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História Teorias esquecidas - Aproximando-me do purgatório


Escrita por: wpetals

Notas do Autor


Aqui vai outro capítulo, nele há menção de outra música da banda Mazzy Star, conforme eu havia dito no cap. anterior, é uma banda que acabou, mas que vale muito a pena.

Não faça cópia, seja criativo.

Capítulo 2 - Aproximando-me do purgatório


ZAIN MALIK

 

Depois de ela ter me deixado, minha namorada, eu permaneço atirado no sofá conforme estava: sem as roupas, olhos congelados e a minha cabeça igual a um vulcão em erupção. Não tem outro jeito, reclino para frente e passo a mão da testa aos cabelos, possivelmente preocupado com ela, e terrivelmente preocupado com as lembranças que tive de Harry nas últimas horas.

Que droga essa sinceridade.

E me levanto, vou até o batente da janela da sala. Apoio a cabeça no vidro liso, embaçando-o com o ar que sai da minha boca e narinas. Olho para a direita, na direção da estante de duas prateleiras.

Não acredito que farei isso.

Já estou aqui, segurando o meu celular, preparado para cometer um erro que já estou arrependido. Encontro o número ainda arquivado na letra H.

Certo, vamos lá.

Chamando. O bip toca uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete... Ele atende.

 

“Olá.” Sua voz chega abafada ao meu ouvido.

 

Eu nem mesmo respiro, perdi a fala.

 

“Olá? Tem alguém aí?” Harry insiste.

 

Estou me desmontando inteiro por dentro, cada pedaço rolando pelos membros, fazendo minhas pernas ficarem dolorosamente pesadas a ponto de me derrubarem no chão. O celular continua pressionado na orelha, ele e o silêncio de nós dois.

 

“Olá?” Eu sei que você só vai tentar dessa vez.

 

Não foi diferente, Harry desliga. Mas eu ainda não pude fazer o mesmo. Styles não tem ideia de que sou eu quem estava na linha, por isso jamais vai desconfiar da minha falta de coragem ou de eu ter pisoteado o meu orgulho, espancado o meu ego e trancado ambos dentro de um quarto escuro, nos fundos do meu eu-sincero.

Pareço assustado, em surto. De quatro pés, carrego o meu corpo para perto do toca-vinil. O celular caiu de rompante lá atrás, tão quieto ou eu que não me importei sequer por um segundo.

O disco da Mazzy está por cima de sua grande capa cor púrpura. De joelhos, eu o encaixo do melhor jeito – de que sou capaz – para ouvi-lo sabendo que, dessa vez, vou pensar em Harry em todas as faixas.

Eu me transformo numa poça humana por cima do carpete da sala. Ainda sem roupas, olhos congelados e a cabeça borbulhando em lava, porém com Into the dust dando sonoridade ao cenário.

O que será de mim quando chegarmos à canção Fade into you?

 

 

–––

 

 

“Em 12/03/2017, ao entardecer. Querido amigo de anos, há quanto tempo não nos falamos? Há quanto tempo não nos encontramos por aí? Daquele modo que não parece comum, mas é: por acaso, por coincidência. Estou passando por outra crise emocional. Não acredito que, nesse caso, seja diretamente ligada à ansiedade e o mal que ela me faz, o problema me parece ser outro.

Sei que não me curei, mesmo com o tratamento, os medicamentos e a terapia. Tenho a sensação de que tudo não tem passado de folgas dadas pela vida para que eu me encha de esperança e aí me frustre de novo. Talvez eu esteja sendo ingrato, mas o que eu posso fazer? Já foi.”

 

Sou interrompido enquanto escrevo por um casal com seus cães e filhos – tomara que essas interrupções não virem rotina –, eles também vieram passar a tarde aqui no parque do relógio e, pelo tanto que me encaram, devem estar querendo o disco amarelo néon que repousa nos meus pés sem que eu ao menos tivesse percebido. Aqui vai! Atirei o objeto nas mãos de um dos garotos e o ouvi agradecer. Não foi nada.

Cogito voltar a escrever. Antes que eu o faça, minha namorada aparece na tela do celular, uma chamada sua. Eu atendo, tenho um milhão de coisas planejadas para falar desde outras vezes que ficamos na mesma, mas nada me vem à mente.

