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História Templo das Bacantes Vol. 2 - Deixe Ele Entrar - Parte 1


Escrita por: Hamal_ , Rosenrot9 e IviCanedo

Notas do Autor


Bom ai está o capítulo tão aguardado.

Teve que ser inteirinho reescrito pois nada se aproveitava do original, mas foi feito com muito carinho e amor.

A Juliana/Rosenrot mais uma vez fez uma arte LINDAAAAA pro cap. Valeu monamú *-*

Capítulo 8 - Deixe Ele Entrar - Parte 1


Fanfic / Fanfiction Templo das Bacantes Vol. 2 - Deixe Ele Entrar - Parte 1

Santuário

Casa de Aquário, 20:30pm

— Por favor, me deixe entrar. — pediu Afrodite em voz baixa, não querendo que Hyoga o ouvisse, enquanto encarava os olhos avelãs de Camus com um olhar suplicante — Tem que me deixar explicar o que aconteceu ontem.

O Santo de Aquário, porém, nada disse. Continuou a encarar o pisciano com semblante rude e retraído, já que até aquele momento estava decidido de que colocaria aquele cavaleiro para fora de sua vida, uma vez que Afrodite havia feito essa escolha primeiro quando trocou a ele e a seu filho por uma noite de libertinagem no bordel de Polifemo.

No entanto, entre a decisão e a tomada da ação havia um abismo. Por isso, Camus encarava os olhos aquamarines suplicantes de Peixes com o coração apertado pela angústia do conflito entre razão e emoção que se desenrolava dentro de si.

Os poucos segundos em que tinha ficado nesse empasse, entre deixar Afrodite entrar ou mandá-lo embora, foram mais do que o suficiente para atrair Hyoga, que já havia sentido o cheiro forte de rosas exalado pelo Santo de Peixes, já que este transpirava muito devido ao nervosismo, e agora vinha correndo em direção à porta.

DIIIIIIIII! — gritava o menininho, eufórico.  

Camus foi pego de surpresa.

Agora sim que não seria capaz de fechar a porta na cara do sueco, tampouco teria coragem de dizer ao filho que ele não poderia mais ver a amazona de Peixes. Ambos ainda estavam de luto, e Hyoga não podia sofrer uma nova perda.

Sendo assim, Camus deu um passo para o lado e deixou o caminho livre para o garotinho que vinha correndo, não sem antes encarar os olhos de Afrodite e dizer num sussurro em tom ameaçador:

Non se atreva a magoá-lo ou usá-lo de alguma forma para me chantagear. Eu juro que mato você.

Afrodite engoliu em seco.

Não que estivesse intimidado por aquela ameaça.

Era o primeiro alerta de Camus que o preocupava e fazia seu peito arder em agonia.

Não magoar Hyoga...

Será que conseguiria? Mesmo decidido a continuar mentindo para ele?

Sentiu suas mãos tremerem levemente e seu coração disparar ao ver o loirinho correndo em sua direção já com os braços abertos e o sorriso mais lindo que já tivera o privilégio de ver em sua vida.

Afrodite então mandou o medo esperar e deu espaço à emoção ao sorrir para ele, enquanto colocava debaixo do braço, próximo à axila, uma caixinha comprida amarelo ocre enfeitada com uma fita vermelha.

Dobrou os joelhos e inclinou-se para frente estendendo ambos os braços para receber o menininho num abraço caloroso e pleno de saudades.

Aaah! Meu loirudinho! — exclamou o pisciano de olhos fechados, fazendo uma voz mais aguda. Nunca imaginou que o que mais sentiria falta um dia em sua vida fosse um simples abraço de uma criança — Que saudades eu senti de você!

Ficaram por um breve momento ali, abraçados, rostos coladinhos um ao outro, enquanto eram observados por Camus, que tinha consciência de que, assim como não era fácil tirar Peixes de seu coração, não seria fácil retirar a “Di” do coração carente de afeto de Hyoga.

Aquele maldito sueco parecia saber exatamente como conquistar os regidos pela constelação de Aquário!

