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História Teia de Mentiras - Importante


Escrita por: CrystalTsukino

Notas do Autor


...E olha os capítulos crescendo de tamanho! Isso porque eu tinha prometido para mim mesma que seria sucinta. Ok, ok, não estão tão grandes assim, estou conseguindo terminá-los antes dos 4,000 caracteres XD
Gente, consegui um tempinho para vir postar esse - porque já estava pronto, assim como alguns outros - mas desde já peço desculpas por qualquer erro de digitação, formatação ou ortografia porque estou morrendo de sono, logo minha atenção está consideravelmente comprometida.
Uma boa sexta a todos, espero que estejam curtindo - seja na balada, ou na Netflix! hueheuheue
Boa leitura!

Capítulo 15 - Importante


Capítulo 15 - Importante

Primeiro, a vista turva identificava apenas os tons de dourado ao redor. Depois, conforme a recuperação do foco ocular, Annabelle se viu deitada em meio a um vasto campo de trigo em um baixo monte. Tal cenário lhe era familiar, notou enquanto se levantava e começava a andar entre as plantas altas, afagando-as com as pontas dos dedos.

O sol alto, quente, a perturbar os olhos cerúleos, obrigou uma das mãos a proteger a visão.

"Estou em casa?"  pensou durante a caminhada.

Parou diante de um homem que, mesmo de costas, ela sabia muito bem quem era.

— Hitomi... — tão logo ela proferiu, o sujeito se virou. Os longos fios negros esvoaçados e soltos tentavam cobrir-lhe o rosto, mas o jovem os ajeitou para os lados.

— Você demorou, Anaberu abriu um pequeno sorriso e ergueu a mão a ela.

— Aqui é o paraíso de que alguns falam? — perguntou enquanto unia a palma à dele  Não pode ser, Naraku me garantiu que você não estava lá...  endureceu por dentro, repleta de mágoa por tudo o que acontecera.

— Você sempre esteve certa a respeito de Naraku. — constatou o rapaz, contagiado pela tristeza dela  Se eu a tivesse ouvido...  suspirou arrependido  mas agora você está aqui, Anaberu. Eu te esperava!  puxou a outra mão dela e, com as duas cativas entre seus dedos, afagou-as. Um sorriso honesto e largo coloriu a face alva.

— Onde estamos, my lord?  ergueu o olhar à procura do dele.

— Estive aqui por algum tempo, mas não sei dizer... e já não me importa.

— É mesmo você? Ou é mais um truque?  Annabelle tateou as maçãs amornadas pela luz solar, afastou a franja suada da testa, buscou dentro dos olhos do homem qualquer resquício de sadismo e viu apenas confusão, nenhuma demonstração de maleficência. Então, apalpou os ombros, os braços e, finalmente, abraçou-o com tamanha força que se Hitomi fosse vivo teria sufocado.  Diga que é você...  sussurrou, os olhos selaram-se, as pálpebras engelharam com força. Por dentro, uma inundação contida pelos cílios acobreados e o nariz avermelhou, ardido  Eu preciso que seja você.

— Sou eu, Anaberu...  a voz suave como águas calmas ecoou e os dedos gentis afagaram os cabelos de fogo.

— O que ele fez com você? — a pergunta guardada há tempos, atormentando-a desde o momento em que soube da perda de seu Kagewaki, forçou a saída da boca tremente.

— A única coisa de que me lembro é uma névoa roxa a me rodear  de voz embargada, contou: , de repente, minha pele começou a se desfazer como se fosse de papel, a dor foi inexprimível apertou o abraço  e eu só pensava em você, pensava que nunca mais a veria. Então, não consegui mais respirar. Pareceu demorar uma eternidade, mas foram breves segundos de agonia.  abriu os olhos vagarosamente e mirou o firmamento límpido  Depois, me vi perdido aqui, onde o tempo não existe...

— Eu nunca deveria ter deixado o castelo!  queixou-se  Meu lugar era ao seu lado!

