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História Terras selvagens - O som do lamento


Escrita por: JaneDi

Notas do Autor


Mist não é uma garota passiva.

Capítulo 21 - O som do lamento


Seth a havia pedido que fosse tolerante com sua família e, sobretudo com sua mãe. Era isso que ela estava fazendo, mordia o interior da boca para que não falasse algo sem pensar. Sentava de maneira mais ereta possível, a ponto de doer as costas afim de igualar seus modos aos das outras mulheres e ainda tentava ficar o mais imóvel possível para praticamente ‘apagar’ sua existência, para que ninguém a notasse. O que era particularmente difícil visto que, ao que parecia, toda vez que respirava, alguém olhava para ela de maneira que reprovava ela de alguma forma.

“ Deixe sua refeição imediatamente quando os mais velhos terminarem” Eleonor disse para ela e, apesar de sua sempre polida maneira de ser, Mist podia identificar o tom desgostoso em sua voz.

“sim, senhora” Mist sussurrou com cuidado, mesmo que não houvesse terminado o pequeno almoço, mas crispou os lábios quando olhou para mesa e grandes quantidades de comida haviam sido deixadas nos pratos e travessas. Comida despedaçada, refeições gordas que provavelmente estava faltando na mesa de algum pobre servo do interior do país.

“Não fique parada olhando a mesa, acompanhe-me assim que se levantar” A mulher voltou a exigir, sua voz calma e fria.

Tomou então uma pesada respiração e a seguiu a uma distância de um passo, como havia sido instruída.

Não havia esquecido o fato dela não ter lhe falado logo que sua família não estava em perigo. Apenas com o pensamento uma onda de raiva a invadiu. Ela não perdoaria a mulher. Nunca. Pelo contrário, toda vez que a via, toda vez em que era obrigada a interagir com sua mãe por lei um ódio renovado se formava sobre ela.

Seth encontrava-se extremamente ocupado no presente, estava sob sua responsabilidade documentar para todos os representantes espalhados pelo país e pelos demais territórios as decisões que estavam sendo deliberadas pelo conselho. E do pouco que o via nos últimos dias, ele estava sempre abatido e cansado. Ainda assim, ele renovou seu pedido para que Mist, em outras palavras, se comportasse.

Deus sabe que ela estava tentando, ela era uma mulher feita e não uma criança, mas a sua sogra era impossível, intolerável, infernal. Sorte a sua que, por vezes, Elessar estava ao seu lado, lhe dando dicas do que fazer a todo momento.

Infelizmente ela estava ausente no momento. Provavelmente se preparando para o desfile que o exército iria fazer para a saída da cidade.

Então, apertando os punhos ela seguiu a sogra. Um momento depois as mulheres discutiam a eminente invasão militar no sul e as consequências que isso trariam para esse conflito e claro que era um assunto que deixava-a mau. Ela apenas podia pensar em sua família do outro lado do território, sem notícias suas e ela sem notícias dele, parecia que, a cada dia um peso diferente se instalava em seu coração quando lembrava deles.

Estava resoluta que, quando retornasse iria pedir para visitar os pais. Tinha plena consciência que a época não era a melhor, no entanto, precisava vê-los. Quando saiu há semanas de casa, havia mandado uma carta para a família, porém, não soube se a carta fora entregue ou mesmo se houve uma reposta. Diante desse pouco acesso a comunicação, sua preocupação só aumentava. Então, iria pedir a Seth, ela tinha certeza que ele poderia fazer isso por ela.

Mas até lá, teria que ser paciente com isso.

“Acho que deveriam ter tomado tal atitude antes, talvez evitaríamos que esse período de escassez chegasse ao país” uma das mulheres falou num dos grupos próximos a Mist.

“Esse foi um grande problema criado por gerações que nos fizeram dependentes de um povo que não compartilha nossa cultura e nossa organização”

Mist sentiu seu sangue ferver. Foi involuntário, mas ela pressionou as mãos sobre o tecido de sua túnica para conter o fluxo de energia contida que ela experimentava. Aquelas pessoas eram tão estúpidas, tão ignorantes. Como podiam dizer algo assim? Era claro para ela que boa parte daquelas senhoras e meninas não sabiam do que realmente tudo isso se tratava.

“Por isso concordo com a marchar militar, temos uma soberania para manter e uma população para alimentar. O que perderemos agora se atacarmos? ”

“Pessoas ignorantes! Isso será praticamente uma declaração de guerra”

Então um silêncio se seguiu e Mist percebeu que todos estavam olhando para ela. Meus Deus, ela tinha dito a última parte em voz alta!

Sentiu o rosto arder e a boca ficar seca.

