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História Tentativa - E acerto


Escrita por: yoongrito

Notas do Autor


Passei pra segunda fase ae oooo ( e acabei isso hj, socorro) > o tema do concurso era filmes, e o que n tiver nos filmes pode ou nao ter sido dos livros ou da minha cabeça, vcs talvez nunca saibam muahaha ~parei~ ~n sei pq fico tao tosquinha nas notas iniciais~

obrigada linda menina vivian que fez a capa <3 e nao vou agradecer mais ninguem tipo ana por me incentivar e por ser mto maga do mal

se alguem da minha familia achar isso, eu vou negar, vou dizer q não sou eu n e a gente enterra esse assunto, flw? obrigada

n sei escrever fluffy e n sei escrever em primeira pessoa, me perdoem e n desistam de mim

(leiam minhas outras fics rs)

Capítulo 1 - E acerto



TENTATIVA 01


— Calma, Jongdae, vai dar tudo certo. É só chegar lá e ficar calmo.

Kim Jongdae era uma desgraça.  Não digo no geral, porque ele tinha um jeitinho meigo e extrovertido digno de, no mínimo, um “Que bruxo gente fina, esse Jongdae”. Sem falar que ele andava pelos corredores cumprimentando a galera, falando alto e distribuindo toca-aquis, com aquele rostinho de menino feliz. Então, socialmente, dava para dizer que ele se saía bem.

Exceto quando surgia a palavra encontro. Aí estava o desastre.

Nunquinha que eu imaginaria algo do tipo vindo de alguém com aquelas maçãs do rosto proeminentes e cabelos bagunçados. Jongdae podia até não ter a beleza exuberante de Luhan, que era um quarto veela, mas definitivamente era bonito. Além de ser uma pessoa muito agradável para se ter ao lado, tagarela e engraçado, sempre disposto a uma partida de Snap Explosivo. Parecia ser do tipo hm, esse cara se dá bem aos fins de semana. Só que, se fosse, não estaríamos ali, para início de conversa.

— E não esqueça, fique pensando em coisas boas para o caso de ele praticar legilimência — completei sabiamente.

— Minseok, eu tô nervoso. — A voz aguda estava tão trêmula que chegava a dar dó. — Vai dar tudo errado, muito errado. Ai, Merlin, vai ser um desastre, eu…

— Cala a boca que vai dar certo. O pior que pode acontecer é ele dizer não, Dae, não te azarar ou algo assim.

Mas fui burro. Merlin, como fui. Se possuísse um vira-tempo hoje em dia, usaria apenas para voltar àquele momento e quebrar a regra de não ser visto, colocaria a mão em meu próprio ombro e diria: “Que tolinho você, Minseok.”

Andando meio bambo, o corpo balançando por causa de uns tremeliques, ele venceu a distância até Kyle O’Connor, um irlandês divertido da minha casa. Pareceu que tudo estava indo bem, Jongdae estava muito exasperado, mas aparentava normalidade enquanto trocavam os oi-tudo-bem-e-contigo. Eu, inclusive, já me encontrava prontinho para sorrir e levantar os polegares quando o ouvisse chamar o cara para sair, sério, até tinha um sorriso sendo preparado, só faltava parar com a conversa mole e convidar o O’Connor para um passeio em Hogsmeade.

Talvez eu devesse ter notado as pistas. Gaguejos para falar, a varinha girando pelos dedos em puro estresse – ele tinha o costume de se remexer por ansiedade, eu sabia pelas vezes que me passou cola na prova enquanto sacudia a pena sem parar. Se estivesse prestando mais atenção, teria evitado o desastre que foi a tentativa 01.

Em um minuto, a situação aparentava estar completamente sob controle, em outro…

Puf.

Juro que não sei o que deu em Jongdae. Quando disse que o pior que poderia acontecer seria ele receber um não, nunca imaginaria que pudesse estar tão errado. Não foi da varinha do O‘Connor que veio a azaração – ainda bem, acredito –, mas sim da de Jongdae, que girava e girava entre seus dedos suados. Gostaria de ser um bom amigo e dizer que não morri de rir quando os furúnculos cheios de pus despontaram pela pele dele, só que não será dessa vez.

Devia ser próprio de Jongdae aumentar os problemas. De início, eram apenas um pontinhos que nasciam aqui e ali, até dava para ignorar. Porém, à medida que testava contrafeitiços apressados e malfeitos, sua epiderme sumia entre o pus amarelo nojento, deixando-o cada vez mais desesperado. Eu tentei me aproximar e ajudar, mas ele foi mais rápido que um aceno de varinha para abrir a boca e começar a berrar, correndo todo estabanado pela escadaria de pedra.

— Desculpa, ele não fez por mal — pedi ao irlandês de olhos arregalados de susto antes de ir atrás do Jongdae.

 

»‡«

 

— Acho melhor, pela sua reputação, nunca mais tentar falar com o Kyle outra vez — falei, sentando-me ao seu lado na cama da enfermaria. Até que Kim Minseok era um bom amigo, afinal.

— Acho que nem eu quero mais falar comigo depois daquele fiasco.

— Nossa, cala a boca. Se fosse comigo, a única coisa boa seria poder rir mais tarde lembrando o que aconteceu.

Jongdae me deu um soco no ombro. Tinha uma tristezazinha pintando seu semblante junto com o vermelho das marcas dos furúnculos – Madame Pomfrey conseguiu remover o pus, ainda bem –, e eu detestei que aquilo o deixasse tão caidinho. Envolvi seus ombros em um pequeno abraço, algo do tipo não-sei-o-que-estou-fazendo-mas-sorria-por-favor.

— Ah, vai. Pelo menos você tentou. — Esfreguei suas costas em um carinho. — Nem foi tão ruim, o pior mesmo foi aquele estardalhaço todo. Vai dizer, Madame Pomfrey te deu alguma coisa pra garganta também, né, porque do jeito que você gritou...

— Minseok, você não sabe consolar.

— E você não sabe paquerar, mas a gente aprende.

Ele riu. Levantou aqueles olhos brilhantes e agradeceu, a feição de menininho feliz voltando fraquinha. Era meio resplandecente, calma, só um pouco de todo seu potencial, e, ainda assim, me fazia pensar num dos momentos em que você acha que não teria como querer mais nada no mundo.

Jongdae sem fazer barulho me deixava apreensivo, então foi um alívio vê-lo puxar conversa com a voz alta ecoando pela enfermaria vazia, despreocupado e alegre. Ele ainda parecia bem magoado, principalmente por aquele costume próprio de ficar se botando para baixo, mas eu fingi não perceber para distraí-lo um pouco. Funcionou pelo tempo que pude ficar, o bastante para que ele tivesse ao menos uma boa noite. Foi a primeira vez que a coisinha em meu peito aqueceu, porém ainda era cedo demais para ser notada.

— Já passou do horário de recolher, preciso ir — avisei, deixando sua cama para subir à torre da Grifinória. — Melhora, tá?

Ele riu.

— Melhora você, eu sou bom já — respondeu com o sorriso arteiro. Não me restou muito além de atuar o mal feito aborrecimento e revirar os olhos pela insolência.

— Ah, cala a boca, Jongdae. Boa noite.

— Boa noite.

 

TENTATIVA 02


— Passa o pelo de jamanta.

Poções era a única matéria do meu horário que a Grifinória fazia junto com a Corvinal. Foi como conheci Jongdae, no início do sexto ano, quando decidimos fazer dupla e acabamos amigos.

— Tem que cortar assim, Minseok, se não a poção fica laranja.

— Não consigo, faz você.

Nosso caldeirão não ia bem. O que era para ser azul claro e homogêneo, parecia mais tripa de ararambóia batida. Provavelmente porque eu não estava prestando muita atenção, e Jongdae menos ainda. Ele já tinha vindo com um papo estranho de beber poção para ver se ajudava com o futuro alvo da tentativa 02, mas eu fui sistemático ao mandá-lo calar a boca. Honestamente, estava um saco ficar com o Jongdae cabisbaixo pelas últimas semanas, e o pior era vê-lo tentar esconder; como o garoto expressivo que era, óbvio que eu percebia aquela carinha jururu para lá e para cá. Luhan dizia que nem era bom ficar perto dele naquele estado, poderia fazer mal para a pele.

