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História Templo das Bacantes Vol. 2 - Alta tensão!


Escrita por: Hamal_ , Rosenrot9 e IviCanedo

Notas do Autor


Mai um cap do templo

e agora as coisas começam a ficar como diz o título: tensas... TRETA

A fanart da capa encontrei no pinterest e na descrição os créditos eram dados a Helenhe337

Capítulo 16 - Alta tensão!


Fanfic / Fanfiction Templo das Bacantes Vol. 2 - Alta tensão!

Duas semanas se passaram, e como anunciado no comunicado oficial expedido pelo Grande Mestre, toda a patente de Ouro, e parte da patente de Prata, estava presente no Décimo Terceiro Templo para uma confraternização informal no horário do almoço.

No pátio localizado nos fundos do Templo do Grande Mestre, o cheiro apetitoso da carne assando na brasa se espalhava pelo ambiente aguçando os paladares, enquanto a animada música brasileira que tocava em um volume pertinente se misturava ao falatório dos presentes. Esses, por sinal, já se fartavam dos deliciosos aperitivos e petiscos aprontados com primor por Aldebaran.

Mais ao fundo do amplo pátio, em frente à farta churrasqueira que fumegava, Touro mexia nos pedaços generosos e suculentos de carne enquanto sambava no ritmo da canção cantarolando os versos.

— Você jogou fora... a minha ilusão.... a louca paixão... É tarde demais...

Atrás dele, encostando-se ao balcão que providencialmente havia sido posto para o evento, Misty de Lagarto chamava o taurino elevando o tom de voz para ser ouvido em meio aquela balburdia toda.

— Deba. Ei! Aldebaran!

— Que pena... que pena amor...

— ALDEBARAN! — gritou o cavaleiro de prata.

— Ai, caralho! Que susto viado!... O que foi? — finalmente respondeu o brasileiro ao se virar para trás.

— Eu heim! Ficou surdo? Estou te chamando há um tempão. — reclamou o francesinho.

— Eu tava distraído ouvindo a obra prima... Mas, fala, o que foi? Vai mais carne ai? — apanhou a bandeja cheia de carnes a colocando sobre o balcão ao lado de Misty.

— Não, já estou satisfeito por enquanto! Eu queria saber se Mu e Shaka não virão. Será que não foram convocados? Já está todo mundo aqui. — perguntou o Lagarto tentando disfarçar a curiosidade, já que desde que Mu tirara férias de tudo ele fizera para tentar descobrir o real motivo que tinha levado o lemuriano a se afastar de forma tão repentina, mas nunca uma informação lhe fora tão difícil de conseguir. Tinha sondado até os feirantes da vila de Rodório, onde Shaka costumava ir às Terças e Sábados para comprar frutas e legumes frescos, e mesmo assim não descobrira nada. Misty estava que não se aguentava mais de curiosidade.

No entanto, antes mesmo que Aldebaran pudesse responder o que quer que fosse, Milo de Escorpião se acercou dos dois cavaleiros cantarolando os versos da música num português enrolado e bem carregado no sotaque grego.

O escorpiano não estava nada à vontade com aquela convocação.

Desde que tinha tentado comprar uma noite com Geisty dias atrás e não conseguira, Milo vinha matutando em sua mente alguma outra maneira de se aproximar da amazona, já que estava ficando óbvio para si que gostava dela bem mais do que deveria, afinal foram dias de preocupação por causa de seu misterioso desmaio no Templo das Bacantes.

Contudo, também era nítida a aproximação de Saga e Geisty, e como desconhecia o que de fato acontecia de forma sigilosa sob o teto do Templo de Baco, Milo acreditava que Gêmeos andava cercando Serpente para tirar algum proveito.

Sem repostas e irritado foi até o bar improvisado procurar refrescar a cabeça desses pensamentos que lhe intrigavam. Tinha que encarar aquele evento, e não iria conseguir fazê-lo de cara limpa.   

— Debaran, onde você enfiou a cachaça? — disse Milo indo para o outro lado do balcão.

— No teu rabo torto. — respondeu o brasileiro com uma gargalhada.

— Porra, seu vacilão! — o escorpiano falou rindo, porém sem o habitual ânimo que sempre tinha para com as brincadeiras do amigo — Tô falando sério, a pinga lá pra fazer a caipirinha acabou.

— Ah porra, ninguém fica de bico seco hoje não! — retrucou Aldebaran — Pega lá na outra ponta. Lá tem mais. — apontou para o freezer, depois olhou para Misty que acompanhava a movimentação dos dois dourados — Pô rapaz, o patrão chamou a rapaziada toda. Mu foi convidado sim, então o Shaka também foi, né? Seria deselegante ele não chamar o marido do cara tu não acha?

— Tá, mas não foi bem um convite, mas uma convocação. — disse Misty.

— Ei, mas vocês tão achando mesmo que o Shaka vem em um churrasco? — foi a vez de Milo se meter na conversa trazendo consigo duas garrafas de cachaça — Até porque o loirão não é chegado em carne né, cês tão ligado.

— Coé, Milo, cê acha que eu não sei disso? Já pensei em tudo rapaz! Pro Buda tem dez quilos de salada de maionese, mais duas bacias de molho vinagrete e muita raça de salada de alface com agrião. Fiz até purê de batata! Ninguém passa necessidade nas baguncinha que eu organizo não, tá maluco truta? — Aldebaran falava indignado com a falta de credibilidade do amigo em sua atenção com os convidados, depois se voltou novamente para Misty — E viado, o dia que o Mu recusar um almoço meu, gratuito e com todo esse perfume de carne da boa pairando no ar, vai ser o dia em que galinha vai criar dente. Aquele lá fila boia sempre que passa pela minha casa. Não pode sentir o cheiro do bifão que sai lá da forja de Áries e aparece pra me “visitar”. Já faço em dobro... Ô carneiro bom de garfo.

Um pouco mais afastados, em meio aos demais convidados que transitavam pelo local animados, Saga e Geisty se mantinham de pé, um de frente para o outro. A aura de romance pairava em torno deles e a essa altura já era até difícil disfarçar o óbvio, fosse pela troca de olhares cúmplices ou pelos gestos que mesmo simples carregavam uma carga de carinho perceptível.

A voz da amazona era disfarçada pelo som da música, mas no rosto de feições belas era possível perceber, mesmo que de forma discreta, a preocupação que pairava em sua mente.

O geminiano, em uma tentativa de amenizar o nervosismo da namorada, tinha lhe trazido mais uma dose de suco e agora tentava lhe transmitir confiança e tranquilidade.

— Fique tranquila, amore mio, vai dar tudo certo. — disse o grego passando a mão pelo braço da amazona de forma carinhosa.

— Não consigo. — ela respondeu apreensiva — O tempo só está passando e não falamos nada ainda... Pela deusa, como será que eles irão reagir? Estou receosa quanto a isso... E se não reagirem bem? Há de se convir que estamos dando um tiro no escuro, Saga. — gesticulava, mesmo tentando ser discreta, enquanto fitava os outros cavaleiros e amazonas que riam, comiam e bebiam totalmente alheios à sua aflição.