— Me deixa olhar para você. — disse Afrodite ao se afastar do abraço e segurar o rostinho do menino com ambas as mãos, enquanto corria os olhos por cada detalhe — Está tão lindo! Tão cheiroso! — deu uma fungada no pescoço de Hyoga lhe tirando risos, mas de repente a pergunta fatídica viera, como temia.

Di, onde você tava? — o menino perguntou com voz queixosa.

Afrodite arregalou os olhos e rapidamente olhou para Camus, que franziu as sobrancelhas e fez um rápido sinal negativo com uma das mãos. Não queria envolver o menino em seu dilema pessoal.

Onde eu... estava? — o sueco gaguejou, mas logo pensou rápido e apanhando a caixa debaixo do braço a oferecendo a Hyoga — Eu estava comprando os chocolates de salsicha que você adora!

Chocolate de salsichaaaa! — Hyoga arregalou os olhos eufórico. Tinha provado os chocolates em formato de salsicha que eram feitos em uma confeitaria no centro de Atenas e se divertido muito, então Afrodite apelou para o doce.

Sim! E você sabe que só tem uma loja na cidade que vende eles, né? Eu tive que esperar ela abrir, depois tive que ir pegar acué no banco, ai fui até o mercado comprar bacon para ralar, fritar e jogar por cima das salsichas, porque eu sei que você adora bacon com salsicha... Nossa, você não imagina como demorou para eu fazer tudo isso, meu amor! — gesticulava enquanto falava, demonstrando o quão corrido foi seu dia.

Bacon! Que legal! — Hyoga abriu um sorrisão tanto animado quanto surpreso, afinal, uma mistura excêntrica daquelas era de deixar qualquer criança curiosa — Papai, eu posso comer um agora? — perguntou virando-se para Camus.

Camus fez uma carranca não acreditando no que aquele sueco louco estava oferecendo à criança.

— Deus, isso deve fazer mal. — falou ao fechar a porta enquanto Hyoga continuava a lhe lançar um olhar suplicante — Está bem. Mas coma um só. Está quase na hora de você ir pra cama. Além disso, a Afrodite e eu precisamos ter uma conversa chata de adultos.

Eba! Está bem, papai. — respondeu o obediente garotinho russo, depois tomou a mão de Peixes na sua e o guiou para a sala onde estavam espalhados seus brinquedos — Vem Di. Vamo pegar o Dudu e o Zezé pa eles come com a gente.

Aquele pequeno percurso entre a entrada da casa e a sala foi completado por Afrodite de modo angustiante.

A mão de Hyoga que segurava a sua era seu único alento frente à frieza com que Camus lhe tratara.

O cavaleiro de Aquário por sua vez, fechou a porta e os seguiu a passos lentos, parando no batente que separava a sala do corredor que levava à biblioteca, então ficou a observá-los por um breve instante antes de mergulhar no corredor escuro e deixá-los a sós, decidido a não interferir.

Deixaria que Hyoga aproveitasse aqueles momentos com Afrodite e depois colocaria um ponto final àquela situação.

Na sala, quando viu Hyoga apontar para o quebra-cabeças espalhado sobre o tapete, logo Afrodite desfez aquela expressão de mágoa e ansiedade que tomava seu belo rosto e encheu-se de empolgação.

Uaau! Você está montando um quebra-cabeça? — disse ele sorrindo animado.

Sim! Você me ajuda montá, Di? — Hyoga respondeu enquanto abria a caixa de chocolates, oferecendo um a Afrodite.

Mas é claro que sim, meu loirudinho! Senta ai. — disse o pisciano, então enfiou o chocolate todo dentro da boca espalhando alguns farelos de bacon pelo tapete e se sentou no chão, tendo o cuidado ao dobrar as pernas para não revelar mais do que devia — Eu sou ótimo... — raspou a garganta e fingiu tossir ao perceber o ato falho — Ótima! Eu sou ótima em resolver quebra-cabeças.

Logicamente Hyoga sequer percebeu o deslize do pisciano. Estava tão eufórico com a presença dele ali que de pronto sentou-se a seu lado, já espalhando mais as peças do brinquedo com as mãozinhas pequenas sujas de chocolate.

Pouco mais de meia hora havia passado quando finalmente montaram todo o jogo de pecinhas minúsculas e coloridas.