Depois dos furúnculos, eu não duvidava.

— Tem que mexer no sentido anti-horário, cuidado.

— Ah, tá bom.

Suspirei.

— Isso tá uma porcaria, Jongdae.

— É, eu sei. Quero que essa aula acabe logo, já tô com fome.

Sabe um daqueles momentos onde parece que você bebeu a poção Wiggenweld e todo o mundo ficou mais vivo e colorido? Se não sabe, vou dizer que é uma sensação semelhante a ter uma ótima ideia. Entre as palavras “aula” e “fome”, minha cabeça já tinha formulado a melhor solução para nossos problemas imediatos. Não sei se Jongdae percebeu isso acontecer, ou se apenas sorriu para mim porque presumiu pela minha cara que deveria fazer.

— Vai na onda — avisei. Suas sobrancelhas se arquearam numa expressão de dúvida no momento que mencionei levar as garras rugosas ao cadeirão, e suavizaram-se quando derramei a gororoba em meu uniforme.

Jongdae até lerdeava em várias ocasiões, porém era muito ágil na hora de ser trambiqueiro – devia ser por isso que nos dávamos tão bem –, e não demorou a lançar um feitiço para avermelhar minha pele, aparentemente ele manjava muito desses. Causando uma pequena comoção, fizemos Snape acreditar que eu estava tendo uma reação alérgica a um dos ingredientes e que deveria liberar Jongdae para me levar à Madame Pomfrey (talvez o pavio curto do professor tivesse sido um fator importante). Deu certo, mas não sem antes…

— Menos 5 pontos para a Grifinória por essa bagunça.

Digno de um prêmio, nos arrastei para fora da sala com o desespero mais bem fingido que Hogwarts já havia presenciado – os gêmeos Weasley, do quinto ano, teriam inveja –, e precisei tapar a boca para não rir antes de estar longe o bastante. Aguentar até o final do corredor foi a coisa mais difícil que fiz nessa vida, uma vez que Jongdae mantinha uma expressão toda amassada de esforço, boca pressionada, nariz franzido e olhos apertados. Eu só queria gargalhar da situação e dele e dizer “Conseguimos!”. Era tão excêntrico passar de tédio e frustração para divertimento pleno, como mergulhar e subir voando com uma vassoura, e eu gostava da intensidade que era tê-lo por perto.

— Para onde vamos agora? — perguntou ele entre risadas. Segurei seus lábios com a mão porque Jongdae era muito escandaloso, e isso desencadeou outra série de riso. Minha barriga doía quando consegui me recompor o bastante para responder.

— Você disse que estava com fome, não disse?

Puxei seu pulso escada à cima além das masmorras. Jongdae tinha uma agitação responsável por fazê-lo falar e falar e falar o tempo inteiro, especialmente quando se encontrava animado. Precisei constantemente lembrá-lo de falar baixo para não incomodar os quadros, mas era uma missão fadada ao fracasso, então eu só ria junto. Mesmo falando e falando e falando até não poder mais, também era um ótimo ouvinte; podia ser o seu lado puxado para Rowena Ravenclaw que era sedento por informação, responsável por arregalar os olhos pequenos e atentos dele quando eu tinha qualquer coisa a dizer. Suas histórias favoritas eram as minhas experiências de nascido trouxa.

Quando me curvei e tropecei de tanto rir, Jongdae quase caiu por cima tentando me segurar. Seus olhos não deviam enxergar nem um palmo à frente de tão fechados, e aquela felicidade toda me deu a oportunidade de contar o pequeno planejamento em que vinha matutando.

— Eu tive uma ideia para o seu próximo talvez-futuro-namorado — comecei, mas ele fez uma cara tão caidinha que até fiquei decepcionado.

— Ah, hyung, não sei. Eu meio que…

— Na-na-ni-na-não. Nem vem, eu não me meti nessa de cupido pra você desistir sem nem tentar direito — falei, enfiando o dedinho na frente do seu nariz, e olha que eu estava bem indignado. — Se fosse pra tentar o caminho mais fácil, eu te diria pra fazer uma Amortentia, não me chamar pro meio da palhaçada.

— Mas se você não queria ajudar, era só…

— Você não ouse botar a culpa em mim.

— Desculpa.

Sou capaz de jurar que não sei como fazia aquilo, mas toda a vez que lançava o olhar severo de hyung, meus amigos sempre baixavam a cabecinha. Até Luhan, que se botava num pedestal mais alto que a torre de Astronomia, e Yifan, com aquela pose de garoto malvado de dois metros da Sonserina, ficavam quietinhos me ouvindo. Talvez fosse nossa conexão asiática dizendo “ouçam o Minseok, ele é o cara”, ou algum feitiço que eu não conhecia nem controlava, mas que era o máximo, era. Quero dizer, eu me sentia o máximo, podia não ser tão legal para Jongdae e Yifan, que acabavam agindo como criancinhas altas demais. Olhando baixo como um gatinho perdido, Dae ficava uma gracinha.

— Escuta, você é um cara fenomenal. Se agisse normalmente, ou até se fosse só metade tão legal quanto já é, teria todo mundo aqui de Hogwarts no papo — disse como se fosse uma aula, ou o livro de autoajuda que minha mãe costumava ler. Ele ouvia atentamente. — Não sei qual é o seu problema, do que tem tanto medo, mas que tipo de amigo eu seria se não te ajudasse, né? Vamos dar um jeito nisso, sim, e é bom você parar de estragar as aulas de Poções com essa cara chorona aí.

— Mas d…

— Sem mas — cortei. — Você confia em mim, ou não? Por que eu prometo que até as provas te arranjo um namoradinho pra dar uns amassos no armário de vassouras.

Ele riu.

— Isso é…

— Pshh. Confia ou não confia?

Antes de as palavras escaparem da boca, através de seus olhos, eu já soube a resposta.

— Confio.

Ai, que emoção.

— Então presta atenção que eu tive uma ideia genial.

Admito, nem era tão genial assim, mas deixou nós dois animados pelo resto do caminho. Quero dizer, Jongdae que ficou animado com o planinho de eu arranjar um encontro duplo para nós dois, eu só fiquei animado porque ele ficou animado e inflou meu ego. Dobrando dois corredores mais tarde, cumprimentei cordialmente alguns quadros e anunciei nossa chegada. “Aspargo Azarento.”

— Nunca estive na cozinha antes. Como você descobriu a entrada? — ele perguntou impressionado.

— Fiz amizade com um elfo doméstico aqui da escola, ele que me mostrou.

Atravessamos o quadro que cedia passagem ao nosso destino final. A cozinha era bem simples, armários meio comidinhos de cupins e pedra cinza sem graça por todo o lado. Um ponto a favor é que era muito bem organizada, os utensílios limpos e tudo bem ajeitadinho – imagino que não poderia ser de outra forma, considerando quem trabalhava nela –, e também tinha aquele cheiro sensacional. Imediatamente, vários serezinhos de cerca de um metro se aproximaram com seus olhos grandes e cumprimentos devotos. Dentre eles, identifiquei o mais alto, com orelhas espichadas além da maioria dos outros elfos.

— Senhor Minseok! O senhor Minseok veio visitar o Chanyeol? Quem é o amigo do senhor Minseok? Prazer, Chan… Ai, Baekhyun! Não puxe as orelhas, machuca!

— Oi, Chanyeol. Oi, Baekhyun. Esse é o Jongdae. Nós…

— Olá, senhor Jongdae.

— Oizinho, senhor Jongdae.

