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História Temptation - Safe Haven.


Escrita por: stealmyziall

Notas do Autor


Oi meus amores, mil e uma desculpas pela demora! EU juro que queria postar antes, mas não deu. No entanto, acho do fundo do meu coração que a espera valeu a pena.
Posso dizer que esse definitivamente se não for o meu capítulo favorito de T, é um deles.
Boa leitura, espero que gostem <3

Capítulo 12 - Safe Haven.


Fanfic / Fanfiction Temptation - Safe Haven.

 

“Somente feche seus olhos, o sol está se pondo. Você ficará bem, ninguém pode te machucar agora. Ao chegar a luz da manhã, nós ficaremos sãos e salvos. — Taylor Swift (Safe & Sound).”

 

Soumaya’s Point Of View.

 

— Como assim? Você precisa me explicar essa história, é sério!

— Susu, não tem o que explicar. O policial entrou no carro e eu estava fumando, por isso me levou e deu essa confusão. — Ele fala sério, isso enquanto eu olho para o relógio, tendo noção de que o intervalo estava acabando e que hoje como ele tem uma reunião com as pessoas da instituição, não teríamos nada relacionado a bolsa mais tarde.

— Mas por que fez isso no meio de uma rua escura? E por que eu escutei que a Katherine fugiu e deixou você lá? Foi mesmo isso? — O ataco com perguntas, vendo que ele sorri fraco.

— Não, não acredite no que ouve pelas pessoas dessa instituição. Eu simplesmente fui fichado, nada que eu já não saiba como funciona. — Ele explica novamente com calma, mas nem isso me deixa menos nervosa.

— Sua mãe não ficou brava?

— O Liam e o Zayn que foram me buscar, o que diminuiu um pouco a raiva dela nem que fosse.

— Mas você está bem? — Mordo o lábio nervosa e ele sorri ainda mais.

— Não precisa se preocupar comigo, eu realmente estou bem. 

— Que bom, pois eu fiquei preocupada. — O acerto no braço com um tapa e ele finge uma careta de dor.

— É assim que você cuida de quem gosta?

— Você simplesmente ignorou minhas ligações, não respondeu as mensagens.

— Não, habibi. Os policiais estavam com os meus pertences, tem uma enorme diferença.

— Mas quando chegou em casa não respondeu, eu fiquei preocupada, pensei até mesmo em sair pela janela escondido para ver se você estava bem, isso que eu não faço a mínima ideia de onde você mora! — Exclamo ainda com o coração na mão e ele nega, pondo um braço na volta do meu ombro e me puxando para ele, me abraçando.

— Eu estou bem, só não queria te incomodar. Você não precisava me ver naquele estado. Eu estava fedendo, além de que não estava em mim. Gosto dessa imagem de cara respeitador que tem de mim, não precisa me ver em momentos ruins.

— Eu sou sua amiga, quero que saiba que independente da situação, eu sempre estarei aqui para você, juro. — Explico me afastando um pouco após notar o olhar de alguns alunos sobre nós.

— O que acha de ir lá em casa hoje? — E essa pergunta sim me pega de surpresa.

— Como assim? Por quê?

— Eu tenho a reunião, mas após a mesma, vou estar livre. Você mesma disse que não conhece minha casa, quero que você conheça. Sem contar que a minha mãe e a Gemma não te conhecem, seria bom para…

— Para? — Elevo a sobrancelha e percebo que ele fica sem jeito, me fazendo rir mais ainda. — Não precisa se preocupar comigo, de coração.

— Eu não estou preocupado, mas você é importante para mim, eu ia gostar que você conhecesse elas, pois sempre comento de você. — E é essa hora que um arrepio percorre todo o meu corpo.

— Como?

— Eu comento de você, sobre sua cultura, seus costumes, até mesmo de comidas típicas que você sempre comenta, mas que nunca faz para mim. — Ele destaca o fato, me fazendo pensar muito a respeito disso.

