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História Terras selvagens - Ela


Escrita por: JaneDi

Capítulo 3 - Ela


Um passo, após o outro. Ela se concentrou apenas nisso. Se parasse para pensar o quão estranho tudo aquilo era, certamente iria tropeçar em seus próprios pés. E Mist tinha alguma honra, apesar dos pesares, e não queria fazer pouco de sua própria família por causa de seu nervosismo.

Então ela decidiu ignorar tudo em sua volta. O quão formal e frio seu casamento seria. O salão do governo fora minimamente decorado e claro, nas cores da casta dele: azul céu e branco. O brasão erguia-se imponente na bandeira pendurada no centro. Eles faziam muito de si mesmo, foi o que pensou.

Por um momento de tristeza ela viu que, agora, ali seria a família dela, a casta dela.  Deus, ela iria morrer se fosse obrigada a manter um rosto tão apático quanto os daquelas pessoas. Narizes retos e altos, olhavam todos de cima, como se o mundo os pertencessem. Ela nutria uma raiva e ódio do país do Norte desde pequena, e aquele circo apenas expandia o sentimento.

Tentou se concentrar na cerimônia, lembrando do que fora ensinada. Ela teria que caminhar ao lado de Dereck até o altar e virar para sua mãe- de- lei e se curvar. Então, em seguida, viraria para o seu pai- de- lei, que colocaria uma coroa em sua cabeça (tradição obrigatória da casta) e, só então, se curvaria perante cada membro da nova família. Sabia que seu noivo possuía um irmão mais velho, mas felizmente, ele e alguns outros membros da família não tiveram tempo de vir, aquele momento seria resumido. Só então ela iria ajoelhar-se diante do noivo.

Seu coração acelerou novamente. E ela não teve coragem de enfrentar ninguém. Passou por sua nova mãe (curvou-se), pelo seu novo pai (curvou- se) e só agora, depois de se voltar para o homem que seria seu marido ela o viu pela primeira vez em meses.

 

Ele era tão diferente dela que, toda vez que o encontrava, a intensidade daqueles olhos azuis, a postura tão diferente, a voz grave, ela queria recuar fugir de sua atenção, fala e presença. Algo nele, e somente nele, a enchia de algo que ainda não sabia definir, mas que toda as vezes ela ficava com medo. E Mist nunca sentia medo.

Era como se a qualquer momento ele poderia revelar um segredo que nem mesma ela sabia do que se tratava. E, desde o fatídico dia em que, motivado pelas travessuras de Roi (era sempre ele que a incentivava) atacou o menino branquelo do norte que fora visitar sua tribo. Ele era só um pouco mais alto que ela, e se qualquer coisa, Roi provavelmente o deixaria no chão com apenas um de seus socos. Mas oh, ele era o próprio representante do reino? Quando que ela poderia imaginar que um menino de doze anos seria isso? Daí, ela sabia que estaria em castigo eterno quando seus pais descobrissem o que ela tinha feito.

Mentalmente ela estava preparada para levar toda a culpa. Roi e seu pai já viviam em conflito naquele tempo, ela não iria adicionar a isso o que tinha acontecido. Mas, para a sua total surpresa, o garoto não revelou nada. No jantar onde se encontraram, ele não parecia como as crianças da sua idade, parecia mais um pequeno homem e sabia de tudo sobre guerra, política e economia! Seu pai logo criou um afeto especial por ele.

Ela ficou um bom tempo correndo assustada dele, com medo de que ele exporia o pequeno acidente. Hoje, ela apenas se pergunta o porquê dele não ter feito isso.

“hm-hum” O represente pigarreou em sua direção. Assustada, Mist percebeu que tinha se distraído com os próprios pensamentos e todos a encaravam com expectativa. Oh deus o que era agora? Sua mente ficou em branco e apenas ficou olhando para os olhos azuis de seu noivo.

Ele pareceu percebe, “o juramento” apontou, no mais leve dos sopros, somente para seus ouvidos. E então ela ergueu as sobrancelhas lembrando, Céus, ela tinha esquecido, com o nervosismo ela acabou perdendo. Respirou fundo tentando se acalmar, ela sabia, tinha decorado e na noite anterior mesmo tinha recitado em voz alta as malditas palavras.

“eu-eu, Mist Noar reck, filha de Noar reck e Micar reck, das tribos sul, clã Dos reck, dominadores  da terra e da água” começou após um momento, odiando os olhares incisivos que estava recebendo do clã dele, bem como o fio de voz que não parecia com a sua própria “renuncio a minha família para me tornar a sua mulher, o honrando e sendo fiel” disse por fim com um peso se instalando no seu peito.

Ele acenou em concordância e foi a sua vez.

“eu, Sethendric, filho de  Eoghan e de Eleonor, do país do Norte, da casta Um, senhores do fogo e do ar, a recebo Mist Noar Reck, das tribos do Sul, como minha esposa, prometendo ser protetor seu, a honrando e sendo fiel” ele disse de maneira determinada e séria, a qual ela já ligava a ele.

Aqui, se fosse um casamento entre tribos, haveria o primeiro beijo do casal, acompanhados de danças e músicas. Mas como não havia tradição naquele casamento, seu noivo, agora senhor, pegou uma capa tal qual vestia, e a colocou nos ombros nus de Mist. Era de um tom azul gelo profundo. Era bonito, mas contrastava com seu próprio vestido, o que não gerava harmonia alguma.

“E assim está feito” anunciou o representante.

E Mist agora já não era uma menina tribal do sul. Ela pertencia a uma casta, pertencia ao norte.



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