“O que você está dizendo... senhora?” Uma mulher já idosa se aproximou dela um ar irritadiço em sua direção.

“eu... eu só acho que...” ela então limpou a garganta do embaraço que sentira, “essa investida pode ser vista como uma declaração de guerra” começou lentamente, ganhando a atenção das pessoas em volta que a olhavam curiosas.

“O sul precisa saber que estamos reivindicando um direito que é nosso” uma outra falou ganhando acenos positivos dos grupos ao redor.

“Não, o sul não pertence ao norte” Mist rebateu com um fervor involuntário de lealdade por sua terra, “O sul é livre tanto quando o norte, o que nós temos é um acordo comercial feito há eras, mas que devido aos autos impostos praticado pelo governo, a produção tornou-se impossível prejudicando a própria alimentação interna”.

“Então o exército poderia equilibrar isso...”

“Não! ” Exclamou com raiva, “Por que uma invasão militar se o sul não é militarizado? Será uma forma maior de aumentar a opressão praticada pelo governo”

“Se o sul é desmilitarizado, então como vinte civis foram mortos durante a semana? ”

“Nós temos problemas com ladrões em todo lugar, há pessoas más também, e cada um tem direito a proteger sua propriedade! ” Explicou.

E então cada vez mais pessoas se reuniam a sua volta afim de lhe escutar e isso não deixou de animar seu espírito.

“Agora, com uma invasão militar essas mesmas pessoas podem se unir se acham que estão sendo ameaçadas, assim como eu mesma faria!”

Com os acenos positivos e as pessoas a citando, pela primeira vez Mist viu algo de bom, sobretudo por que estavam falando e refletindo sobre suas palavras. Mas então seu olhar encontrou os de sua sogra. Era como se um balde de água fria fosse jogado sobre ela.

O rosto claro, os olhos azuis, as linhas aristocráticas a encaravam e de maneira silenciosa, Mist sabia, tinha feito algo que não deveria.

“Desculpem-me eu.... eu acho que preciso ir ao banheiro...” e então saiu correndo apressada de lá.

Mist entrou na primeira porta que encontrou. Ela não queria voltar para lá e receber mais uma reprimenda de Eleonor, não queria voltar e ver os olhares insolentes e questionadores sobre ela.

Mas então abriu os olhos e deu de cara com uma senhora polindo algumas peças.

“A senhora está bem?” A mulher mais velha perguntou, ficando imediatamente empertigada e adotando uma postura ereta.

Ah não, isso não, Mist pensou desolada.

“Estou bem, obrigada... eu... eu só queria ficar um momento por aqui pode ser?” Perguntou um pouco desesperada.

A mulher a olhou com cautela e então lentamente colocou a peça que estava segurando em cima da mesa, “tudo bem, eu vou deixa-la sozinha” ela respondeu já saindo.

“não, não!” Mist foi rápida em interrompê-la. “Pode continuar com seu serviço...eu não quero atrapalha-la”.

A mulher a olhou como se ela fosse louca. A bem da verdade, Mist estava achando que era mesmo.

Finalmente ela voltou para sua tarefa, mas ainda jogando um ou dois olhares em sua direção, como se receosa de compartilhar o mesmo espaço que ela.

Mist suspirou fundo e se jogou sobre um assento que tinha ali, feliz por poder se isolar um pouco, embora houvesse a presença da mulher mais velha, esta não foi inconveniente.

“eu costumava fazer isso em casa” ela se ouviu dizer, melancólica pela lembrança repentina. A serva apenas ergueu um olhar para ela de sua tarefa, não era o olhar distante e indiferente de Lilaf, os olhos verdes eram doces e Mist viu um pouco de sua mãe na face arredondada da mulher, o que a levou a continuar, “limpar as coisas, era minha responsabilidade deixar nossa prataria limpa” falou diante de uma onda de saudade de casa, mas decidiu ficar em silêncio, falar ali era como falar para paredes. Era como se ninguém a ouvisse.

“Sentes saudades de casa, senhora? ” Para sua total surpresa, a mulher mais velha falou. Mist olhou diretamente em sua direção para ter certeza do fato, ela não estava a encarando apenas continuava a, diligentemente, polir as peças.

“Muito” disse após piscar duas vezes. Era a primeira vez que alguém fazia esse tipo de pergunta ali, “sabes que não sou daqui? ” Perguntou brincando, tentando disfarçar o nó que se formara na garganta.

Ela não respondeu imediatamente, antes levantou seu olhar e Mist se viu no foco de um rosto bondoso e sereno, “és claramente uma estrangeira” falou de maneira suave e então abanou a cabeça “a senhora não pertence ao norte” disse e após alguns instantes abaixou a cabeça e continuou sua tarefa.

