1. Spirit Fanfics >
  2. Tela em Branco >
  3. Agora eu sei por que o Levi te acha especial

História Tela em Branco - Agora eu sei por que o Levi te acha especial


Escrita por: alien_rosa

Notas do Autor


Pessoal
Desculpem sinceramente ter desaparecido, mas durante este tempo não consegui mesmo me conectar. Motivo: minha mãe adoeceu de câncer. Voltei das férias com ela já para agilizar o tratamento. Nestes meses, dei jeito de arranjar dinheiro para pagar o especialista, fazer as consultas, as duas cirurgias e as biopsias. Neste interim, estou vivendo só para ela e o trabalho. Uma das biópsias saiu esta semana. Parece que um dos tumores foi retirado totalmente, sem ter tido metástase. Estamos em aguardo com a segunda biopsia que vai sair logo.
Ela é tudo para mim. Somos só nós duas.
Então, desculpem ter abandonado vocês, não tinha cabeça pra mais nada.
Estou com os trabalhos da faculdade atrasado, faltas, e nem sei se vou conseguir reverter isso ainda.
Com a resposta da primeira biópsia, estou mais confiante, mas não tranquila até saber que os dois tumores sairam totalmente dela.
Minha mãe está precisando muito mais de mim, então, não sei se conseguirei por enquanto voltar a postar um capítulo toda semana. Enquanto ela dorme, vou ficar conectada e tentar continuar a escrever o próximo.
Como sincero pedido de desculpas aos leitores de Tela em Branco, um capítulo bem grande. Já estava pronto desde Janeiro, mas só agora consegui revisar.Novos personagens irão aparecer então curtam.
E por favor, não me abandonem
Bjim rosado

Capítulo 11 - Agora eu sei por que o Levi te acha especial


Fanfic / Fanfiction Tela em Branco - Agora eu sei por que o Levi te acha especial

Acordo bem. Apesar de ter dormido com a roupa, e torto, tive um sono tranquilo. Realizo meu ritual matinal de banho, troca de roupas e organizar mochila.

Sim, eu sou o tipo de pessoa que deixa para arrumar a mochila de manhã...

Como sempre ao descer, já encontro a Tê na cozinha, com a mesa posta para o café da manhã.

-Bom dia Senhor Eren!

-Bom dia Tê.

Me aproximo da mesa da cozinha. Sento na mesma cadeira que estivera ontem. Teresinha se aproxima com o bule do café para me servir.

-Tê...

-Sim?

-Poderia não me chamar mais de... senhor ? - Olho para ela sorrindo, e em contrapartida encontro algo novo em seu olhar.  Surpresa .  - É muito estranho... sabe, não sou velho, é meio que...

-Babaca...  - Teresinha me responde sorrindo e  retribuo o gesto. Aquele velho sorriso amarelado, faltante de alguns dentes.

-Sim, é isso... extremamente babaca... parece coisa de mauricinho... Kkkkk...

Se dedicando a colocar o leite em minha xícara, Teresinha questiona:

-Mas então, como quer que te chame?

Olho profundamente para ela. Respiro. Penso.

-Como teu coração se sentir melhor?

-Haaa... menino Eren... tu não tem jeito.  - Teresinha larga a jarra do leite e abraça a minha cabeça. Consigo sentir a pele flácida de seus braços roçando pelos meus cabelos, mas ao mesmo tempo, a calidez de seu corpo. Passa a mão pela minha cabeça,  bagunçando ainda mais meus cabelos  já rebeldes.  - Que forma  divina de começar o dia!

Como é gostoso este  cafuné...

Quanto tempo faz que alguém não me acaricia assim?

As mãos gordinhas da Tê, quentinhas, brincando com meu cabelo... trazem lembranças tão felizes.

Tão afáveis...

Mas ela pára. Distancia-se de mim, se dirigindo a mesa e começa a cortar grossas fatias de pão caseiro.

-Agora chega menino Eren! Toma teu café já, e bem reforçado viu, que ontem tu não jantou. Eu vi!

-Peguei no sono cedo Tê, estava cansado...

-Sei... percebi,  agora come!

Olho para mesa posta.  O aparelho de café posto para uma pessoa. Me volto em direção a geladeira, onde a Teresinha estava a pegar algo.

-Meu pai já tomou café?

- O senhor  Jeager não dormiu em casa. – Ela me responde sem deixar de concentrar-se no que lhe detém atenção na geladeira.

-Ah tá...  -não sei por que, não sei o que esperava, mas isso me deixou contristado, apesar de ser comum ele dormir fora...

Teresinha trás para mesa o tão procurado objeto. Um  vidro de doce. Abre. Pega uma colher de sopa e a enche, levando-a até a minha boca, como um aviãozinho de papinha dado a um bebê.

-Sei... Deixa isso pra lá, e prova a ambrosia que fiz. Vê se tá bom de açúcra.

-Ambro...?

-Ambrosia, menino!!! Ambrosia!!!! Aquilo que o ditado diz que vem  dos deuses... mas, deixa de enrolação, e comi!!!

-Deus...

Que cena cômica. Na minha idade receber um aviãozinho. Retribuo sua ação com um largo sorriso e após, obedeço.  Abro minha boca. Ela coloca a colher, depositando o doce.  Alguns segundos mastigando, engulo.

Tê me encara preocupada. Estava visível em sua fisionomia a preocupação com a minha opinião. Encaro ela, muito sério.

-É a melhor ambrosia do mundo!  -Lhe disse abrindo o sorriso.

-Aha... sei... tu nunca cumeu otra? Como sabe que é a melhor do mundo?

Com suas  duas mãos no quadril, e aquela  expressão facial que tentava inutilmente mostrar-se séria, mas que na verdade ocultava um sorriso que teimava em escapar. Então, também fiz questão de lhe deixar mostrar o meu.

-Apenas sei, Tê!

Ainda desconfiada, buscando a reafirmação.

-Sério? Gostou mesmo menino Eren?

-Aha! Muito!

-Então vô fazer sempre pra ti!!!!

Animada, ela sai da cozinha em direção à dispensa de mantimentos.

Retorno a atenção ao meu café.Na mesa está posta o resto do bolo de ontem, um pão caseiro, a ambrosia, mais um pote de geleia de goiaba e um de biscoitos amanteigados ... tudo caseiro, tudo feito pela Tê.

Tenho muitas dúvidas sobre o mundo, sobre as pessoas, sobre mim, mas acho que encontrei a resposta sobre uma coisa...

Sei o que Teresinha é para mim...

Agora entendo, agora consigo ver...

Tomodachi...

Sim, tomodachi. Ela é uma amiga.

Sim, Tê é uma amiga!!!!

Minha AMIGA!!!

