1. Spirit Fanfics >
  2. Teto de estrelas >
  3. As estrelas e pra onde elas apontam.

História Teto de estrelas - As estrelas e pra onde elas apontam.


Escrita por: mxmxmxxn

Notas do Autor


Oooi
Esse cap. é o meu Amorzinho <3
Aproveitem.

Capítulo 3 - As estrelas e pra onde elas apontam.


Às 20:00hrs nós desligamos o video-game.
- Mãe, vamos na casa de um amigo, tá?
- Volta antes da 00:00.
Felipe para na porta, manda um beijinho e diz:
- Até mais Sra.Dantas.
- Até, Fê. - ela responde rindo.
Quando saímos eu digo:
- Cara, é sério. Você tem que parar de dar em cima da minha mãe. É nojento.
- Ah, não fica com ciúmes. Eu arrumo um tempinho pra perder com você também. - ele diz isso enquanto coloca um braço por cima dos meus ombros.
Eu paro e o encaro de testa franzida.
- Você é absolutamente retardado.
- Ah, não enche.
                               * * *
- Você sabe onde ele mora?
- Sei. - responde Felipe parando a bike na beira de uma estrada no meio do nada.
- Então por quê paramos aqui?
- Será que é porquê ele mora aqui?
- No meio do nada? - pergunto sem entender.
- Caramba, Edu. Você tem que aprender a relaxar. Ele mora depois daqueles morros de grama. Me ajuda a levar a bike, vai.
Andamos menos de um quilometro e logo vejo uma casa de madeira com quatro andares. Flores pendem de todas as janelas. No último andar havia uma única clarabóia gigantesca, uma réplica da que aparece no filme "Desventuras em série". Toda a estrutura tremia com o som alto que vinha de dentro, tocava "Do I Wanna Know?" do Arctic Monkeys.
Minha música preferida.
Chegamos na varanda em frente a casa, Felipe larga a bicicleta nas escadas de madeira e já vai entrando.
- Giovanni! - ele berra por cima do som.
Mais de perto posso notar que as flores são sintéticas.
Entro atrás dele e olho em volta.
Em todas as paredes haviam discos de vinil e pôsteres colados, as janelas grandes eram cobertas por cortinas feitas com muitos retalhos de tecidos diferentes. Tudo lá era velho e contemporâneo ao mesmo tempo.
Percebo que tem alguém acompanhando a música de um jeito desafinado. No meio da sala tinha um sofá de couro preto meio descascado em alguns lugares, em cima dele vejo Giovanni deitado com os pés no encosto, a cabeça pendia do assento.
Se não fosse o cigarro pela metade em uma das mãos, e a cantoria desafinada, até pareceria que ele estava morto.
Felipe vai em direção ao que eu imagino ser a cozinha, porque ele grita:
- Vou pegar cerveja!
- Alguém me ajuda?! - pede Giovanni.
Vou até o sofá, pego o cigarro dele e coloco em um cinzeiro na mesa de centro pra que ele pudesse levantar sozinho, mas ele estica as mãos pra que eu o puxasse.
Vou para trás do encosto e seguro suas mãos, são bem geladas.
Uso toda a minha força pra levantá-lo.
- Caramba, tu é pesado.
Quando ele coloca os pés no chão acaba perdendo o equilíbrio e bate com a tesa na minha.
- Ai, merda!
- Poxa - ele começa a rir muito, embora eu não veja a graça. Ainda segurando minhas mãos pra se firmar. - Desculpa, eu meio que já bebi um pouco demais.
Olho para a mesinha atrás dele e vejo uma garrafa de whisky de mel quase no fim.
- É, parece que sim.
Ele chega perto do meu ouvido e pergunta:
- Eduardo, né?
- É sim. - a aproximação me deixa desconfortável.