— Sim, estamos, mas há outra maneira? Não. Então, tente se acalmar. Essa ansiedade toda não deve fazer nada bem para você, nem para os nossos bebês. Beba o suco, respire fundo, e tente não se preocupar tanto. — falou o geminiano tentando passar tranquilidade pela voz calma e comedida, mesmo que seu coração dissesse o oposto, batendo acelerado dentro do peito como estava, pois logo daria um passo que mudaria a vida do casal em definitivo, independente de qual fosse a reação de companheiros de armas.

E Geisty partilhava do mesmo dilema e insegurança.

— Como não me preocupar, Saga? — disse ela em baixo tom — Vamos dar um passo imenso em nossas vidas, e um passo sem volta! Iremos assumir frente a eles uma postura totalmente contrária da que adotamos até agora, então não me peça para ficar simplesmente tranquila. Não me peça, porque é impossível! Por mais que eu tenha desejado que enfim pudéssemos nos mostrar a todos e viver o nosso amor abertamente, eu ainda tenho muito receio de sofrer represálias... Principalmente em se tratando do porco do Camus... Temos muita coisa em jogo... e tenho medo que esse passo seja maior que as nossas pernas. — falou a última frase quase em um sussurro.

Vestido em compreensão, Saga contornava os anseios da jovem.

— Geisty querida, eu sei que a sua maior preocupação é quanto a Aquário, mas eu já tive uma conversa prévia com ele, lembra? Ele foi bem direto; disse que não está nem ai pra quem eu “fodo”, pois a minha vida pessoal não lhe interessa. Palavras dele mesmo.

— Ele usou esses termos?  — perguntou a amazona com uma expressão de desagrado no belo rosto.

— Usou. E disse ainda que como cavaleiro se manterá imparcial, não entrará em detalhes com Dimitri sobre nossas vidas pessoais e manterá sigilo sobre sua gravidez. Então, fique tranquila que da boca de Aquário não sairá nada sobre nós. Camus fingirá que não sabe de nada desde que o Templo das Bacantes continue dando lucro à Vory. Ele me garantiu que o velho Vor russo não nos será problema.

— E você confia nele... — ralhou a amazona.

— Confio. Mesmo estando no meio podre da máfia, certos decoros aqui dentro ainda são mantidos. Então, quanto a isso podemos contar com o apoio dele, tudo que estiver ao alcance de Camus em virtude do Santuário e das ordens dadas por mim serão cumpridas.

— Humpf... Ele é um porco! Ele e essa corja russa mafiosa... — a morena suspirou ainda inquieta e emendou mais um ponto — Mas, e quanto a todos os outros, Saga? Você não se preocupa? Por que eu me preocupo e muito! Não sei como vão reagir.

— Sim, eu me preocupo, mas eu sou o Grande Mestre e eles me devem obediência, e é com isso que estou contando. Quanto a ter apoio, bem, isso é algo particular de cada um... — respondeu resignado o geminiano, dando um gole no suco que tinha em mãos.

Madonna mia! — exclamou Geisty dando também um gole generoso na bebida — Então acabe logo com essa tensão, Saga. Dê logo a notícia.  

— Estou esperando o Mu chegar. Estranho esse atraso. Áries sempre foi tão pontual... Se bem que, conhecendo o estrupício do Virgem como eu conheço o Mu deve estar tendo problemas para conseguir sair de casa por causa daquele monge maluco. — ralhou o geminiano — Logo eles estão aqui e nossa aflição terminará, enquanto isso vamos pegar algo para comer. Você comeu pouco hoje, precisa se alimentar bem.

A amazona lançou um olhar questionador e um riso debochado ao namorado.

— Mas também não preciso comer por três!

— Mas também não pode ficar sem comer! Vamos, sua amazona emburrada. — disse Saga com um sorriso envolvente enquanto acariciava o rosto da namorada para em seguida cochichar em seu ouvido — Não vejo a hora de poder te beijar na frente de todos.

— Ah... Eu também amore mio, mas ainda temos que manter a discrição, infelizmente. Mas falta pouco pra isso acabar. — disse ela retribuindo o sorriso.

— Sim, falta pouco... Venha, vamos nos servir, em breve colocaremos um fim nisso e... — Saga fez uma pausa quando olhou para a entrada do pátio e notou certa aglomeração que se formava — Olha só quem chegou. — o geminiano acenou levemente com a cabeça.

Ao olhar para a direção apontada pelo namorado, Geisty viu, surpreendida, Mu adentrar o recinto empurrando um carrinho enorme de bebê todo atrapalhado, uma vez que além dele também trazia, penduradas em ambos os ombros, várias bolsas de maternidade que pareciam abarrotadas de coisas.

Um pouco mais atrás vinha Shaka, e este parecia trazer algo preso a seu corpo por um tecido vermelho. Virgem também carregava nos ombros duas bolsas, um pouco menores que as trazidas por Mu.

De onde estava Geisty não podia distinguir do que se tratava, já que um pequeno tumulto se formava em torno dos cavaleiros.  

— Mas, o que... O que está havendo? — a amazona franziu as sobrancelhas negras, curiosa, enquanto tentava distinguir algo daquela distância.

— Parece que não somos só nós que temos boas notícias a dar, não é mesmo? — disse o grego com um sorriso amistoso — Por que não vai até lá? Acho que vai gostar da novidade que Áries e Virgem trouxeram.

— Novidade? — ela exclamou sem deixar de olhar para os cavaleiros que agora cumprimentavam os colegas.

— Sim. Não te disse antes porque Mu me pediu para guardar segredo. Achei que deveria retribuir, por tudo que ele fez por nós. E também porque havia risco de o bebê não... Bem, vá até lá, amore mio. Vá conhecer o filho do Áries. — disse Saga sorrindo.

— Filho! — Geisty arregalou os olhos violetas, e tomada de assalto por uma euforia repentina correu até a aglomeração de cavaleiros e amazonas que rodeavam o Áries e Virgem.

Esses por sua vez, mal conseguiram chegar até o centro do pátio. A curiosidade dos presentes era tamanha que formaram uma barricada em torno deles esticando os olhos curiosos e os enchendo de perguntas.

Foi então que Mu resolveu sanar a curiosidade de todos ali mesmo, acabando de vez com o mistério.

Com um sorriso largo que mal lhe cabia no rosto o lemuriano “estacionou” o enorme carrinho de bebê ali mesmo, colocou as tantas bolsas abarrotadas dentro e voltou-se até onde estava Shaka como Kiki no colo. Iria dizer a Virgem para que tirasse o bebê do sling, mas Máscara da Morte em todo seu entusiasmo efusivo italiano foi mais rápido, e acercando-se do indiano puxou delicadamente o tecido que cobria a cabecinha de Kiki para baixo revelando seus cabelinhos ruivos e seus enormes olhos de um lilás translúcido e único.

Ma che! Madonna mia, é um bambino! — quase gritou. Não que fosse preciso, já que seu tom de voz era naturalmente elevado.

Pego de surpresa, Shaka reagiu instintivamente dando um tapa na mão do canceriano, que a recolheu fazendo uma careta.