Tomodachi...

Começo a entender os personagens dos animes...

 

 

 

-MENINO!!! -Ela vem se aproximando com uma caixa de leite em mãos-  Encontrei estes leites que vão vencer daqui a alguns dias... vou aproveitar pra fazer mais ambrosias pra ti, o que acha menino Eren?

-Acho ótima ideia Tê. Aproveita!

-Então tá... vou fazer muitos potes de doce pra ti!!!Vai cume ambrosia até vomita!!!!hahaha.

-Tê, me diz uma coisa... tem muitas caixas de leite?

-Tem... algumas, por quê?

-Então, pode fazer o favor de fazer todas deste doce?

-Mas menino Eren, vai dar muito... tu vai repunar...

Me levanto da mesa  e lhe deposito um beijo na bochecha. Ela se surpreende com meu gesto repentino.

-Não vou não... faz, que tive uma ideia.

-Que ideia?

Quando ela fala isso, já havia me conduzido a sala e pego a mochila. Antes de sair de casa lhe grito:

-UMA IDEIA GENIAL!!!! ATÉ TÊ!!!!!

-BOA AULA MENINO!!!!

Abano para Tê que ainda me enxerga de longe. E assim fecho a porta.

________XXX_________

 

 Faz alguns dias que estou tomando regularmente o remédio, então já começo a perceber como ele está me ajudando nas aulas. Minha mente não está vagando tanto, e consigo entender a maioria das coisas que os professores dizem.

Sabe, aquele bla bla bla bla bla... pois é, descubro que não é bem isso que sai da boca dos professores, mas palavras... frases... e que elas tem sentido!!!! Incrível não?

Pode parecer idiota, mas muitas vezes as pessoas estão falando comigo e as palavras não fazem sentido. Não por não conhecer as palavras, nem por não escutá-las, mas por não conseguir decodificar o que estas significam.

Isso faz com que tenha alguma dificuldade na escola. Em entender a matéria explicada.

Então, não é raro me cansar de tentar entender, e resolvo desistir, buscando em meu mundo a compreensão que não encontro neste. E neste mundo, desenhar está em primeiro plano. Enquanto estou fugindo deste mundo,  minha mão instintivamente começa a traçar o que estou observando ou lembrando. Acho que tenho facilidade em reproduzir no desenho o que observo com meus olhos. Consigo precisar com detalhes na minha mente,  a maioria das coisas que busco traçar.

Contraditório não?

Uma pessoa que não consegue se concentrar no que os outros falam, mas consegue se concentrar no que vê...

É contraditório... mas, é assim que eu funciono...

Os médicos já me disseram que isso não tão problemático,  posso viver a vida normalmente, e tomando o remédio direito minha concentração auditiva iria se ampliando. E percebo que eles estão certos.

Agora, estamos na aula do professor Farlan. Mesmo os ânimos da maioria a mil, estou conseguindo acompanhar o movimento da aula.

Ele propôs uma espécie de jogo. Dividiu a turma em dois grupos e está colocando equações de segundo grau no quadro. Cada lada tenta resolver um problema, e se acerta, pontua para seu grupo. Os adversários são os que escolhem  quem irá ao quadro. Lógico que assim, estão escolhendo os com maiores dificuldades da outra equipe. Espertos.

Gritos e vaias. Palmas e assovios.

Parecem crianças.

Uma menina morena de Maria chiquinhas comemora que conseguiu resolver. Corre para sentar-se no seu lugar, e ao chegar é recebida por um garoto que lhe abraça dando-lhe um beijo na bochecha.

As garotas gritam histéricas. Os meninos começam a tecer comentários baixinhos ao garoto. A menina de chiquinhas se senta e abaixa a cabeça envergonhada. Alguns garotos saem dos seus lugares e batem nas costas do menino e também mostra sinais claros de vergonha.

-OK, OK, PESSOAL!!!!! Vamos nos acalmar... vamos nos acalmar...Carolina quem você desafia?

A menina mostra-se receosa. O rapaz que lhe havia beijado sussurra algo em seu ouvido. Após relutar um pouco, fala:

-O Jean, professor!

Ressoam batidas nas mesas!!! Parece que a turma em uníssono transformou as mesas em tambores.

O lado da menina parece comemorar com a escolha, e em contrapartida, o lado oposto surge um descontentamento coletivo.

Será que o tal não é bom aluno?

Um grupo de garotos se levantam e circulam uma mesa. O garoto chamado Jean parece estar recebendo orientações.

Qualquer semelhança com um lutador e seus treinadores na volta não é mera coincidência. Devido a comoção em sua volta, não consigo ver quem  é.

Enquanto isso, observo que aparte do burburinho, encontra-se duas figuras bem peculiares. 

Bem em  frente a mesa dos professores senta uma garota. Seu nome: Sasha. Como eu sei? Bom, acho que o chaveiro gigante em formato de osso de cachorro, com esse nome escrito em letras de forma garrafais revelam algo, ou é seu nome, ou o do seu cachorro de estimação... que por sinal, Sasha parece ser nome de cachorro mesmo...

Como alguém pode pendurar algo de tão mau gosto na mochila?

Bom, a garota com nome de cachorro parece fazer jus a ele. Durante a aula  inteira... pior que estou sendo sincero... a aula  inteira, ela esteve comendo. Ela aproveita seu local e esconde em baixo da mesa  tudo que é comestível.

UM ÂNGULO CEGO PERFEITO! O TRIÂNGULO DAS BERMUDAS ALIMENTAR!

Nenhum professor percebe. E assim durante a aula, vi abrir discretamente sacos de batatinhas, salgadinhos, biscoitos,  chocolates...e não sei mais o que ela colocou na boca. Poderia pensar que se trata de uma garota mais cheinha... mas não, ela é magra. Como consegue ser magra comendo assim?

Morena, de cabelos castanhos, amarrados em um rabo de cavalo desalinhado. Agora que a sala encontra-se em caos total, a garota resolve abandonar a discrição. Vira-se para trás ficando de frente para um garoto careca e lhe oferece o pacote que está comendo. Parecem ser amigos. O garoto parece ser menos audacioso. Pega o pacote rapidamente e o esconde, olhando para todos os lados, observando possíveis pessoas que haviam visto a cena. Ao perceber que o professor Farlan está virado de costas, concentrado em escrever o problema do livro no quadro, este parece relaxar, enchendo a boca com o salgadinho. 

Idiota. Extremamente idiota.

Suas  bochechas ficam estufadas.

Se ele desejava ser discreto, não conseguiu...