Cansado, já que havia tido um dia cheio na casa do Cavaleiro de Virgem, Hyoga já piscava de sono quando Afrodite o pegou no colo e o levou para o quarto.

Lá, Peixes ajudou o menininho a colocar o pijama e o colocou na cama, deitando-se do lado dele, ambos dividindo o mesmo travesseiro enquanto se olhavam ternamente nos olhos.

O sentimento que invadia o coração de Afrodite naquele momento, enquanto fazia um cafuné nas madeixas loiras do cabelinho de Hyoga, ele só havia sentido duas vezes em toda sua vida.

A primeira foi quando chegou ao Santuário, triste e com medo, e um rapaz muito gentil o recebeu com um abraço acolhedor e um saquinho cheio de balas.

Era Saga.

A segunda foi quando beijou Camus pela primeira vez. Um beijo de despedida, logo depois do aquariano ter entrado por engano em seu quarto no bordel e terem passado a noite juntos.

— Di.

A voz doce de Hyoga despertou Afrodite do transe nostálgico que entrara.

Diga, meu amor. — disse num sussurro.

Eu fiquei com medo que você tivesse ido embola. — disse o menino quase adormecendo.

Aquilo foi um golpe certeiro no coração de Peixes, que não pode evitar que uma lágrima lhe brotasse dos olhos e saltasse pela lateral de seu rosto melancólico.

Meu amor. — disse o sueco dando um beijo na fronte do loirinho — Me perdoa... Eu jamais irei embora.

Pomete?

Pometo, meu narizinho de batatinha frita! — sorriu esfregando seu nariz ao dele — Agora vou cantar uma música para você dormir, e amanhã eu estarei aqui quando você acordar, está bem?

Hyoga sorriu e deitou de lado ajeitando-se entre os travesseiros.

Caranguejo não é peixe

    Caranguejo não é peixe

    Caranguejo peixe é

    Caranguejo só é peixe na enchente da maré

    Ora palma, palma, palma

    Ora pé, pé, pé

    Ora roda, roda, roda

    Caranguejo peixe é.

***

A suntuosa e sempre abastada biblioteca do Templo de Gelo estava à meia luz.

O que costumeiramente era um ambiente confortável à leitura, muito bem arejado e iluminado, agora estava imerso numa penumbra densa, agravada pelas cortinas fechadas e iluminado apenas pela fraca luz de duas luminárias sobre a grande escrivaninha de carvalho.

Era nesse ambiente sombrio e acanhado que Camus de Aquário, próximo a uma das janelas, a qual estava entreaberta apenas, fumava um cigarro.

Pouco antes de chegar ali o aquariano ficou por alguns momentos encostado ao batente da porta do quarto destinado aos discípulos — em cada Casa Zodiacal havia dois quartos, um destinado ao guardião daquele Templo e o outro a seu discípulo — a assistir Afrodite fazer o filho dormir cantando uma canção como de costume, sem deixá-lo notar que estava ali.

Não pôde negar para si mesmo que aquilo mexeu muito consigo, e somando à dor da perda recente de Natassia, Camus de repente se viu imerso num mar de tristeza, mágoa, fúria, mas também dúvida!

Deveria dar uma chance a Afrodite? A si mesmo? A Hyoga?

Camus deixou os dois ali e foi até a biblioteca.

Tentando se acalmar, apagou o cigarro que estava no fim e acendeu outro logo em seguida, enquanto caminhava até o bar onde se serviu de uma dose generosa de licor de anis.

Sorveu a bebida azul num só gole, e quando já deitava a garrafa para tornar a encher o cálice de cristal ouviu o ranger da porta sendo aberta.

Virou o rosto apenas ligeiramente para o lado e viu a silhueta de Afrodite contra a luz, parada à porta.

— Entre. — disse em voz baixa enquanto enchia novamente o cálice com o licor azul.  

Camus então se virou de frente para a entrada do cômodo e finalmente seus olhos avelãs divisaram os aquamarines.

O silêncio reinou constrangedor entre eles.

Enquanto levava o cálice à boca, jogando a bebida garganta abaixo com os olhos ainda fixos ao rosto do sueco, Camus sentiu ganas em matar aquele homem vestido de mulher, porém estava demasiadamente frágil até para ter alguma reação violenta contra ele.