Precisei esperar todo os elfos por perto dizerem oi também antes de continuar. Sempre achei elfos domésticos uma gracinha, muito divertidos também. Chanyeol e Baekhyun principalmente, porque eles andavam sempre juntos, implicando um com o outro e fazendo aquelas coisas atrapalhadas de elfos desajustados.

— Nós queríamos saber se já tem algo do almoço pronto. Estamos com muita fome, sabe? — pedi, passando a mão na barriga para acompanhar a expressão sofrida.

Foi como transfigurar chapéu em meia, fácil, fácil. Os dois elfos se prontificaram alegrinhos a montar um canto com pratos cheios e copos de suco de abóbora, balançando suas grandes orelhas de um lado ao outro e de cima para baixo pela cozinha. Até viraram baldes de ponta cabeça como assento. Eu provavelmente deveria ter apreciado mais além de um simples obrigado – ainda que eles parecessem completamente satisfeitos apenas com aquilo – antes de me jogar no banquinho improvisado e atacar a comida, todavia foi difícil resistir.

Comer dá um tipo de satisfação única; encha a barriga, encha sua vida de felicidade, é o que eu digo. Acredito que magia não fosse capaz de criar alimentos por causa disso, era coisa boa demais para dar conta. Jongdae parecia concordar a cada garfada de purê de batata que enfiava na boca. Se tinha uma coisa que eu gostava naquele garoto, é que ele respeitava o momento de encher a barriga e ficava quietinho só batendo o talher no prato. Às vezes, levantava o olhar para mim e sorria, e eu devolvia com as bochechas infladas, grato por ele não estranhar que eu estivesse encarando. Nem sabia por que encarava, realmente.

Ficamos sentados nos baldinhos vendo os outros elfos ajeitarem os preparativos para o resto dos alunos comerem também quando terminamos. Era uma atividade de preguiça pós-refeição muito divertida, se quer saber, especialmente quando Baekhyun pulava nas costas do Chanyeol e não o deixava limpar as panelas usadas. Eu não sabia nada sobre a vida amorosa dos elfos, mas considerava os dois um docinho juntos.

— Acho que, se é pra ter algo com alguém, tem que ser como aqueles dois elfos — Jongdae comentou, olhando na mesma direção que eu.

— Você quer alguém para puxar suas orelhas como se fossem rédeas de cavalo? — brinquei, ainda que compreendesse o que ele dizia.

— Não! — Olhou para mim, rindo. Ainda deu um empurrãozinho no meu ombro, o abusado. — Alguém que transforme o chato em divertido e ria comigo das coisas aleatórias em que pensarmos.

— Eu já faço isso, seu ingrato — resmunguei, devolvendo seu empurrão. O calorzinho no peito deu as caras outra vez e subiu. Mesmo que eu não fosse do tipo que cora, senti minhas bochechas esquentarem quando Jongdae fixou os olhos nos meus e permaneceu por alguns segundos, para então dizer:

— É, você faz.


»‡«

 

Luhan me chamou de sumido no dormitório depois da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, naquela mesma quinta-feira. Reclamou que eu saía de mais com outras pessoas e de menos com ele nos últimos tempos. Devia ter mencionado que o chinês também andava muito ocupado saindo com suas muitas admiradoras, porém optei por deixar quieto.

Arranjar um melhor amigo veela foi a melhor e a pior decisão que tomei em Hogwarts. Bom, na verdade ele era apenas um quarto veela – sua avó que era a veela de fato – mas um quarto do sangue das criaturas famosas por serem encantadoras e sedutoras já era o bastante. Principalmente porque Luhan compensava os outros quartos com uma dose grande de audácia grifinória, uma pequenininha de gentileza e o resto sendo um tremendo cuzão.

Ter o pinto de ouro chinês ao seu lado pode não beneficiar muito sua autoestima – por isso devemos agradecer ao Pus de Bubotúbera que fez maravilhas pela minha pele cheia de acne no terceiro ano –, mas certamente é ótimo para ficar sabendo das fofocas de relacionamento da escola. Luhan estava sempre muito bem informado sobre onde deveria investir seu rostinho bonito, e coletava uns dados bem úteis para mim no caminho. Mas, se tinha alguém tão enxerido quanto eu, esse alguém era Luhan:

— Não, ele ainda tá namorando. Mas por que quer saber? Você não estava saindo com aquele coreano, o Chen? — perguntou. Tinha um sério problema com nomes, o Luhan, provavelmente porque ocupava a cabeça demais pensando “nossa, eu sou muito lindo” para se lembrar de como as pessoas se chamavam, aí criava apelidos. Chamava a mim de Baozi, porque me achava com cara de bolinho, Jongdae de Chen e Yifan de Kris, e esses eu já não sabia por que.

— Não, ele é meu amigo.

— Mas ele é gay também, não é?

— É, o que que tem?

O gato dele, Peludinho, pulou no seu colo ronronando.

— Oi, bebê. Ah, não sei. Só presumi que estivessem meio juntos. Você tem andado bastante com ele ultimamente — respondeu, fazendo carinho no bicho. Nunca conheci animal mais manhoso que aquela bolinha branca, o que Luhan tinha de maldade e veneno, o gato tinha de fofurinha.

— Só porque nós dois gostamos de caras, não quer dizer que tenhamos alguma coisa. Se fosse assim, eu já teria pegado o Yifan há muito… — Plim, ideia. — Tchau, Luhan.

— Quê? Baozi…

Mas eu já havia deixado o dormitório antes de respondê-lo. Com sorte, encontraria o alvo 02 naquele dia mesmo.

Saindo pelo quadro da Mulher Gorda, comecei a divagar. Quando entrei em Hogwarts, no primeiro ano, morria de medo de ser o único oriental. Costumava estudar em uma escolinha onde as outras crianças sempre diziam “abre o olho, xing ling” ao passar por mim no corredor, e nem preciso dizer que odiava aquela merda. Na época do Minseokinho de onze anos, ainda me faltava a sábia pérola da minha mãe:

“Filho, se tem uma coisa que se acha em todo lugar, é chiclete embaixo do banco e chinês.”

Obrigado, mãe.

Por não saber daquilo, eu me grudei, sem nem pensar onde estava me enfiando, nos primeiros asiáticos que apareceram pela frente na estação de trem – Yifan e Luhan, já sacaram, né? – como se fossem um pomo de ouro e eu o apanhador. Foi um pouquinho complicado continuar a amizade com Kris depois que ele foi para a Sonserina, considerada a minha casa rival, mas ainda éramos ótimos amigos.

Então ele devia aceitar sair em um encontro duplo (e arrastar outro amigo) comigo, certo? Quem nega um piquenique nos jardins?

A verdade é que eu estava meio nervoso que ele dissesse não. Pelo bem da minha autoconfiança, entende? Qual é, só porque estava ajudando o Jongdae, não quer dizer que fosse um mestre. Pode ter certeza que me meti naquela por pena, pois se tivesse pensado melhor… não, de fato eu era legal demais para não me disponibilizar a ajudar mesmo. Enfim, esperava que Yifan me achasse bem patético e sentisse pena também, porque daí ele aceitaria. Imaginei qual a impressão que passaria para ele, digo, como assim um amigo de anos te chama para sair do nada?

Achei melhor só ser sincero mesmo, para não confundir a situação. Quantas coisas não dão errado quando a gente inventa uma mentira, né?

Só desejava, enquanto procurava-o pelo castelo, que não me achasse tão idiota por pedir algo do tipo. Senti até um pouco de vergonha por mim ao encontrá-lo conversando com dois amigos da Lufa-Lufa, Cedrico e Zitao, mas era muito tarde para decepcionar Jongdae por nada.

Cedi uns segundinhos a mim mesmo para ficar admirando o Cedrico Diggory, do sexto ano também, porque ele era tudo de bom, mas nem fiquei muito naquilo para não acabar sendo pego. Encontrei minha deixa ao vê-lo ir embora, deixando os dois chineses sozinhos, então cheguei mais perto e chamei Yifan para uma palavrinha.