Qualquer pessoa que lhe cruzasse os olhos perceberia que sua boca está cheia. Sua amiga agora dá altas gargalhadas da sua tentativa de mastigar e não conseguir. O garoto começa a rir levando-o a escorrer  parte do conteúdo pelas laterais da boca, engasgando-se com o restante do conteúdo da boca. Algumas garotas agora observando a cena e achando no mínimo nojenta, começam a reclamar.

O garoto nervoso se engasga totalmente, mudando a cor do rosto de amarelo para uma transição de vermelho arroxeado.  A  garota da comida sai de seu lugar procurando dar tapas em suas costas para ajudá-lo a desengasgar, sem nunca deixar de achar a cena hilária.

Uma das garotas que reclamavam levantou-se e foi até o quadro. O professor pára, lhe escuta e após  vira-se em direção a cena dos dois.

-MAIS QUE ZONA QUE TÁ ACONTECENDO!!!!

A menina da comida pára  a sua tentativa falha de executar a manobra de desengasgue.

O professor joga o livro na mesa e se dirige a dupla, gritando:

-SASHA FAZ O FAVOR DE FECHAR A BOCA E SE SENTAR, E CONNIE, TU NÃO PODES COMER DURANTE  A  AULA!!!!!

Eu tinha razão. A garota comilona do chaveiro de osso se chama Sasha e o garoto idiota em suas costas, Connie.

E realmente, o professor não se percebeu que durante toda a aula a garota é que vem comendo escondido.

A garota prontamente obedece ao professor, sentando-se em seu lugar e assumindo uma postura falsamente inocente. Connie ainda engasgado procura  engolir o resto dos farelos do salgadinho de sua boca, limpando-se com as costas das mãos as sujeiras da boca.

-Agora, treinadores do Jean, quero vocês sentados!!!! -disse ainda em voz firme e um pouco acima do volume usual.

Os meninos que estavam aglomerados no outro canto,  voltam  aos seus lugares lhe dando os últimos conselhos. -Então Jean...  estamos esperando o Senhor vir ao quadro representar seu grupo.

Do fundo da sala, levanta-se o  garoto em questão.

Com caminhar displicente, vai atravessando o corredor principal da sala, parando e cumprimentando colegas com sorriso largo estampado. Parou num segundo e jogou beijo a uma colega loira que lhe virou o rosto, revelando  seu descontentamento.  Após todo este desfile ainda resolveu parar e fazer uma “self” ao lado do professor Farlan. E este só observando as posturas do tal Jean.

-Terminou  o desfile? - questionou o professor deixando evidente a ironia em sua voz.

Sem lhe responder nada, Jean se aproxima da lousa pegando um canetão. Olha para o professor e ainda com uma mão no bolso da calça desvirilhada, se vira para o quadro.

-Manda ver  no tempo sor!

Jean é um garoto de estatura mediana, acho que um pouco mais alto que eu. Suas roupas  despojadas lhe dão um aspecto largado mas acho que na moda. Sabe, estas modas de bad boy.

Deve ser popular na turma, pois toda aquela performance foi aplaudida por alguns colegas e arrancou suspiros de algumas garotas. Outros riam de suas ações, principalmente colegas do lado oposto da sala, ou seja, do meu lado. Acredito que, pelos comentários, de que este, não passa de um bufão.

A questão é, quem quer que seja, este Jean tem um péssimo gosto para corte de cabelo, com a nuca quase raspada até o meio da cabeça, deixando a parte superior dos fios mais longos e descoloridos formando um topete.

Não, está mais para espanador de pó.

Se a Tê visse este cabelo...

Ela já se implica com o meu... e olha que o meu não chega nem perto...do...

 

Bom,  não sei se sua intenção é esta, mas aquilo chama muito a atenção,  a cor ficou num misto de ruivo e loiro, e os fios estáticos evidenciam o pouco cuidado com estes. Parecem duros.

Seu cabelo parece morto.

 Bem diferente do movimento do cabelo do Levi.

Movimento e brilho.

Olho para trás e vejo o lugar dele vazio.

O que Levi acharia daquele cabelo?

Definitivamente, aquela pessoa  não pode ser descrita como bonita.

Mesmo assim, pelas reações da maioria, percebo que em geral todos gostam dele. Todos o conhecem.

 Menos eu.

Eu nunca percebi que ele existia.

Volto minha atenção a observá-lo. Está há alguns minutos, virado de costas para a turma, com a cabeça baixa e começa a mexer no bolso da calça. Desta, retira novamente o celular e o posiciona na parte superior da moldura do quadro levemente inclinado para ele. Se distancia rapidamente abrindo os braços e fazendo movimentos como se estivesse apresentando uma plateia.

-Então galera!!!!  Aqui é o Jean- o garanhão do pedaço , gravando a patética aula de matemática da escola Kyojin. E AÍ PESSOAL, DEEM UM SALVE PARA A GALERA DO BLOG....

CRASH!!!!!!

Pedaços de celular  espatifado no chão. Todos na sala se espantam.

-OOPS!!!! Desculpa aí, he, he, he, minha mão sem querer  arremessou o apagador.  – Ainda falando, o professor caminha em direção a Jean, se abaixa, pega  um pedaço maior do  celular quebrado e  deposita  no bolso do garoto.  Em choque, pelo que houvera ocorrido, Jean não se move. O professor em contrapartida pára bem perto do rosto do meu colega, e lhe fala intimidando-o:

 – Mantém esta bosta dentro do teu bolso, minha aula não é circo! Je-an o ga-ra-nhão ...

A turma que até então estava boquiaberta, em uníssono repetem com escárnio o “garanhão”.

Depois do choque do momento, Jean coloca as mãos nos bolsos, e com a cabeça baixa, começa a rir. Retira o celular quebrado de seu bolso e joga seu pedaço em cima da mesa do professor.

-Tscc... Não dá nada... posso comprar vários... e os patrocinadores me liberam novos aparelhos... - Ainda rindo, deu de ombros e virou-se, caminhando em direção ao seu lugar.

-UM MOMENTO AÍ SENHOR JEAN!!!!

Ele pára novamente,  e vira-se para o professor.

-O senhor não resolveu a equação. – falou calmamente, lhe estendendo  o pincel de lousa.

Ainda mostrando um sorriso debochado, Jean retorna para frente do quadro branco ao encontro do professor Farlan,  lhe respondendo desinteressado.

-Não vou fazer nada.

-NÃO? - a descrença se mostra na postura do professor.

-Não preciso...  -Agora Jean se posiciona corporalmente de forma mais intimidante perante o professor, revelando  ar de superioridade.

-Então muito bem.  –Caminhando para o centro da sala, o professor se dirige a turma: -Como o Senhor Jean recusou-se a resolver o problema, passo a vez para o time adversário ter a oportunidade de pontuar. Senhor  Garanhão, antes de conduzir-se a sua estrebaria, e nos brindar com a oportunidade de não escutar teus relinchos,  pode  escolher quem irá desafiar...