Mist permaneceu muda. As palavras ecoando lentamente por ela. Ela era uma estrangeira, não pertencia ao norte... em outras palavras, não pertencia aquele lugar. Outro nó.

O sul, com seu clima úmido, quente, o sol saboroso em todos os dias do ano. O cheiro da terra, das plantações. Ela sentia falta de tudo, sobretudo de sua família, sobretudo da mãe... E a quanto tempo não a via?

E agora, com a ausência de comunicação, sua preocupação apenas se agravava.

Seth não lhe falara, mas ela sabia que algo não ia bem. Desde dias atrás quando soubera do ataque que havia uma tensão palpável no ar, cartas e pedidos de vários representantes reais chegaram, boa parte queriam retornar ao Norte devido ao aumento das hostilidades de diversas tribos contrarias ao governo de Celaborn. A ida do exército seria uma espécie de demonstração de poder e força que o norte possui diante de qualquer força rebelde.

Mais tarde teria que descer junto a família para presenciar a partida da tropa. O irmão de Seth, Sinclaff seria o responsável por comandar...

Um estalo.

Sinclaff iria para o sul!

Como ela não tinha pensado nisso antes? Ele iria para o sul, teria que passar pela fronteira e então.... então...

Sua mente trabalhou rapidamente na possibilidade, se deu conta que poderia, através do cunhado, mandar uma carta para os pais, na certeza que seria entregue e de forma rápida!

Ela se levantou de súbito. Precisava correr, ele iria partir e nem mesmo saberia dizer onde o homem estaria.

“Por favor, pode arranjar-me papel?” perguntou para a mulher.

...

Mist correu, com a carta nas mãos e segurando suas pesadas vestes foi atrás do irmão de Seth, não teve tempo de procurar pelo marido. A qualquer momento a tropa sairia e ela tinha certeza que não conseguiria entregar a carta se não fosse naquele momento.

Perguntou a todos que encontrou pelo caminho, ignorando os olhares atravessados que ganhou pelo caminho, até que depois de muito, chegou ao que parecia ser um grande átrio onde a maioria dos soldados pertencentes aquela casta sairia.

Parou tímida. Vários e vários homens se reunia, conversas altas, uns terminando de se armarem para o desfile. Com seus olhos procurou pela figura do irmão de Seth mais não o viu. Foi obrigada a adentrar mais ainda o espaço.

Desconfortável, sentiu vários pares olhando para ela. Seu coração batia acelerado, mas já estava ali, não iria recuar, não quando havia aquela possibilidade de falar com o pai e a mãe.

Com a coragem renovada Mist se dirigiu a um dos soldados com uma insígnia de comando, “Senhor, poderia me informar onde posso encontrar o comandante Sinclaff?” Perguntou, feliz ao ver que mantinha sua voz estável, fingindo um controle que lhe fugia no momento.

 

A figura gigante do soldado se voltou para ela curiosa. Ele tinha facilmente dois metros e músculos poderosos debaixo da malha que vestia. Ergueu um olhar crítico, ainda que Mist pudesse ver algo de divertido (talvez pela presença dela ali), e a avaliou de alto a baixo.

Sem deixar-se intimidar, continuou esperando a resposta.

“O senhor comandante encontra-se no gabinete privado” disse numa voz gracejada, apontando para uma sala que ela não havia visto, no final do salão.

Com uma vênia, Mist agradeceu e saiu rapidamente na direção indicada.

Chegando lá, tomou o folego e bateu e esperou, mas ninguém respondeu. Vendo que a porta estava aberta entrou, era uma sala como qualquer outra, mas vazia. Não desistindo passou para o gabinete interno e o abriu.

Ela reteve-se sobre seus pés.

Dentro, Sinclaff estava ajoelhado com as mãos no ventre de Elessar. Era uma cena que nunca sonharia presenciar.

Mais, vendo a ali na porta levantou-se imediatamente, o rosto extremamente vermelho.

“Oh meu... meu...sinto muito” Mist gaguejou sem jeito, boquiaberta pela cena presenciada, sabendo que tinha sido um momento intimo entre os dois.

Os dois pareciam bastante desconfortáveis, Sinclaff distanciou-se imediatamente da esposa e adotou sua postura régia e aristocrata que lhe era familiar.

“O que fazes aqui? ” Ele perguntou bruscamente para Mist, a voz arisca e indignada.

Olhando de um para o outro, Mist ainda se viu chocada e sem graça, queria se esconder de vergonha ou ainda sair correndo. Felizmente Elessar era mais gentil.

“No que podemos ajudar irmã? ” Perguntou de maneira doce.