— Elas sabem que faço a bolsa com você? Que… Que o governo financia minhas aulas aqui e…

— Susu, as pessoas não vão te olhar de forma inferior pela questão de seus estudos serem financiados pelo governo, não tem nada de errado nisso. Se o mundo é ruim e não dá as mesmas oportunidades para todos, é por isso que temos o governo, pelo menos deveria ser. — Ele fala e eu suspiro.

— Certo, eu preciso ir para o laboratório agora, me ligue quando estiver livre. — Falo e ele concorda, então me afasto e vou para a mesa do Ethan e da Lottie, vendo que os dois dessa vez discutiam com a Heather.

— Você não pode simplesmente achar que só porque seu pai patrocina a instituição, isso te da o direito de falar assim com um professor. — A Lottie fala para a Heather.

— Sim, você foi uma mal educada, sério. — O Ethan completa.

— O que aconteceu? — Questiono ao ficar de pé e todos levantam, pois temos a próxima aula em instantes.

— Você não escutou da confusão que deu com a professora de cálculo? Pergunte para a Heather. — O Ethan fala com uma careta, fazendo eu encarar a loira, que dá de ombros e caminha comigo, falando o como ela acha injusto ter que fazer exercícios em casa, então apenas deixou isso claro para a professora. Mandando ela perder o tempo dela cuidando do cabelo, ao invés de dar exercícios que não mudam em absolutamente nada sua vida. Sim, isso mesmo.

Essa menina definitivamente não tem limite algum, sério mesmo.

Com o passar da manhã, fazemos a aula no laboratório e depois vamos até a sala, tendo dois períodos de literatura. Quando as aulas acabam, me encontro com o Kassem e pegamos o ônibus, não demorando mais de meia-hora, para finalmente chegarmos em casa.

Assim que piso em casa, estranho ao perceber que meus irmãos estão aqui, afinal, eles deveriam estar na escola.

— Sahar, onde a Zenah está? — Pergunto e a pequena dá de ombros, voltando a brincar com a massa de modelar com o Noman, o mesmo que ria sem parar.

Não, meus pais não estão em casa. Meu pai está trabalhando no restaurante e hoje minha mãe disse que passaria o dia largando o currículo em diversos lugares.

— Zenah! — O Kassem grita e a mesma não responde, o que me deixa preocupada. 

Subo as escadas nervosa e vou em direção ao nosso quarto, abrindo a porta e vendo que ela não estava lá. Então logo volto para o corredor e tento abrir a porta do banheiro, mas a mesma está trancada.

— Zenah, você está ai? — Questiono e ouço alguns soluços através da porta, me deixando mais nervosa ainda. — Abre a porta, por favor! — Bato na mesma com força, não obtendo nenhum resposta vinda dela. — Kassem! — Chamo quando o vejo no topo das escadas, me olhando sem entender.

— Ela está ai? — E eu concordo, batendo novamente na porta.

— Ela não quer abrir. — Ele então se aproxima, batendo de forma mais calma na porta e suspirando.

— Zenah, o que aconteceu? Fala comigo. — Ele pede e novamente conseguimos escutar os soluços, mas nada de realmente palavras formuladas sairem de sua boca. — Anda, a gente vai ajudar, nada mais que isso. — Ele fala e nessa hora ela nega.

— Vocês não podem ajudar, não podem desfazer tudo. — E é nesse momento que eu não entendo nada.

— Do que está falando? O que aconteceu? — Eu bato com força na porta, suspirando quando ouço o som da chave virando, ou seja, ela destranca a mesma e logo a abre, fazendo nós encararmos o seu rosto vermelho.

— Vocês não olharam o noticiário? — Ela questiona, tentando secar as lágrimas que ainda caem. — Só… Teve um ataque enorme em Ghaza, entre os mortos… — E ela volta a chorar, fazendo o meu coração querer saltar do meu peito.

Não, não pode ser. Não na nossa cidade.

Eu desço desesperada e pego o controle da televisão, ligando a mesma a passando de canal em canal, procurando algum canal que seja com as notícias mais recentes.

— Khara. — O Kassem fala ao ficar do meu lado, logo abrindo a boca quando eu acho o canal principal, vendo as cenas que as câmeras estão filmando.