— Não fique assim, eu a mandei para longe por sua segurança. Eu fiz a escolha.  depositou um beijo terno na testa da ocidental e cativou-lhe o rosto entre as mãos  Mas agora nada disso importa mais. Estamos juntos, não existe mais Naraku ou aranhas gigantescas, somos só nós dois, Anaberu.

— Naraku me marcou de tal forma que não sei se em algum dia, em algum lugar, conseguirei ser livre das mazelas que ele causou.  a boca tremia, assim como os olhos que teimavam em conter o líquido salubre dentro de suas órbitas.

— Deixe isso para trás... Você está comigo, não vê?  penteou as ondulações alaranjadas e as ajeitou para trás das orelhas pequeninas. Annabelle tornou a encará-lo nos olhos e reparou neles a expectativa.

Encontrara-se com ele e lamentava pelo o mal causado em vida?! Hitomi estava certo, era preciso deixar tudo para trás. Onde estava a cabeça dela, afinal? Tudo o que mais desejou foi estar com ele outra vez, e quando o tinha à sua frente e podia tocá-lo e senti-lo, perdia-se nos feitos do Babuíno Branco?!

O peito subiu e desceu duas ou três vezes, afoito, revirando-se por dentro. Os lábios comprimiram-se antes de amolecerem e abrirem-se em busca de ar, as esferas azuis como o céu vespertino daquele campo piscaram e, enfim, Annabelle teve a coragem de agarrar a nuca de seu noivo e beijá-lo com urgência.

O gosto era o mesmo, assim como a sensação... Ele, mesmo no desespero da saudade, era gentil e cauteloso: suas mãos perpassavam pelas costas estreitas e, sem que ele soubesse, o simples gesto fazia Annabelle sentir que sua alma estava sendo lavada, seu corpo purificado dos toques vis das patas da Aranha. Hitomi arfava durante a troca de carícias e união de bocas. Se estavam mortos, como sabiam, não haveria razão para a Rosa Branca se preocupar com o ar que ela roubava dele conforme tornava o beijo infernalmente pungente. O apertava de tal maneira, que se persistisse talvez os calcificasse ali. E se, no fim de tudo, eles se tornassem uma estátua de mármore lapidando as memórias, os sonhos e os anseios? Estariam juntos para sempre, ao menos.

As lágrimas desceram agudas, encharcando a pele dela e a dele. Ela gemia e soluçava dentro do beijo enquanto seus ombros sacudiam-se incontroláveis. Embora Hitomi enxugasse as bochechas com os dedos afáveis e tentasse conter-lhe os espasmos, o destempero não cessava. Ele pareceu iniciar o aparte, Annabelle o prensou contra si.

— Não me solte, nunca mais me solte!  suplicou sôfrega. Tinha medo de que tudo fosse um sonho, ou uma grande mentira como muitas outras já vividas.

Hitomi, visivelmente aturdido pelo estado de sua amada, pousou a cabeça dela em seu peito e acariciou o topo. Repetiu "estou aqui, vai ficar tudo bem" como se fosse um mantra, várias e várias vezes, até que os olhos de Annabelle começassem a pesar e se fechassem, a respiração e o peito sossegassem.

Paz, enfim... ela sentiu no mais íntimo de seu ser e se permitiu sorrir. A partir dali, Hitomi cuidaria dela. Tornou a olhá-lo e o sorriso desenhado em ternura a acalentou. Beijaram-se novamente, todavia sem pressa. As horas e os dias já não existiam para eles, para que se esbaforir?

O corpo de um pesou sobre o do outro, e antes que notassem já estavam deitados entre o trigo amarelado. Annabelle admirou seu Hitomi abaixo de si, inerte e risonho, pleno. Curvou-se para beijá-lo de novo, não conseguia resistir. Ele suspendeu a mão ao alcance dos lábios dela e, num rompante, a escocesa sentiu-se sugada para trás. Fugaz como uma estrela cadente, seu jovem senhor feudal ficou distante e transformou-se em mero ponto de luz, depois a água cobriu seu rastro.

