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História Tempus Fugit - Maldição


Escrita por: adolf0 e @3tangfei

Capítulo 3 - Maldição


Trinta e tantos minutos se passaram desde que Ino iniciara seu jutsu Saiko Denshin. Parada de frente para o suposto Hyuuga, ela mantinha uma das mãos sobre sua testa enquanto explorava de forma irrefreada sua mente e lembranças. Os outro cinco shinobis presentes, incluindo o Hokage, permaneceram com o olhar fixo em ambos, repletos de expectativas.

Naruto apertou mais o enlace de seu braço nos ombros da esposa, em um abraço lateral. Hinata estava visivelmente apreensiva e, mesmo que tentasse bravamente se conter, uma lágrima ou outra escapava por seus olhos. Tenten manteve-se apoiada na parede, logo ao lado da porta, observando silenciosamente a Yamanaka proceder com seu jutsu, enquanto Shikamaru e Sai trocavam uma ou outra palavra sobre o assunto, ainda sondando o mistério à frente.

Ino abriu os olhos e findou o contato de seus dedos com a pele fria do Hyuuga, dando uma última olhada na figura do que parecia ser os resquícios do shinobi genial que conhecera um dia. A loira suspirou, não conseguindo evitar o sentimento de pena que se alastrou por seus nervos. Ela então voltou-se para o Hokage, que prontamente demonstrou estar com toda sua atenção direcionada à kunoichi.

— As memórias dele se interrompem na hora da morte e retornam subitamente no momento em que ele abriu os olhos e estava em frente aos portões de Konoha. — A loira disse categórica. — A não ser que estejamos de cara com algum novo jutsu, as chances de ser um impostor, na minha opinião, são quase nulas.

— Poderia ser um selo? — Sai sugeriu, levando uma das mãos ao queixo, pensativo. — Algo como o selo amaldiçoado da fundação?

A Yamanaka meneou negativamente a cabeça, cruzando os braços em frente ao peito.

— Se houvesse algum selo de supressão de memórias, ficariam rastros. — Afirmou, concreta de suas palavras. — As lembranças simplesmente param e retornam, eu nunca vi nada assim antes. E os pensamentos desde o momento em que ele se encontrou com o Konohamaru são todos entre negação e confusão, como os nossos.

Ino virou ligeiramente o rosto para o Hyuuga, ainda consternada com a situação. Todos ali tinham motivos para estarem ressabiados com sua aparição, afinal sua morte fora traumática para pelo menos três das seis pessoas presentes. E ninguém, absolutamente ninguém, desejava que houvesse um impostor se passando por Neji, independente das motivações.

— Em um outro momento, podemos tentar acessar mais o subconsciente dele e procurar alguma pista do que aconteceu. Agora seria arriscado, ele está esgotado. — Ino prosseguiu, voltando a encarar os amigos. — Sei que é difícil acreditar, mas esse parece ser mesmo o Neji.

Alguns segundos de silêncio se seguiram, sendo quebrado apenas pelos suspiros de Hinata, que tentava estancar o choro. Ela soltou-se dos braços do marido, deixando as pernas guiarem-na em direção ao primo, entregando-se às lágrimas que escorriam copiosamente por sua face, ajudando a aliviar a pressão no peito. Ajoelhou-se em frente à cadeira onde Neji permanecia imóvel e adiantou-se em um abraço apertado, repleto de saudades.

Surpreso com a atitude da Uzumaki, o moreno instintivamente deixou que os braços enfraquecidos retribuíssem o gesto, em gratidão genuína. Sua confusão era tal que também se permitiu libertar da angústia, que sentia desde que abrira os olhos, deixando que grossas lágrimas marejassem por seus olhos perolados.

Enquanto abraçado com a prima, percebeu a ex-colega de time, que ainda o encarava tão surpresa quanto qualquer um ali dentro. Assim que seus olhares se encontraram, a kunoichi virou-se bruscamente em direção à saída.

Neji sentiu então as forças esvaindo-se gradativamente, fazendo sua visão embaçar pela combinação do cansaço com o choro. Logo que escutou o ruído da porta sendo fechada com rispidez por uma perturbada Tenten, seus olhos involuntariamente se fecharam e tudo o que viu fora a escuridão.

 

Envolto na escuridão da própria mente, Neji se questionou a veracidade de suas novas lembranças, deixando-se crer que, talvez, tudo se resumia a um sonho. A morte era misteriosa mesmo para ele, um irrevogável desencarnado; general das próprias doutrinas, ela talvez estivesse apenas divertindo-se às suas custas. Sentiu-se suspirar, frustrado. Segundas chances pareciam improváveis, em sua atual situação.