Prefiro nem detalhar muito a expressão que ele fez quando pedi para sair comigo, é até ofensivo que tenha me olhado daquele jeito por causa do convite. Apesar disso, aceitou me ajudar depois que expliquei a situação meio desesperadamente, Yifan era um amigo legal.

— Só mais uma coisa — falei. — Eu queria saber se você conhece alguém pra convidar também. Ser o par do Jongdae, entende?

— Ah, sim — ele respondeu despreocupadamente. — Tem o Zitao ali. Ei, Tao!

E tudo parecia resolvido.


»‡«


Mas não, não estava.

Porque Jongdae tinha probleminha. E, por associação, eu também, já que era totalmente previsível que algo do tipo fosse acontecer. Para começar, ninguém se lembrou de levar comida para o piquenique. Ninguém. Quatro pessoas e zero cérebros. Claro que a responsabilidade era maior para nós dois, já que o convite foi nosso, mas ainda assim foi uma tremenda palhaçada.

E também teve a questão Kim-Jongdae-tem-medo-de-encontros, que na verdade é o ponto principal disso tudo, mas eu pensei estar um pouquinho resolvido depois da cozinha. Quero dizer, um dos obstáculos, que era chamar alguém, já havia sido ultrapassado, graças a mim – e a Yifan, muito obrigado. E o mais mágico da minha ideia de encontro duplo é que eu estaria lá para auxiliar o Jongdae, nem que fosse só para passar um pouco de confiança e ajudar a puxar papo.

Outro obstáculo, muito importante na jornada da conquista, meus caros, foi resolvido por Luhan. Como a grande autoridade que era no assunto, ele praticamente deu uma aula de como xavecar para Jongdae, provavelmente ajudou mais naquela horinha que ficou falando do que eu em semanas. Sério, pelo menos noventa por cento de tudo já estava se encaminhando perfeitamente na sexta-feira anterior, nossas esperanças estavam lá em cima.

Até que chegou o fim de semana. Bem bonitinho, aquele sábado à tarde. O céu estava nublado, como de praxe, mas a camada de nuvens cinzas era tão fina que um pouco do azul se tornava visível, então meio que não estava tão nublado assim. Parecido com Jongdae no caminho para o lago; meio nervoso e retraído, meio alegre e esperançoso. Lá estava eu, repetindo frases de apoio moral e contando umas piadinhas para descontrair até alcançarmos os dois à nossa espera.

Foi quando aconteceu o fiasco número um. Vamos chamar de O Olá.

Jongdae não disse O Olá para Zitao quando se cumprimentaram. Foi tipo “Oi, prazer, sou Zitao. Yifan falou bem de você”, dito de um jeito muito educadinho, e depois silêncio. Jongdae travou, só olhou para ele e balançou a cabeça. Nem sorriu, nem disse seu nome, nem nada que diminuísse a vontade de estapear minha própria testa. Olhou e balançou a cabeça, parecia um boneco. Eu já teria ido embora daquela furada com aquilo, mas Zitao era claramente muito paciente.

O fiasco número dois aconteceu depois que percebemos que não tinha comida – e repito que eu já teria ido embora, principalmente depois de saber que nem para encher a barriga serviria –, e decidimos só sentar e conversar, apreciando a vista. O fiasco número dois não tem nome, uma vez que eu decidi juntar todo o resto do encontro num fiasco só.

Antes de contar, vou deixar bem, bem claro que Zitao merece palmas pelo que passou ali. Foi um tapa mental na testa atrás do outro com o Jongdae. Ele não falava quase nada, os olhos parados só conheciam a areiazinha da margem e nada mais. Quando Zitao contava qualquer coisa – “Nossa, o quinto ano é um saco, não aguento mais estudar para os N.O.M.s” – era taxativamente ignorado, dava até pena. Aí eu tentava ajudar, né, puxava um papo com ele para não ficar tão ruim. Devo ter passado muita vergonha também, falando tanto daquele jeito. Nem sei com que criatura me comparar para dar uma ideia do quão tagarela, o negócio estava muito crítico. Pior que isso era apenas o fato que Jongdae tentava conversar normalmente comigo e com Yifan, sorria tão bonitinho quanto sua face pálida permitia e fazia piada, mas não conseguia nem olhar para o Zitao.

O estopim foi o momento em que Zitao fez, pela primeira vez, uma pergunta direta para Jongdae, que passou de branco para vermelho até o último cantinho da orelha com aquele ultimato rápido como um aceno de varinha, parecia que tinha bebido uísque de fogo. Se esperava que ele respondesse com decência, foi iludido como eu: Jongdae apenas inclinou a cabeça trêmula na direção do chinês, olhando baixo para fugir dos seus olhos, e deu de ombros. Eu fiquei possesso; se tivessem visto meu semblante, tenho certeza que seria seu novo bicho papão. Não era nem um pouco justo com ninguém naquele encontro, principalmente comigo e com o chinês mais novo – qual é, até para colocar Jongdae contra parede ele era um cara legal –, acho que o único se divertindo era Yifan, porque ele era um barrete vermelho se alimentando da desgraça dos outros mesmo. Eu, hein, o que é que custava ter me dado pelo menos um amigo normal?

Pedi licença e puxei o pulso de Jongdae num rompante. Nos levei até o meio das árvores, onde um Crucio poderia ser usado sem testemunhas, e cruzei os braços. Ele me encarava de volta com aquela carinha perdida e vermelha, quase vacilei na pose de hyung brabo.

— Você é tapado ou se faz mesmo? — perguntei.

— Tapado! — Ele nem piscou para responder. Fiquei até meio pasmo, precisei dar umas piscadas antes de continuar.

— Vai me dizer qual é o seu problema ou tenho que adivinhar? — ditei.

— Não sei, Minseokie, não sei. Acho que ele não é o cara certo, talvez…

— Mas como você pode saber se nem falar com ele você falou?! — esbravejei, interrompendo-o. Vi seus ombros se encolherem, e percebi que aquele negócio de autoritarismo não era para mim. Respirei fundo, desejando mais do que nunca uma Poção da Paciência. — Quer saber? Tudo bem, você é que sabe seus métodos para escolher quem é o cara pra você. Eu só acho que não precisa tratar o Zitao desse jeito. Ele foi legal contigo o tempo todinho, não custava nada ser legal também, mesmo que fosse para recusá-lo depois.

— É, tem razão.

— Lógico que tenho. Você não é obrigado a ficar com ninguém só porque saiu num encontro, Dae. E, definitivamente, ninguém é obrigado a ser ignorado daquele jeito, — continuei — então a gente vai voltar e você vai pedir desculpas.

Jongdae, fechou os olhos, como se pensasse sobre o que eu dissera. Soltou o ar por um biquinho, inspirou e soltou outra vez, passando as mãos pela capa.

— Certo, tudo bem — concordou ele. Não sei que tipo de pessoa fica mais calma depois de uma bronca, mas foi o que aconteceu com Jongdae. — Vamos lá.

Não fomos.

Quero dizer, até fomos, porém não chegamos. À medida que nos aproximávamos, pedaços da conversa entre Zitao e Yifan alcançavam nossos ouvidos. Mais sedentos por fofoca que a escritora do Profeta Diário, fomos diminuindo o passo até o som da grama sendo esmagada tornar-se mínimo, chegamos tão perto quanto possível sem sermos notados. Eu, que não esperava uma pessoa tão metida quanto o meu nível vinda de Jongdae, fui surpreendido quando ele lançou um feitiço para aumentar nossas orelhas até parecerem pequenos caldeirões – precisava lembrar-me de pedi-lo para ensinar mais tarde –, tornando-as capazes de captar o drama bruxo adolescente:

— Por que me trouxe nesse encontro duplo, Yifan? É algum tipo de brincadeira? Eu falo que gosto de você e você faz isso?

— Tao, eu… nós…

— É por causa da sua família, não é? Porque eu sou nascido trouxa. - Foi difícil ouvir essa parte, pois a voz magoada de Zitao mal passava de um sussurro.