Depois de me encarar um segundos ele solta as minhas mãos e me dá um soquinho no ombro.
- Bem vindo à Giovannilândia.
Ele se senta no sofá de novo, do jeito certo.
- Ei, Giovanni?
- Oi?
- Posso abaixar um pouco o som?
- Claro!
Olho em volta e vejo uma vitrola conectada de algum jeito em três caixas de som. Vou até lá e abaixo o volume. Agora tocava "Arabella".
Meus ouvidos pulsão.
Nesse momento Fê entra na sala com três cervejas.
Sento do lado de Giovanni e recebo minha garrafa. Fico encarando a minha enquanto eles abrem as deles.
Não fazia ideia de como abrir aquilo, sério. Nunca fui muito de beber, então...
Felipe começa a gargalhar.
- O quê foi? - Giovanni pergunta.
- Eduardo não sabe como abrir.
- O quê? - Giovanni soa indignado. - Você nunca abriu uma garrafa de cerveja?
Dou de ombros.
- Tá. Tudo bem, dá aqui que eu abro.
Ele simplesmente gira a tampa e ela pula para o chão. Fuzilo Felipe com os olhos.
- Qual é, cara? Eu só queria ver sua reação.
- Que seja. - pego a garrafa de Giovanni e dou um gole. - ECA. Isso. É. Horrível.
- É só o seu primeiro gole. Você se acostuma. - ele fala acendendo outro cigarro.
- E aí, vamos fazer o que? - Fê pergunta.
- Game?
- Partiu.
                                 * * *
Quando era 22:00hrs ainda estávamos jogando.
- Tô com fome. - Felipe murmura. Ele bebeu praticamente os três fardos de cerveja sozinho, Giovanni parou porque "Vou vomitar meu cérebro se beber mais" e eu parei porque "sou um bocó que tem medo de aparecer bêbado pra mamãe". Sendo assim à essa altura, Felipe estava jogado de cara no carpete da sala.
Fico me perguntando se ele vai conseguir dirigir a bike até em casa sem nos derrubar algumas vezes.
Eu devo ter bebido umas quatro garrafinhas de cerveja, e o mundo já estava girando.
No fim pedimos uma pizza portuguesa, porque era a favorita minha e do Giovanni e a maioria vence.
Enquando a gente comia o celular de Felipe toca.
- Alô?
Silêncio. Eu e Giovanni ficamos olhando.
- MEU DEUS! - ele grita e arregala os olhos. - Tá, tá, tô indo.
Ele se levanta rápido e quase cai.
- O quê foi? - pergunto, levantando também.
- Minha mãe. Bolsa. Hospital. - Ele diz rápido enquanto procura a mochila que tinha trago.
- Droga, droga, droga, droga. - começo a resmungar, péssima hora. Péssima.
Giovanni se levanta e segura Fê pelos ombros.
- Tá. Respira, você está me assustando. Isso. Agora me explica que porra tá rolando.
- A minha mãe. Ela tá grávida, bem, estava. A bolsa estourou. Tô indo pro hospital.
Ele se solta e sai correndo pela sala. Vou atrás.
- E eu?
- Você fica. Volto pra te buscar.
- Vou me atrasar e minha mãe vai me matar.
- Poxa, Cinderela! Liga pra ela!
- Tá, tá, nervosinho. Vai logo!
Ele sai meio correndo meio cambaleando pelo gramado , com a bicicleta nos braços. Eu fico olhando.
- Tomara que ele não se machuque.
- Vocês namoram? - Giovanni pergunta deitado no sofá.
Eu o olho e começo a rir.
- Óbvio que não.
Ele dá de ombros.
- Mas você gosta dele?
Eu rio mais.
- Cê tá bêbado, Giovanni.
- Não tô bêbado, Eduardo. Só quero saber. - ele diz isso sentando de pernas de índio.
Sento do seu lado. Nunca pensei no Felipe assim.
- Não. Não gosto dele. Não quando como você sente aquela vontade incontrolável de beijar a pessoa e tal.
- Ah - ele pega um cigarro e acende. Dá de ombros de novo e deita, com a cabeça nas minhas pernas dessa vez. - Mas acho que ele gosta de você.