Frente ao comentário escarnecedor do professor alguns começam a rir, porém calam-se ao ver a expressão indignada de Jean.

-Imbecis... pra mim já deu, tô vazando daqui. – Então, caminha em direção a porta de saída. Ao abri-la, observa alguns colegas do lado oposto rirem. - Vão tomar no cú, seus viados. - Então com a expressão indignada, mostra um gesto com o dedo do meio. E ISSO NÃO FICA ASSIM PROFESSOR!

Um menino moreno ainda grita do fundo.

-JEAN QUEM TU VAI FUDER?

Ele sorri. Mas um sorriso diferente. Em um misto de crueldade, satisfação e ira.

 – Desafio o retardado, tomem esta SEUS PAU NO CÚ!!!!! –Então Jean abre a porta e sai da sala, sem antes não deixar de batê-la com força.

O professor observa a cena e pacificamente cruza os braços, suspirando profundamente.

-Bom turma, o showzinho acabou...deixemos o senhor Jean com suas crises de estrelismo. Depois resolvo as coisas com nosso “ARTISTA.”-Sua voz parecia dissimulada ao falar a palavra artista e percebo que a turma acompanha a ideia rindo. Então, quem  vai mesmo resolver?

O olhar da turma cai sobre mim, e escuto alguém dizer que o Jean havia me escolhido.

EU?

Eu?

Mas não escutei meu nome, não, ele nem falou nenhum nome...só falou que..

-Como? O Eren- o professor manifestou não estar entendendo.

-Antes de sair o Jean...bem, citou o...é ele...-falou meio constrangido o garoto.

Um outro garoto, do mesmo lado de Jean, se levanta e explica.

-O retardado, professor...é o Jeager!!!!!!Todo mundo sabe!!!! -Percebo alguns olhares espantados, alguns maliciosos, outros indignados com o garoto, e outros já olham com pena para mim.-PORRA!!!!QUAL É GENTE!!!!TODO MUNDO SABE QUE O JEAGER NÃO BATE BEM...

Entendo...

Não tenho forças para erguer minha cabeça.

Por que não abre um buraco no chão agora?

-PORRA PESSOAL!!!!VOCÊS SÃO UNS FALSOS, NÃO DÃO A LETRA SÓ PORQUE ELE É FILHO DE QUEM É!!!!PRONTO FALEI!!!!

Sinto os olhares de todos sobre mim. O peso destes olhos. O garoto que disse isso está com um sorriso malicioso em minha direção, olhos cruéis, sentindo prazer em cada palavra que sua língua se movimenta e produz. Seus braços cruzados sob os peitos, lhe davam a impressão de um executor medieval, pronto para revelar ao mundo um potencial bruxo a ser executado. A verdade declarada.

Retardado...

Retardado...

Retardado?

Então é assim que os meus colegas me veem?

Olho de relance para todos. As expressões variam de sorrisos frios, a olhares piedosos. Até a garota comilona deixou cair uma batatinha no chão...estava pasmada.

Olho novamente para o local onde Levi se senta.

Está vazio.

Ainda bem.

Ainda bem que ele não veio à escola hoje.

Não gostaria que ele ouvisse isso a meu respeito.

Baixo a minha cabeça, respiro fundo, e olho para meu bloco de canson aberto em cima da mesa. Os croquis com os olhos do Levi estão ali. Aqueles olhos carregados de poder.

Nos olhos do Levi não há maldade.

Eles são frios, mas são bons.

Eles são fortes. Seu olhar tem poder.

Por favor Levi, me empreste seu poder, lhe rogo, me empreste sua força!!!!

Levanto lentamente do meu lugar, ainda os fitando. Resolvo erguer a minha cabeça a caminho do professor, na frente de toda turma.

Ainda o observo brevemente. Ele está pálido e me oferta o canetão com um sorriso triste.

 

 

 

Em minutos que não sei mensurar,  resolvo a equação.  Após verificar que estava certa, o professor marca o ponto para a equipe do lado na qual me sento. Alguns que estavam em silêncio agora comemoravam.

E eu, em contrapartida, volto rapidamente, em silêncio ao meu lugar, de cabeça baixa. Não me sento. Jogo meus materiais de qualquer jeito dentro da mochila, fecho-a,  e cruzo o corredor em direção a porta de saída.

O professor Farlan percebe minhas intenções, e acena com a cabeça me apoiando.

Saio da sala em meio a comemoração. Além do professor, acho  ninguém notou minha saída.

 

_____________xxx____________

 

Vejo um bombom ser depositado em minha frente. Ergo minha cabeça e me deparo com um garoto moreno, levemente sardento me olhando, de pé, em frente a mesa.

-Então, tu vieste para cá?

-Hãa?

Olho para ele confuso. Percebendo que não estou entendendo a situação, o jovem sorri e me estende a mão.

-Prazer, meu nome é Marcos!!!! Não sei se tu lembras de mim... mas, somos colegas de sala...

-Hãa? - ainda sem entender muito bem, estico minha mão para retribuir o cumprimento. - Hãa? Prazer, eu sou...

-Eren Jeager!!! - Vejo o menino abandonar minha mão e puxar uma cadeira sentando-se a minha frente. - Sei quem tu és. És o...

Interpelo sua fala, sem lhe olhar nos olhos.

-O retardado...  -sussurro.

Meio constrangido em escutar o que eu disse, percebo o garoto esfregar as mãos e  desviar o olhar, revelando uma tristeza que não fazia ideia da onde viera.

-Me desculpa Eren...

-Pelo quê?  -Inclino minha cabeça para tentar encontrar em seus olhos a explicação de um desconhecido estar na minha frente pedindo desculpas.

-Ele não quis dizer isso... quer dizer, ele disse, mas pode ter certeza que não foi por mal...

O garoto em minha frente estava visivelmente nervoso. Esfregava  suas mãos úmidas, algumas vezes buscando as peles erguidas em torno das unhas e puxando-as. Levou uma das mãos a boca, e puxou um  “corinho” com os dentes.  Após ele ter consciência que eu o estava  observando, desceu-as mãos para as pernas das calças e consegui ver que as secava.

-Não foi por mal? – Olho-o incrédulo. Percebendo que não estava acreditando no que estava ouvindo, ele puxa minhas mãos e as segura com força. Ainda sinto a umidade de sua saliva em minha mão.

-Eren, o Jean não é mau, acredita em mim! -Seu olhar agora denotando a convicção e a certeza do que estava a dizer.

-Hãa... olha...

