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História Teorias esquecidas - Anotações


Escrita por: wpetals

Notas do Autor


Olá, aqui vai o meu novo projeto. Tirando os meninos da banda, tudo aqui é de minha autoria. Havia postado em outra conta, mas acabei perdendo-a. Espero que aqui dê certo. É uma short-fic com bastante mistérios em relação ao protagonista e, também, narrador: Zain Malik. Eu poderia esperar p postar amanhã, mas não consigo. Rsrsrs. Grande beijo.


Não faça cópias, seja criativo.

Capítulo 1 - Anotações


ZAIN MALIK

 

“A MODA URBANA CONTEMPORÂNEA. Você NÃO PODE ficar de fora.” Está escrito na capa da revista que tenho em mãos e isso me faz pensar no tipo de mídia que está sendo comercializada hoje em dia. Ou será que foi sempre assim? Muito exagero e muita falácia em quase todas as matérias. É claro que devo me preocupar com tudo isso enquanto pessoa pública, mas ainda que fosse diferente, eu o faria.

 

Esse é o resultado de mais de trinta minutos de espera: análise de discurso em revistas. Caramba! A culpa é minha, eu quem aceitei acompanhar minha namorada nessa reunião. Só não pensei que, com toda certeza, ficaria de molho durante todo o tempo em que ela estivesse discutindo os novos projetos com seus assessores.

Milhares de discussões na minha cabeça e de uma vez. A revista e seus títulos, o discurso, coisas que tenho pra fazer, o tamanho da sala em que estou, o clima durante essa semana e por aí vai... O cérebro humano é uma “máquina”, se é que eu posso assim dizer, sensacional. São milhares de informações absorvidas por segundo. Há informação em todas as direções, além de toda a informação vagando dentro da gente sem referentes externos simultâneos, e precisamos lidar com elas também.

Quando termina a reunião de negócios da minha namorada, nós regressamos à garagem do prédio. Ela me leva até a minha casa, na verdade, é um apartamento, no que nada difere do sentido de lar. Não ficaremos juntos hoje porque preciso colocar em prática meus planos de setenta e duas horas atrás: compor. O que tem sido muito complicado considerando a facilidade que eu tenho para criar novas canções. Eu sou músico/artista e componho minhas próprias canções, caso não tenha ficado claro.

Para que o trabalho dê certo, preciso ficar sozinho, ou quase sozinho, fazendo companhia para o meu eu-poético, um cara alto, bem alto, de cara limpa e o nariz meio comprido. Ele é bem diferente de mim, não falo sobre ele com ninguém, as pessoas me chamariam de maluco. Não posso fugir da realidade, mas posso manipulá-la a meu favor. É o caso do meu eu-poético, ele tem vários nomes aí pelo mundo: criatividade, imaginação, inspiração. Pois é. Só que pra mim ele continua sendo personificado, prefiro assim.

Compor sempre funciona melhor quando se tem trilha sonora. No apartamento, eu ligo o toca-vinil e escolho meu disco da Mazzy Star para reproduzir, uma banda que continua valendo a pena. Sentamos, eu e o meu eu-poético, de frente para o monitor. Temos bastante cigarro, um cinzeiro, bebida alcoólica e maconha. Perfeito. A nossa conexão acontece quando o meu cérebro dá indícios de que vai se esvaziar.

Ali dentro da minha cabeça, enviando imagens em branco para os meus olhos, apenas a voz doce da vocalista da Mazzy.

Estamos indo bem.

E na primeira frase em meio ao torpor, travamos. Droga.

Isso tem se tornado recorrente.

Inferno.

Desisto de compor, entregando-me de corpo e alma ao meu alento: o cinzeiro e a maconha.

Amanhece o dia e estou completamente sozinho. O disco terminou há horas. O corpo dolorido reclama comigo por tê-lo feito passar a noite na cadeira dura e sem-jeito da varanda. Eu o recompenso com um banho morno e duas xícaras de café.

Que bela manhã londrina: o céu nublado e a sensação de que a temperatura despenca um pouco mais a cada minuto. Respiro fundo, o suficiente para sentir o meu estômago vazio. Ainda pensando que preciso compor, apanho o agasalho e vou para o metrô. Uma viagem curta. Desço na estação Westminster.

