Me remexo na cama e sinto um raio de luz solar bater contra minhas pálpebras ainda fechadas. Sorrio, contente demais para abrir meus olhos, porque apesar de tudo, esse foi provavelmente uma das melhores noites de sono que já tive na vida. Fico um pouco aliviada quando não sinto o corpo de Camila pressionado contra o meu, acho que provavelmente ela já se levantou ou só rolou na cama para longe de mim. Acho que nem me importo, estou relaxada demais agora, parte de mim só quer voltar e continuar dormindo.
Sinto o corpo de Camila se mexer ao meu lado, aproximando-se até ficar do lado da minha orelha. Meu estomago revira quando ela subitamente lambe o lóbulo da minha orelha.
- ‘’Camila, nós não podemos,’’ suspiro com a voz tremida, minha mão apertando as cobertas na cama.
- ‘’Não podemos o que?’’ escuto Camila perguntar mas sua voz está muito distante. Abro meus olhos de supetão e olho para meu lado direito. Sofia está deitada na cama ao meu lado, sua cabeça inclinada me encarando curiosa.
Meu estomago revira novamente quando Camila gargalha, ela está parada próxima a porta.
Murmuro em reclamação e fecho meus olhos, sentindo minhas bochechas corarem furiosamente pela vergonha.
A porra de uma cadela lambendo minha orelha conseguiu me deixar excitada.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto e escuto os passos de Camila se aproximando até que sinto seu peso na cama, ela sentando bem próximo a mim. Ela continua rindo e eu não tenho coragem de olhar pra ela agora, estou sempre fazendo papel de babaca perto dela.
- ‘’Lauren,’’ ela cantarola meu nome, o que faz meu coração flutuar, ‘’Por favor, isso não foi nada demais, só olhe pra mim.’’
Mesmo sem querer eu abaixo minhas mãos do meu rosto e a encaro, meus olhos ainda desfocados do sono. Ela está sorrindo para mim, noto que ela está usando um macacão e botas e eu me pergunto a quanto tempo ela está acordada, e o que ela estava fazendo.
- ‘’Pra falar a verdade eu me sinto meio ofendida, eu nunca seria tão descuidada assim com minha língua’’ Camila sorri para mim. ‘’E, esse também não seria o primeiro lugar em que eu te lamberia’’ ela fala com um tom tímido.
Solto o ar que eu não tinha percebido que estava segurando e sorrio para ela nervosamente, sentindo cambalhotas no meu estômago e só deus sabe o que no meio das minhas pernas. Ela está apenas sentada ao meu lado e as cobertas estão separando nossos corpos mas eu já a sinto próxima o bastante e não consigo me concentrar.
- ‘’Você disse que nunca iniciaria nada então eu deveria ter percebido’’ falo dando uma risada estranha.
Me sinto muito vulnerável deitada com ela me olhando por cima então eu me sento lentamente, minhas mão apertando firme nas cobertas. Aliso a cabeça de Sofia para ocupar minha mão.
- ‘’Eu descobri o que era o vazamento de água,’’ ela fala para mim como se percebesse meu desconforto.
- ‘’Foi?’’
- ‘’É, no banheirinho do outro andar, o cano do chuveiro estava bloqueado e a água estava vazando e enchendo todo o chão. Basicamente o chão tinha uns buraquinhos então encharcou seu teto um pouquinho, mas está tudo consertado agora’’ ela diz e sorri para mim educada.
- ‘’Ok,’’ aceno e me sinto estranhamente desapontada por algum motivo. ‘’Obrigada Camila.’’
- ‘’Sem problema, a Senhora Campbell fez café da manhã, você deveria descer e se juntar a nós,’’ ela fala e se levanta andando até a porta, me lança um sorriso e some.
Solto um suspiro de alívio. Deus. Por que eu vim aqui mesmo? Acho que ela vai acabar me matando. Me levanto, penteio os cabelos, lavo meu rosto e visto um short jeans e uma blusa branca normal.
Algum tempo depois desço para a cozinha, a Senhora Campbell, Teddy e Camila estão todos sentados à mesa de jantar comendo e conversando.
- ‘’Bom dia Lauren, eu te deixei um prato pronto no fogão’’ a Senhora Campbell sorri para mim.
- ‘’Obrigada,’’ murmuro, meus olhos imediatamente se prendendo aos castanhos mas rapidamente desviando. É tão estranho tê-la aqui; eu consigo sentir seus olhos constantemente em mim.
