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História Terras selvagens - Ela


Escrita por: JaneDi

Capítulo 5 - Ela


Ela sabia que a viagem duraria pelo menos um dia. Geograficamente, tinha noção das diferenças entre norte e sul, mas vê-la com os próprios olhos era magnifico. A vegetação se tornava mais densa e fechada. O verde claro, era substituído pelos tons cada vez mais escuros de verde lodo. E o frio, ela podia sentir na pele como o ar sutilmente iria se transformando em gélido.

“Use isso” seus pensamentos foram interrompidos e quando Mist virou ela pode ver um casaco de pele de ovelha estendido para ela. Sua primeira reação fora rejeitar a oferta, seu orgulho apontava que ele ainda vestia as mesmas roupas do casamento. Mas sabia que ele estava mais bem vestido do que ela para o clima, ademais ele cresceu em um lugar provavelmente mais frio ainda, aquilo deveria ser fichinha.

Ela agradeceu com um aceno fraco e o colocou nos próprios ombros.

Estavam um de frente para o outro e mal haviam trocado duas ou três palavras desde que partiram e ela nunca se sentiu mais desconfortável em toda a vida, mas ele não parecia tão ruim quanto seu estado. Seth parecia o de sempre, frio e distante com os pensamentos em qualquer outro lugar e não na situação que se encontravam. Deus, o que seria da sua vida em lidar com uma pessoa que não conversava?

E de repente uma imensa tristeza a abateu, amargura com uma já saudade de sua casa, família e amigos. Mist tinha uma vida na tribo, ela tinha uma carreira e agora, tudo havia sido tirado dela. Não mais ouviria os sábios conselhos de sua mãe, não iria ensinar seus irmãos mais novos suas brincadeiras, ela iria perder o desenvolvimento deles. Não iria ver o filho de Mika e Dereck nascer. Nunca mais cavalgaria com Roi...

As danças, os festivais da plantação, da colheita, da chuva...tudo isso iria perder. Ela nunca tinha visitado o norte e não sabia o que esperar, o que sabia vinha apenas dos livros: que eles eram pessoas de sangue frio, que não se divertiam e nem acreditavam no amor.

Ela suspirou pesadamente sentindo se cansada de tudo. Os últimos meses tinham sido um fardo. Seu pai tinha sido preso e então Roi, e como ela sentia falta deles. Se concentrou em fechar os olhos e lembrar de cada bom momento que passaram juntos. De sua família e de sua terra. No seu coração, por mais que agora ela seria de outro lugar, no fundo ela nunca se permitiria ser do norte, pela sua honra. Ela iria se entregar a esse homem estranho e branco de sangue azul, mas ela ia manter para si mesma a sua verdadeira natureza.

 

“acorde, Mist, chegamos” ela ouviu a voz de seu marido e se sentou alerta. Havia cochilado, desabado pelo fadiga e stress das últimas horas.

“oh, eu- eu dormir muito?” Ela perguntou se ajeitando, Mist se sentia sempre desarrumada perto dele.

“Não, apenas duras horas, mas a acordei por que chegamos numa hospedaria e pensei que poderíamos parar para comer algo e descansar” ele disse.

Mist aquiesceu e deixou a carruagem. Apesar do veículo ser espaçoso e bastante confortável ela sentia a necessidade de esticar as pernas.

O lugar era tranquilo, administrados por uma dessas pessoas que se estabeleceram entre as fronteiras do norte e sul, sem a tradição das castas e sem a cultura das tribos.

“o que irá pedir?” ele lhe perguntou e ela se assustou por um momento, nunca haviam conversado diretamente e de repente ela sentiu o rosto enrubescer, pois ele a fitava diretamente, e ela sentia que nunca seria capaz de mirar naqueles olhos tão azuis.

“apenas água” ela pediu voltando a encarar as próprias mãos. Se sentia nervosa e sem a mínima vontade de comer nada, a náusea que sentia iria lhe fazer vomitar tudo.

“está se sentindo bem? Você parece um pouco pálida” ele disse frisando o cenho em sua direção.

Ela não esperava aquela súbita preocupação em sua direção. Será que aquilo era real da parte dele ou apenas uma estratégia para que ela se abrisse com ele?

“só estou cansada” se limitou a dizer.

Seth assentiu e sem mais palavras fez o seu pedido e pouco instantes depois ele mesmo comia uma refeição leve.

Mist nunca vira um homem feito comer tão pouco assim. Ele comia as folhas e com delicadeza tomava a sopa de ervas, nem uma gota escava da colher e ele era tão comedido e tão calmo que Mist mesmo não saberia de conseguiria comer com toda aquela finura.

Sem saber exatamente o porquê, ela se viu decorando a ordem que ele pegava cada alimento e o que ele parecia querer gostar mais. Ela balançou a cabeça frustrada. Por que isso agora? Não era como se ela quisesse o agradar no futuro, as comidas do sul eram extremamente temperadas e cheias de sabor, ela tinha certeza que eles diferenciariam em tudo.

Depois dele terminar, seguiram a viajem. Ela se recusou a dormir novamente. Mas isso não fora difícil, a expectativa de chegarem ao seu destino e o que ela teria que fazer a manteve alerta.

Ela sabia o que tinha que fazer. Céus ela tinha frequentado as aulas junto com as demais meninas da tribo, não era como se ela fosse inocente nas artes do amor. Ela tinha 18 anos e era uma mulher feita e seu sangue descia todo mês regularmente.

Ainda assim, seu nervosismo só aumentava. A verdade era que ela tinha sido uma péssima aluna, claro que sua mãe não sabia disso, mas era vergonhoso ver como todas as outras garotas eram sempre mais espertas que ela, mais sensuais, sabiam dançar perfeitamente, sabiam o que dizer e onde tocar... ela por outro lado era uma negação. Não era à toa que Siff e suas amigas zoavam dela, diziam que ela parecia um menino e não uma garota. Ela odiava aquelas meninas.

Mas aqui estava ela, pronta para sua noite de núpcias e mal sabia o que fazer. Mist nunca havia beijado um homem, quanto mais dormir. Como seria?

E a situação apenas agravava mais pois Seth era do norte e nos livros não havia nenhum registro de como eram a consumação de um casamento. Ela estava totalmente cega aqui.

Nas tribos havia um ritual detalhado a ser obedecido que cada menino e menina era ensinado quando virassem um adulto. Ela nem podia imaginar o que uma pessoa do norte faria e o que eles fariam? Eles não acreditavam no amor, o que eles faziam a noite se não era amor?

Com o coração acelerado ela ficou ainda mais tensa e então, horas depois, finalmente chegaram em seu destino.



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