1. Spirit Fanfics >
  2. Terras selvagens >
  3. Ela

História Terras selvagens - Ela


Escrita por: JaneDi

Notas do Autor


Essa história faz parte de uma série, e aqui é o volume 2. Mas não se preocupe, a leitura se torna auto identificável e faço as remissas no próprio texto. No mais, é uma saga em um mundo paralelo, para ajudar:

Reino de Celerborn, dividido em norte e sul. O norte, formado pelo país azul, é povoado pelos senhores do fogo e do ar, elementos essenciais a vida nas montanhas geladas que o constitui. A sociedade é dividida em castas.
O sul é formado por clãs que se agrupam em tribos, são conhecidos por dominarem a terra e a água por meio da agricultura avançada.

Capítulo 1 - Ela


Mist se voltou para o espelho estabelecido atrás de si. A primeira coisa que pensou foi que, mesmo com um casamento arranjado tão em cima da hora, ela até que parecia bem.

“As cores... elas caem tão bem” A sua mãe disse com voz embargada, mal segurando as lágrimas nos olhos. Mist não tinha certeza se ela chorava de emoção por ver sua filha se casando ou por quer ela iria se casar com aquele homem.

Ela apenas acenou, eram tantas emoções em um mesmo dia que, ver toda a sua família tão sentimental nas últimas semanas era demais. Estava nervosa, ansiosa e com medo. Há dias que não conseguia comer bem, e dormir era um martírio desde que soubera que iria se enlaçar... e oh, seus pensamentos voaram novamente e uma onda de náusea e mal estar tomou conta dela. Era melhor ir com um pouco de cada vez.

Dando atenção ao comentário da sua mãe, se focou na própria imagem refletida.  Seguindo o contexto, ela pensava que era um bom sinal a família dele honrar a tradição de deixar a família da noiva vestir-se conforme sua própria cultura (1). Sabia que especialmente o povo do norte não fazia ligações entre outros povos, ela era, talvez, a primeira a se unir com um homem das terras frias do norte.

Outro calafrio.

Desviando novamente sua atenção, ela analisou seu vestido. Era muito mais feminino do que qualquer roupa que usava. Colorido em tons de creme, amarelo, azul e vermelho. Não era cores atoa, representava o seu clã e a história das tribos do sul.

Rodado, caia como grandes folhas por todo o seu cumprimento e lhe dava um ar etéreo, não havia mangas ou capas, apenas o busto que cobria até seu colo, onde terminava moldando seus próprios seus. Seguindo a tradição nos casamentos de sua terra, não havia joias ou outros adereços e ela entraria descalça, representando a sua ligação com a terra e a vida que floresce dela(2).

Havia outros simbolismos, mas isso era para casamentos dentro do seu próprio clã, onde as festas duravam cinco dias e a noiva vestia milhares de vestidos e as famílias, se tornavam famílias. Ela lembrou com nostalgia do casamento de sua amiga e do seu primo, fora lindo e maravilhoso, todas as tribos compareceram e ouve música e comida onde não tinha fim. O seu seria outra história, feito às pressas e com apenas alguns membros de seu clã. Ela alisou seu vestido, ao menos aquilo representaria quem ela era.

“Vocês estão prontas? ” Derek perguntou gentilmente ao abrir a porta. Seus olhos se encontraram e ele deu um singelo sorriso para ela.

Eles eram primos e amigos e ele sabia o preço que aquilo tudo tinha.

“você está linda!” Ele disse se aproximando.

Mais uma vez ela foi incapaz de falar, preferia manter sua expressão neutra e séria, do que constranger todos na sala com seu medo e nervosismo. Afinal, ela tinha aceitado seu destino e não era hora de voltar atrás, não quando a vida de seu pai e de Roi estavam em jogo (3).

“Já é a hora?” Kimi perguntou, sua voz soando temerosa. Ela que tinha ajeitado tudo sobre Mist, desde seu cabelo e o lindo vestido. Ela fizera um excelente trabalho dada a escassez  de recursos.

Dereck acenou para esposa. Como o homem mais velho do seu clã ali representado, seria sua função abrir a cerimonia e entregar Mist a sua futura família.

“Mist, meu bem...” Sua mãe falou, a voz quebrada e fina. Ela passara os últimos meses em um conflito eterno e agora ela sentia que era a pior mãe do mundo ao permitir que aquilo aconteceria. “Dereck, crianças…” ela se virou para os demais na sala, como se tomada de uma súbita decisão “me deem um minuto com Mist” Ela pediu.

“tia, por favor....” Ele pediu.

“Dereck, eu rogo, preciso de uma pequena palavra com minha filha” ela suplicou com lágrimas no olhar, parecendo bem mais velha do que era.

Ele assentiu e saiu juntos com os demais “estaremos aqui fora”.

Mãe e filha se encararam. Mist era sua filha mais velha e filha única por quase dez anos, antes dos outros meninos nascerem. Ela viu aquela pequena garota crescer, adoecer, chorar, brincar... oh, foram tantas as vezes em que ela a colocou de castigo devido as travessuras feitas por ela e Roi... mas agora, ela estava realmente a entregando para um povo totalmente estranho? Sua menina tão cheia de sonhos e fantasias, que ela conhecia cada uma das suas cicatrizes, suas queimaduras. “Ainda há tempo... por favor...” disse pegando suas mãos, sentido o quanto as pequenas e suaves mãos de sua filha estavam frias e tremulas. O quanto ela já deve ter passado? Sofrido só para chegar até esse ponto.

Mist a fitou. Sua mãe era linda. Mesmo senhora e mãe de quatro crianças ainda era a mulher mais bela que conhecia. “Mamãe, eu já tomei minha decisão” disse e orou para que sua voz não saísse tão nervosa quanto estava sentido. Por que sim, havia concordado com aquele negócio. Ela procurou outra saída, juntamente com os chefes dos clãs, mas não houve outro meio. O chefe havia determinado e ela iria cumprir se aquilo significasse ter a vida de seu pai e de seu amigo de volta.

Sua menina havia se transformado em mulher. Ela podia ver isso, de uma hora para outra ela não estava mais encarando sua garotinha, de rosto redondo e olhos brilhantes. Ela via agora uma guerreira, que mesmo sabendo do sacrifício que estava a fazer, ainda sim, iria encarar. Oh, ela sabia, Mist sempre pensava nos outros antes de si mesma, aquilo não seria diferente.

“Você sempre nos terá, não importa o que as leis digam (4)” ela falou firme, com toda força que uma mulher do clã Shitr poderia reunir. E Mist entendeu. Mesmo que agora ela seria posse de uma outra família, de um outro povo com outras tradições, no fundo, ela sempre teria sua mãe. Isso, ninguém poderia lhe tirar. Ela beijou as faces de Mist e assim ela fez e, limpando as lágrimas que caíram, ela seguiu em direção ao seu destino.


Notas Finais


1- Um casamento típico do sul pode ser visto no volume dessa mesma saga;
2- Mist é uma legítima representante do sul, como tal, sua ornamentação tinha que ser a mais simples possível, representando que ela iria florescer (engravidar) a partir dali. Jóias e pedras eram para as mulheres já comprometidas;
3- O pai de Mist, bem como seu amigo foram presos em acontecimentos narrados no volume 1 dessa saga;
4- Norte e Sul são independentes em muitos aspectos, porém algumas leis servem para ambas as partes, nesse caso:
"Art. 55, § 3º da formação de novos enlaces (casamento): a mulher será dada a nova família com o casamento, pertencendo a seu marido, bem como família, casta ou clã, abdicando sua antiga origem e de seus antigos deveres" ~~~machista, eu sei.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...