Lá está o grandioso relógio conhecido pelo mundo inteiro. Já fomos devidamente apresentados há muito tempo, sei muito dele e ele muito mais de mim. Turistas empolgados fazem fotos e mais fotos, o trânsito de pessoas é incansável, também o de veículos, mas estou atento. E nos esbarramos por aí, mas ninguém se apresenta ou se cumprimenta com aquelas frases prontas, são só – vez ou outra – pedidos de desculpas.

Essa superficialidade está me matando.

São tantos rostos inexpressivos, tantos mundos indo e vindo e, inacreditavelmente, eles não se misturam, não se contaminam. Pelo menos, acreditamos, eu e eles, que não. Algum fiapo de pura esperança ainda crê, dentro de mim, que nos conectamos de uma forma ou de outra sem tentar, como se fosse da natureza humana. Vai que é?

Com tantos propósitos para as próximas doze, treze horas, tanto o que ver em nossos aparelhos eletrônicos, tanto o que ver e resolver, porém bem pouco para trocar. Não se trocam olhares, pensamentos, opiniões ou exageros cometidos, nem os erros ou angústias. Não trocamos vivências, não nos fazemos perguntas, mas isso eu já havia dito. E por quê? Eu gostaria que me respondessem sem desculpas. Sinto-me ingênuo por ansiar coisas quase impossíveis.

Bem a minha frente, num primeiro ângulo, têm mais de cinco pessoas. Uma garota de cabelo castanho, jogado para trás dos ombros, seus ouvidos estão cobertos por fones imensos. O agasalho dela é exatamente como o meu em cor, modelo. Enfim, é o mesmo. Ela está de cabeça baixa. Daqui vejo pálpebras, cílios, um nariz singularmente inglês e lábios finos, nessa ordem. De tão concentrado que estou nela, meus sentidos se limitaram. Sigo em passos lentos sem perceber mais nada que não fizesse parte do conjunto que compunha a garota londrina. Sua boca se move com tanta exatidão – ou fiquei obsessivo por esses segundos – que desvendo, sem qualquer dificuldade, o que ela canta em silêncio:

 

"Stop your crying, baby, it’s the sign of the times…"

 

E paro, mas estou acelerado: uma reação muito complicada para se explicar.

Harry Styles ali, na boca dela. O nome, sua imagem e tudo o que a ele é relacionado vem surgindo na minha cabeça com a leitura labial.

Vai acontecer de novo. Está acontecendo. A garota me alcança, ela me ultrapassa, olhando-me sem entender o porquê de eu ter ficado encarando como se quisesse falar alguma coisa, praticamente impedindo-a que seguisse em frente. Eu sei que para ela, naquele minuto de pura espontaneidade humana, eu sou um tremendo mal-educado.

Harre. Na boca dela. E sempre, sempre, no meu coração.

Ainda não pude esquecer.

Mesmo que atordoado, eu preciso continuar. Meu estômago vazio é um coitado que reage às minhas emoções, parece estar se revirando dentro de mim. Fome, medo e ansiedade de uma só vez. Encontro a confeitaria por um milagre e entro, não sou recepcionado. Nada de novo, somos todos superficiais.

Outros gloriosos seres avançados por aqui também, todos fechados em seus próprios universos e constelações. Escolho uma mesa vazia, faço parte dos “seres avançados”, nunca neguei. Encomendo donuts e café artesanal com a menina que viera me atender. Enfim, um tipo de recepção, não que eu esteja ligando para isso nesse instante.

É inacreditável o quanto eu sou vulnerável a lembranças. Pelo o que tenho lido e escutado, não sou o único. Além de não saber lidar com elas, eu me sinto envergonhado pela minha fragilidade diante das mesmas, e não assumo nada disso. Vivo escondendo-as como se tudo já estivesse sido apagado. Só que o cérebro é aquela tal “máquina” impressionante e ele, claro, não vai se livrar de momentos tão ímpares por uma simples vontade minha.

Pego meu celular. Estranho seria se eu não tivesse um desses aparelhos lotados de mensagens, óbvio que eu tenho. Eu também nunca neguei minha culpa na superficialidade, pelo contrário.

