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História Tênue - Indigente


Escrita por: hunx

Capítulo 1 - Indigente


Você tentou.

Eu sei que o fez, por favor, não se culpe.

Eu te vi hoje, quando você beijou Sehun. Ele parecia profundamente nervoso e estava vermelho até as orelhas enquanto provavelmente se declarava. (sussurro) Desculpe-me, não cheguei a ouvir e minha leitura labial nunca foi muito boa (sussurro). Eu deveria estar extremamente aborrecido, porque na época do nosso amor eu costumava dizer que seu melhor amigo parecia gostar demais de você e assim descobri estar mais certo do que até eu mesmo pensava. Mas, de verdade, grande parte de mim está cansada demais para sentir ciúmes e a outra sabe que meu amor por você vai além de me imaginar contigo. Meu amor por você alcança aquele clichê do eu te amo tanto que te deixaria ir se sua felicidade significar estar longe de mim.

Baek, isso nunca se encaixou tanto como aqui. 

Eu peço mais uma vez que não se sinta culpado, porque isso aqui é apenas para que saiba que eu te amo.

Você sabe, eu nunca fui brilhante com as palavras, tanto que você admitiu que eu te conquistei apenas com meu sorriso envergonhado de lado e com o dia que eu estava às 4 da manhã na porta da sua casa te mandando sentir a necessidade que eu tinha de você, te forçando a tocar o lado esquerdo do meu peito e sentir o ritmo do meu coração.

Eu sempre fui um romântico barato e uma coisa que sempre me faz rir entre as inúmeras lágrimas que derramo durante o dia é lembrar da nossa primeira vez. O champanhe era quase vencido e por isso saiu mais barato, as rosas vermelhas eram artesanais e a coisa mais linda naquele banal quarto de motel era seu corpo sem qualquer tipo de tecido, deliciosamente entregue, com seus "eu te amo" em forma de suspiros e um deleite indescritível emanando de nossas peles que se batiam ruidosamente enquanto meu corpo tomava o seu. Mas eu sabia, você não estava feliz. E então, deduzi que se apaixonar por mim foi como estar em queda livre e, uma hora, você teve de tocar o chão.

Com o passar do nosso amor, você não sussurrava mais "eu te amo". Os seus únicos sussurros eram de um "socorro" que eu passei um longo tempo para entender. Eu sinto muito, você estava machucado o tempo inteiro. Por minha causa. 

Eu aprendi que a mente é como um barril, com o passar do tempo, ele transborda. Algumas pessoas nascem com uma condição em que eles não conseguem se manter estáveis, eles sempre estarão transbordando. Aprendi também que transbordar também é sinônimo de perder o controle.  Eu fui diagnosticado com o probleminha do barril instável, eu gostaria que soubesse e não esquecesse que procurei sim os médicos que você gritou que eu preciso quando me deixou. Na verdade, quem parecia me entender era uma mulher chamada Sooyu, ela disse que era psiquiatra e que poderia me fazer descansar. 

Eu também quero que saiba que eu tomei os remédios, muitos deles, mas eles me deixaram mais triste. Ela disse que era normal e a última vez que eu a vi havia uns homens estranhos me tirando de perto dela e seu rosto parecia machucado, mas não entendi. Eu gosto de Sooyu, por que ela gritou comigo daquela forma?

(Pausa.)

Me desculpe por estar perdendo o foco, você como ninguém sabe que meu défict vem desde a época da escola. Eu lembro das suas lágrimas, de como você me pedia para parar. Mas parar com o que? 

Eu lembro apenas das costas dos meus dedos acariciando sua bochechinha avermelhada de calor porque você tinha o costume de dormir com o ar condicionado desligado em noites que começavam frias e acabavam por esquentar só depois.

Mas você me expulsava quando me capturava te observando. Parecia ter repulsa de mim. 

Na verdade, quem não tinha?

Você foi o único que se aproximou o suficiente e veja bem o quão saiu machucado. 

(Fungada.)