— Não daria certo, Tao. Você sabe.

Eu não estava acreditando.

— Isso tá muito bom — disse Jongdae. Concordei com a cabeça.

— Eu sei que você gosta de mim também! Eu não vou desistir, ainda mais depois do concorrente nem um pouco interessado que você me arrumou! — Eu estava vidrado. Aquele menino Zitao estava arrasando, e quem diria que Yifan tinha um planinho tão pobre?

— Parece que Tao não era o certo para você mesmo — falei sorrindo. Minha orelhona continuou concentradíssima nas vozes dos chineses, até que foi atacada pelo grito sussurrado muito próximo de Jongdae. Eu teria reclamado de dor se não fosse uma boa causa:

— Por Merlin, eles estão se beijando!

E como estavam. Se Yifan não fosse um bruxo de família antiga, daria um ótimo dementador. E Zitao adoraria ir para Azkaban perder a alma, só para constar.

— Parece que você consegue juntar todo mundo nessa escola com alguém, menos comigo — ele brincou, deixando nossas orelhas normais novamente.

— E parece que você precisa calar a boca — respondi, empurrando seu ombro com o meu. Num acordo mudo, viramos para o castelo e fomos embora. — Amanhã você pede desculpa pro Zitao, sem falta.

— Pode crer — concordou Jongdae. Sorrindo, ele passou o braço comprido pelo meu ombro, e disse: — Vamos para a cozinha?

— Pode crer — afirmei, apoiando minha mão em sua cintura.

 


TENTATIVA 03


Ah, a tentativa três. Na minha opinião, ela não foi uma tentativa de verdade, mas achei melhor não omiti-la. De todas as que deram errado, por que não contar justamente a que deu meio certo?

Começou muito antes, mas eu só percebi nas palavras despretensiosas de Jongdae. Não falo do seu encontro que arrumei durante a partida de quadribol – Corvinal versus Sonserina –, a essa altura espero que tenham percebido que o foco sempre foi outro. Falo daquela sementinha maldosa que vinha sendo plantada por mim na minha própria mente, regada constantemente pelas ações de Jongdae.

Como geralmente acontece, as dúvidas vinham de detalhes mínimos, que significavam absolutamente nada-talvez-muito. Coisinhas como, de repente, Jongdae se escorando para conversar, e abraçando-me por trás de manhã e gritando “Ooi, Minseokie”. Falando em gritar, o menino só podia ter parentesco com as mandrágoras, não estou brincando. E eu falava isso para ele.

— Melhor que você e seu parentesco com duendes — ele respondia sorrindo, para depois me sacudir de um lado para o outro. Nós éramos íntimos o bastante para aquele tipo de afeto, e Jongdae já era carinhoso. Não era tão surpreendente que ele me abraçasse, de qualquer forma, mas tinha aquele ladinho dos meus pensamentos que dizia “Será?”.

Quando me soltava, o ladinho se calava. “Ah, não quer dizer nada.” Nós íamos comer nas mesas separadas e eu esquecia o assunto, que na verdade era não passava de um monólogo mental sem provas concretas. Se fosse quinta-feira, nos encontraríamos outra vez na aula do Snape, antes do almoço. Não que fosse realmente muito fácil manter uma amizade forte com alguém de outra casa, mas Jongdae sempre encontrava uma forma de estar por perto, nos corredores, biblioteca, ou no jardim.

E, às vezes, ele estava muito perto. Para falar, sabe? Inconscientemente, lembrava-me de Luhan dizendo para sempre conversar bem próximo da pessoa que você está a fim em uma das aulinhas de paquera, e a perguntinha voltava.

Será?

Pensar naquele tipo de coisa tomava muito o meu tempo. O que era para ser uma noite fazendo o dever de Runas Antigas acabava se tornando uma sessão de vamos-tirar-um-tempinho-para-pensar-em-Jongdae. No lugar do alfabeto antigo, eu desenhava quadradinhos e triângulos sem querer, geralmente lançava ainda um feitiço simples para fazê-los dançar pelo pergaminho. Acabei deixando de entregar alguns trabalhos, coisa boba, mas aparentemente era o apocalipse para Jongdae.

Por isso ele me arrastou para a biblioteca algumas horas antes da partida de quadribol começar. A poeira dos livros caía enquanto eles flutuavam entre as prateleiras durante o longo discurso de “eu sou da Corvinal, eu vou te ajudar” do Jongdae, mas eu não estava ouvindo.

Porque ele estava tão perto.

Sem explicação, tudo parecia muito definido e presente. O cheiro de pergaminho e do uniforme negro limpo, o brilho dos olhos sempre alegres ressaltado por causa do azul da roupa, e também tinha o desenho dos lábios bonitos. Perto, forte, como se gritassem “Me note, Minseok!”. E Jongdae tinha hálito de bala, porque ficava comendo entre as aulas, era muito bom. Quando pensei que o estado catatônico em que me encontrava não poderia piorar, nós nos sentamos à mesa fazer o que havíamos ido fazer, só para uma tortura mental diária básica. Porque, pior do que ficar se distraindo pensando em Jongdae, era ficar se distraindo por estar perto de Jongdae.

Depois do encontro com Zitao, ele andava despreocupado, num estado meio “ah, tudo bem”. Acho que resignado era a palavra, como se estivesse mais interessado em passear comigo e desenvolver sua inesperada amizade com o chinês mais novo – Jongdae era um ímã de amigos, eu ficava impressionado – do que voltar ao nosso plano inicial. De alguma forma, aquele foco de atenção me dava uma sensação egoísta de alívio por ele estar comigo, sabe? De todas as pessoas que poderiam estar usufruindo do quão incrível Jongdae era, logo eu fui acabar cativando-o. Logo eu fui aceitar fazer dupla na aula de poções, logo eu fui passar meses conversando a tarde inteira e trocar bilhetes à noite entre as torres através de corujas. Logo eu fui me oferecer para ajudá-lo a desencalhar e logo eu fui criar dúvidas sobre aquilo.

Era dúvida sentir que ele me observava enquanto eu deslizava a pena de mal jeito pelo pergaminho, só para espiá-lo e não ver nada além de seus olhos castanhos vidrados na tarefa? Talvez não, talvez fosse só egocentrismo, talvez eu estivesse inventando tudo aquilo e Jongdae só fosse mais carinhoso porque éramos íntimos. Talvez eu devesse ter parado de encará-lo por tanto tempo. Oh, espera, ele me viu. Os olhos conectaram-se aos meus antes dos lábios delicados sorrirem pequenininho e voltarem ao pergaminho.

Talvez eu só quisesse que algo estivesse mesmo acontecendo, e ficava concebendo tudo aquilo.

Droga, era tão confuso, e não deveria ser. Só uma relação que evoluiu de “Me passa o farelo de presa de mantícora” para “E aí, tem planos pro fim de semana?”, e depois para “Ai, eu sou tão sem jeito pra encontros”, uma risadinha, “Sério? Não parece, aposto que você se dá bem sim, eu até te ajudo”. E então vinham os planos mirabolantes de adolescentes empolgados demais, que sem querer mostraram lados um do outro que as pessoas geralmente não conheciam e se aproximaram bem rápido. Do tipo, não custava nada para mim contar algo sendo que eu já sabia tanto dele, e ele pensava de volta alguma coisa do tipo para-que-esconder-isso-se-Minseok-já-sabe-de-todos-os-meus-micões. De modo que aquele período na biblioteca não deveria passar de um Kim Minseok fazendo sua tarefa com os dicionários de runas e um Jongdae com seu sapo estranho sofrendo os feitiços de transfiguração.

Talvez eu não devesse fazer tanta tempestade em copo d’água.

— Já falei que seu sapo tem cara de Marquinhos? — tentei descontrair, e até que foi bem natural. O sapo tinha mesmo, se quer saber, principalmente com aquelas manchas vermelhas e amarelas do encantamento errado que Jongdae tentava acertar.