Água.

Água?!

...

Os olhos esbugalharam-se de súbito e o corpo curvou-se para o lado, deitado em terra úmida. Ela vomitou tanta água que seu peito chegou a doer. A barriga contorcia-se e os ombros encolhiam enquanto as cascatas jorravam de dentro da boca. Depois de colocar tudo para fora pensou que desfaleceria, no entanto a sua resistência a traia e a fazia lúcida, mesmo contra a vontade. Notou a presença de alguém sentado às suas costas, observando-a se recompor. Virou-se e, no exato instante, inflamou-se de raiva.

Naraku, encharcado como ela, a encarava. Annabelle não se deu o trabalho de tentar entender as feições dele. No segundo em que se deparou com os rubis cintilantes grunhiu feito uma besta selvagem e partiu para cima. Agrediu-o não com forças paranormais, saltou sobre o algoz quase o derrubando sobre o solo escuro e o esmurrou, arranhou, estapeou, encheu de pontapés ao ritmo de seus gritos e praguejamentos:

— Meio-youkai de merda! Por que não me deixa em paz?! Vá para o inferno! — nem parecia quase ter sido vítima de afogamento, uma vez que seus pulmões estavam à plena força para dar-lhe fôlego e ajudarem-na a gritar alto — Eu te odeio, te odeio com todas as minhas forças! Eu te odeio! — a garganta ardia, folhas caíam de árvores altas, os rugidos de Annabelle ecoavam ao longe.

Naraku, até ali quieto como se cada agressão não fosse nada além de uma simples cutucada, perdeu a paciência e conteve os dois pulsos da mulher. Não foi suficiente, as pernas ainda soltas moviam-se descontroladas, acertavam-lhe chutes e jogavam-lhe terra – as prendeu entre as dele, firmes. Como último recurso, Annabelle tentou morder as mãos do meio-youkai e se não fosse pelo estado de espírito dele, talvez tivesse rido. Ao invés disso, ele acertou o rosto da humana com uma bofetada tão bem dada que ela caiu para o lado, desnorteada. Depois, fê-la sentar novamente a segurar-lhe a cabeça, as maçãs rosadas de fúria espremiam-se contra as palmas cruéis. Ela arranhou as mãos dele tentando afastá-las de si e a resposta foi maior aproximação da parte do inimigo, inclinado a ela.

— Você não vai morrer, está me ouvindo?! — grave, Naraku disse entre dentes controlando-se para não vociferar — Você não vai morrer. — disse cada palavra entre longas pausas — Eu a proíbo, humana estúpida! — praguejou sem risos, sem ironias.

O que era aquilo nos olhos de sangue diante dos dela? — Annabelle pensou — Preocupação? Havia um risco traçado entre as sobrancelhas negras e arqueadas, as esferas escarlates brilhavam trêmulas, quase arregaladas. A boca ardil curvava-se aos lados, não em sorriso, mas em expressão de desgosto e ele estava mais pálido do que de costume.

Ele se importava?

As mãos dela escorregaram sobre as dele e caíram na terra fofa. Um turbilhão de pensamentos e emoções a consumiu e ela não soube o que fazer ou dizer. Naraku persistia a encará-la com a mesma intensidade, os dedos enrolaram-se às ondas de fogo, pesadas de tanta água a apagar-lhes. O hanyou abriu a boca outra vez, pronto para dizer-lhe umas tantas e algo o acertou no ombro. Annabelle não viu o que foi, por reflexo Naraku a empurrou para longe e se pôs de pé.

Ao levantar o rosto do chão, a estrangeira notou uma presença inédita, provavelmente mais um dos muitos inimigos do meio-youkai aranha. Um sujeito deslumbrante, deveria admitir. Seus longos cabelos prateados desciam lisos pelas costas e se findavam quando quase tocavam os pés. Deveria ser nobre pelas vestes tão bem talhadas e certamente não era humano. Os olhos intensamente dourados e brilhantes analisaram primeiro o hanyou cujo ombro fora partido em dois, depois cravaram-se curiosos nela e Annabelle percebeu a intenção assassina por trás das moedas d'ouro.