— Mas isso é jeito de abordar as pessoas, Câncer? Vai assustar meu anjinho. — repreendeu o indiano baixando os olhos para Kiki e lhe acarinhando os fiozinhos do cabelo ralo.

— Exatamente, Máscara. É um bebê. — Mu interveio, já estendendo os braços para Shaka para que ele lhe passasse o filho.

Virgem assim o fez, com todo o cuidado do mundo.

Com Kiki em seu colo, Mu, todo bobo, lhe sorria conversando em um tom de voz sereno e comedido.

— Oi filhotinho, vamos conhecer os amigos do papai? — sussurrou ao se aproximar dos amigos para, orgulhoso e feliz, lhes apresentar o filho — Pessoal, esse é Kiki. Meu filho e do Shaka. — disse o Santo de Áries com um sorriso efusivo no rosto.

Agora com quinze dias de vida o pequenino lemuriano estava mais forte, mais firme, e já se mostrava curioso e esperto, uma vez que seus olhos lilases inquietos não pareciam querer perder um só detalhe de tudo que lhe cercava.

— Pela deusa! É um lemuriano! — disse Marin, que estava ao lado de Máscara da Morte e não tirava os olhos do pacotinho trazido por Shaka desde que pisaram naquele pátio.

— Vocês adotaram ele? Onde o encontrou? — disse um sorridente e surpreso Aiolia, que segurava a na mão de Marin todo animado.

Ma é claro que adotaram né, Leão burro. — espinafrou Máscara da Morte — Deve ser lá das bandas de Jamiel.

— Atena que gracinha! Olha só as pintinhas! — disse Shina tocando na testa do bebezinho, para desespero de Shaka que se segurava para não ser indelicado. Virgem temia que sendo ainda muito novinho o bebê não tivesse o sistema imunológico perfeitamente formado, mas respirou fundo e iria se segurar até onde podia.

— Ai deixa eu ver! Deixa eu ver! — falou Misty enquanto tentava abrir espaço entre Shura e Aldebaran que se acotovelavam para olhar, ainda incrédulos, o pequeno filho de Áries e Virgem.

Madonna mia! — exclamou Geisty quando finalmente conseguiu entrar na rodinha formada em torno dos amigos — Mas... Mas é um bebê! — levou as duas mãos à boca enquanto abria um sorriso enorme — Pela deusa, Mu! Oh pela deusa, desculpa, tenho que falar baixo... — se corrigiu dando um sorriso amarelo.

— Tudo bem, ele está acordado. — Mu riu da amiga.

— Ele é igual a você! É lemuriano! Que incrível! — falou Geisty esticando o pescoço para analisar cada detalhe no bebezinho rosado e de cabelos ralinhos que se remexia inquieto no colo do pai, depois agarrou o ariano por um dos ombros o puxando para si — Por que não me contou que pretendia adotar um bebê?

— Porque eu não pretendia. — respondeu Áries ainda rindo.

Logo muitas outras perguntas surgiram, soterrando os pais de primeira viagem.

— Vocês o adotaram quando? — perguntou Milo se esticando para ver o bebê.

— Ele é lá de Jamiel, Mu? — indagou Marin tão curiosa quanto animada.

— Ele é de proveta? — foi a vez de Shura, em toda sua praticidade, perguntar.

Mu respirou fundo e calmamente chamou a atenção de todos, tentando conter os ânimos exaltados.

— Calma gente, eu vou responder a todas as perguntas, mas vamos começar do começo...

O Santo de Áries então começou a relatar, de modo sucinto, a maneira como Kiki chegou até ele e Shaka. Em respeito à Geisty que sabia estar grávida, e também por conta do teor sigiloso do ocorrido, o ariano poupou os ouvintes dos detalhes mais tristes, em contra partida exaltou o milagre realizado pelos deuses e a maneira como Shaka fora enviado através do tempo para resgatar o pequeno.

Enquanto a pequena plateia escutava atenta e admirada ao relato de Mu, um pouco mais afastado Camus terminava de alimentar um garotinho russo faminto e um tanto emburrado.

Não faça essa carinha meu filho. Eu sei que quer ficar com a Di, mas aqui não pode. É o nosso segredo, lembra? — sussurrou Camus na tentativa de consolar o pequeno.

Eu sei, mas é que eu quelia fica com ela. — reclamou o garotinho fazendo um bico adorável.

Hyoga não entendia bem os motivos daquele acordo, daquele segredo, mas obedecia sem pestanejar à ordem do pai, mesmo que lhe doesse ter de fingir indiferença à “amazona” de Peixes.

Daqui a pouco, quando todos estiverem distraídos, você vai lá falar com ela um pouquinho, está bem? — disse Camus.

Tá bem, papai. — Hyoga respondeu, deixando escapar um suspiro logo em seguida.

Camus então lhe serviu mais uma colherada de maionese, alguns pedacinhos de carne e aproveitou a distração causada por Mu e Shaka para trocar alguns olhares com Afrodite que se manteve afastado do tumulto. E como achou Peixes especialmente lindo naquele dia!

Afrodite demorou algumas horas para escolher o que vestir para aquele almoço oficial, já que todos os cavaleiros estariam presentes no evento e também Hyoga. Tinha que manter a mentira que ele e Camus sustentavam ao pequeno garotinho russo, mas não podia aparecer no meio dos irmãos de armas simplesmente vestido de mulher, ou lhe encheriam de perguntas das quais ele não teria respostas.

Por mais que todos ali estivessem mais que acostumados a ver o Santo de Peixes transitar livremente entre ambos os gêneros, Afrodite sempre assumira uma postura predominantemente masculina, tanto ao se vestir quanto no gestual. Ele era apenas andrógeno, mas naquele dia ele teria que ser mais que apenas andrógeno. Ele teria que ser a amazona de Peixes para Hyoga sem deixar de ser o cavaleiro de Peixes para os demais.

Sendo assim, escolheu um visual que tivesse boa fluidez entre masculino e feminino. Vestiu uma calça pantalona bem larga, de tecido escuro para melhor esconder os volumes de seu corpo, camiseta também larga com estampa da Madonna, já que todos ali sabiam que era fã da cantora e não desconfiariam de nada, marcou a cintura com um cinto largo de couro e vestiu por cima um colete preto longo de algodão bordado com rosas brancas. Arrematou o visual com muitos anéis nos dedos e um coque no alto da cabeça, enfeitando o cabelo com uma presilha de prata e brilhantes. Optou por não usar maquiagem, mas manteve um lencinho amarrado no pescoço já que tinha o pomo de adão bem proeminente.

Depois dos olhares trocados, Camus voltou sua atenção novamente a Hyoga, e percebendo que o filho ainda estava amuadinho se obrigou a cumprir seu papel de pai fazendo de tudo para animá-lo. Já tinha conhecimento do filho de Áries e Virgem, visto que Afrodite lhe contara semanas atrás, porém precisaria fingir surpresa, então pegou Hyoga no colo, limpou seu rostinho com um guardanapo e caminhou até o aglomerado de curiosos que circundavam Shaka e Mu.

Vamos desfazer esse bico? Você nem viu quem chegou, não é? — disse o francês.

