de viver, mas a alma, os sonhos, a vida. E minha prioridade agora é juntar esses cacos e me tornar inteira pra você de novo. Eu espero que me perdoe um dia, porque mesmo partida e incapaz de sentir qualquer coisa de bom, tudo o que tenho aqui dentro de luz é o amor por você.

... Com carinho, Clarke. “

As lágrimas voltaram a rolar e agora inundavam a folha deixando-a borrada. Como eu pude ser tão egoísta? Essa mania do ser humano em achar que empatia é saber o que o outro sente. Eu não sei o que Clarke sente e nunca vou saber, e embora machuque como o inferno vê-la ir, eu não consigo culpa-la por me deixar. Não consigo.

Voltei a deitar em seu travesseiro. Pensativa. O desespero retornava aos poucos, juntamente com as lágrimas e uma angustia, que me faltam palavras para explicar, algo que crescia no peito, preocupação, medo, receio, saudade. E principalmente tristeza, de quem via alguém ir, e insistia em sentir esperança desse alguém um dia voltar.

- Eu espero, Clarke. Eu espero. Disse a mim mesma, esperando que ela sentisse de alguma forma.



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