— Pelo amor de Deus. — Cubro a boca ao ver a quantidade de corpos no chão, a quantidade de fogo que se alastra cada vez mais, logo essas cenas são seguidos por outras, que mostram os ataques de Israel bem na minha cidade, atingindo mais de 5 bombas em o que? 1 minuto?

— Isso não pode ser real. — O Kassem pega o celular desesperado e eu sei que ele queria ir para a parte do Viber, para ligar para nossos avós ou primos, até mesmo os nossos tios, mas precisamos de alguma notícia, precisamos de algum sinal nem que seja.

— Não, eles… — A Zenah desce com o corpo todo tremendo e eu não seguro as lágrimas que descem com a maior facilidade do mundo dos meus olhos. — A família do Mohamed, todos eles… — Ela fala mordendo o lábio e aponta para a televisão, que é onde vemos que a casa dos nossos vizinhos foi uma das mais destruídas, mas eles não passam pela nossa antiga, isso se ela ainda está de pé, o que eu não faço a mínima ideia.

— Eles não estão me atendendo! — Ele fala e eu apalpo o meu bolso nervosa, querendo saber da Yasmin, querendo ouvir algo dela.

— Os nomes de alguns estão na tela.

— Mais de 320 mortos? — Eu chego a perder a força nas pernas e cair no chão, sem conseguir ler os nomes, pois meus olhos estão embaçados demais.

— Susu… — O Kassem fala de forma lenta, então aperto mais meus olhos e não consigo acreditar no nome que eu leio.

— Não… — A palavra sai em forma de sussurro pelos meus lábios, querendo que não fosse real, rezando para que isso não fosse possível. 

Yasmin Abdel-Bakri. Não, não, não. Por favor, por favor que eu tenha lido errado, por favor que isso não passe de um pesadelo.

— PORRA! — O Kassem se irrita e chuta a mesa para longe, se segurando para não socar a própria televisão.

— Não, isso não pode… Não. Por favor, não. — Eu soco o chão repetidas vezes, pouco me importando com a minha mão sobre a madeira, pouco em importando com a dor, com os meus gritos, com o que quer que seja.

— Susu, o que houve? — A Sahar pergunta sem entender nada, olhando para nós os três e enrugando as sobrancelhas, logo olhando para a televisão e tentando entender o que se passa lá, mas nem o que a repórter fala ela entende. — Aquela não é a casa da sitô (vovó)?  — E basta ouvir isso que eu ergo o rosto e sinto que se o meu coração fosse ser arrancado do meu peito, doeria menos.

— Não, habibi. Vem comigo. — A Zenah fala com o Noman no colo, subindo com os dois de forma desesperada, fazendo eu olhar as cenas na frente e ver que toda a vila da minha vó foi destruída, principalmente a mesquita que frequentávamos, a escola em que eu ia, o parque que…

— Não, por favor Allah (Deus). — Eu me ajoelho e ergo as mãos para cima, sentindo todo o meu peito tremer e não conseguindo respirar direito. — Por favor, eu imploro…. Por favor que eles não estivessem lá, por favor que… — E eles seguem mostrando mais cenas, fazendo eu erguer o olhar assustada quando vejo que o Kassem chega a jogar um dos vasos pela janela, deixando eu ver as lágrimas que caíam dos seus olhos.

Eu me ergo do sofá e me sinto sufocada. Me sinto simplesmente sem ar, sinto o nó na minha garganta aumentar, sinto a vontade de vomitar cada vez mais a beira, como se eu não fosse conseguir segurar os meus órgãos dentro do meu próprio organismo.

Sinto minha boca seca, junto com o tremor no meu corpo. Sinto a ânsia do vomito cada vez mais forte, como o suor que chega de forma mais pesada nas palmas de minhas mãos.

Eu estava lá.

Eu morava lá.

Eu poderia estar lá nesse momento. 

Poderia estar na casa da minha avó, tomando chá ou conversando com meus primos. Poderia estar visitando a Yasmin, poderia… Eu não consigo acreditar nisso, é algo simplesmente surreal.

