SAMARA - RÚSSIA, 2016
O vento gélido batia em meu rosto enquanto, eu, apenas suspirava e fitava a janela me preparando psicologicamente para mais um dia de trabalho. Atrás de mim, ele retirava meu sutiã enquanto distribuía beijos pela extensão de meu pescoço puxando bruscamente meus cabelos para o lado. Não fiz questão de perguntar seu nome, na verdade esse não é meu trabalho. "Apenas proporcionar prazer!" - repetia em minha mente enquanto sentia repulsa total o vendo retirar a roupa. Mais um dia repetindo incansavelmente "Vai ficar tudo bem... Já vai acabar!".
Deitei sentindo o peso de seu corpo sobre o meu, ele passava a mão esquerda em mim enquanto a direita tateava a gaveta ao lado da cama em busca de algo. Puxou uma camisinha e a colocou, se ajeitando entre minhas pernas. Virei a cabeça para o lado direito ao sentir começar. Toda vez sentia nojo de mim mesma! Em poucos minutos ouvi um gemido alto e arrastado em meu ouvido. Ele se levantou e rumou até o banheiro, me deixando ainda meio atônita na cama, como todas as outras vezes. Depois de uma lagrima derramada em meu rosto e um suspiro sôfrego, levantei e me vesti, o vendo sair do banheiro e jogar o dinheiro sob a cama. Agradeci a Deus por ele ser tão rápido, neste meio, coisas assim me deixam feliz. Fui até a cama e conferi o dinheiro, o colocando na bolsa e saindo dali. Graças a Deus ele era o ultimo da noite, isso significava que eu poderia ir para casa e chorar a noite toda como todos os outros finais de semana.
Caminhava pelas ruas gélidas de Samara com as lagrimas presas graças a minha persistência de não chorar ali mesmo. Sentei no ponto de ônibus deserto e me permiti mirar bem a rua. Me assustava essa sensação de estar sozinha, ali e no mundo. Pelo menos era assim que eu me sentia desde o dia em que tive que sair de casa e vir morar aqui. Escutava o barulho do trem bem distante enquanto meus cabelos se desgrenhavam por conta do vento, abaixei a cabeça e prendi meus olhos em minhas mãos. Pensava em como era minha vida a dois anos atrás, pensava em tudo que eu poderia estar fazendo agora, em como minha vida seria diferente. Meu coração estava tão angustiado, apertava os olhos para não chorar quando vi de longe um ônibus se aproximar. Olhei a numeração, tinha certeza de que ele passava por perto do meu apartamento, já que o vi passar algumas vezes. Sequei algumas lagrimas que teimaram em cair e dei sinal. Haviam três pessoas (contando com o motorista) no ônibus, passei por todas e me encolhi no ultimo banco do veiculo. Estava com tanto frio, parecia que o casaco de lã que vestia não estava conseguindo sustentar aquela temperatura tão baixa. Encostei a cabeça na janela sentindo meu nariz congestionar e minha cabeça doer. O que eu mais queria naquele momento, era estar no colo da minha mãe enquanto escutava suas reclamações, sobre eu ter bagunçado a trança embutida que tanto lhe deu trabalho para fazer, assim como quando eu era criança. Fechei os olhos para recriar a cena em minha mente e fui dominada pelo sono.
Acordei com alguns pingos de chuva que batiam na janela e mais uma vez observei a rua. Franzi o senho quando li uma placa que havia passado. -Mas que merda- Saiu de minha boca quando percebi que estava indo em direção oposta ao desejado. Enquanto levantava, vi que não havia mais nenhum passageiro ali . O veiculo virou rapidamente em uma curva me obrigando a segurar fortemente em umas das barras de ferro pressas ao teto para não cair. Logo após a curva ele parou em um ponto- na qual deduzi ser o ponto final - abriu as portas traseiras e desceu. Desci as escadas apresadamente indo ao seu encontro para lhe explicar que havia cometido um engano e ele apenas sorriu de canto e grosseiramente disse que o ônibus demoraria para sair por conta da chuva. Quis xinga-ló porém fiquei com medo dele se recusar a me levar novamente ou fazer algo do tipo, então, apenas o observei entrar em um bar com uma placa de letras piscantes. Parei em baixo de uma marquise e resolvi esperar, a música que vinha de lá dentro era alta e contagiante. A chuva se mantinha forte e uma corrente de vento a arrastava, molhando o lado direito de meu corpo. Estava ficando sem opções, teria que entrar naquele lugar e aguardar passar a forte tempestade que já se formava. Meio relutante, corri até a porta e adentrei rapidamente no local com proposito de não me molhar. Olhei a minha volta, pessoas bebiam, jogavam sinuca e arrumavam briga por prostitutas, estavam todos vestidos com roupas escuras, me arriscaria dizer que todas pretas. Pelo visto estava em algum tipo de bar de rockeiros, góticos... sei la! Como constatei isso? Não seria obvio? E mesmo se não fosse o som de Motorhead (The Game) quase estouravam meus tímpanos. Me direcionei até o bar e me sentei em um dos bancos a sua frente, pedindo uma dose de qualquer whisky para me "esquentar" um pouco. Não fazia a menor ideia da diferença entre todas aquelas garrafas distribuídas em prateleiras de vidro pressas a parede em minha frente, não tinha o costume de beber. O homem me serviu uma dose de uma bebida com rotulo preto que só após ser colocada novamente na prateleira consegui ler seu nome.
- Vamos ver se é mesmo tudo isso que dizem Jack Daniels! - Sorri de canto e posicionei o copo em frete a meu rosto olhando para garrafa na parede. Senti o copo em minha mão se chocar com outro e instintivamente olhei para o lado.
- Saúde. - Disse o homem ao meu lado antes de me lançar um sorriso e beber o liquido de seu copo. Apenas fiz o mesmo e bebi o conteúdo todo em um gole só. O liquido desceu por minha garganta queimando, parecia que estava me rasgando por dentro.
- O que faz aqui mocinha? Não me parece que gosta de rock e prostitutas baratas... Na verdade me parece que está bem longe de casa. - Sorriu apoiando os cotovelos no balcão. Sua pele morena e seu rosto bem desenhado lhe proporcionava uma beleza indiscutível, a covinha em suas bochechas, seus lábios e principalmente seu olhar... ele lhe dava um ar misterioso e por incrível que pareça eu me senti atraída por ele; fiquei presa em seus olhos, me arriscaria a dizer que perdi alguns minutos olhando para eles. Meus Deus, desde quando fico tão atônita e perdida apenas por um simples olhar? Minha barriga doía, realmente espero que seja somente a bebida e não nervosismo. Um sorriso se formou em seus lábios enquanto me olhava profundamente inclinando um pouco a cabeça para o lado. Talvez, só talvez ele quisesse me assustar, então se eu estiver mesmo certa por agora, entraria em seu jogo.
- Qual seu nome? - Perguntei após pedir outra dose de bebida.
- Qual nome você quer? - Sorriu se aproximando mais. - Eu tenho dois!
- Por que tem dois? Tipo, nome conjunto? - Bebi novamente mais uma dose.
- Tá mais para um alter-ego! - Olhou para o copo e depois sorriu com minha expressão, por conta do gosto da bebida.
- E quem você esta sendo agora? - Perguntei me desvencilhando da cara feia em meu rosto.
- Acho que agora apenas Kim JongIn. - Passou o dedo indicador em meu braço .
- E esse é você mesmo ou apenas o seu alter- ego, JongIn? - Perguntei afastando sua mão de mim.
- Eu realmente não sei querida... Não consigo reconhecer a anos!
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