-Por favor, acredita em mim! Sei que tu não me conheces, mas peço que acredites em mim!- o garoto apercebe-se de seu tom elevado de voz, olha para os lados para ver se alguém não está nos olhando. Ao perceber que não chamou a atenção de ninguém volta a centralizar sua atenção em mim.  –O Jean, sabe... não é aquilo que ele mostra, ele só está... está, meio confuso... esta coisa de virar You Tuber... está mexendo com a cabeça dele... ele só precisa de paciência. Não leva ele a sério...

Ao perceber que ainda segurava a minha mão,  a abandona rapidamente, recuando-as para perto de seu corpo, abaixa a cabeça e a vira para o lado.

-You Tubers?-falei.

-Sim! Ele está entre os mais seguidos do nosso estado...  Os patrocinadores  estão de olho nele, e daqui a uma semana vai fazer uma  participação especial   numa novela teem!

Brilho!

Seus olhos voltaram a me encarar. Eles brilhavam me contando isso. A admiração que este garoto tem por este Jean fica evidentemente revelada em seus olhos.

-Seguidos?

Percebendo que não estou acompanhando o assunto, o garoto sardento continua.

-Tu não acompanhas algum You Tuber? Não segue ninguém? -Balanço minha cabeça negativamente. – Tu sabes do que estou falando?- Volto a balançar a cabeça. Vejo-o abrir um sorriso discreto.  –Bom, então deixa pra lá. Isso não vem ao caso... mas, Eren, por favor, não acredites no que ele disse... sabes... – baixa a cabeça, começa a brincar com os dedos girando-os.  -... nós não somos amigos nem nada disso, mas... não quero que tu se sintas mal acreditando que és um ... doente... até por que, um cara que resolve aquele problema em minutos, sei lá, acho que nem o gênio do Armim conseguiria, tá longe de ser isso... entende? Entende o que to te dizendo?

Dou um suspiro profundo. Falar disso de novo é relembrar o que ocorrera na sala... e relembrar muitas vezes significa voltar a sofrer muitas vezes.

Não gosto de relembrar. Algumas coisas nunca deveriam ser relembradas. Começo a reunir meu material de desenho e a guardá-lo na mochila. O garoto em minha frente observa meus movimentos calados. Após tudo guardado, deixando apenas meu bloco de A 3 no braço, me levanto.

-Eren...

Volto a encarar o garoto.

-Olha... teu nome é Marcos, né? Não precisas ficar preocupado comigo, sei o que sou. E no mais, já estou acostumado...  -Saí da biblioteca deixando o garoto sardento sentado, me olhando tristemente. – E obrigado pelo bombom. -Lhe retribuo a gentileza,  com o melhor que consigo no momento, um frágil  sorriso.

________________XXX____________________

 

Sabes quando tu não desejas ver ninguém, e não param de surgir pessoas em sua frente?

Sabes quando tu não desejas escutar vozes, e parece que todos gargalham bem nos  teus ouvidos?

Sabes quando tu não desejas sorrir, e todos em tua volta esboçam suas bocas largas, o brilho dos dentes, e os sons que estas produzem?

Sabes quando tu não desejas comer, e os cheiros enjoativos de alimentos gordurosos insistem em prender-se em suas narinas?

Sabes quando tu desejas fugir, mas não sabes para onde?

Assim me sinto agora.

Este  período infernal  de recreio que nunca termina.

Quando isso  vai terminar?

Cruza por mim, minha colega. A garota comilona com nome de cachorro...  Ao seu lado, o careca idiota. Ambos riam. O motivo parecia ser a escrita de canetinha que alguém fizera em sua testa. Nesta, alguém deixou registrado algo que ao olhar para ele, ninguém chegaria a conclusão.

Idiota.

Sim, alguém escreveu idiota em sua testa. Ele a ostentava com orgulho. A garota por sua vez, também rindo descontroladamente deixava-se lambuzar pelo molho do cachorro quente que tinha em mãos. No meio disso, consegui passar no corredor, desapercebido.

Ótimo!

 

Quero desaparecer deste lugar.

Quero desaparecer deste mundo.

Após procurar um local para ficar sozinho, e não encontrar, lembrei-me da onde estivera ontem com Levi.

Sim, com Levi!

Como será que ele está?

Será que seu rosto melhorou com os remédios?

Será que conseguiu resolver o problema da sua madrinha?

Sei lá, acho que as respostas destas perguntas é negativa, ou ele teria vindo a escola hoje.

Que bom que ele não veio... não ia desejar ver os olhos dele me encarando depois da situação de hoje...

 Passar por esta situação na frente dele...teria vergonha...

O que ele iria pensar de mim?

Qual seria a reação dele?

Se ao menos, tivéssemos trocado números...

Que tom de cinza seus olhos iriam refletir?

Arrasto a porta de metal que está enferrujada, subo as escadarias e me deparo com a porta que dá acesso ao piso superior. Em instantes já estava dentro da sala- cozinha, onde ontem havia ajudado Levi a tirar sua maquiagem. Fui em direção a pia e naquele mesmo local, deixei meu corpo desabar sob as pernas,  minha mochila e meu bloco de canson cairem.

Canseira.

Tentar ser forte cansa.

Tristeza.

Estar sozinho num momento assim é difícil.

 

Qual a razão de estar passando por isso?

Escoro minhas costas na pia,  dobro meus joelhos, apoiando a cabeça entre as pernas. Vejo meu bloco de canson caído, entreaberto, e os puxo para perto de mim.

Ali estão.

Não estou sozinho. Os rascunhos que fiz dos olhos e boca do Levi estão comigo.

O desenho sempre foi minha companhia.

 

O QUE ELE FARIA EM UMA SITUAÇÃO ASSIM?

Com certeza, não iria reagir como estou reagindo... mas, ele é forte, tem coragem...

E eu?

Eu?

O QUE EU TENHO LEVI?

Nada...

Se tu estivesses na sala, pensaria o mesmo que os outros?

Que sou um retardado?

Qual seria o seu olhar?

Meu corpo inconscientemente se curva, me levando a uma postura quase fetal. Meu peito começa a apertar,e sinto que estou ficando sem ar.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?

Não sei por que, mas lembranças  das minhas conversas com o Levi, ele me desdenhando, me chamando de idiota, de criança, de retardado...

O Levi já me chamou de retardado?

Dói.

Meu peito dói..

Preciso me acalmar.

Busco controlar minha respiração. Fecho meus olhos, para me concentrar em me acalmar, mas ao contrário do esperado, acaba aparecendo em flash, as imagens que acabei de vivenciar. A  turma inteira rindo. O tal do Jean está apontando o dedo para mim, me chamando de retardado. A garota com nome de cachorro escreve na barriga do amigo a palavra “retardado” e ele a exibe em minha direção. Olho para o fundo da sala, em direção ao lugar do Levi. Lá está ele, sentado, olhando para o além, sem participar de toda aquela bagunça. Ao perceber que estou lhe olhando, ele me fita erguendo uma sobrancelha.