Quem chegou papai? — Hyoga perguntou curioso.

Olha ali. — apontou para a entrada do pátio.

TIO SHAKAAAA! — o menininho loiro sorriu. Apesar do pouco tempo que passara junto do Santo de Virgem tinha se afeiçoado bastante a ele e fazia dias que desejava revê-lo — Olha papai, tem um nenê no colo do Comissálio Gódon.

Mu. O nome dele é Mu. — disse Camus sorrindo.  

Deixa eu ver o nenê papai, deixa?

Claro, vamos lá conhecer o pequeno. Ele vai ser seu amiguinho.

Quando Camus passou por Afrodite, este, vendo que todas as atenções estavam voltadas para o bebê de Mu e Shaka, sorriu para Hyoga e lhe mandou um beijo no ar. O menininho retribuiu todo contente e logo pai e filho se juntaram ao tumulto de gente que queria conhecer Kiki e sua história.

Um pouco mais afastado, Afrodite cruzou os braços e suspirou profundamente. Não era nada fácil manter as aparências, e intimamente pensava até quando teria, e seria capaz, de fingir toda aquela indiferença justamente às pessoas que mais queria ter perto de si.

Esperaria a euforia dos colegas baixar para ir cumprimentar Mu e Shaka. Euforia, aliás, que logo mais seria repetida quando Saga revelasse a gravidez de Geisty aos demais cavaleiros.

Aquele seria um dia de revelações e altas emoções. Um dia que, talvez, marcaria o começo de uma nova fase nas vidas de pessoas muito queridas pelo pisciano, e era nisso que ele pensava enquanto observava Saga se aproximando dos colegas enquanto delicadamente, e num gesto cheio de carinho, abraçava a cintura de Geisty.

Peixes estava feliz pelos dois, essa era a verdade. Apesar das brigas horríveis que tivera com a amazona de Serpente logo que Gêmeos a trouxe para viver no Templo de Baco, e também das desavenças com o geminiano, Afrodite conseguia enxergar que Geisty estava fazendo muito bem a Saga, que ela, de certa forma, tinha trazido um equilíbrio que há muito Gêmeos tinha perdido, e no que dependesse de si faria o possível para ajuda-los nessa nova e perigosa jornada.

Somente uma coisa incomodava mais Afrodite naquele dia do que o fato de não poder se aproximar de Camus e Hyoga como desejava. A presença incômoda e indigesta de Misty de Lagarto.

— Que as três bocas de Cérbero mordam minhas canelas! Eu estou delirando ou aquele cafuçu oxigenado está piscando para mim? — resmungou arqueando uma das sobrancelhas.

No meio dos cavaleiros e amazonas que escutavam Mu relatar o aparecimento de Kiki, Misty encarava Afrodite com um cínico sorrisinho nos lábios besuntados de gloss.

Para provocar o pisciano, o francesinho tinha se movimentado matreiro entre os presentes e propositalmente já se colocava ao lado de Camus, que distraído com o bebê ruivinho no colo do pai ariano nem o tinha notado, e com caras e bocas provocava o pisciano cumprindo sua missão pessoal de tirá-lo do sério.

— Não... não é meu coágulo... — resmungou Afrodite novamente, inconformado — Aposto que essa cabeça de pompa gira está maquinando algum truque... Ah, mas hoje eu não tiro meus olhos de você, corvo albino! — falou em voz alta, nem percebendo que Máscara da Morte chegava a seu lado lhe oferecendo uma latinha de cerveja.

— Ma che pazzo, Afrodite? Tá falando sozinho, stronzo? — disse o canceriano encarando o rosto afogueado do sueco.

— Me deixa, Mask! — respondeu o pisciano apanhado a latinha com um gesto bruto — Você não fala com suas cabeças? Eu falo com as minhas! Para que eu tenho duas cabeças? É para uma falar com a outra, não é? — falava encarando Misty que ao longe o provocava com risinhos.

— Hum... va benne. Non vai lá ver o bambino?

— Eu já conheço o Kiki, santa. Pro seu governo, eu sou o padrinho dele. Vocês que estavam por fora. — respondeu todo orgulhoso dando um gole na cerveja em seguida — Aliás, Kiki não é o único bafo de hoje, tá boa? Se prepara que o babado é forte!

— Hum... bem que io desconfiei. — o canceriano deu de ombros — Gêmeos não faria uma convocação oficial só para ver a gente comer churrasco, non é vero? Che cazzo! O que será agora? Nunca termino mio lavoro com tanta merda acontecendo toda hora.

— Então vai vendo! — disse Peixes, depois cutucou com o cotovelo o braço do amigo italiano apontando para Saga que se afastava da pequena multidão que aos poucos se dispersava. Gêmeos, de mãos dadas com Serpente, a conduzia delicadamente — E eu bem acho que vai ser agora.

E Peixes estava certo.

Ao chegar ao centro do pátio, onde havia algumas mesas com cadeiras, o grego se posicionou de modo a ficar no meio para poder chamar a atenção e ser visto por todos, então trocou um olhar carinhoso com a amada e a trouxe para perto de si com um abraço caloroso.

— Está pronta? — perguntou o geminiano recebendo de volta a resposta firme da amazona.

— Sim. Estou pronta.

Saga então respirou fundo, apartou o abraço e segurou na mão da namorada com firmeza, como quem busca coragem para o próximo passo que seria dado.

— Cavaleiros, amazonas... Por favor, um minuto de vossa atenção! — usou toda sua potência vocal para se fazer ouvir entre os burburinhos e a música que tocava — Aldebaran, abaixe o volume da música, por gentileza. Tenho um pronunciamento importante a fazer.

Aos poucos o coro de vozes agitadas foi se calando e vários pares de olhos curiosos passaram então a direcionar suas atenções a Saga, o vendo com o braço estendido ao ar pedindo silêncio.

— Aproximem-se, por favor. — fez um gesto com a mão que tinha no ar chamando a todos para mais perto, enquanto via Aldebaran caminhar apressado até o aparelho de som para baixar o volume — Meus amigos, agora que todos já chegaram eu posso falar do motivo pelo qual eu os chamei aqui hoje... — fez uma pausa para respirar, olhar nos olhos da amada e com ternura lhe beijar as costas da mão — Queria compartilhar com todos vocês a minha alegria, esta que também é de Geisty. — sorriu animado voltando a olhar para os cavaleiros e amazonas que os rodeavam — Bem, acredito que não seja do conhecimento de todos, visto que tentamos ser o mais discretos o possível para evitar problemas com a Vory v Zakone e não colocar em risco a segurança da mulher que eu amo e também a de vocês.

Ao ouvir aquela confissão muitos ali, mesmo que já desconfiados, arregalaram os olhos surpresos, uma vez que já imaginavam haver um caso entre o Patriarca e a amazona de Serpente, no entanto não esperavam ouvir da boca do próprio geminiano uma declaração feita daquela forma.

Milo de Escorpião era de longe o mais surpreendido por aquela revelação, e se antes não estava dando muita atenção às palavras do Grande Mestre, agora se aproximava do casal ao centro do pátio para encarar os olhos de Saga com uma inquietação na alma que não se lembrava de um dia ter experimentado em sua vida.