— Passeando pela floresta, Sesshoumaru? — enfim, esbanjou um de seus sorrisos debochados.

— Diferente de qualquer humana que já vi. — o outro, inexpressivo, comentou enquanto rolava os olhos sobre a figura da garota escocesa — Ainda assim, uma humana. — balançou o chicote esverdeado em mão, arma responsável pela ferida de Naraku — você não se difere em nada de Inuyasha. — concluiu soberbo.

— Adoraria continuar essa conversa interessantíssima, mas tenho assuntos a tratar... — desconversou ainda sorridente, fingindo não ser atingido pelo comentário infeliz do daiyoukai, contudo, Sesshoumaru era um indivíduo de poucas palavras e muitas atitudes. O chicote que tinha em mãos o envolveu assim que ele girou o corpo e saltou na direção de Naraku. — Fuja. — disse a mirar Annabelle de soslaio e atirou-lhe o pingente de lua até então escondido dentro da gola do quimono.

Não houve tempo para conversa. A seguir, os dois seres sobrenaturais dedicaram-se ao embate, compenetrados. Naraku saltou sobre as árvores e Sesshoumaru foi a seu percalço, derrubando galhos com sua arma resplandecente.

Annabelle, confusa, catou a gargantilha, se levantou num breve pulo e pôs-se a correr sem olhar para trás. Não por Naraku ter orientado a fazê-lo, não por temer pela própria vida, mas pela vontade de se afastar da confusão, dos sujeitos, de tudo.

Sesshoumaru, ao notar a ausência da mulher, mudou o rumo da caçada. Fitou o adversário apenas uma vez antes de alterar a direção de seus saltos elegantes. Naraku tinha plena noção das intenções do oponente. Da copa de uma árvore, o meio-youkai transformou os braços em infindáveis tentáculos e os direcionou ao irmão mais velho de seu odioso rival. Sesshomaru sequer precisou virar-se para partir aqueles apêndices em diversas partes. Seu único braço, habilidoso, moveu graciosamente o chicote enquanto ele pulava às alturas e nenhuma gotícula de muco o atingia.

"Maldição!" — Naraku regenerava-se, todavia não rápido o suficiente para perseguir o oponente e conseguir pará-lo. Não encontrou opção a não ser espalhar seu miasma pela trilha. Assim que a névoa alcançou o belo primogênito de InuTaisho, dissipou-se em meio ao giro do açoite.

Annabelle, enquanto isso, descia trôpega um desfiladeiro íngreme. O vestido molhado pesava sobre seu corpo e a atrapalhava. Ela passava entre pequenas árvores inclinadas sobre a rampa de barro apoiando-se em seus troncos finos. Uma raiz alta, no entanto, a fez tropeçar, torcer o tornozelo e rolar em meio à baixa relva de um terreno já plano.

Sentiu a sombra do sujeito a cobrir a pouca luz a frente. Doída, massageando o inflado artelho, ergueu o olhar e vislumbrou a figura misteriosa. O chicote roçava o chão, os fios claros e sedosos bailavam a mercê dos ventos do entardecer. A estrangeira não se mexeu, não tentou se defender, encarou-o destemida, e mesmo sentada sobre o gramado, sua postura era tão sublime quanto à do desconhecido youkai que tinha o intuito de ceifar sua vida.

Sesshoumaru ergueu o braço para cima, pronto para desferir o golpe derradeiro, e um grito o desconcentrou:

— Pare! — Annabelle reconheceu o timbre da garota que lhe fora amigável certa vez — Não a machuque!

— Kagome, cuidado! — o parceiro da arqueira estava ao lado, pronto para desembainhar a espada — Sesshoumaru, por que quer ferir essa mulher?

— Ela é importante para Naraku. — disse em tom de naturalidade e despreocupação, fitando o irmão caçula por cima do ombro.