-Levi...

Percebo sua boca se mover lentamente, pronunciando algo que não escuto devido ao barulho ensurdecedor da sala.

-Levi...

Ele repete.

Agora o silêncio total. Todos desaparecem.

Só estou eu, no meio da sala e Levi em seu lugar.

Vejo sua boca movimentar-se pela terceira vez. Os mesmos movimentos naqueles lábios finos.

-RE-TAR-DA-DO.

Consigo ver claramente Levi, com seu típico olhar cruel, de desdém, me ferindo, agora com as palavras mais ácidas que pudera escutar em minha vida.

-RE-TAR-DA-DO.

Tu não Levi...

Tu não...

Tu és meu amigo...  não...

Dói.

O peito dói...a cabeça...

Gira...

Sinto algo quente e forte se agarrar em mim.

No susto do contato físico, abro meus olhos me libertando dos meus devaneios.

Estou sendo fortemente abraçado por alguém, que está ajoelhado em minha frente.

Procuro me afastar um pouco para entender a situação. A cabeça não está ajudando...

 

Ao me afastar daquele corpo, percebo se tratar da Professora Hanji, que está  ajoelhada na minha frente. Ao perceber meus olhos abertos e meus movimentos, a professora  também se afasta, ficando em frente a mim. Vejo suas mãos tocarem meu rosto, e tirarem algo úmido  da volta dos meus olhos.

Ela está sorrindo. Não com os seus sorrisos escandalosos, mas um sorriso triste, cândido. Volta a passar a mão pelos meus olhos e depois esfrega em seu jaleco. Retorna aos meus olhos e repete, não sei quantas vezes a ação.

Então me dou por mim de algo.

Estou chorando.

E não consigo fazer parar de descer as lágrimas.

Ao perceber que não tenho controle sob minhas lágrimas, elas começam a cair com maior intensidade.

A professora volta a me abraçar fortemente, me aninhando  sob seu peito.

-Isso... chora gatinho... chora que faz bem... - e ela começar a acariciar minha cabeça.

_________________XXX______________

Depois de não sei quanto tempo, a professora se levanta, afastando-se de mim. Vai até sua sacola, retira um frasco. Volta em minha direção e se abaixa, ficando de cócoras.

-Abre a boca.

Obedeço-lhe. Ela começa a pingar algo amargo sob minha língua. Após tirar o frasco, fecho minha boca. Estou acostumado a tomar remédios amargos, e sem água, então, para mim, aquilo não foi nada...

-Água de melissa. Agora tu vais ficar mais calminho. - Ainda vejo aquele sorriso preocupado me olhando. Ela estende a mão e coloca o frasco em cima da pia as minhas costas. Rastejando de joelhos se aproxima de mim, sentando-se ao meu lado. Bruscamente, puxa minha cabeça  em direção ao seu colo, obrigando meu corpo a se posicionar ali. Após eu estar na posição que ela desejava, ela volta a acariciar meus cabelos. Suas mãos pesadas sob minha cabeça, a princípio geraram estranheza, mas agora, começo a aceitar e relaxar com a situação.

-Relaxa menino de olhos bonitos... relaxa... tudo vai dar certo...

Transformando mãos pesadas em toques de luvas de pelica...  adormeço.

___________XXX___________

 

-Então foi isso que ocorreu?

Ainda permanecia deitado sob o colo daquela professora. Já  a havia visto com Levi e lhe trocado algumas palavras, mas não tirara tempo para reparar nela. Agora de perto, a observando bem, além do seu típico visual desleixado, com os cabelos castanhos longos presos em um rabo de cavalo desalinhado, percebo que seus óculos são de lentes bem grossas. Possivelmente a professora tem uma miopia problemática. O aspecto de fundo de garrafas das lentes mostra-se ao observá-los de perfil. A armação de acetato,  grossa e preta tenta inutilmente ocultar a espessura da lente.   Seus olhos castanhos escuros, sempre alegres e grandes, agora mostravam um brilho úmido. Não cansando de acarinhar meus cabelos,  escutara em silencio eu relatar o que houvera na sala.

Contei tudo que aconteceu...

Por que me abri com uma estranha...

-Qual foi a reação do Professor Farlan?

-Não sei... –sussurrei - mas até a hora que sai da sala não tinha feito nada...

-Sei...

-Mas professora, não conta nada disso para ninguém... -estendo um de meus braços e toco em uma de suas mãos que repousa em minha barriga. Olho em seus olhos.

-Gatinho... o diretor tem que saber...

-Não quero... ninguém...

-Não vai contar para o Levi?

Viro meu rosto para o lado, tentando ocultar minha face.

-Muito menos para ele... -volto a sussurrar.

-Por quê?  -vejo ela inclinar levemente a cabeça para encontrar meus olhos.

Silêncio.

-Eren... se tu não me contares o motivo, não posso respeitar tua vontade...

Silêncio.

-Eren... Eren...vamos, me diga...

-Tenho medo...

-Medo? Percebo em sua voz e olhos a dúvida.

Começo a mexer no bloco de canson caído no chão. A professora segue meus movimentos com seu olhar. Vou virando as páginas olhando meus esboços e me detenho aos que estivera fazendo de Levi.

-Sabe professora... sei que, não sou retardado...

A professora Hanji dá um suspiro profundo seguido de uma breve risada. Sabem aquelas risadas amarelas, pois é, mais ou menos assim.

-Ainda bem que tu não te deixas levar pelas idiotices dos teus colegas...

Ela volta a acariciar meus cabelos. Agora, sinto-a pegar mechas de fios longos e a enrolar em seus dedos.

-Mas...

-Mas?

-Mas, escutar alguém se referir a mim daquela forma, em público...  e todos na turma saberem que aquilo está se referindo a  mim... meu apelido....

Breve pausa. Respiro profundamente buscando o ar e a coragem dentro de mim

-Aquilo me deixou...

-Triste?  -Ela complementou.

-É... triste...

-Sei... é difícil escutar o que os outros pensam de nós...

-É...

-Ainda mais na adolescência, em que viver em grupos é importante para se reafirmar...

-É... mais ou menos por aí, professora...

-Mais ou menos?

-Ahã...

-Qual é o menos?

 Silêncio. Começo a traçar com meu dedo o contorno do desenho dos lábios de Levi.  Me perco ali. No meu mundo.

-Eren?

Retornamos ao silêncio...

-Gatinho... -ela sussurra na minha orelha me tirando dos meus pensamentos. - Onde fica o menos?

-O menos? -sussurro.