Eu já passei por essa situação mais vezes do que eu possa sequer contar, mas o fato de acontecer assim de forma repentina. O fato de eles não terem ouvido o toque de recolher, o fato de muitos deles terem queimado até morrer, é algo simplesmente intolerável. É algo cortante, algo torturante. É doloroso demais saber que a minha melhor amiga está morta. É doloroso demais ver o meu povo nas ruínas, enquanto eu estou aqui e não posso fazer absolutamente nada de longe. É simplesmente sufocante ver essas cenas e saber que a maioria dessas pessoas eram nossos conhecidos. Nossos amigos, nossos parentes, nossos… Nossos “tudo”. É simplesmente inadmissível ver isso e não poder fazer nada, só chorar. 

— Soumaya… — O Kassem chama e eu nego para mim mesma, sabendo que se eu visse só mais uma cena que fosse, eu vomitaria. Pois isso tudo me traz lembranças, fazem flashes voltarem a minha memória. Flashes que eu rezei nunca mais ser assombrada por.

— Eu preciso sair, preciso de ar puro. — Eu falo apalpando minha barriga e sentindo que todo o meu corpo dói, sentindo uma dor que simplesmente me corta ainda mais.

— O Ahmad está falando. — Ele aponta para a televisão, fazendo eu arregalar aos olhos ao ver um dos antigos colegas do meu vizinho, o menino tem o que? 10 anos? — Olha o braço dele… — Ele fala passando a mão pela barba e eu sinto o meu lábio voltar a tremer de forma desigual. Sinto todo o meu corpo estranho, mas não de uma forma boa, mas sim daquela forma dolorosa que eu rezava para nunca mais mesmo acontecer.

A gente só quer paz, a gente só quer conseguir ter uma noite de sono. — Ele fala nervoso, mas melhora a postura e olha com seus olhos azuis de forma fiz para a câmera. — Meu nome é Ahmad, eu tenho 10 anos. Nesses 10 anos, eu aprendi que o certo é não nos apegarmos a ninguém aqui em Ghaza, porque aqui todos os que você conhece, correm o perigo de não estarem mais aqui amanhã. Em 10 anos, eu aprendi que o ódio existe e muito nesse mundo em que vivemos. Aprendi que muitas vezes, o dinheiro importa muito mais do que a vida de outras pessoas. Eu aprendi que não importa se você for rico ou pobre, se sua raça te determina um “terrorista” ou “ladrão”, é assim que as pessoas te verão. Eu acabei de perder minha mãe, à mais de 3 meses perdi meu pai e meus avós. Eu tenho três irmãos, os três mais novos do que eu. Os três que me perguntam para onde vamos, porque não temos mais casa. Esses mesmos três que choram sobre o corpo da nossa mãe, que até agora está jogada por baixo dos tijolos que da nossa casa explodiram. Eu estou aqui não pedindo ajuda, mas sim implorando. Eu sou uma criança, eu deveria estar jogando bola, indo para a escola, aproveitando a minha infância, mas ao invés disso, trabalho para conseguir ter o que comer, cuido dos meus irmãos para eles sobreviverem o dia de hoje. Então… — E ele não segura suas lágrimas, fazendo eu perceber a cena que o cerca, de diversas pessoas gritando cada vez mais e mais desesperadas. — No islamismo é pecado se matar, pois esse não é o propósito que Deus quer para nós nessa terra, mas se for para viver assim, não podemos mais seguir. Isso não se chama vida, isso se chama tortura, uma da qual nenhum de nós pediu para fazer parte. Uma tortura que nós não sabemos quando acaba, que não sabemos nem sequer se acaba. Então por favor, nos ajudem, porque nós mesmos, não temos pessoas para nos ajudar. — E com isso a imagem toda borra, mostrando que o sinal havia caído, o que faz o aperto no meu coração aumentar, imaginando uma bomba exatamente sobre a localização deles.