 

— … Ele está com baixos níveis de chakra e os exames indicam desidratação.

 

O Hyuuga viu-se dragado por uma voz que parecia vir do fundo de sua mente, trazendo-o de volta ao foco da realidade. Subitamente passou a sentir o peso do próprio corpo, fadigado e dolorido demais para que pudesse se mover facilmente. A voz passou a soar gradativamente com mais clareza, auxiliando-o no processo de despertar.

— Mas, fisicamente, parece tudo bem.

— Você não achou nada de anormal no corpo dele, Sakura-chan? — Desta vez, tinha certeza de que o timbre pertencia a Naruto; que parecia muito menos enfezado do que da última vez que o escutou. — Algo que explique isso?

— Não, Naruto. — Sakura entesou em meio a uma expiração pesada. — Nada que possa indicar que ele é um clone ou algo parecido. As amostras de sangue que coletamos batem com o banco de dados de DNA da Folha.

— Então… — A voz hesitante de Hinata soou.

— Meu posicionamento é igual ao da Ino. — A médica-nin afirmou, séria. — Parece impossível, mas contra esse fato não há um argumento. O que precisamos fazer agora é deixá-lo descansar e, então, tentar investigar o que aconteceu.

Naruto manteve a expressão descrente, olhando fixamente para a figura imóvel de Neji, que aparentemente dormia profundamente. Um dia se passou desde seu desmaio e, após ser levado ao hospital da Folha e ser submetido, sob a supervisão de Sakura, a uma bateria de exames, não havia nada mais que pudessem fazer, na opinião da médica. A de cabelos rosados colocou uma das mãos sobre o ombro de sua amiga, em um afago de empatia, enquanto virava-se para o ex-colega de time.

— Naruto, não é como se um demônio fosse pular do estômago dele. — Disse, sabendo que alguém ali teria de manter a compostura. — Se não está sendo fácil para nós, imagina para o Neji. Algo aconteceu e, independente do que tenha sido, você sabe o que o espera.

O loiro suspirou, cansado.

Aquela situação toda estava mexendo demais com sua família. Não era como se não fosse ficar absurdamente feliz se Neji pudesse realmente voltar ao seu convívio, mas ele sabia que aquilo não estava correto. O Hyuuga estava morto, morrera para proteger a ele e Hinata na Quarta Guerra. Em seus trinta e dois anos, viu muitas coisas e poucas o marcaram tão tristemente como aquele momento.

Agora ele estava lá, sem explicação, vivo.

Naruto levou uma das mãos ao cabelo, bagunçando nervosamente os fios. A esposa moveu-se para o seu lado, tocando-lhe na mão enfaixada.

— Naruto-kun…

— Naruto.

Os três torceram a expressão em surpresa, escutando uma voz baixa pronunciar fracamente o nome do Hokage. Ao mesmo tempo, aproximaram-se do leito onde Neji permanecia deitado, preso aos medicamentos inseridos via venosa e ao monitor que acompanhava seus batimentos cardíacos. Hinata alcançou a mão do primo, apertando-a entre os dedos, ansiosa por escutá-lo falar ainda mais.

— Neji-nii-san…

Neji piscou lentamente, movendo os olhos para a prima e então para o loiro. Hinata agora tinha os cabelos curtos, concedendo-na aparência mais madura. Era estranho também ver Naruto com o cabelo cortado tão rente, diferente dos fios sempre rebeldes de quando era um adolescente. O tempo havia passado, não tinha dúvidas. Sem precisar se esforçar, um sorriso tomou seus lábios.

— Esse perdedor está cuidando bem de você, Hinata-sama? — Indagou, com a voz falhando entre uma palavra ou outra.

Naruto cruzou os braços, franzindo o cenho, ao passo que a morena sorria e balançava afirmativamente a cabeça.

— Tsc. — O loiro estalou a língua, deixando um meio sorriso retorcer o canto de seus lábios. Não queria se entregar à esperança de aquele ser mesmo Hyuuga Neji, mas aquele era o tipo de situação gatilho que o fazia baixar a guarda instantaneamente. — Você veio só para me fiscalizar, ou algo assim?

— Precisava ter certeza.

Sakura sorriu de leve, observando o casal iniciar um contato inicial com o recém-desperto Hyuuga; mesmo Naruto, que forçava uma rabugentice não comum à ele, ia relaxando aos poucos a expressão, observando com minúcia àquele que parecia ser o reencarne de seu amigo. Aquele era o momento em que, possivelmente, quase todos sonharam um dia presenciar, mas que parecia distante demais da realidade. Quantas pessoas desejam uma segunda chance?