— Sim, meus amigos, é isso que vocês ouviram. — prosseguiu Saga que sorria animado, alheio ao descontentamento do escorpiano — Eu amo essa mulher. Eu amo Geisty, e é para dizer isso que os chamei aqui hoje, porque não quero mais ter de esconder de vocês nosso relacionamento, nosso amor e nossas conquistas!

Naquela altura os mais animados, como Aldebaran, Máscara da Morte e Mu já batiam palmas, riam e festejavam com assovios e gritos incentivadores. Outros, mesmo que ainda contidos sorriam surpresos, porém Milo, já pressentindo o que estava por vir, sentia o sangue borbulhar dentro das veias, e estreitando os olhos azuis cruzou os braços num claro sinal de desconforto.

Em seu íntimo Milo se perguntava se tinha ouvido direito, se não estava delirando. Saga, além de obrigar a ex-cunhada a ser puta, agora estava de namoro com ela? Pior! Dizendo que a amava? E ela? Como Geisty podia ser conivente com aquilo? Então Gêmeos não estava cercando a amazona como ele imaginava, mas ela se estava deixando cercar? E por que Geisty nunca lhe disse nada? Afinal, toda vez que subia com ela ficava nítida a atração que sentiam um pelo outro.

A mente de Milo fervia, o coração pulava frenético dentro do peito, tentava entender o que se passava, enquanto alheio a seu estado de fúria Saga prosseguia com o discurso, agora um tanto mais confiante, já que tivera a confirmação de que seu namoro com a amazona não era algo tão novo para todos ali e que, inclusive, era bem aceito.

— E uma dessas conquistas, meus amigos, veio na forma de uma benção! — continuou o geminiano — Nosso amor foi abençoado, e de forma muito especial. Por isso, é com especial alegria que digo a vocês que Geisty, minha amada amazona, está grávida! Nós seremos pais! E pais de gêmeos!

Súbito, um silêncio taciturno tomou de assalto o pátio.

Somente a música brasileira em volume bem baixo era ouvida.

Geisty engoliu em seco, apreensiva, enquanto corria os olhos violetas vidrados pelas faces dos irmãos de armas à sua frente vendo apenas Mu lhe sorrir. 

Saga apertou-lhe com ainda mais força a mão que segurava firme contra a sua. Ambas tremiam ligeiramente, mas unidas acima de tudo.

Durante quase um minuto, que para o casal no centro do pátio mais parecia uma eternidade inteira, ninguém disse nada, até que o silêncio foi finalmente quebrado por Milo, que ao ouvir a notícia sentiu como se todas as suas quatorze agulhas, mais a letal Antares, lhe perfurassem de uma só vez o corpo.

— Como é que é? — bradou o Escorpião descruzando os braços de pronto e avançando um passo à frente — Isso só pode ser uma piada... Uma piada de mau gosto. Você está gravida? — inquiriu olhando para a amazona.

Não prevendo aquela reação do guardião da Oitava Casa, Saga voltou seu rosto para o loiro e o encarou num ímpeto inconsciente e repentino, franzindo as sobrancelhas numa clara expressão de zanga. 

— Como disse, Escorpião? — falou o geminiano em tom moderado.

— Eu disse que isso só pode ser uma piada. — rosnou Milo sentindo a garganta lhe apertar e um calor súbito lhe subir para a face contorcida.

— E por que seria uma piada? — retrucou Saga com ar de deboche.

— Porque eu não posso acreditar que o seu mal caratismo tenha chegado a esse ponto. — vociferou Milo, cujo semblante e postura em nada lembravam o sempre descontraído e brincalhão escorpiano — Então foi para isso que você convocou a todos para essa merda de reunião? Para dizer que você conseguiu enredar e engravidar a sua ex-cunhada? Isso depois de tê-la trazido para cá à força, tê-la trancado em um bordel e a obrigado a se prostituir? E faz isso com essa cara lavada? — gritou encarando o geminiano nos olhos, imponente, ameaçador.

Saga sentiu o corpo todo tremer, de raiva, de indignação, mas muito mais de surpresa. Já esperava uma reação negativa vinda da parte de Milo, mas não uma que lhe colocasse na berlinda, uma vez que ninguém ali sabia, com exceção de Afrodite, dos reais motivos que o levaram a trazer Geisty para o Santuário usando o Templo das Bacantes como disfarce para a máfia russa.

Contudo, não ia cair na armadilha do Escorpião, não ia perder a compostura na frente de todos, por isso puxou o ar para dentro dos pulmões procurando se acalmar para não levar aquela discussão adiante.

— Escorpião, abaixe o seu tom de voz. Assuntos de cunho pessoal que envolvam a Geisty não lhe dizem respeito. — disse Gêmeos de modo firme.

Milo, porém, não estava nada disposto a se calar, ao contrário, deu mais um passo a frente e esbravejou, ainda mais enfurecido.

— Assuntos referentes à Geisty dizem respeito a mim a partir do momento que eu fui, e sou, o único homem aqui que a respeita.

— Você só pode estar de deboche. Como se atreve a dizer isso? — retrucou Saga, agora também dando um passo à frente, mas sem soltar da mão da amazona.

— Eu digo isso porque essa é a verdade... E porque eu gosto dela! Eu gosto da Geisty. — rebateu Milo surpreendendo a todos, em especial a amazona de Serpente que não esperava ouvir aquela declaração e por isso sentiu um temor profundo que a fez apertar ainda mais a mão do geminiano na tentativa de impedi-lo de continuar avançando em direção ao escorpiano.

— O que foi que você disse? — Saga falou quase num ronco de fera.

— Foi isso mesmo que você ouviu. E eu só não a tirei da vida ainda porque o lance dela com a Vory é pesado, a dívida dela é enorme, mas se eu pudesse quitá-la nada iria me impedir, nem mesmo você. — continuou Milo sem desviar os olhos do geminiano.

Os ânimos no ambiente já se agitavam.

Marin e Aiolia encaravam o Escorpião apreensivos. A japonesa cobria a boca com uma das mãos e o grego tinha os olhos estatelados e vidrados, nem piscava para não correr o risco de perder uma movimentação brusca de ambos. Ao lado deles Shina e Shura pareciam paralisados, incrédulos, enquanto Máscara da Morte acendia um cigarro para tentar acalmar os nervos.

Outro que parecia não acreditar no que estava ouvindo era Mu, que tinha até parado de ninar o filho em seu colo e agora estava estático, rijo feito uma estátua de cera, enquanto observava alarmado a aura do local adquirir uma energia pesada e tensa.

Ao lado dele Shaka, de olhos fechados e feições serenas, brincava com Kiki parecendo ignorar o fuzuê que se formava bem ali a poucos passos, mas a verdade era que se mantinha atento ao mínimo sinal que pudesse oferecer perigo a seu bebê. Virgem já esperava que alguma desinteligência fosse ocorrer, afinal sempre que se reuniam era assim, mas agora tinha um filho e não permitiria que nada, nem ninguém, colocasse sua paz e harmonia em risco.