A verdade era que o francês estava tão devastado que não tinha ânimo mais nem para discutir, porém uma coisa lhe chamou a atenção.

Quando Afrodite virou-se de costas para fechar a porta, mesmo à meia luz Camus surpreendeu-se ao notar um grande e recente hematoma na lateral de suas costas, um pouco acima da cintura, entre as costelas, e que só estava visível porque o pisciano insistia em usar aqueles decotes enormes nas costas, além de ter o cabelo preso em uma trança jogada para a frente.

O Santo de Aquário franziu o cenho e arqueou uma sobrancelha num misto de surpresa e preocupação, mas também de desprezo, já que na noite anterior Peixes estivera numa zona sadomasoquista, porém não teve muito tempo para se ater ao que acabara de ver, pois Afrodite já caminhava em sua direção o encarando nos olhos.

Peixes sabia o quão violento Camus se tornava quando estava zangado ou ressentido.

Nos dois anos em que se relacionaram como um casal, muitas foram as brigas em que ambos perderam a cabeça e se agrediram, mas o sueco não se intimidou em nenhum momento, parando apenas quando já estava a poucos centímetros dele.

Contudo, foi assim, cara a cara, que Afrodite pode notar que nos olhos de Camus não apenas raiva e rancor reinavam, mas também uma profunda tristeza, além do cansaço e abatimento físico aparentes.

— Camus, eu... — disse o sueco tentando alcançá-lo.

Non se aproxime. — o aquariano deu um passo para trás, depois tragou o cigarro em aflição — Fale o que tiver que falar daí mesmo de onde está e vá embora.

— Camus, não faz assim. Eu não vou embora! Tem que me ouvir, me deixar explicar, e tem que acreditar em mim!

— Acreditar em você? — disse o francês de forma rude — Eu acreditei em você quando me disse que subiria para dormir comigo, e ao em vez disso foi para o puteiro do Polifemo trepar com aquele... — soltou o ar pela boca ruidosamente — Por Dieu, Afrodite, o que você quer me explicar? Quer me explicar como foi capaz de me deixar, de... de me trocar, eu e a meu filho, no momento em que eu mais precisei de você?

O Santo de Peixes esperava por aquele tratamento, e também por aquelas palavras, mas não esperava pelo que se seguiu depois delas.

Após uma breve pausa, Camus levou ambas as mãos ao rosto, uma ainda trazia um cigarro pela metade entre os dedos, e apoiando as palmas nos olhos chorou.

Um choro forte, sofrido, copioso, represado até aquele momento, mas que diante da face pálida do pisciano não foi mais capaz de conter.

Envergonhado por aquela demonstração patética de fraqueza, Camus deu as costas a Afrodite enquanto buscava força dentro de si para conter as lágrimas, mas era traído a cada soluço incontrolável que escapava de sua garganta.

Por um momento Peixes o observou, mortificado.

Mais uma vez suas atitudes impensadas e seu comportamento inconsequente fazia sofrer aquele a quem mais amava, aquele a quem escolhera se entregar de corpo e alma em uma jornada cheia de obstáculos e sem futuro certo.

Nem se deu conta de quando começou a chorar junto dele, mas foi aos prantos também que Afrodite lançou seu corpo para frente e abrindo os braços enlaçou o corpo trêmulo de Camus, o abraçando com força e aflição pelas costas.

Non! Saia! Me larga, Afrodite. — o aquariano resmungou agarrando os punhos do sueco para tentar fazê-lo lhe soltar.

— Não! — Peixes imprimiu mais força ao abraço, impondo sua presença e o contato, deitando sua cabeça nas costas do aquariano — Por Atena, por todos os deuses do Olimpo, Camus, me escute, por favor, me deixe falar o que aconteceu. Não é o que está pensando! Eu não transei com o Diógenes, eu não fui lá para... — suplicou em meio ao choro, mas foi interrompido pelo ruivo que estava transtornado.

— Se fosse antes... Se Natassia ainda estivesse viva e eu non estivesse tão abalado, eu teria te matado lá mesmo, dentro daquele maldito quarto daquele maldito lugar! — esbravejou ainda tentando se soltar, trêmulo e soluçante — Uma traição como a sua, de confiança e lealdade, dentro da Vory nós lavamos com sangue!

