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História Teia de Mentiras - Kikyou


Escrita por: CrystalTsukino

Notas do Autor


E chegamos aqui, onde as coisas ficam ainda mais complicadas de se resolver... mas vamos seguindo.
Temos uma música para esse capítulo, chama-se Stretched On Your Grave e é interpretada pela cantora Zuberoa Aznárez, vocalista da banda Diabulus in Musica. No momento em que nossa protagonista estiver tocando harpa, ouçam se desejarem e naufraguem um pouco mais na história, vou colocar o link nas notas finais, porque por algum motivo que não compreendo o AS não permite links nas notas iniciais (eu hein).

Aliás, se interessar, o álbum todo da Zuberoa - Beyond the Threshold - me inspira a escrever essa fanfic. Aconselho-os a ouvir, para quem gosta de música New Age é uma boa pedida. Lindo demais!
Agora, vamos ao capítulo. Acho que o nome dele já diz alguma coisa, não é mesmo? AH! E, sim, aqui fica o aviso: cenas quentes, como a gente gosta.
Boa leitura!

Capítulo 13 - Kikyou


— Oh...  Annabelle arfou quando a mão saudosa encaixou-se entre suas pernas e moveu o dedo carinhosamente, contornando-lhe a brecha úmida e quente.

Estavam deitados, havia apenas os dois e cenário nenhum. Ele, acomodado sobre o corpo delicado, beijava-lhe o pescoço, depois os ombros. Não satisfeito, descia até a língua poder experimentar os seios fartos. Os cabelos cobriam-lhe a face enquanto o jovem mestre deixava seu rastro demarcando por saliva a barriga lisa e ia ainda mais embaixo...

— Hi-to-mi... arquejou ao sentir a língua morna serpentear pelo botão inflado e escorregar para dentro da abertura. Enredou a nuca dele com as próprias pernas, arranhou o chão melado pelo próprio suor. Seu sexo palpitava, provocando espasmos pelo corpo todo. Sem barreiras, ela se derramou completamente entregue.

O homem de seus olhos levantou a cabeça lentamente, enxugando com o braço o muco escorrido da boca ao queixo. Annabelle, sorridente, diria o quanto sentia a sua falta quando viu a cor de seus olhos – sangue.

Quanto sangue não haveria dentro daqueles olhos cruéis? Quantos disparates não sairiam daqueles lábios sádicos?

Ela pensou em se afastar, todavia seus braços e suas pernas estavam amarrados em indestrutíveis fios de seda – a teia dele.

— Não...  aterrada, tremeu incontrolável.

— Annabelle Rose...— o timbre irresistível, arrastado, quase a hipnotizou.

Capítulo 13 - Kikyou

— Ah! — o grito escapuliu arranhando a garganta — ela sentou ofegante, sua túnica branca colava-se ao corpo diante ao suor. A virilha, bem como sua feminilidade, estava encharcada, a ruiva espiou por baixo do lençol e amaldiçoou-se por aquilo.

— Teve bons sonhos? — o nojento sentava ao seu lado, como das outras vezes desde quando fora resgatada. Porém, nessa data específica ele tornava a usar as mesmas roupas do falecido Kagewaki. Ela se recusou a encará-lo — Parece que sim... — mirou as pernas abertas por debaixo dos panos — Não faz outra coisa além de dormir, não é mesmo? — mirou a bandeja de comida, intocada.

Há alguns dias ela estava cativa no castelo obscuro. No entanto, dessa vez não havia escapatória, estava temporariamente fraca e a barreira de Naraku a desnorteava. Ela não encontrava saída. O maldito parecia mais forte do que antes e ela suspeitava a razão. Além da esfera quase completa brilhar escondida num dos ombros do hanyou, lembrava-se de relance de uma presença no castelo – mulher trajada em vestes de sacerdotisa, longos cabelos e olhos negros – ouviu falar seu nome: Kikyou. Annabelle tinha a impressão de já tê-lo ouvido antes, entretanto, estava tão confusa e atordoada pela energia do local e pelo resquício de poção no seu organismo que a passagem de tempo parecia confusa. Naraku tinha razão, ela dormira demais nos últimos dias. Enquanto Annabelle encontrava-se enfraquecida, ele, em contrapartida, estava mais poderoso do que nunca.