Bem diferente de Virgem, Peixes roía o cantinho da unha do dedo mindinho em apreensão, não acreditando que Milo se atrevera a enfrentar Saga na frente de todos, ao passo que Aldebaran, já conhecendo o gênio explosivo de Escorpião e a fúria de Gêmeos avançou até perto deles para intervir na discussão caso ambos viessem às vias de fato.

Na outra ponta estava Camus com Hyoga em seu colo. O aquariano havia se mantido indiferente desde o começo do bate boca, aliás esse era um traço natural de sua personalidade, porém algo lhe dizia que aquela não seria apenas mais uma discussão acalorada que acabaria em nada, dado o modo agressivo como ambos se atacavam verbalmente e, assim como Shaka, agora tinha a segurança do filho a zelar. Camus conhecia Milo muito bem para saber que quando o assunto era mulher ele perdia totalmente as estribeiras, por isso colocou Hyoga no chão e fez um sinal discreto a Afrodite, pedindo que ficasse de olho no menino.

Hyoga, preste atenção. Fique perto da Di, está bem? Não saia de perto dela por nada, filho. Entendeu? — disse ao pequenino enquanto segurava em seu rosto com ambas as mãos.

Onde você vai papai? — Hyoga perguntou um tanto aflito.

Eu vou ali falar com o tio Milo. Faça o que eu mandei, está bem? — acarinhou os cabelos loiros do menininho já se afastando em seguida para caminhar apressado até Escorpião.

Shina era outra que conhecia bem o sangue quente do escorpiano e por isso já se acercou dele prevendo o pior.

Milo por sua vez, parecia possuído por uma raiva que lhe exalava dos poros, e continuava a vociferar contra Saga toda sua revolta.

— Agora que ela está grávida você está se achando o maioral, não é mesmo? — esbravejava o Escorpião, agora com o dedo indicador apontando para o geminiano — Pois você deveria era estar com vergonha. Sim! Vergonha de submeter a garota a essa situação... Seu cretino... E ainda manda essa mentira de dizer que a ama... — desviou ligeiramente o olhar para encarar os olhos violetas de Geisty, com ressentimento e uma pontada de rancor, depois voltou a olhar para Gêmeos — Você tem certeza que esse filho ai é seu? Como pode saber? Você mesmo a jogou em um bordel... Vai assumir um filho dela só para mascarar com propriedade o fato de que a está usando como moeda de troca para quitar a dívida do Kanon com a Vory e garantir que ela não pule fora de você.

Naquela altura, tomado por um sentimento insano de ira, o qual vinha represando há alguns anos, Gêmeos já tentava soltar a mão de Geisty que segurava a sua com tanta força chegando a marcar-lhe a pele com as unhas, como se aquela fosse a única amarra que impedia o namorado de partir para cima do Escorpião.

Como Geisty não lhe soltou a mão por nada, Saga avançou até Milo arrastando a amazona consigo, porém se colocando na frente dela instintivamente para protegê-la, como se com seu corpo fosse capaz de bloquear a enxurrada de palavras venenosas que saiam da boca do escorpiano.   

— Olha como fala, Milo! — bradou Gêmeos — Como se acha no direito de questionar a minha vida íntima com Geisty? Você não sabe nada! Você não está a par de nada, seu maldito idiota! Só eu, somente eu sei tudo o que fiz e estou disposto a fazer por ela, pela mulher que eu amo, e é somente a ela a quem eu devo alguma justificativa dos meus atos. É só ela quem pode me julgar, seu miserável.

Temendo que o namorado acabasse por falar mais do que devia, Geisty o puxou pelo braço dando um tranco forte em seu corpo, chamando sua atenção.

— Saga, pelos deuses, pare! Pare, por favor! — rogou a amazona em voz baixa lhe direcionando um olhar que mesclava nervosismo e súplica — Não diga mais nada. Não tem de dizer nada.

Mas nem o pedido, tampouco a voz trêmula e aflita da amada foram o suficiente para trazer Gêmeos de volta a razão, que logo voltou a encarar Escorpião com os olhos frementes de raiva quando este tocou em seu elo mais fraco.

— Você, Saga, conseguiu ser pior que o pulha do seu irmão. — bradou Milo, com os músculos da face trêmulos e os olhos emitindo uma faísca escarlate.

— MILO CHEGA! — quem gritou foi Geisty, em completo desespero, mas Escorpião estava cego. Cego de mágoa, de raiva, de ciúmes.

— Kanon era um cafajeste. Um mau caráter de marca maior, porém nunca escondeu isso de ninguém. — disse Milo ignorando o pedido da amazona — Todos sabiam quem ele era... Já você, Saga, ou devo dizer, excelentíssimo Grande Mestre, é a pior espécie de canalha que pode haver, dissimulado, manipulador... Você nem é homem para assumir o que fez...

— Está querendo dizer o que com isso, Escorpião? — rosnou Saga, já no limite de seu autocontrole.

— Estou querendo dizer que você pode ter engando a todos com essa cara de bom moço, pode ter manipulado até seus “amigos”, inclusive à Geisty, mas não a mim! Eu sei exatamente quem você é. Quer agora fazer com que todos acreditem que você ama essa mulher, quando só o que você quer é usa-la para se livrar da Vory... VOCÊ ESTÁ POUCO SE LICHANDO PARA ELA. ASSUMA QUE A TRATA COMO MERCADORIA. — gritou entre perdigotos, exaltado e descontrolado — Eu sim, EU, eu vi no rosto dela o medo estampado, o pavor de ser submetida a uma vida dentro de uma zona quando você a entregou para mim como mero pagamento por um serviço... Naquele dia, há dois anos, eu aceitei subir até o quarto dela porque queria entender o que ela fazia ali... O que a tinha feito cair nas armadilhas de dois canalhas sujos como você e Kanon... Então descobri uma garota doce, carente, que tudo que tinha desejado na vida era amar e ser amada, mas teve a péssima sorte de se apaixonar pelo homem errado e depois cair nas garras de um aproveitador mesquinho. Eu jamais iria tocar nela sem permissão. Eu nem tinha essa intenção quando aceitei a sua “oferta” generosa e subi com ela para o quarto, mas... O que aconteceu entre nós foi novo, intenso e verdadeiro... Havia sentimento, e era recíproco! E foi assim todas as outras vezes... Nunca toquei em um fio de cabelo da Geisty sem que ela quisesse, tivesse disposta ou me pedisse. Eu pagava uma fortuna para você, para você nos deixar em paz, não para ela... Eu jamais permitiria que a mulher que eu amo fosse prostituta. JAMAIS! Agora você vem dizer que vocês têm uma relação? Que porra de relação é essa? Você é a porra do cafetão dela! Um cafetão que agora está se aproveitando de uma mulher em uma situação complicada para manipula-la ainda mais, seu calhorda filho de uma puta! — quase berrou a última frase, pondo ainda mais tensos todos que ali estavam.

Ao ouvir aquilo, Gêmeos sentiu como se uma marreta lhe abrisse em um só golpe a cabeça.