Namorada, namorada, namorada. Mensagens dela de “Boa noite” e declarações de amor. Eu também a amo, ela é uma mulher forte, alegre e intuitiva. É sempre muito paciente, justa, alguém que eu não posso, nem quero, magoar ou ferir de forma alguma. Ela me mantém iluminado. Eu a amo demais.

Entre pensar em minha namorada e tentar não decifrar o falatório ao meu redor – porque esse é o meu carma: estar atento até ao menor dos detalhes –, eu abro meu bloco de notas. A minha necessidade de falar sobre Styles é tamanha que eu sequer preciso de ouvidos escutando. E digito:

 

“Aquela menina da estação, de quem eu já não recordo as feições, estava recitando um dos teus poemas, vulgo canções. Certamente, não tão bem quanto você o faz. Ninguém o faria. É realmente intrigante o quanto suas palavras têm força até em outras vozes que não a sua.

Aqui em Londres, 07/03/2017, numa confeitaria, ainda pensando em diversas possibilidades de... Mentira. Eu não estou pensando em nada além de como essa mesa está suja e o que eu posso escrever. Sempre batíamos na mesma tecla enquanto compúnhamos juntos para a banda ou para nós mesmos: que a gente não devia pensar durante as composições porque isso poderia torná-las muito rasas, sem sentimentos verdadeiros, queríamos versos diretos da alma. É quase impossível fazer isso, caro Harre. Eu tenho certeza. Formar versos requer pensamento, requer ideias e... Eu não quero perder muito tempo nisso. Clássico que eu me estenda em assuntos de menor importância.

Como é estranho ter sua plena confiança num dia e, no outro, perder-te por completo, como é fantasioso pensar que, no fundo, ainda somos uma ótima dupla, grandes e bons companheiros. Fomos o apoio um do outro por tanto tempo, mais eu para você do que você pra mim. Culpa minha que não me abria.

Engraçado porque eu continuo introspectivo quando se trata disso, como se nunca tivesse recebido uma chave para o meu coração. Você dizia que eu só precisava me sentir à vontade, mas não é bem assim. Você foi a pessoa com quem eu mais me senti à vontade na vida, Harre. Sem parecer compreender uma mísera confissão minha, você me deixava falar e falar enquanto ficava quieto, numa outra dimensão só sua. Eu falava por horas às vezes e você estava lá, batendo os dedos em algum lugar ou simplesmente parado, cumprindo com o que eu precisava: uma presença humana. Não eram confissões comuns ou objetivas, claro que não. Eu lhe contava histórias completamente aleatórias, de pessoas que migraram de seus países, de uns tombos que eu levei na infância e dos cortes nos joelhos que me restaram depois, de filmes inacreditáveis dos quais eu tinha assistido. Eu quero lhe confessar que, toda vez que eu lhe contei uma dessas histórias, eu punha para fora alguma mágoa minha ou te dava permissão para entrar no meu mais secreto íntimo repleto de fatos que eu, infelizmente, ainda guardo comigo. E, sinceramente, acho que você sabia de tudo.

Agora, corrijo o que eu há pouco afirmei: fomos o apoio um do outro por tanto tempo, NA MESMA INTENSIDADE um para o outro. O meu rótulo foi e sempre será o de uma pessoa reclusa, que não se abre com relação aos seus sentimentos. Sabemos que nada disso é verdade.

Uma vez você me disse que tudo o que se passava dentro de mim estava tão à mostra que nem era preciso perguntar. Eu pensei nisso por dias, Harre. Como eu podia ser decifrável dessa maneira? E sem poder me conter ou simplesmente esquecer isso, fui até você e pedi para que me explicasse. Você o fez, respondendo que não havia falado de ser ou não ser decifrável, mas sim de sinceridade. Foi breve, objetivo. Para mim, não necessitava dizer mais nada, você tinha dito tudo. Nunca me senti tão verdadeiro e especial. Primeiro, por você ter me percebido de uma maneira tão única, e em segundo, por eu sentir que estava sendo alguém que eu mesmo me orgulhava em ser.