Eu não quero me prolongar, por isso eu vou tomar as medicações que preciso para finalmente melhorar e descansar. 

(Longo suspiro, pausa silenciosa e breve ruído de várias cápsulas caindo no chão, barulho de goles enquanto um pequeno 'tic' de uma por uma sendo pega é soado.)

Por favor, não se sinta culpado, por favor. Eu só... Eu não queria admitir isso porque eu não quero que chore, mas eu simplesmente não consigo mais respirar sem você.

(Outra longa pausa.)

(Fungada chorosa.)

Eu sinto muito, eu acho que estou perdendo o controle novamente. Mas dessa vez, não tem nada a ver com ser agressivo, alucinado ou totalmente insano. É apenas a velha depressão estilo tristeza adolescente e eu me sinto protagonista de um filme juvenil de doença terminal. Mas aqui é um pouco mais trágico e até cômico, eu sou apenas um louco apaixonado.E não é como o significado conotativo desse termo que tantas pessoas usam por aí. Eu sou louco, demente, insensato. E sou apaixonado, fascinado, afeiçoado por você.

Eu sinto muito, muito mesmo. Isso não é para ser triste e (tosse seca continuada, respiração fraca)... Não chore por mim, por favor. Eu não mereço suas lágrimas, não mereço seu sofrimento e não mereço sua presença para reconhecer meu corpo. Eu serei enterrado como um indigente, como eu sempre tive que ser. Eu sinto muito por ter prometido te dar filhos, eu nunca fui brilhante o bastante para ganhar um bom salário e ir em uma ala de adoção que você sempre achou tão adorável. Eu sinto muito por ter te prometido felicidade, porque eu nunca soube o conceito disso que não envolvesse você. Eu sou um vazio, um...

(Alto barulho de arrombamento, vários passos pesados e armas sendo destravadas.)

Você está preso pela morte de Byun Baekhyun! (voz distinta, barulho de algemas)

Eu não o matei... Eu não o matei, eu não o matei, eu não o matei... Eu não o machucaria de novo, eu não o machucaria de novo, eu não o machucaria de novo! (repetições incansáveis e ruídos chorosos)

(Passos.)

Achamos o corpo! (outra voz distinta)

(Barulho de passos mais próximos.)

Você estava gravando o que, Park? A sua loucura?! E isso aqui? (barulho de chutes fortes, ruídos de dor) Estava tentando se matar? É o melhor a se fazer mesmo, você é um louco que merece morrer! (barulho de vômito, mais chutes) 

Mate-o! Ninguém vai saber que esse infeliz foi assassinado, já estava se matando mesmo! Jogamos o corpo no rio. (mais uma voz distinta, mais chutes)

(Fim da gravação)

 

2016.

Park Chan Yeol, 23. Acusado de abuso, estupro e assassinato para com o melhor amigo, pelo qual nutria um forte sentimento que não lhe era retribuído. O rapaz foi diagnosticado com forte atividade psicótica e transtorno bipolar, tal que distorcia a realidade de sua imaginação e achava namorar o amigo, de nome Byun Baekhyun. O corpo do último foi encontrado na cama, com os cortes fundos da causa da morte extremamente limpos, o corpo estava nú e debaixo de cobertas, algumas suspeitas afirmam que o assassino chegou a cometer necrofilia, mas o legista não divulgou tais afirmações. O namorado de Byun, que pediu para se identificar apenas por Oh, afirmou que Chan Yeol havia pedido para o outro ir visitá-lo naquela casa, prometendo ter tomado os remédios que lhe havia sido prescrito, entretanto, tudo indica que ele na verdade estava em total surto psicótico quando esfaqueou insanamente o melhor amigo.

 

2018.

Um corpo foi encontrado no rio. Com ele, havia apenas um gravador pequeno, antigo e degradado pela água doce. A polícia em parceria com o médico legista diagnosticou como um suicídio, mas ninguém soube reconhecê-lo. Assim, foi enterrado como indigente.



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