— Você percebe, não é? — insistindo naquela conversa sem sentido, o raptor a encarava sorridente. Ela era a única a se culpar por ele ter percebido, afinal, cravara as turquesas no ombro onde a Joia de Quatro Almas resguardava-se — Você, Kikyou e aquela garota que anda com Inuyasha... as três conseguem sentir a presença dos fragmentos. Não bastava ter esse poder imenso dentro de você, — riu-se — além de tudo é capaz de identificá-la... — cuidadosamente, afundou o indicador e o polegar na região, trazendo consigo a valiosa peça, dantes rosada, agora levemente escurecida.

— Eu não quero nada com isso. — rouca e ainda sem muito fôlego, arrastou-se para perto da parede e encostou-se lá, mirou o outro lado do quarto com o semblante vazio — Amaldiçoe-se sozinho...

— Você não tem ideia do quão grandiosa a Joia de Quatro Almas é... — a luz da pedra refletiu púrpura nos rubis ambiciosos — Ela poderia, inclusive, trazer os mortos de volta à vida. O seu Hitomi. — tornou a dedicar sua atenção à refém acuada, abraçada às pernas — Se me ajudasse a encontrar os fragmentos...

— Esqueça. — cortou-o — Eu já disse, amaldiçoe-se sozinho. Não serei cúmplice disso. — quis elevar a voz, ofegou em consequência.

— Humpf! — Naraku guardou seu bem precioso de volta onde estava e se levantou. Depois de ajeitar suas nobres vestes, fitou a cativa mais uma vez e deu a última palavra: — Já que quer assim, os dias serão longos para você, Annabelle Rose. De qualquer maneira, se você não coopera, tenho quem o faça. Vista-se, suas roupas estão na arca que seu querido Hitomi separou para você, você as esqueceu junto a seu cavalo. Uma pena o animal não ter sobrevivido ao meu miasma, hu, hu, hu... — e partiu à moda costumeira, exibindo um de seus sorrisos mórbidos e misteriosos, a esbanjar a perversidade que lhe cabia e a deixar o estrago em seu rastro.

...

Tempo suficiente se passou para a dona dos cabelos acobreados desistir da ideia de se entregar a irmã. Em verdade, já não parecia desejar morrer, não parecia desejar qualquer coisa. Não se dava o trabalho de trajar um vestido sobre a roupa de baixo e o espartilho. Rodava pelo quarto toda de branco, alumiada pela tênue luz que era sua, o brilho que a mantinha viva e a salvo do miasma.

No fim das contas, ela era uma sobrevivente. E por mais miserável que estivesse, Naraku não conseguia quebrá-la por completo. Annabelle vivia dos restos que a vida lhe deixara – as memórias – em especial, o espectro do dia em que ela se entregou ao homem que amava.

— O que está fazendo? — ele entrou no quarto enquanto ela dançava com o vento.

Não respondeu, permaneceu concentrada nos passos graciosos, dando a mão ao nada e sorrindo como se olhasse nos olhos de alguém querido. Naraku a chamou pelo nome duas vezes, e tornou a ser ignorado. Ela girava, perdida dentro do mundo que criara para não enlouquecer de tristeza.

As mãos tortuosas seguraram seus ombros e a obrigaram a parar. O riso escorreu em reta assim que o reconheceu.

— Mandei trazerem a sua harpa. — disse sério. Ele estava diferente das outras vezes, parecia aturdido.

— Você não está bem. — como sempre, enxergava através de sua alma — Tem algo a ver com aquela sacerdotisa que esteve por aqui?

— Estou começando a perder a minha paciência com você, mulher. — avisou irrequieto.

— Kikyou... já ouvi aquele nome em algum lugar. — esforçou-se para lembrar, e quando conseguiu foi sua vez de rir — Não foi a mulher que você matou porque não pôde ter para você? Como ela poderia voltar à vida do dia para a noite?