-É... o menos...

-Bom... acho que, dele pensar a mesma coisa de mim...  – ainda fitando meus desenhos, sinto a professora desviar sua atenção de meus cabelos para meu bloco. Ao perceber isso, fecho meu bloco rapidamente. Ela dá um pequeno risinho depositando um beijo na minha cabeça.

-Sabe gatinho... tenho que te agradecer...

Inclino minha cabeça em sua direção.

-Hãa?...

-Sim,  estou em grande dívida contigo!!!! - Percebo sua voz começar a ficar mais alta e animada. - Tu conseguiste fazer uma coisa que nem eu consigo!!! Um verdadeiro milagre!!!

-Hãa... qual?

-Fazer o Levi tomar remédios... kkkkkk... ele odeia... foi difícil?-Ela se inclina sob mim, deixando seus peitos mais pertos de meu rosto. Constrangido, meio que gaguejo.

-Nãa-oo mui-to... Percebendo meu constrangimento, ela se afasta e ri. - Só lhe dei a ideia e ele aceitou...

-SÓ ISSO? Só deu a ideia?

-Ahãã? Por quê?

 

Percebo a professora abrir mais seus olhos e sob as lentes de seus óculos eles mostraram-se maiores.

-Estranho... o Senhor Levi Archemman não é do tipo que escuta ideias... kkkkkkk

Olho para ela sério.

-Estou falando sério gatinho!!!! O Levi não costuma seguir conselhos, nem escutar ninguém. Ele só  faz o que tem na cabeça, ou é obrigado a força. E tu,  SÓ DEU A IDEIA?

-É foi...

-Sério isso?

-Ahaã...

-Porra...

Admiração e curiosidade. Assim a professora começou  a me olhar. Em uma análise lenta, que me sondava por fora, mas que me trouxe a sensação que também estava me lendo por dentro.

-Tu deves ter muita importância para ele... se não, nunca te ouviria.

Aquilo, entra em meus ouvidos e faz meu corpo acordar. Como o toque de um tambor anunciando que o festival está para começar. Começando a movimentar os trilhões de células do meu corpo.

Será que o que esta professora está falando é verdade?

Será que realmente o Levi me acha importante?

Será que ele também me encara seu amigo?

Levanto minha cabeça do seu colo, e sento ao lado da professora. Ainda confuso tentando decodificar o que aquela mulher está me contando, e buscando as respostas para minhas dúvidas. Percebendo minha confusão mental, vejo a professora levantar-se.

-E COMO ELE ESTÁ? -Foi a única pergunta que saiu abruptamente da minha boca.

Ela se dirige até o balcão americano, senta-se em um banquinho, e ali repousa os dois cotovelos, apoiando  sua cabeça entre as mãos. Um sorriso matreiro, é isso que ela me revela.

-KKKKKK... CALMINHA GATINHO... KKKKk... -fala rindo. Baixando seu volume de voz, me encara. -Tá tudo tranquilo... tudo tranquilo... está na minha casa. Convenci a madrinha dele de deixá-lo comigo com a desculpa que preciso de sua ajuda para corrigir as provas dos meus alunos... hehehehehehe!!!! Não sou demais? Mato dois coelhos em uma cajadada...he He He...

-A senhora delega essa função a outras pessoas? Isso pode?- lhe olhei desconfiado.

-HE HE HE HE HE HE HE HE HE!!!!!! As vezes, hehheehehehehehehe... quando estou muito atrasada nos prazos... bom, mas o que vem ao caso é que  a desculpa colou, e a madrinha dele não estranhou nadinha. Isso dá tempo dos remédios agirem no corpo e o rosto dele voltar ao normal.

-Mas... mas, a senhora pede para um aluno fazer isso?

Vejo a professora desmanchar o sorriso e me olhar séria.

-Caraca  Gatinho, tu és Caxias... Gatinho, vou te dar a letra de algo, quem está corrigindo não é um aluno... é o Levi!

Para mim aquela informação não estava me servindo de orientação alguma. Levi é um adolescente, um aluno, por que esta mulher diz isso?

Acho que por mais que não lhe tenha dito nada, a professora conseguiu perceber minhas dúvidas.

- Tu ainda não o conheces... não, conheces como pensas nem como ages...-Ela interpelou meus pensamentos.

A professora sai de seu lugar e se aproxima de mim. Pára na minha frente séria estendendo a mão em sinal de ajuda para eu me levantar. Quando estou  a sua frente, ela desmancha sua cara séria, e dá espaço para um sorriso largo, de orelha a orelha.

-Tu és mais alto que ele!!!!!!HE HE HE HE HE...

Largando a minha mão, pega algo dentro do bolso do seu jaleco e coloca no bolso traseiro da minha calça, tocando levemente na minha nádega.

Percebo seu movimento estranho e me assusto.

-HE HE HE HE HE... ASSUSTEI O GATINHO!!!!! Calminha... tu não conheces ele ainda... mas podes vir a conhecer... He He He He He ...SÓ DEPENDES DE TI...

-Haã?

Coloco a mão no meu bolso, e tiro um bilhete. Uma folha de caderno. Ao desdobrar vejo um número de telefone.

-O que é isso?

-Levi mandou te entregar. Disse que a noite tu deves enviar uma mensagem para ele. Parece que precisam resolver coisas sobre um trabalho...

A professora começa a bater suas calças tentando inutilmente tirar a sujeira que se acumulou.  Organiza seu material, guardando o frasco de remédio que deixara na pia. Enquanto isso, fico a encarar aquele número.

O número do telefone do meu primeiro amigo de escola!!!!

A professora se abaixa e começa a recolher o meu material. Pega minha mochila e também a sacode tentando tirar um pouco da sujeira. Junta meu bloco de canson e entrega ambos a mim.

-Está melhor? Vamos? - me dá um sorriso espontâneo.

Aceno com a cabeça que sim. Ao sair da sala, ela se vira abruptamente e me olha séria.

-Sabes...Tu desenhas muito bem!!! O Levi ficou perfeito no teu gravite!!!

-Hãa?

- Os rabiscos... do Levi...? São dele, né? Estão ótimos!!!! -Ela me olha apontando para o bloco.

-Coo-moo a senhoo-ra percee-beu? - gaguejo de vergonha...

 Ter a consciência de que a professora havia observado meus desenhos e analisados me deixou extremamente constrangido. Abaixo minha cabeça, não conseguindo encará-la.

-Deixa de vergonha gatinho, He He He He He- Ela se aproxima dando um forte tapa em minhas costas, fazendo-me arquear a coluna. – HE HE HE HE HE HE... tu mandas muito bem!!!!!!!

-Mas... mas...