Pego um prato com ovos e bacons e sento ao lado de Teddy, oposta a Camila e a Senhora Campbell.
- ‘’Nós estávamos falando sobre seu casamento’’ Senhora Campbell me fala.
- ‘’E-e-estavam?’’ gaguejo nervosamente e olho para Camila mas ela só encara seu prato silenciosamente.
- ‘’Eu estava dizendo que Camila deveria ser sua madrinha, seria muito legal, ela é especificamente parte da família agora!’’
Sinto o sangue correr do meu rosto e eu olho para Camila que só sorri triste para mim, parecendo envergonhada.
- ‘’Oh... eu não sei... Ally já é minha madrinha.’’
- ‘’Você pode ter mais de uma, bobinha!’’ Senhora Campbell me avisa. ‘’Camila amaria ser uma, não amaria Camila?’’
Camila limpa sua garganta e acena fracamente, ‘’Sim... isso seria legal,’’ ela fala baixinho.
Oh meu jesus cristo não posso acreditar que isso esteja acontecendo, quero que o chão me engula e eu suma daqui.
- ‘’Todos nós sabemos que Lauren não vai pra frente com esse casamento’’ Teddy sorri e me empurra um pouquinho com o braço.
Sinto outra crise de pânico viajar pelo meu corpo e eu gaguejo novamente, ‘’O-o que você está falando?’’ tento falar e sorrio nervosamente.
- ‘’Todos nós sabemos que você quer algo melhor’’ ele sorri, apontando pra si mesmo.
Suspiro em alívio e rolo meus olhos para ele. Olho para Camila que está colocando outra colher cheia na boca, mas antes disso consigo ver um pequeno sorriso aparecer rapidamente.
Meu coração treme e eu sorrio um pouquinho para ela, sabendo que ela verá de canto de olho.
Depois que terminamos a refeição Teddy precisa sair no trator e Camila fala que tem coisas pra fazer hoje. Ela sai pela porta da frente e eu não consigo afastar o sentimento de que ela está me evitando. Saio a procurando e a encontro na varanda da frente.
- ‘’Hey, hmmm Camz?’’
- ‘’Sim?’’ ela se vira como se estivesse esperando que eu a seguisse.
- ‘’T-tudo bem, e está tudo bem se não, mas tudo bem se eu só... passasse tempo... com você hoje? Eu realmente não sinto vontade de estar com o Teddy e eu não vou te incomodar nem nada, eu não sei...eu só assistirei você trabalhar ou algo do tipo...’’
Puta que pariu. Sempre que penso que não posso ficar mais nervosa eu vou lá e dou um jeito de me provar errada.
Ela sorri um pouco e se vira andando para longe de mim.
Franzo a testa.
- ‘’Vamos lá linda’’ ela me chama por cima do ombro.
Sorrio e tento fortemente não sair saltitante feliz atrás dela.
O dia passa bem devagar, vejo Camila alimentando os animais e fico bestificada porque ela sabe até como tosar ovelhas. Só a assisto e puxo assunto sobre coisas triviais. Percebo que ela está bem calada hoje, quase como se não quisesse falar, porém, tudo bem por mim. Fico alegremente só a assistindo.
Um tempo depois nós duas vamos até o celeiro com o abastecimento de feno. Camila está movendo grandes quadrados de feno do caminhão até o celeiro. Assisto-a mordendo meu lábio enquanto a vejo suando um pouco. Estou tão distraída com seu rosto e seus braços e tudo.
Porra, consigo até ver seus seios novamente, por que ela não usa um sutiã como pessoas normais?
- ‘’Precisa de ajuda?’’ pergunto percebendo que só ficar parada a assistindo não é muito produtivo.
- ‘’Claro.’’
Nós duas começamos a mover blocos de feno imprensado e eu fico surpresa por quão pesados eles são. Me toma basicamente meia hora para mover todos e eu tô suando como uma louca, Camila não está suando nem metade do que eu estou.
Ando até o fundo do celeiro para a área descoberta, subo na pilha de feno cuidadosamente e me sento ao lado dela. Novamente, é surpreendentemente confortável. Camila se mexe um pouco e seu cotovelo bate contra meu braço, me fazendo gemer com o contato.
- ‘’Desculpe,’’ ela murmura e se afasta de mim.