— Cale-se. — o escárnio não dera o ar da graça em rara vez.

— Eu vejo... você está perturbado por causa dela — a satisfação da prisioneira o fez ranger os dentes a ponto de quase trincá-los — e se julga por isso. No fim das contas, você não consegue escapar da sua essência. — aproximou-se perigosamente, encarando-o direta, sem uma piscadela — Essa é sua oportunidade de me deixar em paz de uma vez por todas, não tenho serventia alguma para você.

A mão agarrou-a pelo pescoço, impetuosa, e a suspendeu parede acima até seus pés descalços desencostarem do piso, debatendo-se.

— Faça! — apertou-lhe o braço com as duas mãos, arranhando-o — Faça! — urrou vidrada no sujeito, apesar da dor e do desconforto, seus olhos permaneceram arregalados, certeiros.

Naraku a soltou de súbito. O corpo fez pequeno estrondo ao cair ao chão. O hanyou, silente, deu-lhe as costas enquanto um criado do castelo trazia em mãos o instrumento dourado de Annabelle.

...

Há pouco tempo, Naraku tomou ciência de que Kikyou estava "viva". Ela quebrara seu feitiço de fuko¹, permitindo que o emaranhado de youkais constituíssem seu novo corpo.

Enquanto Annabelle jazia perdida entre o sono e a lucidez, o rival de Inuyasha levara a sacerdotisa à sua propriedade nefasta e tentou manipulá-la a lutar contra sua reencarnação. Surpreendentemente, Kikyou entregara-lhe a bela fatia da Joia de Quatro Almas que estava sob a posse do grupo inimigo, e mais: prometera trazer outros fragmentos, coisa que Annabelle se recusou a fazer. O retorno da sacerdotisa aperreou os pensamentos do hanyou. Via-se dividido entre duas criaturas, desejando-as em segredo, atormentado por fantasias dignas do bandido escalpelado que lhe deu origem.

Odiava-se pela ominosa herança, e rogava para que a pedra o ajudasse a apagar aquele passado, a apagar o negrume dos olhos sacerdotais, a apagar o fogo dos cabelos de certa estrangeira.

Um som angelical despertou seu interesse. Soou baixo no início, aumentou de frequência gradativamente, conforme os pés o levavam por conta própria até a porta encostada onde ele a espiou pela brecha.

Annabelle, mais magra do que já era e devidamente abatida, sentava graciosamente em um banco de madeira enquanto dedilhava as delicadas cordas e cantava em sua língua materna. Embora Naraku não compreendesse a letra, a sonoridade da canção o remetia a sentimentos de melancolia e nostalgia.

"Kikyou, ela voltou..." — como era possível sentir ódio e contentamento pela descoberta?

"Annabelle..." — reviveu o calor dividido com ela no dia em que quase fora assassinado e foi salvo pela mesma divindade. Estava viciado na lembrança daquela sensação, ansiava por compartir de tamanha paz muitas vezes mais. Afinal de contas, com ela Naraku experimentou tranquilidade.

De início, sentiu-se insultado por ser alvo da piedade de alguém. Com o tempo, outro tipo de sentimento cresceu sem que se apercebesse – uma espécie de comoção por uma pessoa, ao menos, dedicar a ele algo aproximado à afeição.

— Você está triste. — a voz soou falada enquanto a música ainda era dedilhada com delicadeza.

— Huh! — bufou — A pessoa mais triste e miserável desse castelo é você, Annabelle Rose. — arrastou a porta e entrou sem cerimônias — Por que não toca algo mais alegre? — sentou-se encostado à parede, fitando o cenário além da janela lacrada por grades.

— É, você está precisando... — letárgica, suspirou sem muita emoção e partiu a tocar algo em escala maior, uma canção folclórica de suas terras.

— Você se importa? — abandonou a visão da paisagem mórbida para fitá-la elegantemente sentada. Por trás do véu da indiferença, havia certa expectativa naquela pergunta.