Vendo que o francês estava descontrolado e perturbado, Afrodite o segurou com força pelos ombros, girou seu corpo para que ficasse de frente para si e o empurrou contra o balcão do bar, usando o próprio corpo para mantê-lo ali, imobilizado.

— PARA! — Afrodite gritou encarando os olhos avelãs faiscantes — Para! Nós não estamos na Vory, Camus, nós não estamos na Rússia. Estamos aqui, no Santuário! E aqui, agora, somos só você e eu!

O Santo de Aquário contemplou por um instante o olhar assustado dele, pressentindo uma súplica aflita nele, mas estava tão transtornado que não conseguia deixar de sentir aquele mar revolto dentro de si.

Tinha perdido completamente o timão de suas emoções, sempre tão contidas.

— Você só está vivo ainda porque eu non... non consigo... — um novo soluço, então Camus baixou a cabeça e parou de lutar, ficando imóvel — A dor que você me causa, Afrodite, é a única dor nesse mundo capaz de me tornar... fraco.

Confessou.

Peixes sentiu a garganta lhe sufocar.

O remorso já lhe corroía a alma naquela altura, e tudo que fora fazer ali de repente lhe pareceu outra de suas péssimas escolhas na vida.

Contudo não iria desistir.

Tinha ido ali decidido a manter o pacto, a continuar se fingindo de mulher e ser para Hyoga a mãe que ele precisava. Não iria voltar atrás, mesmo que estivesse inseguro e apavorado.

— Camus, meu amor... Por favor... Me deixe explicar o que fui fazer no Polly, e porque fui até lá. — pediu com voz branda, ainda segurando o francês pelos ombros.

— O que foi fazer lá? — Aquário ergueu novamente o olhar — Tem certeza de que tem que me explicar o que foi fazer num puteiro como aquele? Aliás, Afrodite, por que diabos prometeu a Hyoga que estaria aqui para ele amanhã e todos os outros dias? Eu ouvi você jurar isso a ele. Eu estava no corredor! — estreitou os olhos, severo — Por que promete coisas que non vai ser capaz de cumprir? E quando ele precisar de você? Vai fazer com ele como fez comigo? Vai deixá-lo esperando e abandoná-lo também?

— Não! — Peixes arregalou os olhos e balançou a cabeça — Eu não...

— Ah, mas non vai mesmo! Porque eu non vou permitir que faça isso. Eu jamais vou permitir que magoe aquele garotinho como você me magoa.

— Dadá abençoado derrame uma bigorna ornada em contas na cabeça desse viado teimoso que não me deixa falar! — disse o sueco em voz alta e estridente, enquanto encarava o rosto do aquariano numa expectativa tensa e ansiosa — Camus, eu já te pedi por Atena e por todos os deuses, para você me ouvir! Gata, por favor! Se não adiantou eu te peço agora pelo Hyoga!

— O quê?

— Santa, acredite em mim, me ouça, pelo Hyoga! — esticou os braços e segurou no rosto molhado do francês o chacoalhando com força — Foi por ele, pelo meu loirudinho que eu fui até o Polly ontem, Camus. Foi pelo Hyoga! Tudo bem que foi um charufi* de ideia, como sempre, mas foi por ele!

— Você só pode estar tirando um sarro da minha cara. — grunhiu o ruivo.

— Alôca! Claro que não, Alice!

— Então está mentindo! — Camus respondeu em voz baixa, incrédulo e com os olhos arregalados — Por Dieu, Afrodite, o que Hyoga tem a ver com um antro sadomasoquista e escatológico como aquele? Essa sua desculpa non faz o menor sentido, seu viado burro!

 — Não é truque*. Hyoga não tem nada a ver com aquilo lá mesmo. — Peixes pegou na mão do francês e praticamente o arrastou até o divã onde o colocou sentado e se sentou ao lado, ainda o segurando pela mão — Eu sei que foi uma ideia estúpida, como todas as outras que tive até hoje na minha vida, mas é por causa do meu coágulo, sabe?

Camus baixou a cabeça e esfregou a testa com os dedos da mão que estavam livre.

— Isso non está acontecendo. — balbuciou.