Uma dor lancinante em um dos hemisférios lhe tomou de assalto o obrigando a fechar os olhos apertando as pálpebras firmemente, e com a mão que estava livre comprimiu a fronte soltando um gemido rouco.

Aflita, Geisty sentiu os joelhos tremerem e as pernas vacilarem, mas mantinha-se firme como podia, segurando a mão de Saga com força. Não iria solta-lo por nada, pois somente ela, ainda que soubesse meses depois, agora tinha consciência de quem de fato a obrigou a se prostituir naquele dia, e não tinha sido Saga, o seu Saga, mas o mal que habitava dentro dele, o mal que fez o próprio Santo de Gêmeos pisar sobre seu orgulho e lhe pedir que o ajudasse a conter. O mal que agora, naquela situação estressante, urrava para vir à tona.

Vendo a aura inflamada e extremamente agressiva dos dois cavaleiros, Mu virou-se para Shaka apreensivo.

— Pega o Kiki, Sha. O tempo vai fechar ali. — disse o lemuriano entregando o filho ao indiano — Melhor eu ir até lá. E acho bom você se afastar. Vá lá para os fundos do pátio. — concluiu preocupado.

Assim que Shaka pegou o filho no colo e recuou alguns passos como o ariano havia lhe aconselhado, Mu correu até os colegas, passando por Misty, Shura e Máscara da Morte e se colocando ao lado de Shina e Marin, que também haviam se posicionado perto de Geisty.

Áries estava muito preocupado com a amiga grávida sofrendo toda aquela tensão, além de estar tentando segurar um geminiano enfurecido que agora gritava a plenos pulmões.

— SEU MERDA! — Saga bradou tirando a mão da fronte e abrindo os olhos para encarar a face rubra do escorpiano — A quem você acha que engana com esse discurso pré-fabricado? Só se eu fosse um boçal para justificar erros do passado aqui, e justamente para um bosta como você que tudo que fez até hoje foi viver na esbórnia, conhecendo todas os prostíbulos e prostitutas do mundo. Quais são suas conquistas na vida, Milo? Heim? Agora vem falar de mim? Pois lave sua boca para falar de mim e de minha mulher, seu filho de uma cadela mal nascida!

O clima de festa tinha ido embora de vez.

As palavras enfurecidas de ambos atingiam a todos como um golpe seco e inesperado.

Saga, que ainda tentava manter o mínimo de razão, a perdeu no momento em que Milo dissera que havia algum sentimento entre ele e Geisty, então, como uma enxurrada que arrasta tudo por onde passa, o Santo de Gêmeos se deixou levar pelo descontrole e com um movimento brusco se livrou da mão da namorada já partindo feito um bólido para cima do escorpiano.

— SAGAAAAAAAA! — Geisty gritou tencionando partir imediatamente atrás do grego, mas foi segura no ato por Mu, que tudo em que pensava naquele momento era proteger a amiga grávida.

— SEU FILHO DA PUTA DE MERDA! — Gêmeos lançou-se para frente acertando com um soco potente o rosto do Escorpião, que devido à força do golpe caiu para trás sobre uma das mesas dispostas ali para os convidados.

Estes dispersaram-se desviando dos pratos, copos e comida que foram lançados ao ar, abrindo o semi circulo formado anteriormente em torno do casal, mas antes mesmo que pudessem estar suficientemente afastados para não serem atingidos por nenhum objeto voador, ou mesmo por algum golpe furtivo, outra mesa e cadeiras eram derrubadas ao chão atingindo alguns deles, como Marin e Shura, que quase foram derrubados quando uma cadeira atingira suas pernas.

A cadeira tinha sido arremessada quando Saga caiu sobre a mesa que estava ao lado após ser golpeado no queixo por Milo, o qual revidou o soco que tinha tomado quase que de imediato partindo para cima do geminiano enlouquecido.

— COVARDE FILHO DE UMA PUTA! — esbravejava o escorpiano enquanto se engalfinhava com Gêmeos sobre a mesa — APROVEITADOR CRETINO!

— DESGRAÇADO, EU VOU TE QUEBRAR INTEIRO, SEU ESCORPIÃO DE MERDA! — retrucava Saga, desferindo e desviando de golpes.

Logo o caos estava instaurado naquele pátio.

Esquecendo-se até de que eram cavaleiros, transtornados Saga e Milo se agrediam com palavras, chutes, socos e pancadas, para completo espanto e apreensão da plateia, mas principalmente para desespero de Geisty que mesmo segura por Mu tentava se soltar para correr até eles na ilusão de separá-los.

— Sagaaaa! Pareee! — gritava a amazona angustiada.

— Geisty fique aqui, você está grávida! — dizia Mu já matutando o que faria para acabar com aquela briga. 

Além de Mu vários dos cavaleiros já se prontificavam a separar os brigões, mas sempre que tentavam se aproximar eram atingidos por chutes, socos ou algum objeto lançado ao ar. 

Aldebaran, graças a seu tamanho avantajado, foi o único que conseguiu vencer a barreira dos golpes furtivos e com um movimento tão rápido quanto um piscar de olhos agarrou Gêmeos de assalto pelas costas lhe imobilizando com um mata leão. Enquanto puxava Saga para trás ainda lhe sobrou um chute alto desferido por Milo, o qual lhe atingiu o braço.

Na outra extremidade, em contrapartida, ao mesmo tempo Camus, acostumado à vida violenta dentro da máfia que fez de si um exímio lutador, tantos das artes marciais quanto das violentas lutas aprendidas nas ruas de Moscou, já se projetava nas costas de Milo passando os braços por debaixo das axilas do escorpiano para lhe agarrar pelo tronco e puxa-lo para trás.

A ação protetiva de Touro e Aquário, porém, só serviu para deixar os brigões ainda mais furiosos, e agora eles se debatiam enquanto desferiam chutes no ar e esbravejavam palavras de ofensas sem o mínimo pudor.

— Eu vou te matar, seu desgraçado! — bradava Milo — Vou arrancar teus dentes, um por um, quando colocar minhas mãos em você! ME DEIXA ARREBENTAR ESSE PULHA, CAMUS! — se debatia dando cotoveladas em Aquário, que se defendia como podia. 

— ME SOLTA TOURO! ME SOLTA! É UMA ORDEM! EU VOU MATAR ESSE DESGRAÇADO! Vou fazer esse ordinário engolir cada merda que ele me vomitou! — berrava Saga, que dava um trabalho enorme para Aldebaran.

Percebendo que não conseguiriam se livrar de Touro e Aquário, quase que ao mesmo tempo Saga e Milo, perdendo de uma vez por todas tanto o decoro quanto a razão, deixaram de sublimar seus Cosmos os elevando a níveis de combate.

Estavam dispostos a passar por cima de tudo e de todos, e já preparavam suas técnicas de ataque mais poderosas quando Mu, agindo por puro instinto, pegou Geisty no colo e a levou para longe da briga, a deixando aos cuidados de Marin e Shina que agora seguravam a amazona enquanto Mu corria de volta e se colocava entre Milo e Saga ativando seu Cosmo na tentativa de conter a ambos.