- Claro que não. Fê é praticamente meu irmão.
- Meio incestuoso.
- Não seja idiota. - que assunto esquisito pra dois garotos conversarem. - Aliás, por quê está tão curioso?
Ele ri.
- Não sei. Vocês parecem um casal.
Ele ri de novo soltando a fumaça no meu rosto, eu tusso.
- Quer um trago?
- Eu não fumo.
Ele franze as sombrancelhas.
- Você é um adolescente estranho.
- Eu sei. Foi mal.
- Não. Foi um elogio. - ele sorri de lado.
- Nossa, nunca ouvi tanto clichê na vida.
- Qual é, foi bonitinho.
Me limitei a virar os olhos.
Ele sorri e fica me olhando.
Isso é realmente, REALMENTE estranho e desconfortável.
- Que foi, cara? - pergunto rindo de nervoso.
- Nada - ele traga o cigarro. - já assistiu Doctor Who?
- HM... Umas vezes, aleatoriamente. E você?
- Puff... Óbvio que já, é tipo, a melhor série que existe. Qual sua cor preferida?
- Isso importa?
- É claro.
- Bem, é preto. E a sua?
- Vermelho.
Ficamos conversando sobre coisas aleatórias assim enquanto o tempo passava.
Meia-noite em ponto minha mãe me liga.
Onde caralhas você está?
O telefone devia estar alto porque Giovanni murmura um "vesh".
Explico pra ela a história de Felipe e passo o endereço da casa do Giovanni.
- Tá. OK. Até. - desligo.
- E aí, você é um cara morto?
- Não. Ela entendeu. Disse que ia terminar de fazer a janta e vinha me buscar.
- Ah, saquei. Posso te desafiar a fazer uma coisa?
- Depende.
- Não. Esquece.
- O quê? Agora fala.
- Deixa pra outro dia, Edu. - ele pisca um olho pra mim.
- Qual é, odeio quando as pessoas fazem isso. - cruzo os braços. Odeio de verdade.
- Que gracinha o Eduardo brabo. - ele aperta a minha bochecha.
- Para Giovanni, fala logo o desafio.
- Vamos pro meu quarto. - ele levanta do nada e começa a subir a escada.
- Ahn... Vamos. - soou como uma pergunta.
Subo atrás dele. Um lance, dois, três.
Giovanni me fala onde fica a biblioteca, o escritório do pai dele, a sala de pintura da mãe dele, as enormes suítes de hóspedes. Todas as salas do terceiro andar eram para as esculturas e quadros da mãe dele.
- Ela se chama Denise, está em Páris numa conferência de moda e arte com uns casas ricos e engravatados. Meu pai é empresário, Carlos Dummond. Está em uma viajem de negócios em Brasília ou Rio de Janeiro. Não sei direito.
Giovanni falou dos pais como se estivesse mostrando mais uma das salas da sua mansão, mas eu notei que era mais importante do quê ele deixava transparecer.
Não era uma sala da qual ele gostasse de abrir e mostrar com muita freqüência.
- Você mantém contato com eles?
- Uhun. Uma vez por semana mais ou menos eles ligam.
- Acho que eu enlouqueceria se morasse sozinho nessa casa enorme.
- Bem, eu não sou assim de nascença.
Ele ri, mas é um sorriso triste, que não chega aos olhos.
Continuamos a subir e chegamos no terceiro lance de escadas que terminava diretamente em uma porta.
Quando chegamos lá em cima o mundo parecia fora do eixo, girando loucamente. Tive que me segurar no corrimão pra não cair.
- Caramba, e tu nem bebeu tanto. - Giovanni observou.
- Não diga, é mesmo? - sarcasmo. - Só tô um pouco tonto.
- Você nunca chapou, deve ser por isso. Enfim, bem vindo ao meu refúgio.
A porta abre direto para o seu quarto, que é o último andar todo.