— Enfim... Camus, eu... — continuo o pisciano — Eu estava na festa, pronto para subir para cá para ficar com vocês, aí a Lagartixa...

Aquário ergueu a cabeça num gesto brusco e inesperado.

NON! — apontou o dedo indicador para o rosto do sueco — Você non vai começar com isso de novo! — interrompeu impaciente — Non aguento mais ver você culpar o cavaleiro de Lagarto por tudo de errado que você faz. Se é isso que tem para me dizer, que a culpa de você ter traído minha confiança é do Misty, pode parar por aqui e sair da minha casa agora!

— Não. Dessa vez aquele demônio de ventosa não tem culpa de nada. — confessou encolhendo os ombros e baixando a cabeça, em voz tão baixa que mal se ouvia — Ele me deu uma gongada* sim, mas... — franziu a testa, coçou o olho direito num gesto de nervosismo e olhou para o lado — mas... — colocou a mão sobre a boca e falou em tom ainda mais baixo — Mas ele estava certo.

— Hã? Mas o que? Eu non te ouvi. — Camus o questionou impaciente — Afrodite, pare de se enrolar e fale! Você queria que eu te escutasse, pois bem, estou aqui. Mas se non for claro e non disser sem rodeios o que tem pra me dizer vá embora, que você já está minando toda a minha paciência.

Afrodite preferia ter uma noite tórrida de sexo com Shina a ter de admitir que Misty estava certo.

Não na maneira como expôs o problema e usou as palavras, essa sim, foi feita de modo a afrontá-lo e desestabilizá-lo, mas sim nos argumentos. Porém, não tinha que admitir isso para Camus, seria melhor guardar para si.

Tomando fôlego Peixes tentou organizar as palavras em sua cabeça, então tomou a mão de Aquário na sua e cravou seus olhos aos dele o encarando com seriedade.

— Camus, você já parou para pensar que essa mentirinha que estamos contando ao Hyoguinha é um caminho sem volta? — seus olhos voltaram a marejar, e seus lábios tremiam levemente.

Camus o olhou sério, introspectivo, depois balançou a cabeça num gesto de concordância, já que, por mais aflitiva que aquela informação lhe soasse, e por mais que quisesse continuar mentindo para si mesmo, ela era a primeira coisa sensata que ouviu do sueco naquela noite.

Oui... Eu... Imaginei que pudéssemos apenas... aplacar a dor do luto, mas... Non achei que ele ia se apegar tanto e tão rápido a você e...

— Mas ele se apegou, e eu a ele. — Peixes apressou-se a acrescentar — Camus... Vocês estão aqui há apenas alguns dias e esse menino já é tudo que eu tenho!

Aquário engoliu em seco.  

— Depois... — continuou o pisciano — A maneira como ele me olha... E quando ele enrola os dedinhos dele no meu cabelo para dormir... E quando... Ele beija meu rosto... Camus, eu não posso tirar a Afrodite dessa criança nunca!

Dieu! — o francês suspirou angustiado.

— Eu quero estar com ele, eu quero ver ele crescer e se tornar um homem, mas... — Peixes soltou a mão do aquariano e levou as suas até o rosto, esfregando os olhos angustiado, depois voltou a olhar para o ruivo — Já pensou que um dia, não sei quando, eu posso vir a ser uma figura materna de verdade para ele? E ai Camus, como vai ser?

Camus nada respondeu.

Afinal fora justamente para que Hyoga tivesse amor e afeto que pensou em aproximá-lo de Afrodite, só não contava que esse amor pudesse perturbar tanto o pisciano, assim como não pensou nas consequências futuras.

— O que eu fiz, mon Dieu! O que foi que eu fiz! — agora era Aquário quem esfregava o rosto em aflição.

— Quando eu me dei conta disso tudo fiquei desbaratinado. — Afrodite continuou — Eu tive tanto medo... Afinal eu não sei como é ser uma mãe, já que nem mulher eu sou, e além de não ser mulher eu sou garoto de programa e todo confuso e errado... Depois tem o lance todo da mentira... Eu fiquei com tanto medo desse babado de ser mãe que quando estava subindo para cá eu tive um chilique e fui procurar o Polly.

