Sakura
– Então eu só preciso me desculpar com ela para você voltar?
– Não é simplesmente se desculpar, precisa ser verdadeiro, Sasuke. Se desculpará porque se arrependeu, eu voltar para o quarto será um brinde. – Dou um sorrisinho e vejo a expressão de Sasuke pensativa.
– Você sabe onde ela mora?
Puxo na memória o local que Ino me contou que morava há um tempo atrás e me surpreendo por lembrar. Ela havia comentado apenas uma vez e pediu que eu fosse com ela algum dia visitar sua mãe. Esse dia nunca chegou, eu fui embora e Ino também, mesmo que contra sua vontade.
– Sim, vamos agora.
***
– É aqui. – Falo apontado para a casa a minha frente.
A casa é pequena e simples. A fachada era amarela, mas boa parte da tinta havia saído com os anos. As telhas e todo o jardim de entrada estavam velhos e maltratados. A casa era completamente sem vida.
– É crime dizer que isso aqui é uma casa, Sakura. – Sasuke diz atrás de mim.
– A minha antiga era pior. – Digo e subo os dois degraus que dão em direção a porta de entrada.
A casa está em completo silêncio, como se não estivesse ninguém ali, mas eu sei que Ino está.
Bato na porta e nada. Bato novamente e nada. Então lembro-me do código do bairro. Ino morava no mesmo bairro que eu morava, só que minha casa era no lado oposto ao dela. O bairro era comandado por duas gangues rivais. Algumas vezes no dia, um dos representantes das gangues iam até casas alheias tomar posse de qualquer coisa. A menos que você finja não estar, eles não entrariam. Era motivo de orgulho ver a decepção nos olhos das vítimas em ver seus pertences levados por drogados cafajestes.
Resolvo então gritar por Ino, ela reconheceria minha voz e abriria a porta sem hesitar.
– INO! SOU EU, INO! SAKURA! – Grito contra a porta e escuto passos dentro da casa.
Alguns segundos depois, a porta é destrancada e sou puxada para dentro por uma pequena fresta. Seguro o braço de Sasuke o puxando comigo.
– Ninguém te viu, né? – Ela pergunta aflita, nem percebendo a presença de Sasuke ali.
– Não, eu não sou tão descuidada assim. – Respondo.
Ino suspira aliviada e então percebe Sasuke.
– Ah... Olá, senhor Uchiha. – Ela diz insegura.
Sasuke pisca.
– Sasuke. Me chame de Sasuke.
Ino assente em positivo e então me encara, sua testa franze e seu rosto toma uma expressão confusa.
– Você sumiu. Ai meu Deus, para onde você foi, Sakura? Porque sumiu daquele jeito? – Ela olha para baixo e percebe minha barriga redonda. – Meu Jesus Cristo, você está grávida?
A expressão de choque em seu rosto me faz rir.
– Sim, irei completar seis meses. – Respondo e me divirto com sua expressão.
– Mas você sumiu só tem cinco meses. – Percebo ela fazendo as contas na cabeça.
– Sim, eu fugi grávida. – Sinto Sasuke bufar atrás de mim e faço um gesto para Ino encerrar o assunto. – Não viemos aqui por causa de mim, mas sim por causa dele.
Dou um passo para trás, deixando Sasuke exposto. O empurro com o corpo para que ele fale o motivo da sua vinda até aqui. Ele suspira.
– Eu queria te dizer umas coisas. – Ele começa.
– Ah, desculpe senhor... – Ela interrompe quando lembra que é para trata-lo informalmente. – Sasuke. Eu realmente não quero mais ouvir como sou culpada pela fuga de Sakura.
– Ino, escute, por favor. – Peço.
Ela me observa hesitante, mas reconsidera minhas palavras.
– Está bem.
Sasuke suspira novamente e retoma sua fala.
– Eu queria te pedir desculpas pelas coisas que falei e acusei você. Errei em descontar minha dor em você e te acusar de coisas que eu não tinha certeza. Eu errei, reconheço meu erro e estou aqui para pedir o seu perdão.
Ino arregala os olhos em espanto e sorrio orgulhosa de Sasuke.
– Sei o como você é importante para Saky. E quando ela descobriu o que fiz com você, ela quase acabou com a minha vida. – Assinto concordando com ele. – Eu fui egoísta. Eu assumo meu erro e desejo consertá-lo.