Ontem, enquanto eu tentava, sem sucesso, compor algo novo para o próximo álbum, pus Mazzy Star pra tocar. No momento, você não me veio à mente, o que é deveras confuso e de possível especulação, afinal Fade Into You era um hino para nós dois. Só não perdia para as favoritas do Pink Floyd. Sinais como esse me deixariam confiante e esperançoso de que tudo realmente chegou ao fim e, assim, eu teria uma caixa de lembranças para acessar quando desse vontade.

Nada como um dia após o outro. Hoje tudo voltou com total força e eu não tenho ideia de como me explicar, nem sei se eu preciso. Você ainda está tão vivo em mim quanto o meu próprio eu, não o poético ou algo inventado, mas sim quem eu sou com toda a minha sinceridade que, em suas palavras, é grande à ponto de me fazer transparente e o máximo verdadeiro que der.”

 

Eu ainda tinha muito a escrever, mas o meu café artesanal estava sendo servido e sou obrigado a ser cordial e agradecer. Findou ali mais uma sessão sobre desabafar o mais profundo do meu ser, e ela havia sido muito melhor dos que as de terapia que eu andava fazendo com uma psicóloga norte-americana.

 

–––

 

Aos sábados, eu e minha namorada costumamos marcar um encontro. Não precisa ser uma saída ou ida ao restaurante, só temos de estar juntos. Neste sábado, faríamos algo corriqueiro: filme e pipoca no meu apartamento, que é alugado, então não é tão MEU assim.

Na metade de Guerra nas estrelas, um longa que eu sei até as falas, ela me beijou. Estando abraçado a ela, não foi difícil de correspondê-la. Do beijo, pulamos para um amasso mais ousado e vou apalpando o corpo dela como se ele fosse feito de algodão. Esquentamos num segundo, prontos para avançar.

Um importante diálogo está acontecendo no filme, mas não é da nossa conta. Permanecemos nos beijando. Entre línguas e lábios, ela me tira a camisa e eu faço o mesmo com o suéter dela. Voltamos a ficar abraçados, muito mais empolgados, decididos.

Não demora a estarmos unidos. Minha namorada e eu. No sofá da sala. Ela por cima, conduzindo a si mesma e a mim. O sexo está bom, mas não consigo me concentrar nela. Eu me lembro de já ter dito: ela é intuitiva, de certo notou a minha situação. Procura dar tudo o que tem para mim e eu tento fazê-la levar todo o empenho a favor dela, esquecer que estou aqui para que não acabar frustrada. Um tolo que não está sabendo aproveitar o tanto de amor e desejo que a namorada tem para oferecer.

Por mais que eu trabalhe mentalmente para mergulhar nesse mar de prazer, não surte efeito. Minha namorada ainda não desistiu, mas eu sei que não vai demorar. Antes que ela encontre um meio de atingir o mais saboroso do ato, paramos. Seus olhos são os de uma juíza que acabou de dar seu veredito: eu sou culpado. Ela se afasta, não fica mais tímida com tudo isso porque não é a primeira que acontece.

 

“Achei que estávamos numa boa.” Ela me diz e se senta longe, procurando cigarros nos bolsos da minha calça jeans que estava embolada no chão.

 

“Estamos.” Eu minto mesmo sabendo que ela não vai acreditar.

 

“Zain...” Ela me olha com seriedade, pronta para me falar um monte de coisas, mas abre mão do próprio querer e fica em silêncio. É o mesmo que afirmar: Não vale o esforço. Eu nem preciso que ela diga.

 

“Eu tô indo...” Assim ela me deixa. Carrega suas roupas e o meu maço de cigarros como recompensa por ter aturado a situação constrangedora. Não me mexo, nem pretendo. É aquele problema da sinceridade.

 

Ah, Harry... Eu achei que tinha esquecido.


Notas Finais


Zarry foi o primeiro ship da banda que eu me arrisquei a escrever, imagino como esteja o fandom, mas eu tenho sentido que precisava escrever algo com eles. Fade into you é uma canção da Mazzy Star uma banda que, infelizmente, acabou. Mas as canções ainda valem muito a pena. Quem quiser dar uma olhada. <3


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