— Marquinhos? — questionou com as sobrancelhas franzidas. Deu uma boa olhada no sapo, balançou a varinha para fazê-lo voltar à cor marrom normal, e respondeu: — Nada a ver, ele totalmente combina com o nome que tem. Não é, Relâmpago?

Relâmpago, por que eu não estava surpreso?

— Relâmpago Marquinhos, então — sentenciei rindo.

Ele sorriu todo bobão como sempre, adorou o novo apelido do sapo. Esquecemos gradativamente os deveres em meio a assuntos quaisquer, Madame Pince chamou nossa atenção duas vezes. Eventual e inexplicavelmente, eu acabava meio perdido observando demais o movimento da boca de Jongdae, ele até perguntou se tinha algo em seus dentes.

Como o amigo responsável que era, Jongdae acabou por dar uma olhadinha no meu trabalho, e eu me preparei para uma bronquinha pelo péssimo desempenho. As orbes castanhas me fitaram com o semblante sério, indo contra a natureza alegre de Jongdae, só para se desfazerem no jeito sapeca de sempre.

— Seu preguiçoso! — exclamou, correndo em minha direção. Comecei a me contorcer de um lado para o outro em uma mistura de riso e desespero, tentando proteger minhas costelas de seus dedos. Cócegas, ele me atacou com cócegas.

Merlin, eu ria tanto, tanto, barriga e bochechas queimavam em cansaço, e Jongdae fazia um escândalo junto. Madame Pince ficou furiosa, nos expulsou da biblioteca sem pestanejar. Eu estava muito feliz, nem consegui pedir desculpas de tanto gargalhar, principalmente porque os dedinhos dele ainda cutucavam minhas costas na saída, e eu só ria mais ainda tentando equilibrar os materiais nos braços. Meu coração batia tão rápido quando galopes de um cavalo alado antes de alçar voo e aquele calorzinho veio uma vez mais…

... talvez não apenas pela pequena histeria.

Oh, Kim Jongdae significava talvez do início ao fim.

E, no fim, talvez o monte de "talvezes" fossem os culpados pela péssima ideia que eu tive depois do:

— Acho que já na hora de irmos para o campo.
 

»‡«

 

Péssima Ideia – também conhecida como Tentativa 03, e ainda por Jonathan Baker – surgiu depois de deixarmos os corredores e escadas do castelo, no caminho para as arquibancadas, enquanto Jongdae enfeitiçava minha pele para ficar metade azul, metade prateada. Se a Corvinal vencesse, a Grifinória precisaria de menos pontos para ganhar a taça, então eu uni o útil ao agradável e fui torcer contra a Sonserina. O dia não estava bom para quadribol, assim como a maioria dos dias desde que Sirius Black escapara de Azkaban e os dementadores vagavam por Hogwarts, mas os alunos faziam tanto barulho que era inevitável sentir-me empolgado pela partida. Ainda mais com aquele par de asas falso que eu havia conjurado na cabeça de Jongdae no calor do momento, ele estava ridículo e feliz demais para se importar com isso. Muito engraçado, inclusive, com aquele jeito bobalhão encantador de sempre. Elas balançavam quando ele pulava, como se batessem, e ele soltava um riso esganiçado, típico do garotinho que era por dentro.

Desviei rapidamente o olhar para os lados e encontrei Zitao indo para as arquibancadas inferiores com Yifan, para não deixá-lo torcendo sozinho, imaginei. Luhan ia com eles porque não gostava de ficar conosco nas superiores, morria de medo de altura. Estava prestes a mandar um oizinho quando encontrei outro par de olhos em minha direção. Ou melhor, na direção de Jongdae.

Tinha olhos bonitos, o Péssima Ideia. Escuros como a pele, lindo contraste com os dentes brancos bem alinhados. Um ano mais velho, Corvinal, Jonathan Baker era um cara bem legal. E estava interessado do meu amigo. As mais loucas conexões em meu cérebro começaram a se formar, aquelas do tipo que começam com b e terminam com osta. Não passa de bosta bem fedida quando você pensa o que eu pensei.

Eu poderia entender de uma vez por todas o que estava acontecendo se ajudasse Jonathan a falar com Jongdae: bosta. Era aquilo que Jongdae esperava que eu fizesse, de qualquer forma: bosta. Por que não descomplicar, certo? Não, bosta.

E foi mais bosta ainda quando pedi licença um segundinho e andei até o Jonathan. Na surdina, chamei-o para assistir ao jogo conosco e se aproximar de Jongdae; como um bom interessado, ele aceitou. Sendo discreto, o corvino nem perceberia exatamente o que estava acontecendo, consequentemente não se sentiria intimidado. Provavelmente, teria sido a melhor ideia que tive se não passasse, como disse, de uma montanha de bosta.

Porque deu certo. Deu mesmo, tudo o que precisei foi apresentá-los e me afastar um pouco. Ah, e remover aquelas asas balançantes da cabeça, nada seduzentes. Jonathan tinha muita facilidade para puxar papo, especialmente com o fator Jongdae-não-cala-a-boca-também. Eu recuei alguns lugares até ficar bem perto de Rúbeo Hagrid, o gigante cabeludo que usei de bom grado como esconderijo.

Através dos cachos de Hagrid, observei os dois jogando conversa fora enquanto a goles ia de um lado para o outro entre as vassouras. Vi Jongdae olhar para trás algumas vezes, à minha procura, acreditei, e vi sua atenção ser rapidamente recuperada pelo grifinório em todas elas.

E, argh, Jonathan era totalmente o tipo de pessoa que combinava com Jongdae. Ele era expressivo e animado, e falava tanto quanto o coreano. Fazia-o rir com pouco, tanto quanto eu, e nem era difícil, porque os olhos puxados brilhavam em divertimento apenas com as tentativas do britânico pronunciar seu nome. Jón-dei, ele dizia. E Jonathan sutilmente flertava, jogando charme para cima do meu ingênuo amigo, que devolvia os toques, com ou sem noção disso. Eu tentava parar de fitá-los e redirecionar o foco para os balaços rebatidos ou os gols, e comemorar com o meu rosto pintado chamativo, mas não dava; como uma maldição, meus olhos voltavam e voltavam contra minha vontade.

No fim, Jonathan chamou Jongdae para Hogsmeade e eu, fechando com a última grande bosta do pacote, dei um empurrãozinho. “Claro”, produziu sua voz surpresa e confusa, fazendo minha garganta fechar contra o sorriso falso de incentivo.

Foi o que finalmente nos levou à:

 

TENTATIVA 04

Que, como penúltima tentativa, foi o prelúdio do maior ensinamento que levei dessa vida. Chamei de A Resposta para uma Vida Boa.

Em poucas palavras, a resposta é: tome decisões estúpidas. Ou melhor, escolha as decisões estúpidas certas e vá fundo. Porque, já reparou que tudo de legal e interessante acontece depois de uma burradinha? Uma vergonha passada, um horário errado, o que geralmente parece catastrófico imediatamente, torna-se a história para contar num almoço entre amigos. Saiba escolher bem, e pronto, você tem uma vida divertidíssima planejada à base de mau planejamento.

A dica para saber escolher é entender o que pode dar errado. Se a sua vida, ou a de mais ninguém, não será completamente arruinada; se não for algo sério, crime ou perigoso demais; se tudo o que você tem a perder é um pouquinho de dignidade: essa pode ser a decisão. A decisão ruim certa é, fundamentalmente, aquela que você tem medo de tomar só por pressão social, ou porque você acha que vai se sentir ridículo se der errado. “Decisão Ruim” é apenas um nome pejorativo para nada além da escolha mais corajosa.

Entretanto, no meu caso, a decisão foi simplesmente muito idiota e seu sucesso não passou de pura sorte mesmo.