Sasuke observa Ino silenciosamente. Percebo como seu rosto está mais leve. Presumo que a culpa por ter expulsado Ino sem motivos, também era um fator que o degradou nesses meses. Agora que de certa forma tudo se resolveu, ele pôde se livrar de um peso e seu rosto demonstra isso claramente. Pego sua mão na minha e a aperto, ele vira um pouco seu rosto, apenas o suficiente para me olhar de canto de olho. Sorrio e aperto sua mão novamente.
Ele entende o que eu quis dizer e sorri levemente, mas volta a observar Ino, aguardando sua resposta.
– Eu realmente não pensava que você viesse até aqui se desculpar, mas confesso que estou feliz por o ter feito. – Ela sorri docilmente. – Eu aceito suas desculpas, Sasuke. De certa forma eu entendo seus motivos, mas eu também não entendo os motivos de Sakura. – Dessa vez ela me encara e Sasuke se vira também.
Engulo em seco. Aqui não é o momento para contar tudo. Não agora.
– Eu não sou a pauta de hoje, certo? Quando eu achar que é o momento certo, eu direi. – Solto a mão de Sasuke. Eu não quero que ele sinta meu nervosismo.
Ando pela sala, observando a arquitetura precária e simplória da casa.
– Ino, sua mãe está aqui? – Pergunto, observando uma mancha de mofo no canto inferior do teto. Ali tem infiltração, mas como nunca foi tratada, mofou.
Ino pigarreia, talvez incomodada com a minha observação em sua casa, ou por eu ter tocado no assunto na frente do Sasuke. Talvez seja as duas coisas.
– Ah, não. Ficou complicado cuidar dela e procurar emprego ao mesmo tempo. Eu não poderia deixa-la sozinha e eu já não tinha dinheiro para pagar a enfermeira. – Noto que ela olha para Sasuke sorrateiramente.
– Entendo. – Sasuke engole em seco e mantém seus olhos em mim.
Continuo caminhando pela sala e observando tudo.
– E onde ela está?
– Em uma clínica. Consegui um trabalho de meio período em uma lanchonete. O salário é baixo, mas é o suficiente para pagar a clínica que minha mãe está. – Ela me mostra seu sorriso orgulhoso, mas eu sei que é falso. Então eu percebo como Ino está magra, muito mais magra. Não é um corpo magro que inspira saúde e cuidados. É uma magreza esquelética, onde é perceptível que a saúde é inexistente.
– Ino, você está comendo? – Dessa vez Sasuke a olha também e ele percebe como ela está magra. Ela deve ter perdido uns 10 quilos, no mínimo.
Ela pigarreia.
– Sim, a lanchonete é bem generosa nessa parte. Eu posso comer todas as sobras dos clientes sem pagar nada, já que iam para o lixo mesmo.
– Você come sobras de pessoas que você nem ao menos sabe o que fizeram antes? – Sasuke pergunta e vejo seu rosto estampando o absurdo.
Ino se encolhe, como se estivesse sido exposta ao mundo da pior forma possível.
Ela não fala, apenas assente em afirmação. Sasuke exaspera e passa a mão pelos cabelos, um claro sinal de que está irritado e puto.
– Ino, arruma suas coisas. – Digo, concluindo.
– E por quê? – Ela pergunta confusa.
– Porque você vai voltar para minha casa agora. – Sasuke conclui e sai da casa dela, batendo a porta atrás de si. ino assusta com o ato e seu corpo treme com o baque.
– Por que ele está tão bravo? – Sua testa franze e sua voz é baixa, quase um sussurro.
Acaricio minha barriga.
– Porquê de certa forma foi ele que te colocou nessa situação. Então a melhor forma de consertar, é cuidar de você. – Respondo calmamente e estendo minha mão. – Vem, vamos arrumar suas coisas e sair logo daqui.
– Tudo bem. – Ela responde e pega minha mão.
Ino não tinha muitas coisas para serem arrumadas. Para falar a verdade, suas roupas e pertences pessoais couberam em uma mala média. Exatamente tudo. Mordo meu lábio e saímos da casa. Sasuke nos espera dentro do carro, os olhos fechados e o dedo polegar e indicador apertando a ponte do nariz, como se buscasse por paciência ou algo do gênero. Vou até o lado do motorista e beijo sua bochecha, despertando-o dos seus pensamentos.