Dando uma última olhada nos três, a médica resolveu deixar o quarto silenciosamente.

Eles tinham muito ainda o que conversar.

A manhã do quarto dia iniciou quente e com o céu livre de nuvens, dando indícios dos primeiros sinais de uma primavera que prometia ser florida. O paciente do quarto dez observava calmamente os primeiros raios de sol atravessar o vidro da janela, refletindo as partículas suspensas no ar. Fisicamente, sentia-se revigorado graças aos medicamentos trazidos por Sakura; sua mente, porém, ainda dava voltas na confusão daquela nova realidade.

Quinze anos se passaram desde sua última lembrança; tudo era diferente, sua Vila, seus amigos e familiares. Ele mesmo havia mudado, estava alguns centímetros mais alto e os traços do rosto pareciam amadurecidos. A sensação era péssima, sentia-se perdido no tempo e no passado. Mesmo com a aparente aceitação de Naruto, sentia-se um impostor, uma pessoa fora de onde era o seu lugar.

Neji suspirou frustrado, passando nervosamente os dedos pelos fios longos de seus cabelos. Logo Hinata apareceria por ali, como fizera nos dias anteriores. A prima se mostrou dedicada, passando o máximo de tempo que conseguia ao seu lado, contando-lhe detalhes do que acontecera nos últimos quinze anos. Muita coisa havia mudado e mesmo que não tivesse ficado surpreso com o matrimônio da Hyuuga com o Uzumaki, foi estranho descobrir que já tinham dois filhos.

No dia anterior, Hinata levou os dois para que o conhecessem. Não conseguia definir em palavras o que sentiu ao ver Boruto e a pequena Himawari, que eram a mistura perfeita do sangue de Naruto com o de Hinata. O primogênito lhe pareceu um moleque mimado e extremamente energético, era mesmo a cópia do pai - mesmo que se recusasse a aceitar o fato.

Himawari, por sua vez, era a criatura mais dócil que conheceu na vida. Logo que entrou no quarto, a menina correu diretamente em sua direção, jogando-se sobre a cama e presenteando-lhe com um abraço apertado. Desde que abriu os olhos em frente aos portões de Konoha, aquela foi sem dúvidas a melhor sensação que teve. A paz que a criança lhe passou em um ato tão simples, o contagiou e relaxou suas tensões momentaneamente.

Os amigos da época da academia o visitavam com certa constância, tentando visivelmente deixar de lado a parte estranha da coisa e focar no fato de que estava vivo e que isso era algo para se comemorar. Na verdade, pareciam todos receosos de comentar o que era para estar morto. Ino e Sakura eram as únicas que tratavam o assunto com naturalidade, tentando o ajudar a resgatar o que possivelmente pudesse ter acontecido para que houvesse misteriosamente retornado. Apesar de ainda não ter repetido qualquer sessão com os jutsus mentais da Yamanaka, ela sondava a melhor forma de fazê-lo e obter resultados em breve.

Um pequeno passarinho pousou no parapeito da janela, trazendo para seus ouvidos a melodia da natureza e tirando rapidamente o foco de seus pensamentos. O tempo seguia uma linha interminável que os levava ao infinito, duvidava piamente que um dia fosse conseguir fazer parte daquela nova realidade. Apesar dos esforços de seus amigos, Neji tinha dentro de si a sensação de que não somente era um impostor naquele mundo, mas de que, mesmo que seu retorno tenha sido para valer, jamais faria parte dele de novo.

Os feirantes do centro da Vila, que eram provavelmente os primeiros a acordar, começavam a aparecer caminhando nas calçadas, distraídos com suas próprias rotinas. Viu ao longe alguns rostos conhecidos, pessoas com as quais não tivera convivência antes, mas que de alguma maneira fizeram parte do mesmo universo que ele. Inspirou fundo, lembrando-se de que as pessoas que acreditava serem as primeiras a visitá-lo, não estiveram ali. Lee estava em uma missão no País do Vento, não tinha ainda notícias sobre seu misterioso retorno. Tenten, por sua vez, não via desde o breve momento dentro do prédio do Departamento de Inteligência.

Talvez ela nunca tivesse o perdoado por ter se sacrificado por Naruto, quebrando a promessa que fizeram secretamente antes do início da guerra. Apertando fortemente as pálpebras, recordou-se de uma das últimas vezes que estivera em companhia da ex-colega de time, na noite anterior a que seguiram direto para o campo de batalha. Aquela fora a noite que tomara a decisão mais impulsiva de sua vida: a de declarar à ela o que não mais conseguia conter dentro de si. Naquele dia, se amaram e prometeram que seriam fortes e escapariam da guerra, para finalmente viver os laços que os uniam.