— Eu não posso… — Ponho a mão no peito e tento forçar minhas pernas, abrindo a porta de casa e não conseguindo nem falar nada, apenas saio de casa e começo a caminhar pelo condomínio, querendo ar puro, querendo sentir ele entrar nos meus pulmões, mas sabendo que parece bem impossível mesmo.

Sinto o celular no meu bolso tremer porque toca e eu ignoro, me sentando na calçada e pondo ambas as mãos sobre a minha cabeça, não conseguindo processar tudo o que está acontecendo.

Eu tive um dia bom, acordei preocupada com o Harry, mas depois que conversei com ele fiquei realmente mais calma, pensando que chegaria em casa e minha maior preocupação seria a roupa que eu vestiria para conhecer sua mãe e irmã, mas então, eu chego e me vem essa merda de notícia. Que droga de dia é esse? Como é possível que as noticias ruins sejam as que vem de forma mais rápida e pesada? Simplesmente…

— Khara! — Grito irritada, pegando a merda do meu celular que não para de tocar, mas quando vejo o nome do Harry é como se a minha vontade de chorar aumentasse mais ainda.

Eu desligo porque não quero o preocupar com a minha voz de choro, mas como sempre, ele é insistente e não desiste, me mandando diversas mensagens, principalmente avisando que estava vindo pois estava preocupado pelo fato de eu não estar atendendo o telefone e ele ter visto os últimos acontecimentos no noticiário.

Eu simplesmente levanto e respiro fundo, caminhando da forma mais rápida que consigo até a saída do meu condomínio, vendo seu carro vermelho dobrar a esquina de forma rápida e, basta isso, que eu já começo a soluçar de forma alta de novo.

Ele desce do carro e eu ponho o celular no bolso, correndo até ele e pondo meus braços na sua volta, sabendo que nesse instante, é ele o meu porto seguro.

— Shhh…. — Ele fala e eu não consigo, apenas aperto mais sua blusa e não me contenho, não fazendo nem a mínima questão de sequer tentar chorar de forma mais controlada ou não berrar, eu preciso de forma desesperada por isso para fora. Preciso que a minha dor vá embora, preciso que de alguma maneira eu me distraía e não pense nisso, mesmo que eu saiba que isso é mais do que impossível.

— Me tira daqui. — Eu falo isso, percebendo que ele me aperta e começa a dar diversos beijos na minha cabeça. — Harry, eu preciso sair daqui, eu não sei, estou me sentindo sufocada, simplesmente… — E eu me solto dele, mexendo as mãos de forma nervosa.

— Vem comigo. — Ele me puxa pela mão e entrelaça nossos dedos, vindo comigo até o carro e abrindo a porta do passageiro para mim, logo dando a volta e entrando.

Eu não me importo nem em por o cinto, simplesmente abro a janela e fico olhando pela mesma, fechando os olhos e tentando pensar no que quer que seja, mas menos no fato de eu não saber se meus avós estão bem, meus tios ou primos.

— Susu… — Ele chama e põem a mão na minha coxa para me acordar, mas eu fecho os olhos e ponho minha mão sobre a dele, mordendo o lábio nervosa.

— Harry, eu me sinto culpada. Eu deveria estar lá, a… A minha melhor amiga foi morta, e eu não falava com ela à semanas. Você tem noção do que é isso? Você sequer consegue processar tudo o que está acontecendo agora? Pois juro que na minha mente, absolutamente nada faz sentido. — Eu falo e ele nega, apertando mais ainda a minha coxa.

— Susu, você tem que por em mente que você estando lá ou não, não mudaria absolutamente nada do que aconteceu. Você estar lá ou não, não impediria essas mortes de ocorrerem, não impediria que essas tragédias  se formassem. A única coisa que mudaria seria a minha dor, porque nunca que eu ia aguentar te perder. — Ele fala e olha de relance para mim, fixando o olhar nos meus olhos castanhos. — Eu sei que isso pode soar como algo vindo de alguém insensível, mas quando vi as cenas, eu agradeci a Deus por ter você aqui comigo, e não lá. — E isso só faz com que eu chore mais.