-HEHEHEHEHEHEHEEHE!!!! Mais nada!!! Tu tens muito talento para desenhar!!!Tuas figuras humanas são ricas de  detalhes... qualquer um percebes que tu és um bom observador!!

-Obrigado... -sussurro.

Dando uns saltinhos, ela se aproxima e engancha nossos braços  fazendo nos ficar lado a lado.

-Sabe gatinho... tive uma ideia!!!!!!- Ela abre a porta daquela sala, e sai correndo me puxando com ela. Quando estamos no terraço, mais ao fundo deste, ela pára em frente a uma porta de outra  sala desativada, que não havia estado antes.

Ela abre a porta com um sorriso quase maquiavélico. Seus olhos brilhavam com a perspectiva da ideia que lhe viera na mente.

E eu preso a seu  braço...

Entramos na sala. Tudo escuro. Ela liga o interruptor.

-E aí gatinho? O QUE ACHOU? HEHEHEEHEEHEHEHE

Ao me soltar caminho um pouco para observar o local. Era um misto de sala de aula com atelier de arte.

-Antigamente funcionava aqui a sala de Técnicas Artísticas... mas hoje, ninguém mais vem.

Continuo adentrando na sala e percebo armários com materiais, cavaletes, paletas, mesas de desenho... tudo coberto de muita sujeira.

-Este lugar...

-Divino não? Hoje os alunos não encaram as artes com seriedade... na real, acho que nem os professores de Artes a levam a sério!!!!

Adentro no lugar passando minhas mãos sob as superfícies. Começo a entender o local com minhas digitais e a analisar cada possibilidade que aquele local um dia ofertou aos alunos. Pena que se perdeu isso...

-Sabes gatinho... tu devias usar este local!

Encaro-a em dúvida.

-Hãa?

-É...é um desperdício tu ficares se esgueirando para achar um local tranquilo para desenhar e este aqui perfeito para isso...não sendo usado...

-Mas...

-MAS NADA!!!!! Convida  o Levi para te ajudar a limpar isso...

Aquelas palavras não estavam fazendo sentido.

-É... CONVIDA... tenho certeza que ele vai amaaaaarrrr te ajudar a limpar este local... hehehheeheheheheehe

-Sério professora?

-Sobre o quê?

-Sobre tudo...  poder limpar este local para usá-lo?

-Claro... ninguém mais vem aqui... tenho certeza que tu farás bom uso para o local hehehehehe...

 

Vou poder ter um local em silêncio para desenhar...

Vou ter um local para poder fugir...

Caminho em direção a professora. Paro na sua frente e deixo minha mochila cair no chão. Lhe encaro. Ela ainda permanece com aquele sorriso bobo no rosto.

-Professora, com todo respeito... –então, lhe dou o abraço mais forte que meus músculos conseguem.

Preciso transmitir a ela minha gratidão por toda a ajuda neste dia...

Preciso transmitir a ela como suas palavras, gestos, e ações foram importantes...

Preciso transmitir para ela como foi importante ela estar aqui...

 

Ao perceber meu abraço, ela retribui rindo. As lágrimas começam a cair de meus olhos sem minha permissão, e ao sentir a umidade em seus ombros a professora começa a alisar meus cabelos.

Entre soluços eu resolvo falar:

-Obrii-ga-do...

-UÉ? Pelo quê?- fala com sua voz fortemente teatral.

Respiro fundo, e com meu nariz em seu ombro, resolvo fala:

-A senhora não me conhece, mas mesmo assim passou esta tarde comigo... me ajudou muito!!! Não sei o que seria do meu dia sem a senhora... a senhora é um anjo!!!!!

Sinto o corpo da professora congelar. Ela pega meus braços, os abaixa deixando-os alinhado  ao corpo, e ainda os segurando se afasta de mim, olhando nos meus olhos.

-Anjo?

-Sim, professora...

-Eu, anjo?- suas expressões faciais caricaturais evidenciavam não estarem de acordo com o que escutara.

-Sim... falei algo errado?

-ANJO EU???????? HEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!-de uma hora para outra, ela começa a gargalhar, revelando uma boca que parecia que iria rasgar por causa da força e do volume de sua voz. Se curvou apertando a barriga, bateu os pé, dava tapas em minhas costas, repetia a palavra “eu anjo”constantemente.

Estava em  frente de uma reação exageradamente teatral.

E eu ali. Imóvel. Vendo a cena. E lentamente minhas lágrimas paravam de descer para achar aquilo tudo, no mínimo engraçado.

Ela é um adulto engraçada.

Alguns minutos depois de suavizar seu ataque de riso, ela se aproxima de mim, afaga meus cabelos deixando-os mais desalinhados e lança um beijo na minha testa.

-Agora eu sei por que o Levi te acha especial...  -e piscou um olho para mim. Dando pulinhos rápidos, se distancia de mim, se aproximando da porta.- Viu gatinho...não esquece de enviar a mensagem, ok?

Movimento a cabeça em confirmação. Ao sair pela porta, ainda a escuto ir e repetir a palavra anjo...

Não entendendo o porquê...

 

________________XXX_________________

 

A noite, em meu quarto, após tomar meu remédio,  pego o papel que a professora Hanji me tinha dado, e me sento na cama.

Digito o número e envio uma mensagem.

Oi, aqui é o Eren...

Minuto depois, recebo a resposta.

Pensei que não iria escrever. Já está tarde. Vou armazenar teu número.

Ele está bravo por que demorei para lhe enviar a mensagem...

Desculpas, por ter enviado tão tarde da noite... tu devias já estar descansando, né? Como tu estás? Queria falar do trabalho?

Em torno de dois minutos, recebo a resposta.

Estou bem.Tudo ok. Amanhã , às 14 horas, esteja me esperando na escadaria da frente da escola. Vamos resolver coisas da nossa apresentação. Não se atrase!!!! Odeio atrasos!!!

Lhe envio uma mensagem de ok, e lhe desejando boa noite.

Organizo as cobertas e deito-me. Alguns minutos depois, escuto a música da minha caixa de entrada.

Pego o celular do criado-mudo e olho no visor. Abro-a.

Não te preocupes com bobagens, confia em mim que tudo dará certo...

 

Com o celular no travesseiro, e repetindo mentalmente esta mensagem, eu adormeço.

Acordei de manhã, e não sei como, mas derrubei as cobertas no chão e  tirei o pijama dormindo.

 


Notas Finais


Espero que tenham curtido. Capítulo longo, sem interação do Eren com o Levi, mas muito importante para o desfecho. Sem contar que apareceram pela primeira vez vários personagens.
Amo a Hanji, então esta capa de cap. é dedicada a ela.
Bjim e me escrevam
Estou meio alien rosa emo, então não me esqueçam...


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...