— Faria alguma diferença? — de olhos fechados, procurou se concentrar no ofício de tocar a harpa.

— Não me diga que você começou a alimentar algum tipo de sentimento por mim? — recobrou o humor sórdido e foi até a musicista fosca, mas não obliterada. — Isso seria divertido, de certa forma... — laçou os dedos a algumas madeixas e as trouxe ao nariz, aspirando o aroma afrodisíaco de rosas.

— Meu coração pertence a um homem, aquele a quem me entreguei, e só. — respondeu estremecida. Seu dedo escapuliu da corda certa e provocou um som dissonante.

Naraku estava pronto para responder, mas uma presença repentina o emudeceu e surrupiou sua atenção. Kikyou, com a ajuda de suas serpentes coletoras de alma, pousou sobre o jardim desértico. Annabelle findou seu humilde recital e virou as costas para o hanyou. Ele, correspondendo à quietude, abandonou o quarto. Poucos instantes depois, sorrateira, a estrangeira se arrastou silenciosa até o cômodo de onde duas vozes soavam:

— Aqui está, como prometi. — disse a mulher depois de atirar ao chão alguns cacos lilases de vidro.

"Então é ela quem fornece fragmentos da tal joia para ele!" — o coração ardeu no peito enquanto os dedos contraíam-se por baixo das longas mangas de seda – "Por quê?!" — as pupilas dilataram-se.

— Ainda não entendo a razão de estar me favorecendo, Kikyou. — ele, sentado num canto escuro, retrucou desconfiado.

— Parece que temos companhia. — a sacerdotisa comentou.

— Annabelle, o que faz aí? — Naraku já sabia.

Abriu a porta timidamente e se mostrou. Ao menos vestia uma de suas roupas – um vestido branco com bordados dourados, contrastando com a escuridão local.

As mulheres de diferentes etnias encararam-se por longos segundos. Os olhos não se atreveram a piscar, as bocas não se curvaram ou balbuciaram qualquer som.

— Contemple, Kikyou, — Naraku se levantou e apontou a forasteira — uma mulher que supera seus poderes sem sequer possuir o título de sacerdotisa. Uma pena ela pensar pequeno e optar por manter esse trunfo guardado. Enquanto tantos lutam para crescer e tornarem-se fortes, essa mulher deseja ser apenas uma criatura comum. Isso me lembra alguém... — mirava a donzela ressuscitada sem cortesia.

— Não me diga que arrumou uma distração qualquer para tentar me esquecer. — Kikyou riu discreta — Mais um plano que certamente cairá por terra, Onigumo. — austera, dirigiu-se à porta e inevitavelmente à outra, quieta e estática, sem emotividade aparente — Não caia na conversa, você jamais estará apta a me substituir e ele sabe disso... — sussurrou-lhe ao ouvido.

Annabelle sentiu-se estranhamente incomodada e se retirou afoita. Naraku, afrontado, espalhou seu youki maligno e revoltado pelo quarto.

"Como ela se atreve?" — rosnou.

Contudo, desapercebida, Kikyou dera-lhe uma ideia. Annabelle era atraente, e parecia esconder alguma empatia anômala por ele. Naraku sabia também que a mulher nutria uma espécie de atraçãopor ele. Toda vez que estavam muito próximos, ou mesmo quando o araneídeo utilizava seu tom galante, o aroma dos fluídos da humana quase o entorpecia de tão denso. E, por outro lado, se a conquistasse, poderia convencê-la a encontrar os fragmentos da joia, a se fazer de escudo para ele. Nada o atingiria com Annabelle em sua defesa.

Ambição mesclada à luxúria enegreceram o semblante do indivíduo até que sua razão gritou indignada:

Imagine, ele, Naraku, usar de tal artimanha tão supérflua e enrascar-se por conta de outra humana?! Como sequer cogitara aquela ideia imbecil? Seu desejo não era desenvolver sentimentos por qualquer criatura que fosse, e sim livrar-se dessas ervas daninhas que ainda o ligavam a seu progenitor humano. Não, Annabelle era um peão em sua mão e assim continuaria sendo até o fim de tudo, quando ele tivesse para si o que tanto almejava!