— MURALHA DE CRISTAL! — bradou o ariano fazendo uso de sua técnica defensiva, criando uma barreira entre os dois.

— Sagaaaa! — a amazona gritava e esperneava sendo contida por Marin e Shina.

No entanto, por melhor que fosse a intenção de Santo de Áries, além de um tanto quanto desesperada, o tiro saiu pela culatra, uma vez que ainda mais furiosos e descontrolados Gêmeos e Escorpião agora golpeavam a Muralha na tentativa de rompê-la, e como não conseguiam se sucedeu o que todos ali temiam.

Saga e Milo elevaram ainda mais seus Cosmos, cegos pela raiva e dispostos quebrar a barreira de Áries e transformar aquela briga de egos em uma Guerra de Mil Dias... mas que na realidade não durou sequer um minuto, pois outro cavaleiro agora também intervinha elevando seu Cosmo a um patamar inimaginável.

— Ohmmmmmmm... Tesouro do Céu!

A maior e mais poderosa técnica do cavaleiro de Virgem, ataque e defesa reunidos num único golpe, foi a única saída encontrada pelo mais novo pai de família, que diante daquele pandemônio todo só pensava em proteger sua cria.

— Privação dos sentidos da fala, visão e do tato. — disse Shaka, e sua voz troante agora era a única coisa que Saga e Milo podiam ouvir e sentir, já que ambos estavam presos na sua técnica.

O Santo de Virgem tinha se mantido afastado, apenas observando aquele cenário dantesco, até perceber que aquela briga tinha chegado a seu limite.

Apertando firmemente Kiki contra seu corpo usando ambos os braços para mantê-lo protegido e seguro em seu colo, Shaka levitou até o centro do pátio onde se encontravam os brigões, agora paralisados, cegos e mudos, colocando-se entre eles, acima da Muralha erguida por Mu.

Em seus braços Kiki chorava copiosamente.

— Seus espíritos belígeros, mesquinhos e inconsequentes! Fizeram meu filho chorar! Será possível que ambos perderam completamente o juízo? — disse o Santo de Virgem em tom opressor — Há duas crianças aqui e uma mulher grávida, e tudo que fazem é pensar em si mesmos, em seus orgulhos feridos, em sua ira egoísta e vaidosa! Deixam-se manipular como marionetes pelo gênio ruim do ódio e da violência como dois búfalos raivosos irracionais sem medir as consequências de seus atos. Nada mais importa a vocês além de si mesmos?... Ah, Não! Não mesmo! Eu não permitirei que usem seus Cosmos de forma agressiva na presença de Geisty, Hyoga e do meu bebê! Gêmeos, você é o mais inconsequente! Deveria proteger sua mulher, os seus filhos, e não coloca-los em risco! E você, Escorpião, se não pode partilhar da alegria desse momento, se não pode desejar o bem ao casal, então aqui não é o seu lugar. Mesmo assim, se ainda quiserem iniciar uma Guerra de Mil Dias, então que vão lutar no raio que os parta, não aqui. Não na presença do meu anjinho.

Na mente mergulhada em escuridão e silêncio de Saga e Milo, a voz de Shaka cedeu lugar a um choro aflito de bebê, e em cada pequeno grito estridente e sufocante que ouviam uma faísca de razão voltava a se acender em seus espíritos inflamados pela raiva.

Aos poucos, e de forma caótica e desconexa, o som ambiente começou a se fazer ouvir junto com o choro do pequenino lemuriano.

Burburinhos, passos agitados, vozes fantasmagóricas... Entre essas, uma em especial era a que Saga se concentrava para ouvir. A voz que buscava em seus momentos de confusão interior e fraqueza. A voz de Geisty, sua amada amazona.

Quando ouviu Geisty chamar por si em angustia, já até rouca de tanto gritar, Gêmeos recuperou de vez a razão e imediatamente sublimou seu Cosmo. Enfim reconheceu verdade nas palavras de Virgem. Tinha se deixado cegar pela raiva e pelo orgulho ao ponto de sufocar o bom senso e quase deixar livre o que havia de pior em si, colocando em risco inocentes e o que mais amava no mundo, sua amada amazona e os bebês gêmeos que ela gerava.

Um remorso doloroso logo tomou conta de Saga. Sentiu-se miserável, indigno do que tinha conquistado com tanto custo: o coração e a confiança de Geisty.

Agora, pleno de seu juízo Saga pensava nas palavras de Milo sentindo todo o peso que elas carregavam, e o semblante furioso estampado em seu rosto aos poucos se abrandava dando lugar a uma expressão de resignação e cansaço. 

Da mesma forma que Saga, Milo também baixava a guarda, agora se dando conta da bagunça que tinha criado. O choro do bebê em sua mente também lhe trouxera a razão, mas junto dele os gritos de Geisty foram cruciais para que voltasse a si. Ela estava grávida, e ele a estava colocando em risco.

No entanto, Milo ainda não podia crer, tampouco aceitar, que todos estavam sendo coniventes com aquele relacionamento absurdo.

Ignorante a cerca da realidade, dos reais motivos que levaram Gêmeos a fazer tudo que fizera, e do modo como fizera, e sem entender o que levara Geisty a aceitar estar ao lado dele, Milo sentia-se injustiçado, enganado por todos.

Todavia, a intervenção de Shaka lhe fez repensar o modo como estava buscando justiça, e aquele era o modo errado.

Assim, Milo também sublimou seu Cosmo e se deu por vencido.

“Você está certo, Shaka. Foi inconsequente começar essa briga na presença de crianças e de Geisty. Afinal, ela está grávida, não é mesmo? Mas, eu não sou capaz de fingir demência diante de um absurdo tão grande como a união desses dois, e de fato eu não tenho nada a celebrar. Como você disse, aqui não é meu lugar. Pode desfazer a sua técnica. Eu não vou mais reagir. Eu vou embora.” — disse Escorpião, que estava conectado à mente de Virgem por telepatia.

Após ponderar por um curto minuto e constatar que ambos tinham tomado consciência e silenciado seus Cosmos e espíritos beligerantes, Shaka desfez seu golpe devolvendo-lhes os sentidos.

A Muralha de Cristal ainda separava Gêmeos de Escorpião, e através da fina, porém poderosíssima camada de cristal translúcido, agora os dois se encaravam calados, até Milo quebrar o silêncio.

— Pode me soltar, Camus. — o escorpiano disse sem desviar os olhos do rosto do geminiano, que ainda era segurado por Aldebaran.

Quando Camus soltou Milo, no mesmo instante Shina e Marin soltavam Geisty, a deixando livre para que pudesse finalmente correr até o namorado.

A amazona acercou-se de Saga pedindo a Aldebaran que o soltasse. Assim Touro o fez, e testemunhando a tudo isso Escorpião estreitou os olhos e fechou os punhos apertando as unhas contra as palmas das mãos.

Como quem constata uma amarga realidade, Milo encarou os rostos dos irmãos de armas lhes lançando um olhar de recriminação.

— Hipócritas. — rosnou em fúria, depois deu meia volta e deixou o pátio a duros passos.

Continua...

 

 

Negrito: Traduzido do francês


Notas Finais




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