- ‘’Não... não foi nada,’’ falo estranha, triste que ela se afastou.
- ‘’Eu não estou suando porque eu não estou usando nada por baixo disso’’ consigo ouvir o sorrisinho na sua voz.
- ‘’N-nada?’’ gaguejo.
- ‘’Nada’’ ela sorri e chuta suas botas para fora de seus pés. ‘’Bem, a não ser que minhas meias contem.’’
Ótimo. Agora eu terei dificuldade para conseguir não encarar seu corpo.
- ‘’Veja, me desculpe pela Senhora Campbell mais cedo, ela tende a ficar animada com as coisas, você não tem que ser minha madrinha.’’
- ‘’Isso seria estranho,’’ ela fala honesta. ‘’Especialmente na parte do ‘’Se alguém é contra este casamento fale agora ou se cale para sempre!.’’
Me remexo no lugar e franzo minha testa para ela. Ela tem um sorriso leve no seu rosto.
- ‘’Por que, o que você faria?’’ pergunto seriamente.
Ela fecha seus olhos como se estivesse caindo no sono e levanta seu rosto para o céu. ‘’Não sei.’’
Mordo o interior da minha bochecha nervosa. ‘’Hmmm... então... esse lugar é bem legal para pegar um bronzeado.’’
- ‘’É’’ ela concorda.
- ‘’Hey, já que somos amigas agora, você deveria me dar seu número’’ falo nervosamente e pego meu celular do bolso.
Escuto ela gargalhando um pouco e ela toma-o da minha mão, vejo pelo canto do olho enquanto ela digita seu número e depois me devolve o aparelho.
Nós duas nos deitamos no feno e ficamos tomando banho de sol caladas por um tempo.
- ‘’Camila?’’ chamo-a baixinho.
- ‘’Sim?’’
- ‘’Me diz algo sobre você, qualquer coisa... como... como você encontrou a Sofia? Você a comprou? Ela é bem esperta e fofa.’’
Escuto-a tossindo nervosa e viro minha cabeça de lado para vê-la encarando as próprias unhas nervosamente.
- ‘’Ela veio até mim’’ ela fala baixinho e eu imediatamente sinto a mudança no seu humor.
- ‘’Ela foi até você?’’ pergunto.
- ‘’Sim,’’ Camila suspira e eu a escuto se remexendo. ‘’Meus pais morreram quando eu era nova então eu passei a maior parte da minha vida vivendo num orfanato.’’
Imediatamente me sento e olho para baixo em sua direção. Ela está se abrindo pra mim? Minha cabeça e coração começam a girar. Espero que esteja mesmo. Aceno um pouco para que ela continue e a assisto-a falando para mim, mas olhando pro céu.
- ‘’Bem,’’ ela suspira, ‘’eu era uma criança bem irritada, eu mal me formei no ensino médio, eu não tinha muitos amigos, meus pais tinham morrido, eu não tinha nenhum centavo ou alguma ideia do que queria para minha vida. Então quando eu completei 18 anos eu tive que sair do orfanato, eles me deram dinheiro o bastante pra alugar um apartamento horrível por um tempo e foi o que eu fiz, mas eu ainda não tinha nenhum emprego então era inevitável que eu fosse despejada depois de um tempo. Porém não muito depois eu recebi essa carta me dizendo que eu era legalmente a herdeira dos meus pais e que eles me deixaram todos os seus bens e dinheiro. Eu li a carta e reli por tipo uma hora inteira, e eu não conseguia acreditar.
- ‘’Q-q-quanto? Quer dizer, foi muito?’’ pergunto, minha garganta completamente seca por tudo que está saindo da boca dela agora.
- ‘’O suficiente para comprar esse lugar e mais’’ ela quebra o contato visual com o céu por um segundo e sorri pra mim. ‘’Mas na época eu não vi isso como uma coisa boa, eu estava deprimida. Eu me sentia culpada por repentinamente ganhar todo esse dinheiro, eu senti como se estivesse sendo recompensada só porque meus pais morreram. Sem mencionar que eu nem sabia o que fazer com o dinheiro, eu não sabia nem comprar coisas pra mim mesma ou como comprar uma casa e até como conseguir um emprego. Algumas horas depois de receber a carta eu quase a queimei, mas ao invés disso eu decidi deixa-la ao lado da minha carta de suicídio.’’