Neji suspirou, quinze anos era muito tempo. Tenten provavelmente seguira com sua vida, como todos o fizeram. Não poderia a condenar por isso, não seria estúpido ao ponto. Contudo, o magoava intimamente a ausência daquela que ansiava tanto rever. Antes de tê-la amado como mulher, a amou como amiga, companheira. Seus olhos castanhos o olhando naquela mistura de descrença e mágoa o perseguiam ainda, lembrando-lhe que não fazia mais parte de sua vida.

Deu-se conta de que o que muitos poderiam enxergar como milagre, para ele não passava de uma maldição.

Talvez fosse melhor fugir, deixar para trás o mundo em que ele mesmo ficara no passado.

Porém, antes de sequer dar um passo para longe dali, tinha algo que precisava fazer.

 

Com o cotovelo apoiado no balcão mostruário de sua loja de armas, Tenten observava entediada os ponteiros do relógio naquele tic-tac incessante. Suspirou, o tempo podia ser impiedoso às vezes. Os tempos eram mesmo outros, com a paz conseguida à muito custo, sua loja vivia quase sempre às moscas, com exceção de uns poucos amantes de armas que apareciam vez ou outra atrás de alguma novidade. Mas eram quase todos colecionadores, infelizmente.

Alcançou uma xícara de chá atrás do balcão, levando-a à boca e aproveitando o gosto adocicado do mel com gengibre. Seus olhos caíram sobre o porta-retrato, que repousava logo ao lado de onde colocou a xícara. Um sorriso melancólico tomou os lábios ao fitar o extinto time nove.

Sua atenção fora tomada assim que escutou o sininho da porta soar, indicando a entrada de um cliente. Forjando um sorriso, ela retornou o olhar à entrada, desejando boas vindas a quem quer que fosse.

— Você sempre ficou bem com o cabelo solto.

Tenten estreitou o olhar para o homem que entrava em sua loja.

— O que você faz aqui? — Perguntou, arisca.

Neji manteve o olhar imparcial, não julgando a amiga por sua atitude ríspida.

— Visitá-la.

— Eu não sei quem é você e por que caralhos está se passando pelo Neji — Ralhou, cruzando os braços em frente ao corpo para frear a vontade de jogar uma kunai na testa do impostor. — Mas saia daqui antes que eu cometa um homicídio.

O Hyuuga suspirou, desviando seu olhar do dela rapidamente.

Pior que voltar à vida, era ter a desconfiança da pessoa que mais lhe importava.

— Eu não sei o que aconteceu e não pedi por isso. — Disse, sabendo que direito nenhum lhe restara além da sinceridade. — Mas, sou eu. E eu vim me despedir.

Tenten franziu o cenho, confusa.

— Despedir?

— Entendo que não faço mais parte daqui, por favor não fale para a Hinata-sama que fugi. — Pediu, sabendo que Hinata iria procurá-lo até depois do final do mundo. Preferia que ela achasse que aquilo tudo fora algum tipo de feitiço temporário, que findou junto de sua nova vida. — Eu não podia ir sem te pedir desculpas, Tenten.

— Do que você está falando? — A kunoichi questionou, lutando contra o formigamento nas maçãs do rosto e o nó que se formava em sua garganta.

Neji baixou ligeiramente o rosto, sentindo-se intimamente triste pela situação. Ao menos, no meio de toda aquela confusão, estava tendo a oportunidade de falar o que gostaria de ter dito quinze anos antes.

— Por ter morrido e quebrado nossa promessa.

A morena entreabriu os lábios, deixando uma única lágrima escapar de seu olho esquerdo.

A porta atrás do balcão, que dava acesso a casa anexa a loja, abriu abruptamente, assustando Tenten e chamando a atenção do Hyuuga.

O rosto de uma adolescente apareceu, alheia ao que acontecia.

— Mãe, você viu minha bandana?

Neji viu o rosto de Tenten perder subitamente a cor e desviou os olhos para a menina que ainda não havia notado sua presença. Os cabelos castanhos e longos estavam preso em uma trança lateral, emoldurando a face de traços suaves. Os olhos se moveram de encontro aos seus, finalmente percebendo que havia mais alguém ali além de Tenten, e, para sua surpresa, eram de uma peculiar tonalidade.

A menina franziu instantaneamente o cenho, olhando dele para a kunoichi e então para ele de novo. Antes que Neji pudesse tecer qualquer pensamento à respeito da adolescente em sua frente, ela adiantou-se, visivelmente surpresa:

— Pai?!


Notas Finais


Quem me conhece, sabe que eu sou nada sem um drama familiar básico kkkk.


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