Tinha escrito, em negrito, sublinhado, com feitiço para piscar e flutuar bem na sua cara e ainda música dramática no fundo NÃO FAÇA ISSO em tudo, e eu propositalmente ignorei. Que irônico para um grifinório temer aquele bando de coisas enchendo a cabeça, como um feitiço de confusão. Movido por medo de algo que eu não compreendia, deixei passar os olhares estranhos de Jongdae, como se me perguntassem se eu queria mesmo aquilo, perdendo todas as oportunidades de ser esperto e dizer não.

Indo contra toda a sensatez que os jovens deveriam ter, mas não têm, empurrei o temeroso Jongdae até o ponto de encontro. Como se dissesse “por favor, só você pode me parar”, seu olhar segurou o meu quando paramos no portão, à espera. Eu não compreendia o que estava errado ou porque tinha um bolo esquisito na minha garganta, era para ser o nosso sucesso. E eu juro, juro que não entendia, realmente achava que não passavam de bobagens da minha cabeça. Deixa de ser ridículo, Minseok, pensei. Cortei o contato, baixando meus olhos; Jonathan vinha ao longe, sorrindo, e precisava me despedir.

— Qualquer coisa é só dizer não — avisei. Na hora não entendi, mas Jongdae pareceu feliz, seus ombros tensionados relaxaram.

— Está bem — concordou. Antes de me deixar, aproximou-se para um abraço, mais um de tantos anteriores, e sussurrou: — O feitiço é Auriculum Nosie.

E eu fiquei, tipo, o quê?, mirando os dois cruzarem o portão, já iniciando alguma conversa fiada. A primeira coisa que fiz foi testar, lógico. Consegue adivinhar o que era?

Era o feitiço que transforma orelhas em orelhonas. Tcharam.

E eu podia ser bem tolinho, meio sem noção, mas sabia reconhecer um sinal quando Jongdae mandava. Entendi que ele estivesse solicitando minha companhia, para passar segurança, presumi. Era o que mais fazia sentido.

Não me fiz de rogado ao caminhar pelas ruas cheias de neve do vilarejo, evitando fazer barulho atrás deles. Se fui o responsável pelas decisões estúpidas, Jongdae foi pelas ideais nas tentativas envolvendo Jonathan Baker. Seu pequeno artifício me guiou pelas vitrines bem arrumadas das lojas com alguns cartazes de “Procurado” fixadas, até a entrada do restaurante. Bem, não era exatamente um restaurante, era só um lugar bonitinho com mesas e cadeiras e que servia bebida quente junto a uns pãezinhos (perfeito para os não-tão-em-condições-assim estudantes da escola de magia).

Fiquei lá, aquecendo-me, as orelhas enormes como as dos meus amigos elfos captando o papo sem muito interesse. Duas vezes, quando Jonathan adotou medidas mais explícitas de flerte, Jongdae perscrutou o estabelecimento atrás do meu aceno encorajador. Eu mostrava as gengivas e ele se dava por satisfeito, voltando a conduzir aquela interação. A única dúvida restante era se ele estava sendo legal naturalmente e quisesse levar o relacionamento adiante, ou se planejava dizer não no fim.

Graças às aquisições de minha cabeça, pude descobrir a resposta quando o encontro se aproximou do seu desfecho, num cantinho fora do mais-ou-menos-restaurante. Eu estava escondido perto de alguns produtos expostos, segurando meu monte de roupas de frio para que não se tornassem visíveis, ouvindo (como fizera o tempo todo, nada novo), quando o tom das palavras mudou, e ficou silencioso de repente.

Minha mente gritou: Beijo.

Era aquilo, o fruto de todo o nosso trabalho juntos. Jongdae estava finalmente pronto, uma frutinha madura. Como o bom metido que eu era, inclinei-me para trás para uma espiadinha. De onde estava, nenhum deles conseguia me ver, mas eu vi claramente Jonathan se aproximando, bem devagar e com cuidado com a suposta timidez de Jongdae. E Jongdae estava parado, olhos bem abertos expondo seu dilema para os meus. “Será que eu beijo?”.

Quase lá, faltava realmente muito pouco para acontecer. Sim ou não, Dae, sim ou não.

Mas, ao chegar até aqui, aprendemos que Jongdae não podia ser normalzinho. Não, ele precisava agir como um louco desvairado por qualquer motivo que fosse. E agiu, empurrando os ombros do Jonathan e caindo fora em disparada. Bem, eu entenderia aquilo como um não, um bem excêntrico, mas sem mistério. O que não entendi foi quando Jongdae passou por mim com aquela feição angustiada e não parou quando me percebeu. Não parou também quando eu o chamei, nem quando corri atrás dele. A neve segurou seus pés e o derrubou em algum momento, e mesmo assim Jongdae fez de tudo para que eu não o alcançasse, e aquilo não podia ser apenas vergonha.

Algo estava errado e ele não queria me contar.

»‡«
 

Gambiarra era toda erradinha, coitada. Meio depenada, tinha uma perna manca e o olho direito cego. Voava torto, nunca acertava meu ombro na hora de pousar e soltava uns tremeliques espasmódicos de tempos em tempos. Consegui ela de graça no Beco Diagonal – as crianças pobres também têm seus meios de aproveitar a vida –, e o nome caiu perfeitamente com aquela aparência patética combinada à uma surpreendente eficiência.

Mesmo toda torta, Gambiarra era uma coruja muito rápida e esperta. Demorava poucos segundos para levar os bilhetes que eu escrevia até a janela do dormitório de Jongdae e voltar com as garrinhas vazias naquela noite. Depois de correr atrás dele pelo castelo, procurar e procurar sem sucesso, trocar pedacinhos de pergaminho sob a luz da lua foi tudo que restara. Eu estava muito, muito preocupado com o comportamento de sair correndo e se isolar, não era normal. Não era Jongdae. Por que ele não queria conversar? O que estava acontecendo, o que significava aquilo tudo? Por que ficou tão chateado? Teria eu feito algo de errado?

Ah, não era nada certa aquela atitudezinha de me ignorar. Se eu não estivesse tão mobilizado, estaria irritadíssimo.

— Deixa o Chen em paz, Minseok — pronunciou-se Luhan em meio à minha comoção. Um insensível, aquele chinês.

— Não posso, ele está mal e eu não entendi por quê.

— Se o cara quisesse contar, já teria respondido. Para de torturar sua coruja renga e vai dormir — ele devolveu, fazendo sua careta irritada ao ajeitar os cobertores sobre o corpo.

— Fala assim da minha coruja outra vez e você vai ser um quarto veela e três quartos esfolado — respondi. Onde já se viu chamar a coruja dos outros de renga?

— Tá legal, então. Só, por favor, vai dormir e deixa pra conversar com o Chen pessoalmente.

Plim, ideia outra vez. Era para isso que servia Luhan, afinal de contas.

Joguei todas as minhas esperanças no último bilhete, meio esbaforido e apressado, chamando Jongdae para a torre do relógio. Apostei que não seria deixado sozinho esperando, mesmo o corvino estando esquisito não faria aquilo. Foi meu ultimato, ou resolvíamos de uma vez o que quer que estivesse acontecendo, ou… não sei, eu continuaria temeroso, talvez?

Aí eu calcei umas pantufas e fui. Encontrei Yifan, que era monitor, fazendo ronda no caminho, e pedi que ele nos desse cobertura caso Jongdae aparecesse. E esperei, observando as constelações conhecidas através dos ponteiros e vidros sujos do relógio. Estou indo para lá agora, venha!, lembrei ter escrito, e desejei muito realmente conhecer Jongdae tão bem quanto achava que conhecia.

Tirando o pó do chão de madeira da minha capa, observei sentado quando ele surgiu no batente da passagem. Estava esperando uma expressão mais abalada que a que ele mantinha, possivelmente algo triste e amedrontado. Mas lá estava Jongdae com algo que não passava de ansiedade e vergonha.

— Senta aqui — pedi, indicando o lugar à minha frente. — Oi.