- ‘’S-s-sua carta de suicídio?’’ pergunto surpresa, meu coração a ponto de explodir. Automaticamente coloco uma mão em seu joelho e sinto a pele formigar. Ela eventualmente se senta e olha da minha mão para mim mesma.
Ela engole em seco e acena, ‘’Sim, minha carta de suicídio, eu fui no banheiro, peguei todas as pílulas que consegui encontrar, sentei no chão e quando estava começando a retirá-los das cartelas eu ouvi esse barulho estranho.’’
- ‘’O que era?’’ pergunto agoniada e percebo que estou me inclinando em sua direção.
Acho que acabei de apertar sua perna também mas eu não tenho certeza.
- ‘’À principio eu não sabia,’’ ela fala baixinho. ‘’Eu não estava em um estado mental muito bom mas por alguma razão isso estava me irritando e eu quis saber o que era o barulho, então eu me levantei e olhei ao redor. Eventualmente eu abri minha porta da frente e lá estava ela. Sofia. Arranhando a porta. Estava chovendo então ela estava ensopada e na época ela só era uma filhotinha mesmo. Ela passou direto por minhas pernas e foi direto pro banheiro deitar no chão exatamente onde antes eu estava sentada. É como se ela soubesse o que eu estava prestes a fazer e só ficava me encarando triste,’’ Camila sorri um pouco nostálgica. ‘’Ela era a cadela mais linda que eu já tinha visto e justamente no pior momento da minha vida ela apareceu e... me distraiu... me deu completamente uma razão para viver, mesmo que só mais um pouco.’’
Encaro-a prestes a chorar ou algo do tipo. Quero abraça-la mas me seguro.
- ‘’A parte mais estranha da história é que... ninguém sabe de onde ela veio.’’
- ‘’O que você quer dizer?’’ pergunto interessada.
- ‘’Nas semanas seguintes eu procurei os pet dogs e perguntei a todo mundo que via se alguém a havia perdido. Eu perguntei a todos do meu bloco de apartamentos, ela não tinha nenhum colar ou identificação. Ninguém a conhecia ou sabia de onde ela veio, ninguém em quilômetros tinha perdido um cachorro. Ela era literalmente uma ninguém, sem lugar pra ir ou nada pra dizer – assim como eu.’’
Ela sorri um pouco e percebo ser esta a primeira vez que a vejo nervosa.
- ‘’O que?’’ pergunto.
- ‘’Você vai me achar estúpida mas...’’
- ‘’De todas as coisas que eu penso de você Camila, essa nunca será uma delas’’ falo firmemente e sinto meu coração flutuando.
Seus olhos brilham mais ainda e ela sorri pra mim, logo abaixando seu olhar, suas bochechas avermelhadas. ‘’Bem,’’ ela fala lentamente. ‘’Legalmente eles disseram que depois de uma certa quantidade de tempo ela seria minha se ninguém viesse atrás dela. Pode parecer idiota mas na época, eu pensei que talvez... só talvez... meus pais tenham a enviado pra mim, para me impedir de tirar minha própria vida e para cuidar de mim e foi o que ela fez e faz desde então.’’
A encaro e sinto meus olhos lacrimejando e minha garganta fechando. Eu seriamente não posso chorar mas eu quero. ‘’Uau... só... uau’’ suspiro. ‘’Eu nem sei o que dizer.’’
- ‘’Então foi assim que eu consegui a Sofia’’ Camila diz, se forçando a sorrir. Eu quero dizê-la que ela pode chorar na minha frente, que ela não precisa fingir nada na minha frente. ‘’Ela simplesmente... veio até mim.’’
- ‘’Nossa...’’ falo, ainda bestificada. ‘’Você conta essa história regularmente?’’
Ela balança sua cabeça negativamente, ‘’você foi a primeira.’’
Porra.
Sorrio tímida. ‘’Estou honrada,’’ falo honestamente.
Nós duas ficamos sentadas em silencio por um tempo, até que ela se deita novamente e fecha seus olhos. ‘’Você se importa Lauren? Se eu tirar um cochilinho?’’
- ‘’Nenhum pouco’’ falo suavemente e sorrio para ela, meu coração inchando. ‘’Acho que vou me juntar a você,’’ falo enquanto deito também e fecho meus olhos contra os raios solares.
Caio no sono e acabo sonhando em abraçar Camila. Acho que quanto a isso eu não preciso de um profissional pra me ajudar a entender o porque disso.
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