— Harry… Ninguém lá merecia morrer, todos eram pessoas do bem. Assim como você se preocupa comigo, tem pessoas que se preocupam com eles. Meus avós nem sequer… — E eu suspiro, mordendo o lábio e fechando os olhos, erguendo minha mão da sua e começando novamente a rezar, simplesmente repetindo diversas vezes as mesmas palavras, querendo que de alguma forma, chegam à Deus.

— Chegamos. — Ele fala e abro os olhos, dando de cara com uma enorme casa, extremamente detalhada e com uma grandiosidade enorme.

— Harry, eu quero conhecer elas, mas agora eu não…

— Elas não estão em casa agora, não tem ninguém. Eu quero que você se sinta bem, eu tenho um quintal que eu acho que você vai gostar de ficar um pouco e refletir. É um dos meus lugares favoritos. — Ele fala desligando o carro com pressa e descendo, dando a volta e abrindo a porta do carro para mim, novamente entrelaçando os nossos dedos para me levar com ele.

Eu me sinto fraca, me sinto alguém inútil, e acho que é isso que a cada vez mais acaba comigo.

— Eu prometo que dá próxima te apresento melhor a casa toda, mas vem comigo para o quintal primeiro. — Ele fala e eu concordo, diminuindo a crise de choro e ouvindo o meu celular tocar, com a mão livre o pego e vejo o número da minha mãe, mas apenas dessa vez desligo o celular por completo, não querendo falar com ninguém, pelo menos ninguém que não seja ele.

— Eu entendo agora. — Falo me referindo ao porquê de ele gostar tanto desse local, pois basta eu olhar para a grama verde, a piscina com uma leve cachoeira, e os bancos de couro perto do balanço, que eu vejo como um lugar calmo.

— Aquele balanço ali salta vidas. — Ele aponta meio nervoso, fazendo eu notar uma vermelhidão em seus olhos.

— Harry, você está chorando? — Eu questiono e ele se senta no balanço que mais era uma cama, fazendo eu me sentar bem próxima à ele. Percebo que ele fica mais do que sem jeito, mas morde o lábio e concorda.

— Eu não gosto de te ver chorando assim, parte o meu coração. Então não chora mais na minha frente, porque se fizer isso, eu vou seguir parecendo um bebê e chorando com você, habibi. — Ele fala todo sem jeito e passa a mão pelo cabelo, fazendo o meu coração se aquecer, mas ao mesmo tempo se quebrar.

Eu o encaro no fundo dos olhos e percebo que ele não brinca, pois só de notar o quão marejados ambos estão, eu repasso tudo na minha mente.

As coisas não deveriam ser assim, ele… Ele é só meu amigo, mas por que diabos eu não consigo ficar longe dele? Como ele é a pessoa que eu mais confio aqui? Como ele é aquele que mais entende e o que mais sofre comigo? Eu sinto que estou fazendo algo errado aqui, mas não por estar com ele, mas por me dar conta dos meus verdadeiros sentimentos e mesmo assim permanecer. Mesmo assim ser egoísta o suficiente para ficar e querer o ter por perto.

Ele me conhece, me respeita, e sei que ele jamais me permitiria passar os meus limites. Sei que ele não se sente dessa maneira em relação à mim, mas basta eu ver o seu rosto, que eu fico com borboletas no estômago. Basta ouvir sua voz, que o formigamento no meu corpo aumenta. E isso é o que é errado, isso é o que eu sempre tentei evitar e vou seguir tentando, mas se isso não é amor, o que é?

Eu sei que no fundo deve ser pela forma que ele me trata, pela pessoa que ele é, mas ele é meu amigo, o melhor deles, mas absolutamente nada mais do que isso.

— Susu… — Ele chama para me acordar do meu transe e eu suspiro nervosa, tirando o celular do bolso e pondo sobre a pequena mesa ao lado desse balanço enorme do seu quintal.

— Harry, será que a gente pode só ficar em silêncio? Será que a gente pode só ficar com a companhia um do outro, mas não falar nada? — Eu questiono com essa dor enorme no estômago e ele concorda, se deitando no balanço e fazendo eu levantar para que ele possa esticar as pernas.