E o que diabos ele almejava?

Estava confuso e detestava essa condição, precisava estar ciente do que realmente queria para a Joia de Quatro Almas não falhar consigo. Kikyou fizera aquilo, antes de ela ressurgir moldada pelas mãos de uma bruxa, Naraku tinha total consciência de o caminho a seguir. Annabelle? Ah, era uma distração, não era mesmo? Sim, certamente! Aquelas sensações estranhas, similares a desejo ou mesmo afeto, eram espectros de sua natureza humana que com o tempo se reduziriam a pó, bastava que se livrasse da pálida e mortificada donzela incumbida de encontrar os pedaços perdidos para ele. Assim que a valiosa pérola estivesse completa, livrar-se-ia daquela lembrança materializada em argila.

Mostraria à insuportável sacerdotisa que ela valia menos do que o barro que a compunha.

As costas arderam.

...

Não caia na conversa, você jamais estará apta a me substituir e ele sabe disso... — A frase fria e certeira ecoava insistente aos ouvidos da jovem ruiva. Talvez pela angústia e por recuperar a vontade de se mexer, de escapar, seu lume regressou intenso. Ela se ajoelhou, uniu as mãos em uma prece antiga e bamboleou o corpo. Não queria fazer parte daquela história, não se sentia dentro do enredo e não o desejava estar. Imaginou o hanyou atrelado à pálida mulher dos cabelos noturnos e sentiu um amargor na garganta. Cessou a prece, apagou sua luz, espalmou as mãos no chão e mirou a janela de sua jaula.

O ar, num repente, pareceu mais rarefeito do que o comum. Atordoada, Annabelle se ergueu e ousou sair de sua cela. Pelo corredor, encontrou homens caídos ao chão – estavam mortos. Foram vítimas do forte veneno disperso pelo ambiente. Com as mãos sobre a boca e o nariz, a estrangeira amedrontada e nauseada atravessou a névoa de miasma e voltou ao quarto de onde saíra desbaratada mais cedo.

Encontrou Naraku de costas, com a parte de cima da roupa arriada, contornado pela aura maligna. No dorso, uma cicatriz em forma de aranha luzia como se em chamas estivesse. A mão dele tentava alcançá-la, havia raiva e sofrimento no cenho franzido, no lábio retorcido, nos olhos estreitados.

— O que faz aqui? — censurou-a — Saia!

Annabelle desobedeceu e se chegou, mirando-o cautelosa.

— Essa é sua marca do passado? — perguntou, sentando-se atrás dele e observando o pedaço de carne reluzente.

— Você não ouviu o que eu disse?! — sôfrego e enfastiado, impôs sua indignação — Saia, Annabelle! — no fundo, sentia vergonha de ser flagrado num instante de vulnerabilidade. Não queria que ela descobrisse sobre a cicatriz, não queria que ninguém soubesse sobre a dolorosa tatuagem desenhada a fogo.

Outra vez, sentiu o calor... As mãos afáveis correram a pele engelhada, passando ao ponto doído e concentrado em rancor alguma ternura. Naraku observou-a por cima dos ombros, os cílios dela, selados, respingavam singelamente. A boca proferia um cântico em língua desconhecida. As palmas alumiadas massagearam o trecho até que o youki de Naraku se acalmasse e o ar descontaminasse. Por fim, quando o sujeito parecia equilibrado, ela abriu os olhos lentamente, analisou-o uma última vez e preparou-se para levantar.

Naraku girou o corpo, cativou-a pelos pulsos, mantendo suas mãos ao chão e ela, por consequência.

— Eu posso oferecer tudo o que você quiser, Annabelle, é só aceitar se unir a mim em minha empreitada. — aproximou o rosto ao dela, tentador — Ceda-me o seu poder... — os polegares amaciaram as mãos tesas — Deixe-me tingir a sua brancura com a cor das trevas...

