Uma manhã gris, se estendia sobre São Paulo.
De almas e corações entregues, Benê e Guto ainda dormiam, agarrados um ao outro. Ela, entre os braços dele, talvez ali fosse o seu lugar favorito. E ele, áurea protetora, a acolhia, como sê nada mais no mundo, importasse. Benê trazia no semblante, uma serenidade sem igual, jogada sobre ele, ela sequer se mexia, vestia além do abraço, o casaco dele. Guto, tinha literalmente atado ao seu peito, o amor de sua vida. Ele vez o outra se mexia, para talvez, melhor acomodá-la e aquecê-la embaixo das coberturas.
O primeiro a acordar, foi ele. Sentiu sobre si o peso dela. E claro! Lá estava Benedita, dormindo sobre ele, acolhida entre seus braços. “Como ela é linda!” - pensava ele, enquando a admirava em seu sono sereno e tranquilo.
Não demorou muito para ela acordar. Se espichando toda, coçou os olhos e quando finalmente os abriu, observou ao redor e afirmou.
— Eu dormi no Galpão.
— Dormimos!
— Guto?! Agora eu estou lembrando. - Disse se encolhendo de vergonha.
— Ei...
— Eu não acredito. Dormimos a noite inteira aqui, no Galpão. - Constatou ela.
— Dormir a noite inteira, a gente não dormiu! Mas... AÍ, BENÊ!!
Ela deu um beliscão, daqueles bem torcidos nele que o mesmo reclamou:
— Isso dói!
— É pra você parar de falar o que não deve! - Benê.
— O que eu disse de errado?! A gente não dormiu a noite toda, mesmo!
— GUTO!! Você deveria era ter me impedido.
— Impedido?! De quê?! De me seduzir?! Porque foi isso que você fez... Me seduziu!
— Eu?! Guto!!
Guto fazia de propósito! Ele adorava vê-la assim, brava e corada de vergonha. Ela ficava ainda mais linda.
— Parece até que você é um menino ingênuo, bobo. - Retrucou ela, linda jogando a franja para o lado.
— Bobo eu sou mesmo, por você! Mas amor, a gente não fez nada de errado, não.
— Como não?! Nós não estamos nem no nosso quarto e nem na nossa casa. Está errado!
— Não seja por isso! A gente pode voltar para o nosso quarto e para a nossa casa. - Provocou ele.
— Guto!!
— Tá, desculpa! O que eu quero dizer: É que não é errado! Pode não ser adequado, mas errado, não é.
Ela fita-lhe os olhos, bufa contrariada e diz:
— É, eu entendi. E...
— E?!
— E eu quis que acontecesse. - Disse ela, envergonhada.
Ele sorriu e se aproximou ao pé do ouvido e lhe falou:
— Eu também quis que acontecesse.
Eles ficaram se encarando, Guto se aproximou ainda mais e com os olhares fixos, se encontraram num beijo. Ela repousou as mãos sobre o peito dela e mais uma vez, permitiu que as sensações a guiassem. Havia um magnetismo que os envolvia, o beijo era o elo e o estopim dessa química invariante.
Rendidos naquele beijo apaixonado, se viram sedentos um do outro, novamente. Mas ela, despertou-se de suas emoções e de maneira repentina, se levantou.
— Que foi, meu amor?! - Preocupou-se ele.
— Nada! - Disse ela nervosa, enquanto se vestia.
— Benê...?!
— Guto, é coisa minha. Eu vou subir! - Apressou-se ela tornando a vestir o casaco dele, por cima.
Benedita saiu tão rápido que Guto, nem conseguia processar e muito menos, entender a reação da esposa. Mas ela sabia com o que se preocupar. A moça entrou porta adentro, pra espanto de sua mãe:
— Filha?! Achei você ainda estivesse dormindo! - Josefina.
— Oi mãe! - Disse correndo para o quarto.
— Benê?! Filha?!
Josefina entrou no quarto e lá estava a filha, chafurdada dentro de sua própria bolsa, parecia procurar algo.
— Achei! - Exclamou ela.
Era uma cartela de comprimidos. Benê fazia contas. Sincronizava mentalmente a quantidade de compridos já tomados, com os dias passados... Ela se encarou no espelho, respirou fundo.
— Tá certo! Tá certo. - Disse ela aliviada, ao perceber que não havia com o que se preocupar.
— Contraceptivo?! - Disse Josefina observando a cartela nas mãos da filha.
— Mãe!
— Tá fazendo conta porque, Benedita?!
— Nada não.
— Nada?!
Ela fez que não com cabeça enquanto guardava a cartela de volta na bolsa.
— Cê tá vindo do Galpão?!
— Eu?
— É! Dormiu lá com o Guto?!
— O Guto?! Nem sei dele. - Disfarçou Benê.
— Filha...
— O que?!
— Cê tá usando o casaco dele! - Disse Josefina achando graça.
Benê olhou pra si e percebeu que era inútil disfarçar, ficou sem jeito, enquanto sentia seu rosto queimar de rubor.
— Definitivamente, eu sei mentir! - Reclamou Benê.
— Não! E isso é encantador. - Disse Josefina.
Elas sorriem e Benê pergunta.
— Eu sou encantadora, mãe?!
— Claro que é!! E não é só eu que acho.
— Não?!
— Não! Tem um pianista, assim, bem lindo! Gatão mesmo, sabe?! Que também acha!!
— O Guto.
— É... Esse rapaz que faz os olhos da minha menina brilharem!
— Eu já disse o tanto que eu gosto dele?!
— Já! Mas é tão bonito de ouvir, que ouviria quantas vezes você quisesse contar!
— Eu não sei mais viver sem ele! Tudo no Guto me faz bem. Até o toque dele, me faz bem!
— O amor de vocês é uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida!
Josefina deu um beijo na testa de Benê, percebeu que ela havia ficado pensativa. Resolveu então, sentar-se do lado de sua primogênita e ouvi-la.
— Mãe, eu tenho medo!
Josefina realmente havia enxergado algo diferente, nos olhos da filha. Sabia que Benedita temia algo e que a remota possibilidade de alguma coisa lhe fugir ao controle, seria preocupante.
— O que foi, filha?!
Benê hesitava em falar. Mas talvez a sua mãe fosse a única pessoa capaz de acalmar seu coração.
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