História Tente Viver, Corra! (Imagine Kai) - Louca?

Acordei sentindo mãos sob meu corpo; o barulho da televisão misturado a falas incessantes de pessoas a minha volta. Escutava vozes femininas proferindo palavras de pena e indignação sobre mim, enquanto tentava abrir os olhos, porém, parecia uma tarefa impossível; estavam praticamente grudados. Me remexi um pouco na cama a fim de fazer alguém notar que já havia acordado, quando senti minhas costas queimarem. Parei e respirei fundo, flashs sobre a noite passada vinham em minha cabeça, o desespero tomou conta de mim mais uma vez, tentei gritar inúmeras vezes mas sentia a voz falhar, as lagrimas já desciam de meus olhos novamente. Me sentia presa, vulnerável, novamente. As mesmas pessoas me pediam calma e diziam serem enfermeiras; me passaram o endereço do hospital onde estava e pediram para tentar abrir os olhos calmamente. Senti um liquido gelado cair sob o mesmo e uma gaze ser passada devagar, um pouco caiu em meus lábios e eu pude notar que o liquido se tratava de soro. Aos poucos conseguia ver o que estava acontecendo em minha volta, a luz forte no teto da sala, mulheres de branco e a televisão ligada no lado direito do quarto.

Levantei-me e encarei todos os rostos a minha volta, logo após perguntando o que havia acontecido.Apenas uma se pronunciou quando as outras abaixaram a cabeça; havia passado por uma pequena cirurgia de reconstrução do mamilo direito, e também, havia levado milhares de pontos nas costas, sem contar que ainda via minha perna direita engessada.

Então isso tudo aconteceu de verdade? Não era apenas um sonho ruim? Não! Na verdade o mundo é um pesadelo da qual não se consegue fugir... Só existe duas alternativas: Ou se vive em meio a monstros, ou se... isso mesmo. Essa é minha alternativa!

• ALGUNS MESES DEPOIS •

Meu corpo já estava totalmente recuperado, minha mente não! Deitada de bruços na cama, sentia o vento acariciar meu corpo enquanto olhava as estrelas de olhos fechados. Sim, de olhos fechados. Meu coração se entristece quando ela não se mostra plena na imensidão do céu. Conversava com ela todas as noites. E ela me protegia. Me cativava. Era minha. Me cativou. A dor de sua partida foi intensa, mas agora contemplava sua beleza lá em cima. As vezes me pergunto, o por quê, de ter a perdido assim, abandono minhas crenças, questiono tudo e todos. Será que um dia lhe encontraria tão perto novamente? Um abraço caloroso junto a um afego em meus cabelos, novamente uma trança embutida. Talvez se ela estivesse aqui isso tudo não teria acontecido.

Não tive como trabalhar por conta de tudo o que aconteceu, estou prestes a ser despejada e em minha geladeira há somente: uma jarra de suco, garrafas d'água e um pedaço de peito de frango, mais nada! Não há muitas alternativas para mim, a não ser cogitar o que me passava em mente a meses atrás.

Levantei-me e procurei o maço de cigarros em minha gaveta, ele era minha salvação quando me sentia perdida em meio as situações. Abri a janela e o acendi vendo as pessoas passarem apressadas na rua. Pensava em como fazer isso sem sofrer, já havia passado por tantas coisas, pelo menos minha morte deveria ser indolor. Juntei todas as cartelas de remédios em cima da cama e peguei uma garrafa d'água na geladeira. Tirei todos os remédios das cartelas o juntando em minha mão e voltando a ficar em frente a janela. Mirei mais uma vez a rua e vi um homem que me olhava profundamente enquanto parado no ponto de ônibus. Ele me lembrava alguém, me lembrava... JongIn! Pisquei algumas vezes enquanto coçava a cabeça, aquilo com certeza era uma miragem produzida por minha mente doente. Já estava ficando insana, e isso era mais um motivo para dar continuidade ao que meu coração implorava para sentir: A liberdade. Coloquei todos os remédios na boca e quando rumava a garrafa até meus lábios senti os vidros da janela explodirem fazendo os cacos virem todos em minha direção. Rapidamente me joguei no chão para não ser atingida e cuspi os remédios travando uma batalha para conseguir restituir o ar que já faltava em meus pulmões. Coloquei a mão direita no peito tentando acalmar meu coração, enquanto ainda normalizava minha respiração descompassada. Passei a mão em meus cabelos, mas que merda havia acontecido aqui? Olhei novamente para a janela a fim de ver alguém, talvez fosse somente uma criança que havia jogado uma pedra ou algo do tipo, mas quando voltei a mirar a rua não havia ninguém ali. Nem as pessoas que estavam no ponto de ônibus, nem as que estavam na fila da grande padaria em frente ao meu apartamento, ninguém. Sentei-me novamente no chão e passei as mãos em meus cabelos totalmente frustrada, quando ouvi o barulho da porta de meu quarto se abrindo. Meu corpo se estremeceu e em um suspiro de coragem me permiti olhar o que sentia vir em minha direção. Vi uma silhueta se esconder em meio a escuridão de meu quarto enquanto sorria baixinho. Aquilo era macabro, queria gritar por ajuda mas não conseguia pronunciar nenhuma silaba.

- Você só pode estar ficando louca! - Desferi alguns tapas em minha cabeça - Isso é um sonho, acorda agora! - Gritei desesperada o vendo se aproximar.

Me encolhi e abracei minhas pernas, escondendo meu rosto. Ouvi passos percorrerem a estrada de cacos de vidros no chão e uma mão afagar meus cabelos. Logo os mesmos foram puxados e então pude mirar com medo a face de quem estava me proporcionando tanto pavor.

- Sentiu saudades querida? - Sorriu sarcástico.

- JongIn! - Seu nome saiu como um misto de gemido e um suspiro sofrego por estar sendo puxada pelos cabelos novamente. Seu rosto estava macabro, iluminado apenas pela luz da lua e dos postes da rua. Posso então dizer que já vi a cara da morte.

- Pensou que não me veria mais?- Questionou olhando no fundo dos meus olhos. - Voltei pois escolhi você!

- Do que está falando? - Foi as ultimas palavras que em meio ao meu desespero consegui proferir.

Mais um sorriso irônico e sarcástico foi dado a mim, fazendo toda a extensão de meu corpo se arrepiar novamente. Sim eu estava certa, JongIn é a morte em pessoa!