— Vem aqui. — Ele estica a mão e eu sei que é errado, eu sei que não devo, e mais do que isso, sei que ele mesmo sabe que eu não devo. Mas por que eu sinto que com ele aqui, eu tenho paz? Por que eu sinto que estou no lugar certo, com a pessoa certa? Por que ele consegue fazer com que a minha dor diminua de forma exagerada? Eu simplesmente não entendo como uma pessoa só pode me passar tantos sentimentos. Não entendo como alguém com intenções tão puras pode provocar algo de tão errado dentro de mim. Mas não, mesmo se eu for cometer o errado aqui, eu não vou pecar. Essa não sou eu.

Eu estou aqui em um momento de fraqueza, eu tenho plena noção de que ele jamais irá tirar proveito de mim nessa situação, então… Então eu concordo e me sento sobre o seu colo, deitando sobre ele e sentindo seu braço circular a minha cintura.

Encosto minha cabeça em seu peito grande e juro que o som do seu coração batendo, se torna um dos meus favoritos. Seu toque no meu corpo, me traz tranquilidade. Assim como o carinho que ele faz em mim, me aquece por dentro.

Eu sinto seu aperto sobre mim aumentar, assim como o lacrimejar nos meus olhos, fazendo eu derramar as primeiras lágrimas e manchar sua camisa de tom azul claro, vendo que ele percebe e respeita meu desejo, de ficar calado e apenas me confortar. De respeitar minha dor em silêncio e apenas se mostrar aqui para mim.

— Harry? — Eu chamo ao sentir um pingo de água ser derramado contra a minha testa, então ergo o olhar e percebo que ele está com os olhos fechados, mordendo o lábio e negando para ele mesmo.

— Isso tudo, te ver chorar e… — Sua voz rouca falha, logo ele abre os olhos e me encara. — Susu, o pensamento de te perder está passando pela minha mente. O pensamento de você voltar até lá e…

— Harry, eu estou aqui. — Eu me inclino para cima e apalpo seu rosto, secando sua lágrima e percebendo a intimidade que os nossos olhares compartilham agora.

— Me prometa que não vai voltar até a situação melhorar, que não vai me deixar. — E isso sim me pega de forma repentina e surpresa, me quebrando mais ainda.

— Harry…

— Soumaya, eu imploro. Promete que vai ficar aqui, que… — E agora quem chora desesperado é ele. — Eu não quero que o que aconteceu com a sua família aconteça com você, eu juro que faço o que for para te manter segura, mas você não pode voltar. Eu não sei o que faria se visse algo assim e não conseguisse falar com você, se não tivesse como saber se você está viva ou… Ou… — Ele fecha os olhos nervoso, então eu acariciando novamente o seu rosto, fazendo ele me olhar de forma fixa.

— Prometo. — Eu falo pondo os braços na volta do seu pescoço e lhe dando um beijo na bochecha de forma nervosa, sentido o aperto dele na minha cintura maior ainda.

E após isso tudo, eu tenho noção de que eu realmente prometi isso, pois estou em um momento da minha vida que para eu ter paz e felicidade, eu preciso dele. Eu estou em um momento da minha vida onde a minha ficha está começando a cair. Estou em um momento onde percebo que o meu porto seguro, tem nome. E se chama Harry Styles.

Continua...


Notas Finais


Gente, para tudo... O que é ele chorando por ela? Ele sentindo a dor dela?
Cara, eu juro que esse final era algo que não tava nem na minha mente, mas pela essência dos personagens, foi algo que saiu naturalmente.
Eu senti a dor da família da susu, e sabem qual a pior parte? Saber que essa é a realidade de muitas pessoas mesmo. Que a guerra existe e está lá no mundo, isso enquanto nós estamos aqui e diversas vezes não podemos fazer nada.
Eu espero que tenham gostado, mas além disso, espero ter conseguido passar as sensações em geral para vocês, porque eu gostei muito de escrever esse cap!
Até o próximo, prometo tentar postar mais rápido! <3


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