— Não almejo a sua escuridão, e você não pode me devolver o meu homem. — disse severa.

— Eu não, mas a joia pode, você sabe! Ajude-me a juntar os fragmentos!

— Não quero nada com esse objeto amaldiçoado, eu queria o corpo de Hitomi para eu mesma trazê-lo de volta! — vomitou a verdade e repreendeu a si no ato.

— Você pode trazer os mortos de volta à vida? — perguntou assombrado, aumentando a pressão sobre as mãos dela.

— Me solte, eu quero sair! — sacudiu-se na tentativa de apartar, mas parecia colada ao toque malfazejo.

— O que mais você pode fazer? — puxou-a para mais perto ainda.

— Me solte! — exclamou — Eu não quero nada com você!

— É mesmo? — sorriu — Não é o que parece quando chego perto... — atou-a a seu corpo em um enredo cruel — Assim... — sussurrou ao pé do ouvido.

— Não! — esforçou-se inutilmente para empurrá-lo, não conseguiu se desvencilhar de sufocar nos braços fortes e decididos — Meu corpo estremece pela lembrança que tem de outra pessoa e não por sua causa! — insistiu.

— Você me quer... — apalpou-lhe a cintura, correu os dedos pela lateral e os deslizou pelas costas — Admita e acabemos logo com esse jogo. — mordiscou o lóbulo rosado e a fez tremelicar toda. A luxúria, uma vez mais, entorpeceu a voz da razão.

— O homem que eu quero é aquele com quem me deitei na cabana! — bradou, espalmando os ombros dele.

— E que você acha que era Hitomi. Hu, hu, hu... — desapertou-a apenas para vislumbrar as turquesas marejadas.

— Eu não acho, eu sei! — insistiu até o último minuto.

— Ah é? — Naraku fechou o riso e os olhos, quando os abriu novamente estavam castanhos, e ao falar, a voz suavizou — Anabelle Rose, acho que é a hora de informá-la... — afastou alguns cabelos do rosto aterrorizado — que não foi com Hitomi que você se deitou naquela cabana, e sim com Naraku.

O quê?! Não era possível!

Oh, mas era sim... Annabelle relembrou a conversa que teve com Kagome e os contos sobre como Naraku fizera Inuyasha e Kikyou voltarem-se um contra o outro. A aranha era traiçoeira a ponto de transmutar-se para o que quisesse, inclusive um jovem mestre de um castelo.

— Não... — Os braços dela penderam, a boca entreabriu buscando por ar e recebeu o afago sádico dos lábios araneídeos. Sem chances de respirar, de protestar, ela constatou dolorosamente que aquele beijo cruel, de fato, era idêntico ao beijo dividido por ela e seu doce Kagewaki quando se encontraram a sós dentro do pequeno casebre.

Era como se o sorriso gentil e o brilho benevolente dos olhos amarronzados se tornassem uma miragem e dissolvessem na infinda névoa que agora eram seus pensamentos.

A sua memória mais querida não passava de uma mentira.

Continua...


Notas Finais


Música que eu recomendei: https://www.youtube.com/watch?v=7ftHqGl90ZY

Quem sabia? Me pergunto quem sequer desconfiou dessa cachorrada do Naraku, o mistério que tentei fazer foi tão besta que qualquer um deve ter percebido no capítulo da cabana e no seguinte. Ou não?
Aaaah gente, eu preciso saber! Me digam!

¹fuko: feitiço de fuko foi aquela doidice do Naraku de selar um monte e fazer youkais brigarem lá dentro até sobrar apenas um vencedor e, assim, nosso aranhudo iria absorvê-lo e tornar-se mais forte. Daí o resto da história vocês devem lembrar, Kikyou desfez o selo e foi tragada junto ao cafofo de youkais, Naraku a levou para o castelo (enquanto Annabelle roncava LOL) e blá, blá, blá... Nossa, como dá trabalho respeitar essa cronologia e trabalhar dentro dela! x.x

Por enquanto é só, povo lindo. Vejamos se ainda consigo postar um antes de meu recesso acabar.
Kissus!


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