— Annabelle é tão vítima de Naraku quanto todos aqui, deixe ela em paz! — Kagome pediu corajosa.

daiyoukai, silencioso, tornou a fitar a humana dos cabelos acobreados. Orbes de ouro e de água não deram qualquer piscadela. Um pareceu tentar desvendar o outro e as tentativas se frustraram.

Kagome correu até a estrangeira e ofereceu-lhe o ombro. A moçoila, desorientada, aceitou a ajuda e ficou de pé completamente desajeitada.

— Naraku esteve vulnerável e desatento por causa dessa mulher, — Sesshoumaru jogou a informação ao vento, encarando Inuyasha uma vez mais — foi imprudente como nunca ousa ser. Ele é um meio-youkai, no fim das contas. Isso deve ser normal entre vocês.

— Ora, maldito! — o hanyou esquentado rosnou.

Novo embate poderia ter acontecido, porém o mais velho não demonstrou o menor interesse em um confronto e simplesmente tornou a andar para dentro da mata. Qualquer sinal de Naraku, àquela altura, virara fumaça.

— Você está bem?! — Kagome perguntou ao notar um gemido escapar de Annabelle quando o pé encostou no chão.

— Não foi nada, só uma leve torção. — suspirou, mantendo a calma.

— O que aconteceu?! — Sango e Miroku aproximaram-se às pressas, acompanhados de Kirara e Shippou.

— Garota, você tem sorte. Se não estivéssemos por perto, Sesshoumaru não teria pensado duas vezes antes de te matar. — Inuyasha declarou — E Naraku fugiu, como sempre. Aquele maldito... Keh! — cruzou os braços mirando o céu.

— Anaberu-hime precisa de um bom banho e roupas limpas — Miroku observou ao ver o estado da mulher.

— Vocês são tão bons comigo... — mirou cada um deles, comovida — eu agradeço, mas não posso seguir com vocês...

— Se ficar sozinha, no estado em que está não vai durar muito tempo. Você precisa de ajuda. — Sango apontou.

— Por que não fica com a gente até ficar boa pelo menos? — Shippou, animado, veio para perto e abriu um de seus sorrisos alegres.

— Eu... — retraiu-se.

— É sim, Anna. Deixa eu cuidar da sua perna, tenho alguns remédios que eu trouxe de casa. — Kagome sugeriu — se depois, quando você estiver boa, quiser ir embora assim mesmo, tudo bem.

Inuyasha foi o único do grupo que não se manifestou sobre o assunto, mirava a estranha com ares de desconfiança e ela percebia. Não poderia recriminá-lo, naquele instante ela mesma não sabia dizer se confiava em si mesma. Seus pensamentos voltavam-se ao olhar enigmático do indivíduo odiado por todos. Ela viu, e estava convicta – algo além de sadismo nos orbes obscuros. Nunca antes Naraku mostrara-se tão transparente como naquele singelo evento. Annabelle quase ouviu seu coração vilão gritar.

...

Só acreditou no ato da mulher quando a percebeu – através do olhar de um inseto venenoso – ser engolida pela água e afundar. O rio continuou a fluir, os pássaros a cantarem como se nada acontecera, como se a mulher nunca fizera parte daquela paisagem. O tempo passava, e ela nunca voltava à superfície.

Sim, ela iria se afogar.

E qual o problema? Annabelle estava decidida a não cooperar com ele, certamente já o cansara tentar convencê-la.

Se a garota morresse, seu poder iria consigo e ele não precisaria mais se sentir ameaçado. Afinal, por questões de vaidade ele jamais absorveria um ser humano...

"Ela vai desistir, quando começar a asfixiar não aguentará e voltará à superfície"  se convenceu, despreocupado  "Ela não teria coragem".

Annabelle não voltou.

Outra vez, o baixo-ventre de Naraku remexeu-se de frio. Que inferno era aquele?!

Levantou-se do canto em que costumava sentar em seu enorme quarto, na segurança de seu imponente castelo, e graças a seus poderes sobrenaturais, chegou ao córrego em um sopro.