Camus deu outro suspiro cansado, imediatamente formulando uma teoria em sua mente, a verbalizando em seguida enquanto procurava no bolso por sua cigarreira para poder fumar mais um cigarro.

— Entendi. Está me dizendo que foi muita pressão para você. — disse o ruivo com voz cansada e desapontada — Tive uma expectativa muito alta e lhe exigi mais do que você é capaz de suportar, por isso surtou e fugiu.

— NÃO! — o sueco disse em voz alta, quase num grito, depois num gesto desesperado agarrou o punho do aquariano e deu um puxão, quase o fazendo deixar cair a cigarreira — Não! Eu não fiz carreira*, Camus! Eu... me encontrei!

— Se encontrou? — Aquário divisou o outro com um olhar dardejante — Dieu, Afrodite! Porque non fala as coisas de modo claro?

— Ué, não está claro?

Non. Eu non entendo aonde você quer chegar e o que tudo isso tem a ver com o fato de você estar em um quarto de zona com outro homem.

— Dadá! — soltou o punho de Aquário e num rompante de desespero ajoelhou-se no chão diante dele juntando ambas as mãos como quem faz uma prece — Camus, agora entra a parte que você precisa acreditar em mim, porque eu não tenho nada a meu favor, só a minha palavra.

Aquário ficou a observá-lo. Afrodite chorava e parecia bem perturbado.

— Não era para aquele exú bigodudo, cafuçu de cueca de couro estar ali naquele quarto comigo. — disse angustiado.

— Ah, non!

— Não! Aquela magia negra* apareceu ali de repente e eu já estava botando ele pra dar linha* quando você apareceu! — novamente agarrou os punhos do aquariano e puxou para si, fazendo Camus se curvar ligeiramente para frente — Camy, eu estava me sentindo muito mal, muito culpado por estar dando truque* no Hyoga, mesmo você dizendo que será por pouco tempo... Bom, não vai ser por pouco tempo, eu sei disso, e sei que você também sabe disso... Então, eu precisava tomar uma decisão.

— Que decisão? — Camus questionou.

— Acabar com o truque*, revelar a Hyoga a verdade, que eu sou homem e que a Afrodite que ele tanto adora não existe, nunca existiu, ou... ou eu deveria assumir de vez que vamos enganar essa criança até quando Atena nos permitir...

Camus piscou os olhos nervosamente.

— A-Afrodite... — sussurrou numa cadência angustiada.

— E eu tomei outra decisão errada, Camy, porque ontem à noite eu assumi pra mim mesmo que eu não posso mais viver sem o Hyoga, sem você. — uma lágrima quente escorreu por ambas as laterais do rosto belo do sueco — Eu quero seguir com essa mentira, Camus, mas... Eu não faço a mínima ideia de como ser uma boa influência para uma criança, então eu pensei em falar com o Polly, já que ele tem dois filhos feitos já. Tudo bem, o Polly também não é um exemplo de moralidade para ninguém, disso nós sabemos, mas ele sempre foi bom para mim sem querer nada em troca... Quando todos me viraram as costas, foi ele quem me deu a mão e me tirou do chão... Eu pensei em contar para ele que agora eu tinha um filho, um menininho que precisava muito de mim, do meu amor, do meu carinho, mas também dos meus cuidados e dos meus conselhos... E... Que tipo de conselho eu poderia dar ao Hyoguinha? Era nisso que eu pensava quando fui até lá.

Afrodite falava sem parar, e Camus tentava, concentradíssimo, absorver toda aquela enxurrada de informações. Já estava um tanto zonzo, porém com o peito cada vez mais leve a cada palavra que o pisciano dizia, pois via nitidamente nos olhos do amado que ele não estava mentindo.

 — Bom, eu falei por cima para o Polly o que estava acontecendo comigo, o que estava me deixando todo abilolado* da cabeça, então ele me pediu para esperar por ele naquele quarto, para a gente poder conversar sem aquela charufinácea* toda de gente se pegando, chicote estalando, alofi* de sexo, música alta... Mas, enquanto eu esperava por ele, o despacho de cueca de couro do Diógenes entrou no quarto e... bem... foi aquilo que você viu... Ele tentou forçar uma catação* comigo e só não matei a Irene* bigoduda por consideração ao Polly, e também porque corri atrás de você... Mas quando cheguei aqui você não me deixou entrar.