— Oi — ele respondeu. A luz que incidia das estrelas no lado esquerdo do seu rosto tinha um efeito muito bonito, eu me permiti ficar admirando enquanto Jongdae não dizia nada. — Você não sabe o que é privacidade, não?

— Sei, mas não quer dizer que vou ficar sem saber o que deu em você — ditei. Jongdae sorriu ao revirar os olhos, deixando-me mais calmo. — Conta aí, foi alguma experiência ruim?

— Na verdade, não. Não tive experiência nenhuma — falou, passando a mão nos cabelos em nervosismo.

— Ah, tá. Então me conta de uma vez.

— Mas é isso — devolveu. Em retórica à minha tradicional expressão de ãhn?, um suspiro exasperado deixou a boca de Jongdae. Encarando-me outra vez em mais umas de nossas conversas silenciosas, completou: — Promete que não vai rir?

— Lógico — disse. Que tipo de amigo ele achou que eu fosse?

Mentira, eu ri um pouco sim quando ele anunciou:

— Eu nunca beijei. E fiquei com medo.

Antes de me achar sem noção por não cumprir a promessa, vamos aos fatos, Jongdae tinha dezesseis anos. Dezesseis! Com essa idade, geralmente você está tentando perder o cabaço, mas não é o da língua. Só existe uma maneira de não beijar até tão tarde, que é fugindo. Se você está se guardando para alguém especial, se tem nojo ou medinho, isso é fugir. Não estou ridicularizando os motivos, cada um tem o seu tempo e tal, mas Jongdae extrapolou.

Quero dizer, olha todo o trabalho que tivemos para arranjar alguém, quando Jongdae na verdade só temia que desse certo e ele precisasse beijar. Eu não acreditei.

— Você disse que não ia rir! — acusou.

— E por que você estava com medo, criatura?! — Eu segurava a boca para não constrangê-lo. — Era a oportunidade perfeita para fazer isso de uma vez!

— Mas e se eu beijar mal? — começou, a voz esganiçada se alterava entre murmúrios e gritinhos. — E se ele espalhasse pra todo mundo? O pessoal da minha casa é fofoqueiro, você sabe. — Eu tive que concordar, a busca por conhecimento de gente da Corvinal comumente atingia o conhecimento da vida alheia, só perdia para a Sonserina.

— Tá, e a solução foi ficar anos sem fazer nada só para não ficar mal falado? — questionei retoricamente. — Nem todos os beijos combinam, Jongdae, e as pessoas sabem. Ninguém ia ser cuzão de sujar sua reputação por nada. E, além do mais, olha o que aconteceu nesses últimos meses! Você passou vergonha atrás de vergonha por causa disso.

— Ah, é. Nossa, que ridículo — concordou, resignado. Aí eu ri, obviamente, tentando me conter para não fazer tanto barulho, e Jongdae riu junto.

Em mais um dos nossos momentos de diversão desmedida, eu identifiquei o término daquela tensão que havia se instaurado. Porque nós éramos apenas nós, rindo de qualquer coisa só pela companhia e alegrando naturalmente o que quer que fosse com nossa magia única. Porque Jongdae era idiota, mas eu também era, e nós sabíamos demais um do outro para isso importar. Porque eu me arrastaria à noite da cama para saber se ele estava bem, e ele jamais me deixaria sozinho. Porque eu sentia coisas estranhas quando me debruçava sobre Jongdae para evitar que sua voz saísse muito alta, e talvez ele sentisse também por estar muito próximo da minha boca.

 E, principalmente, porque aquilo podia significar não só um término, mas também um novo início.

— Se não quiser, é só dizer.

 

TENTATIVA 05

No chão de madeira sombreado por algum horário irrelevante, eu beijei Jongdae. Tinha poeira em todo canto, que me dava uma descomunal vontade de espirrar, mas também tinha aquela luz bonita que não permitia que o momento estragasse. Ele estava todo duro, a boca não passava de uma frestinha, e seu corpo tremeu de nervoso quando sussurrei “Abra mais” contra os seus lábios.

Ah, ele estava tão intimidado, não mexia um músculo, mantinha as mãos coladas ao lado do corpo, deixando minha língua se esfregar sozinha contra a sua, igualzinho a uma parede. Precisei ser bem paciente. Está tudo bem, eu dizia, relaxe. Coloquei uma mão em seu pescoço e fiz carinho na nuca, de alguma forma achando aquele acanhamento  mais adorável do que deveria. Pode se soltar, pedi.

Pouco a pouco, Jongdae se permitiu amainar o que mantinha-o preso. Passou a acompanhar-me no ósculo lento, levou suas mãos até mim e trouxe meu corpo para mais perto conforme sentia-se confortável. Puxei levemente seu lábio inferior antes de aprofundar nosso contato, a cabeça tombada um pouco para o lado.

Quando Jongdae se sentiu preparado, eu passei a ele o controle da situação. Estranhamente, tive a sensação de ser o inexperiente dali, minhas mãos suavam e tinha aquela falta de ar apertando o peito. E meu estômago fazia uma voltinha tresloucada nas vezes que Jongdae sugava minha língua e agarrava mais forte na cintura, ainda que tudo fosse lento e gradual. Só piorou à medida que ficávamos mais afoitos, os dedos correndo pelas costas e entre os fios de cabelo, estremecidos e com ofegos baixinhos eventualmente se fazendo ouvir.

Meu coração martelava dentro de sua caixa torácica tão forte que conseguia senti-lo na garganta. Tu-tum, ah, tu-tum. Em um momento alucinante, Jongdae levou os lábios macios ao meu maxilar, e subiu espalhando arrepios até o lóbulo da minha orelha.

Jongdae — murmurei contra seu pescoço. Sua íris castanha encontrou a minha no meio de um sorriso ao nos afastar. Inesperadamente, notei minhas próprias bochechas quentes, e talvez mais quentes até que as dele, naquele contraste prateado bonito do relógio.

— Aposto que meu primeiro beijo foi melhor que o seu — brincou. Porém estava muito certo, o meu fora um desastre. Eu até quis rir, mas as coisas demais saturando minha cabeça se perderam nos caninos à mostra da boca vermelha e inchada, e o estado funesto de minhas emoções não produziram mais que o inconfundível:

— Cala a boca, Jongdae.

— Você me manda calar a boca vezes demais — reclamou rindo.

— Deve ter um bom motivo, não é? — devolvi, debochando de suas palavras.

— Então por que é que você não vem calar, Min? — sussurrou, aproximando-se perigosamente ao ponto de, mais uma vez, mesclar nossas respirações.

Fui calar com muito gosto.

Não sei quanto tempo mais ficamos ali, o ponteiro grande deu tantas voltas que o horário dos monitores até devia ter acabado. Sujando de vez nossas roupas, deitamos as costas na madeira fria de frente para o céu. Eu apontava uma constelação qualquer aprendida na aula de Astronomia e Jongdae encontrava um motivo para virarmos de lado e voltarmos a nos beijar, entrelaçando as pernas e colando os troncos. Adquiri uma mania meio irritante de interromper o contato só para observar o rosto de Jongdae e, eventualmente, roçar o nariz em sua bochecha quente como carinho. Ele estremecia, os cílios batiam uns contra os outros rapidamente enquanto sua voz dava uma tremidinha, trazendo aquela nada nova sensação em meu peito.

Merlin, eu estava completamente apaixonado. E nem é por nada, mas ficava óbvio que Jongdae sentia alguma coisinha de volta quando apoiava a cabeça em meu braço ou passava os dedos por baixo da minha coluna para entrelaçá-los aos da outra mão.

E então era tu-tum, ah, Jongdae, tu-tum outra vez.

— Minseok? — chamou.

— Fala — respondi com os olhos ainda meio fechados, normalizando a respiração.

— Quer sair comigo?

 

 

 


Notas Finais


um dia eu retornarei com um plot drarry angst, me aguardem

revisei mto por cima, quase nada, me avisem qqr coisa

e boa sorte pra mim :D


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