O quarto era extremamente bagunçado, mas aquele tipo de bagunça boa. Tinham sofás de todo tipo em todo canto, abajures que ligavam junto com o interruptor de luz, coisas coladas no teto, adesivos em todos os móveis, graffitis nas paredes e por cima de tudo isso haviam roupas, cadernos, canetas, lápis, coisas que eu não fazia ideia do que eram e pra quê serviam, tudo isso misturado formando um conjunto só. Pela clarabóia dava para ver a lua que estava cheia e amarelada. Parecia que as coisas ali, tudo, se completava. E não faria sentido se não fosse assim.
- Ai caramba. Que. Quarto. Foda. - provavelmente eu estou quase babando. Absorvo cada detalhe, um quarto diz muito sobre uma pessoa.
Ele ri.
- Nada de mais. Vem, quero te mostrar uma coisa.
Ele puxa o meu braço em direção ao meio do quarto, pega uma corda pendurada no teto e força para baixo. Uma daquelas "escadas mágicas" surge, direto para o telhado da casa.
Nós subimos e Giovanni senta olhando pra linha do horizonte.
Sento do seu lado.
Ele deita e encara o céu.
Eu deito.
- Sabe algo sobre constelações?
- Não. E você?
Giovanni desembesta à falar sobre as estrelas e pra onde apontavam blá blá blá. Eu balançava a cabeça quando ele me olhava às vezes pra fingir que estava entendendo, mas a verdade é que eu estava me sentindo como uma lontra tentando voar.
- Olha, Edu. Ali é o Arqueiro, ele aponta pro Norte, viu? - ele perguntou desenhando no ar.
- Ahn, sim. É claro.
Ele vira de lado se apoiando no cotovelo e vira os olhos.
- Você não tá entendendo nada, né?
- Não. Quer dizer, eu estou entendendo, só não consigo ver as figuras.
- É só usar a imaginação.
- Eu não tenho isso.
- Não é isso. É imaginação. E todo mundo tem.
- Minha mãe sempre diz que eu não sou todo mundo.
Ele acende um cigarro. O garoto parece uma chaminé de fábrica. Não parava de fazer fumaça nunca.
- Não viaja, cara.
Eu queria responder alguma coisa, mas não encontrei nenhuma palavra. Além do mais, Giovanni não esperava uma resposta.
Eu não estava me fazendo de sonso dizendo que não tinha imaginação. Só, sei lá, não conseguia ver as coisas além do que elas são no sentido literal. Se algum dia eu havia conseguido fazer isso, se perdeu, talvez pra sempre.
Ligo pra minha mãe e pergunto onde ela está, ela diz que já está chegando no endereço que eu dei.
Nós descemos do telhado e Giovanni me leva até a beira da pista.
- Então, somos amigos agora? - ele quebra o silêncio que havia começado no telhado.
- Bem, você que sabe...
- Tá. Prefiro não ser seu amigo então.
- Quê? Pera...
- Sua mãe tem um Golzinho quadrado? - ele me interrompe.
- Sim, mas...
- Olha ela ali - me interrompe de novo. - Até amanhã.
Dá um soquinho no meu ombro e sai correndo pelo gramado.
Minha mente vira um grande ponto de interrogação.
- Que seja. - murmuro pra mim mesmo.
Entro no carro e penso durante o caminho que Giovanni era meio esquisito e descabeçado. Aquele tipo de pessoa esquisita e descabeçada que não se deve prestar muita atenção.
E talvez, se eu não tivesse mesmo prestado atenção naquele porra louca, as coisas poderiam ter sido mais fáceis e nada dolorosas.


Notas Finais


Foi isso, espero que tenham gostado. Não sei a frequência com que vou postar. Sintam-se à vontade pra comentar. Obrigada <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...