– Ah, já podemos ir? – Ele pergunta, procurando por Ino.
– Sim, só abra o porta-malas.
Ele aperta um botão do painel do carro e vejo a porta subir em liberdade.
Ino coloca sua mala no porta-malas e entra no carro, se sentando no banco de trás. Entro e sento ao lado de Sasuke.
A viagem de volta é silenciosa, percebo como Sasuke está chateado com a situação em que ele colocou Ino. E Ino, bem, ela está chateada em ter dito como dependia do salário que Sasuke pagava e até sua casa.
– Seu quarto ainda é o mesmo. Suba, tome um banho e pedirei para Tsunade fazer algo para você. – Digo assim que Sasuke estaciona o carro em frente à porta de entrada do hall.
Ela assente e sai do carro, Sasuke já havia aberto o porta-malas e Kakashi já havia pegado a mala de Ino. Quando percebe que era ela, ele sorri e a abraça, Ino retribui e ele a ajuda a levar a mala para dentro da mansão. Ponho minha mão sobre a de Sasuke.
– Ela passou fome por minha causa. – Ele finalmente diz e fecha os olhos. Observo a grama verde no jardim e as flores, segundos depois, o irrigador automático é disparado, jorrando água por toda a grama.
– Você não fez de propósito, Sasuke. Não se culpe. Você não tinha como saber. – Aperto sua mão e ele estremece. – Não se culpe por isso, certo? Apenas faça o que acredita que deve fazer.
– Pagar pela melhor clínica para a mãe dela e dar um salário enorme?
Solto uma risada, apenas um pigarreio como se Sasuke fosse inocente e ignorante demais nesse ponto.
– Dinheiro não é tudo, meu amor. Seria bom que fizesse isso, claro. Mas você acha que estaria se redimindo realmente com ela?
Ele não responde, apenas observa o irrigador molhar as plantas e dar a elas o suporte que precisam para crescer fortes e saudáveis.
– Ino precisa de ajuda para conseguir seguir em frente e andar sozinha se um dia precisar. Você sabe o que eu estou querendo dizer, você saberá o que fazer. – Sorrio e solto sua mão, me virando para sair do carro. – Bem, agora eu tenho uma mudança de quarto para fazer. – Sorrio abertamente e vejo-o sorri também.
– Mal vejo a hora de te ver lá novamente. – Ele diz e beija meu pescoço, arrepio instantaneamente. Rio e abro a porta, saindo do carro.
Subo os degraus em direção ao meu quarto, que passará a ser antigo novamente. Começo a arrumar minhas coisas na mesma mala que eu trouxe comigo. Sigo para o banheiro, para pegar os cremes tudo mais quando escuto a porta do quarto bater. Corro pensando que possa ser Sasuke ou até mesmo Ino e sorrio, porque qualquer um me deixará contente. Mas o que eu encontro é completamente o oposto. Kurenai.
– Você não se cansa, não é? – Ela dispara, os olhos ferventes de raiva. – Além de trazer esse bebê falso dizendo que é dele, traz aquela aberração que você diz ser sua filha, mas para completar, traz aquela vagabunda loira! – Ela grita e bufa, o ódio irradiando em seu corpo.
– Eu não te devo explicações do que eu faço, mas eu não admito que chame minha filha de aberração e minha amiga de vagabunda! – Esbravejo.
Kurenai engole em seco, vejo seus olhos marejados de lágrimas, lágrimas de puro ódio.
– Não pense que você ganhou, Sakura Haruno. – Ela sibila meu nome como se estivesse com nojo. – Eu vou acabar com você.
E então ela sai do quarto, batendo a porta atrás de si. Estremeço com o baque da mesma forma que Ino fez mais cedo. Sua ameaça não me assusta e nem me apavora como o que eu encontro em cima do criado-mudo. Um papel dobrado com apenas duas palavras. Eu não preciso de nomes para saber que o mandou. Eu apenas sei.
Achei você.
“Achei você” era o que dizia.
Fugaku havia me encontrado. Isso significava que ele havia encontrado Sasuke também. E Anne. E Itachi.
A ameaça de Kurenai me assustou, mas isso. Isso me fez chorar, porque agora era real. O diabo estava na terra e ele se chamava Fugaku Uchiha.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.