Parou ereto à margem, encarando o reflexo de sua angústia na água.

"Suba, mulher."  pegava-se pensando  "Volte à superfície!".

Nada.

Depois de um sibilo frustrado escapar da garganta, Naraku atirou-se no rio e a encontrou no fundo. Os braços apontavam para cima juntamente aos cabelos dançantes ao ritmo da correnteza. Ele a puxou pelos pulsos com tamanha força que o cipó enrolado em sua cintura se desfez de súbito, seus restos remanesceram com a rocha na qual estavam amarrados, e o corpo de Annabelle, livre, foi-se com Naraku para fora das frias águas.

Ele a deitou no chão displicentemente. Apalpou seu rosto esquálido, pressionou o peito dela várias vezes para que a água lhe escapulisse dos pulmões. Nenhum resultado.

Selou a boca à dela, soprando todo o ar que poderia dividir. Não houve resposta. Passou a mão à frente do nariz gelado e não sentiu um bafo, por mais fraco que fosse. Annabelle não respirava.

"Está morta."  o frio intensificou severo dentro dele. Pensou que a garganta fecharia, tamanha a aflição.

A pegou no colo, espalmou a face gelada, a sacudiu, apertou suas mãos. Annabelle permaneceu inerte como se fizesse de propósito, como se debochasse dele daquela forma. Os lábios arroxeados pareciam sorrir triunfantes.

A agonia misturou-se à raiva. Atormentado, Naraku a deitou na terra e uniu as bocas repetidas vezes, soprando doses e doses de ar incansavelmente e depois, num ciclo, pressionou o peito da garota, buscando por estímulos.

Por que ela não respondia?! Era esse o fim?!  jogou-se sentado, os dedos agarrados a terra, os lábios melados pela própria saliva, os olhos ligeiramente turvos...

Ela golfou, as articulações se chacoalharam.

Naraku conheceu outro tipo de alívio naquele instante em que ela, por instinto, se virou e botou toda a água para fora. O hanyou quase sorriu. O frio insuportável transmutou-se a um calor diferenciado no abdome, ainda assim, o temor se manteve até ela se virar, percebê-lo ali e agredi-lo debilmente.

Enquanto a humana o atacava, a mente do sujeito perdia-se em desafogo mesclado ao terror que ele vivenciara há pouco. Perdia-se no autoflagelo de um ser que se esforçava dias e noites, desde quando nascera, a se afastar de sensações e sentimentos humanos e na atual conjuntura se revolvia por uma criatura mortal.

Bastava Kikyou tê-lo arrebatado, ele não precisava de mais um empecilho. Amaldiçoou-se por ter se deitado com a estrangeira naquela cabana, a sua sentença foi lançada assim que ele relou o dedo em Annabelle. Iludiu a si mesmo, dizendo-se tomá-la apenas para saciar os desejos carnais e se regozijar quando revelasse que ele fora o maculador de sua pureza. Convenceu-se de que era uma forma de castigá-la por provocá-lo sempre que podia, por insinuar-se e ao mesmo tempo manter-se inalcançável, como se a arruivada o desatinasse de propósito. Contudo, em momento algum a cópula fora somente um ato animalesco sem maior significado e desde seu acontecimento, Naraku nunca mais fora o mesmo. Sentir a essência de rosas, doce e sutil, o fazia reviver a noite em que a teve sob o seu domínio, o fazia querer miseravelmente torná-la sua, odiar a existência de Hitomi, odiar a ela por preferir um humano ignóbil a ele, como Kikyou escolheu amar um patético e infantil meio-youkai cachorro.

Sua única salvação era a Joia de Quatro Almas, só a pedra mística poderia fazê-lo esquecer o que era sentir. Sentimentos sempre serviram apenas para atormentá-lo e nada mais.

...

— Naraku? — uma voz feminina o resgatou das lembranças recentes.