— Espera aí, Afrodite! — disse Camus atordoado, de olhos muito abertos, enquanto digeria toda aquela história tentando organizar minimamente os pensamentos e sentimentos dentro de si — Deixa-me ver se entendi uma coisa... Aquele homem...

— Homem não, né gata. Aquilo lá é um aborígene de cuecão de couro! — disse Peixes enxugando uma lágrima que lhe entrava por uma das narinas.

— Tá... Aquele... aquele desgraçado tentou te forçar a algo e foi isso que eu flagrei? — inquiriu Camus agora sim ligando a cena que presenciara no bordel de Polifemo com o hematoma nas costas do namorado. Arregalou os olhos em espanto e incredulidade.

— Por Dadá e todo seu séquito de calopsitas, mon amour! É claro que sim! O que mais seria? — Peixes por pouco não riu de si próprio, de Camus, e de todo aquele mal entendido enfadonho — Eu sei que, tirando os Ivans Ivanovenkos, esse foi o pior close* que já dei com você... Mas, você acha mesmo que eu iria largar você e o loirudinho para ir ficar de catação* com o cafuçu do Diógenes, gata? Ah, tá boa! Eu fui lá conversar com o Polly, sobre crianças, sobre ser um bom exemplo, porque eu estava decidido a ser para o Hyoga tudo de melhor que ele merece, mas eu ainda não sei qual é o meu melhor... Ai o Diógenes entrou no quarto... Eu estava matando aquele exú aos poucos... Ia fazer ele sufocar com a própria saliva quando você apareceu ali.

Atarantado, Camus se levantou do divã e puxou Afrodite pelos braços para que ele se levantasse também, então segurou em seus ombros e girando ligeiramente o corpo dele para o lado examinou de perto o hematoma em suas costas, tocando levemente a pele num tom roxo escuro com as pontas dos dedos.

Surpreso, porque nem se dera conta que o ferimento estava aparente, Peixes se retraiu e se afastou, novamente se colocando de frente para Aquário, o encarnado com olhos assustados.

— Esse machucado ai. — apontou Camus, que tinha uma expressão severa no rosto — Foi o Diógenes, non foi? Foi naquela hora que vi ele te empurrar em cima daquele balcão?

— Camus, eu sou um cavaleiro de Ouro. Isso não é nada para mim! — disse Afrodite — Esqueça o suíno do Diógenes, mon amour. Eu errei em ter ido lá. Admito. Eu só queria falar com alguém, como não tenho ninguém com quem possa conversar sobre filhos e família eu fui procurar o Polly, mas foi uma péssima ideia porque o Polly vive em um puteiro... Camus, me perdoa. Me perdoa por ter feito você passar por isso. Pela angústia que te causei. Eu quero que saiba que agora eu estou completamente ciente do que estou fazendo e que se depender de mim, mesmo que no futuro eu tenha que pagar um preço alto, eu serei pro Hyoga o que ele quiser que eu seja.

Camus não respondeu. Calado olhava dentro dos olhos do sueco por alguns instantes, pensativo, o analisando.

A história tinha todos os ingredientes para não ser uma história real, não fosse pelo fato de ser contada por Afrodite de Peixes, a única criatura no mundo que tinha o dom de fazer o absurdo parecer fato banal.

Somente aquele desmiolado de lógica confusa e vocabulário excêntrico do seu Peixinho teria a ideia idiota de ir a um puteiro falar de filhos com um cafetão.

 

Continua...

 

Dicionário Afroditesco

Abilolado – confuso, perturbado

Alofi – cheiro ruim, fedor

Catação – paquera com intenção de sexo


Notas Finais


E ai o que vcs acharam? foi dificil desenrolar esse novelo de lã..Hmmm Será que Camus acreditou no dite? Esse relacionamento é tão complicado quanto improvável... mas antes que nos esganem, semana que vem tem a parte dois *-*

Grupo do face com varias imagens extras *-*
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Tumblr da Ju com muitas outras artes:
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Cap no nyah:
https://fanfiction.com.br/historia/727716/Templo_das_Bacantes_Vol_2/capitulo/8/


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