 

“Zain?” Ela diz meu nome, meio duvidosa. Respondo com um murmúrio e ela continua: “Como você está?” Acho que não falaremos sobre ontem e o... Acidente?

 

Eu estou bem, claro que estou. Ela não precisa saber de tudo assim: por telefone.

 

“Você tem certeza? Sábado...”

 

Ah não... Conclui rápido demais. Vamos sim falar sobre ontem. Não deixo que ela prossiga, é isso ou terei de falar a verdade. Digo que estava num dia ruim, me sentindo pressionado com o novo álbum que precisa sair e eu ainda não tenho nada. Se não me engano ou quero me iludir, a namorada compreendeu e aceitou. Mesmo assim, peço desculpas, sussurrando que a amo enquanto ela tenta descobrir se estou falando sério ou quero desviar do assunto.

É uma mulher intuitiva, e eu já disse umas duas vezes.

 

“Zain, por que você não fala comigo? Me diz! Você não pode passar por essas coisas sozinho, já conversamos tanto sobre isso. Eu só quero o seu bem. Você precisa confiar em mim.”

 

Quem sabe eu ainda não esteja repetindo que a amo? Só que não adianta.

 

“Vamos fazer assim: eu vou te ver, podemos conversar numa boa e, se você se sentir confortável, então me conta o que tá acontecendo, ok? Você tá passando por aquelas crises de novo?” Ela sugere e depois é contrária ao que disse, fazendo-me uma interrogação antecipada. Fico perdido.

 

“Zain?”

 

Eu não quero falar, não vou, não posso. Eu vou cuidar de nós dois, fazer valer o que ela tem feito por mim. Quase me esqueço de que ela precisa de uma resposta pra confirmar se eu ainda a escuto.

Ok, eu topo, também não posso ignorar que ela está se esforçando.

 

Voltar pra casa, quando aquela ligação terminou, foi como seguir por um caminho em que o destino está traçado e não há como escolher entre uma coisa ou outra. Minha namorada não se atrasou, a gente se reuniu na minha cama, no quarto. Agimos como se tudo estivesse na maior das normalidades e o ontem não tinha acontecido.

Com ela envolvida no meu corpo, nós dois deitados e quietos, meu cérebro ganha vida própria: montando cenas que eu pensei ter esquecido. Cenas em que eu e a banda participamos como protagonistas. Estamos os cinco reunidos, brindando quando tudo começou. Em seguida, aparecemos dentro de cômodos com sofás ora de veludo vermelho, ora couro escuro. Depois, há um diálogo com perguntas prontas faladas ao fundo. Por último, aparecemos eu e Harry, o seu cabelo está bem cheio e embaraçado, seu antebraço cobre os olhos e o alto do seu estômago sobe e desce depressa como se ele estivesse...

Não pode ser...

Ele... Ele está chorando. Mas por quê? Não suporto vê-lo chorar. Não suporto assistir a quem quer seja em prantos, quanto mais Harre. Eu quero ir até ele, fazê-lo parar, consolá-lo, pedir desculpas...

Eu quero pedir desculpas?

Então eu sou o motivo. Não, não...

Não pode ser. O que eu fiz?

Espera, eu... Eu estou saindo da banda, abrindo mão de tudo.

Não, Harre, não. Eu não quero que você chore por isso. Não, Harry, vem até aqui. Harry, eu não quero magoar você...

Harre... Harre, pare, por favor... Pare, Harry. Por favor... Por favor...

 

“Zain? Você tá ouvindo? Zain?” Minha namorada me sacode pelos ombros, olhando-me assustada. Também devo parecer ter levado um susto, ela continua com seus olhos bem abertos na direção do meu rosto, pedindo explicações com eles.

 

Eu me levanto, sentindo um calor absurdo. Abro as janelas, não ligo se a temperatura lá fora está negativa. A namorada me grita coisas que não entendo, não consigo. Ajoelhada na cama, apontando para mim.

Eu acabei de sair de um devaneio, pelo amor de Deus. Minha cabeça vai explodir!

Ando de um lado para o outro, ela ainda está gritando e chora ao mesmo tempo, confessando que nem ela mesma encontrou sentido pra tudo aquilo. Aí, suas exclamações acabam e ela se cala, apenas resmunga entre o choro, mas eu ainda não a compreendo.


Notas Finais


obrigada pela leitura, minhas revisões não foram muitas, então... Desculpem os erros ? <3


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