Contornava os arabescos talhados na harpa dourada quando a ouviu. Virou o rosto e mirou a sacerdotisa à porta.

— Kikyou? — demonstrou surpresa. Não estava são o suficiente para se fazer de indiferente, sua energia sinistra emanava profunda, incandescente.

— Este não é seu quarto. — ela entrou serena, rolou os orbes negros pelo cômodo até pará-los no ostentoso instrumento musical — É aqui que ela ficava? — não precisou ouvir a resposta dos lábios dele, bastou observar os farrapos de um vestido branco espalhados pelo chão — Quem é essa mulher?

Naraku tornou a contemplar a harpa, o único ruído ouvido por Kikyou foi o de um suspiro pesado, não se sabia se de pesar ou aborrecimento. Todavia, por mais que o sujeito se disfarçasse por trás de suas máscaras de escárnio e indiferença, aquela era uma hora escura de sua vida, a sacerdotisa via além da carapaça de vileza. Diante de si, tinha um homem perturbado — e não por ela, mas por outra. Naraku não a olhava, não por querer evitar as lembranças remotas, mas por estar perdido em outra memória, os relances de uma situação recente.

A mulher, não querendo se prolongar, atirou-lhe mais alguns fragmentos reunidos:

— Aqui está.

— Por que está me ajudando? — perguntou antes de ela virar as costas e ir embora, como sempre fazia.

Kikyou não se pronunciou, agiu misteriosamente como de costume. Depois de cumprir seu papel, partiria. Uma barreira recém-formada à porta, no entanto, não a permitiu passar.

— Eu fiz uma pergunta. — o hanyou, visivelmente irritado, persistiu.

— Naraku, pare com isso, você sabe que não pode me matar. — fez-se de tranquila e manteve-se à frente da porta.

— E se você estiver enganada, e se eu matá-la aqui e agora? — surgiu pelas costas dela, como o animal rastejante e traiçoeiro que era.

A donzela ressuscitada virou-se de frente para ele, serena, e o encarou nos olhos. Os braços parados sugeriam que ela não faria esforço algum para se defender. Claramente, a miko esperava por qualquer ato a vir de Naraku e o testava.

Os dedos tensos subiram, aproximaram-se do pescoço dela e pararam trementes. Então, ele fechou as mãos e as abaixou, deu um passo para trás, parou ainda a encará-la e a enraivecer-se com a conduta desafiadora da inalcançável paixão de Onigumo, para no fim das contas catar os cacos rosados trazidos por ela e se reaproximar do instrumento musical de Annabelle.

— Obrigado por seus serviços. — falou como se nada acontecera e passou os dedos pelas cordas.

A sacerdotisa, sorrateira como entrou, se foi. No meio do caminho, entretanto, ao perambular pelos bosques, refletiu sobre o destempero de Naraku e a presença de Annabelle na vida do meio-youkai. Ele estava mudado – constatou. Restava descobrir se esse tipo de mudança gerava perigo a ela, ou se era um mal passageiro.

De certo, se a estranha dos cabelos de fogo lhe fosse um problema, precisaria cortá-lo pela raiz.

Continua...


Notas Finais


Sesshoumaru, finalmente! AEEEEEEE!
Confesso ter um pouco de medo de abordar Sesshoumaru em fanfics...
Acontece que ele é um personagem muito frio e inexpressivo, e eu sou adepta ao lirismo exagerado, talvez por isso eu adore o Naraku. Ele tenta, mas não consegue ser indiferente. Já o Sesshy é um poço de indiferença. Como faz? Não sei, verei mais para frente.
Ficou extenso esse né? Eu poderia prometer que os próximos serão menores, mas estaria mentindo. De qualquer modo, espero que tenham gostado. Particularmente, achei esse capítulo muito emocionante!
Ah, para quem achar que a fanfic está muito densa ou séria, nos próximos capítulos teremos um pouco de descontração, fiquem tranquilos!
Kiissuuus no coração de cada um de vocês e muito obrigada a todos os comentários enviados até agora, são um lindo presente!


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