Com a confusão ela tinha mesmo esquecido de sua missão, a carta apertada nas mãos nervosas, no entanto, ajudada pela expressão solícita da cunhada ela retomou com seu propósito.

“Eu... eu sinto muito” ela repetiu abaixando os olhos de vergonha. Meu deus, que ideia tinha sido aquela? Ela pensou nervosa, “eu vim para pedir um favor, irmão...” começou, ainda que sem jeito, “gostaria que pudesse deixar uma carta para minha...,digo para minha antiga família” disse por fim.

Ele a encarou confuso, os lábios fechados e o cenho franzido. “Onde esta Sethendreck?” Perguntou friamente.

“Eu... eu não sei” respondeu sinceramente, a cada segundo que passava, mais e mais aquela ideia tinha se mostrado estupida.

Ela viu os dois se entreolhando. Sinclaff com o rosto fechado enquanto Elessar inclinava sua cabeça para ela, num gesto bondoso de simpatia.

“Não... não precisava ser na casa de meus pais... gostaria apenas que entregasse na fronteira, daí então ela poderá ser entregue” apelou como sua última esperança.

O que parecia ser uma eternidade, ele não respondeu. Mas então, quando ela já pensava em sair correndo dali, com seu pedido negado, ele estendeu a mão.

“Vou fazer o possível” disse simplesmente.

Ela soltou um fôlego que não tinha ideia que havia prendido. Seu coração pulou de alegria e seu coração se encheu de esperança.

“Obrigada! ” respondeu verdadeiramente grata, “obrigada mesmo!” Repetiu enquanto lhe entregava o papel.

Olhou para o casal, deu-lhes um brilhante sorriso e então saiu. Ainda estava incrédula que seu plano tinha dado certo.

Talvez aquele dia não terminaria tão mal assim.

...

Seth perscrutava a multidão. Já estava na escadaria que dava para a base onde a cidade começava abaixo da montanha. Dali a pouco teria que acompanhar a família no desfile para a saída do exército, no entanto, não via Mist em lugar algum.

Ela deveria estar com sua mãe. Porém, mal tinha chegado junto a ela, seu olhar reprovador disse tudo. Ela também não sabia de sua esposa. Uma onda nervosa começou a lhe preocupar, iriam sair a qualquer momento e nada dela.

Mas quando iria sair para procurá-la viu a chegando correndo por entre as pessoas.

Suas faces estavam vermelhas, um suor descia pelo seu rosto e ela ofegava pelo esforço de muito correr. Por outro lado, seus olhos estavam atentos, brilhantes e vivos.

“Me desculpe pelo atraso! ” Ela disse respirando fundo, para recuperar o fôlego.

Seth viu o olhar da mãe em sua direção, vendo o estado de Mist, ele pôs-se entre elas para tapar-lhe a visão e falar em privacidade com a mulher.

“Onde você estava Mist? Minha mãe estava procurando por você! ” Questionou de forma sussurrada, mas sem esconder a raiva na voz, “eu estava procurando por você! ”

Ela pareceu hesitar vendo seu jeito, o brilho no olhar se perdendo rapidamente. Recuou e então olhou para baixo “eu me perdi... acabei me atrasando” ela disse sem o encarar.

Algo estava errado, Seth sabia. Mas não havia tempo para ele voltar a lhe questionar algo, sua mãe estava ali e eles tinham que descer para a cidade naquela estranha forma de publicidade que seu pai o tinha forçado a participar.

“Mist, o que você...” ele começou, mas então ela de repente o encarou como se ganhando vida. Um estranho brilho no olhar.

“Vamos Seth, já estamos atrasados! ” Se desviou dele e começou a prosseguir na frente, o queixo erguido e as passadas rápidas.

Vendo que a mãe ainda os observava, Seth resolveu não insistir. Se colocou ao lado dela e andou na direção da saída, fingindo que estava tudo bem. Mas sabendo que teria que falar com ela mais tarde. Não teria como ela continuar assim.


Notas Finais


Outro capítulo grande :C @MichikoKurosaki, eu havia dito que as atualizações seriam diárias, infelizmente esse capítulo foi outro que me deu um pouco mais de trabalho para sair como eu gostaria, sinto muito :/

Mas estamos na reta final da história (alguns capítulos finais a vir ainda), mas em breve um desfecho para esse casal!

Será que irão ficar juntos?
Haverá uma guerra?
Mist conseguirá ter uma boa relação com os pais de Seth?
Tudo isso no próximo Globo Report... digo nos próximos capítulos :D

Obrigada aos que me acompanham até aqui, faz o meu dia mais feliz!
Abraços :***


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