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História Texas - O Xerife de Cresson aparece


Escrita por: littlezackary

Capítulo 10 - O Xerife de Cresson aparece


Sabe qual é o problema da burrice?! – Gerard falou entre dentes, amarrando os pulsos de Frank na parede. – É que ela te entrega fácil.

Era impressionante a estrutura daquele porão. Argolas nas paredes para amarrar “algo”. Chicotes, coisas velhas, e móveis cobertos por lençóis.

Mas inegavelmente preparado para uma sala de tortura.

O garoto já tinha apanhado muito. Escorria sangue de seu nariz e havia um grande corte em seu lábio inferior. Suas pernas estavam fracas e seus pés sujos do próprio vômito, no qual projetou ao chão depois de levar um soco no estômago.

Ódio? Não, não era ódio. Era indignação. Gerard estava indignado com a tentativa ridícula de seu sobrinho de matá-lo, logo quando começou a sentir certo apreço por ele. Mesmo sutilmente.

-Noah nunca iria deixar você me envenenar. – Deu um tapa no rosto do garoto, que sentiu instantaneamente a ardência. – Ele viu você colocando o veneno de rato no bolso e no prato. Achou mesmo que eu ensinei meu garoto a ser burro e retardado, igual a você? Não mesmo Frank. Você vai pagar caro por essa idiotice.

O garoto gemeu dentro da mordaça e espremeu os olhos fechados para chorar ainda mais. Não podia correr; gritar. Era apenas chorar e ponto. Se Gerard podia e conseguia sempre ser cruel com ele, porque não poderia ter êxito com isso também?! Porque não?!

Se arrependeu. Não por ter quase matato seu tio, mas porque faltou um triz para se tornar um assassino, assim como Way era. E ele não queria ser igual a Gerard. Longe disso. Percebeu ali, naquele fundo do poço, que para vencê-lo, não teria que se livrar dele. Teria de ser melhor do que ele. Não melhor no sentido de uma boa pessoa. Deixaria ele no chinelo de alguma maneira, apenas precisava encontrar as peças certas e montaria o quebra cabeça.

-Sabe como vai pagar? Sabe o Thunder?

O coração de Frank parou alguns instantes. Arregalou os olhos. Gerard estava de braços cruzados, tranquilo. Só se alterava quando tinha que ganhar impulso para bater no sobrinho e depois recuperava o fôlego.

Thunder era o cavalo de Noah. Ele o tinha desde os onze anos, quando seus pais morreram. Gerard o deu de presente para consolar sua perda. O empregado tratava o cavalo como se fosse os próprios pais e quando Frank cogitou que o veneno fora para a comida do pobre animal...

Sentiu ainda mais culpa.

-Neste instante, garoto esperto, Noah está no estábulo, chorando a morte do cavalo preferido dele. Thunder foi um fortuna, mas aquele garoto merece tudo que é caro, ao contrário de você que não vale nada. Estúpido. – Falou se virando para uma mesinha, tentando decidir qual chicote usar.

Então começou com aquela cena terrível. O barulho do chicote sendo chocado na sua pele; o cheiro daquele lugar; a situação em si.

Frank nunca desejou tanto morrer como naquele dia.

-Sabe Frank, se você me obedecesse direito, não estaria nessa posição. A culpa de tudo isso aqui... – abriu os braços para exibir o porão. Frank levantou os olhos em sua direção fracamente, quase desmaiado. – Disto aqui... – evidenciou o chicote de couro preto envolvido em sua mão. – É toda sua. Acha que eu queria estar fazendo isso? Te machucando de novo, ainda mais do que faço?! – Estranhamente, um lago de lágrimas se formou nos olhos de Gerard. O garoto franziu o cenho, mas ainda mantendo o rosto triste e desperançoso. – Eu nunca quis te machucar. – Ele disse sincero. Por alguns segundos a dor física e psicológica de Frank parou para dar lugar a um “não acredito” em sua mente acompanhada de um revirar entediado de olhos. – Eu achava que você era especial, foi uma pena eu ter te desejado na hora errada. – Se referiu ao momento em que rasgou sua blusa.

Se aproximou minimamente do sobrinho e tirou a mordaça com a ponta dos dedos.

-Você fez pior. – Frank falou, indignado. – Você me estuprou.

-A culpa disso também é sua. Você sabe todos os fatos. – Andou até a mesa e pousou o chicote lá.

Quando se voltou para o garoto, viu as marcas que deixou em sua barriga magra. Sinceramente, não era do feitio de Gerard ter aquele tipo de reação. Ele sempre optou atingir seus inimigos pelo seus pontos fracos – por isso que Bert lhe era bem útil nesses “serviços”, ou matava de uma vez. Ele não ficava numa linha ténue. Era a favor dos lados extremos. Sem meio termo. O problema era que Frank era o tipo de pessoa que só funciona no tapa e no grito. Obviamente ele não iria se esgoelar, brigando e dizendo o quão ingrato ele fora. Não gostava de bater no seu sobrinho, mas dentro da sua lógica, aquilo era necessário para um bem maior.

-Não me arrependo por você. Me arrependo por Noah.

-Já entendeu a lógica? Se você fizer mais uma vez uma dessas, Noah se ferra e você assiste. Entendeu?

Frank assentiu minimamente, abaixando os olhos. Gerard colocou a mordaça de volta. Olhou mais alguns instantes para seu sobrinho e subiu as escadas, desligando a luz antes de sair.

O garoto ficou ali por no mínimo três dias. Não sabia direito. Parou de contar no primeiro dia mesmo, considerando a alta possibilidade de morte, a contagem do tempo não seria necessário. Havia algo de muito hostil na solidão. A escuridão, não só física, mas a espiritual. Naqueles três dias ali dentro, ele entrou em profunda meditação. “Eu achava que você era especial, pena que eu te desejei na hora errada”. Aquelas palavras não o deixavam deprimido ou com o ego ferido. Havia apenas o torpor o dominando, congelando sua alma milímetro por milímetro, num trabalho de formiguinha ardiloso e fatal.

“Ser especial não significa nada, Gerard. Assim como ser desejado . Agora eu sou um lixo igual a você”. Frank pensou.

Ouviu o barulho da porta sendo aberta e a luz ser ligada. Fechou os olhos pois sabia que a dor da iluminação nos seus olhos seria ardente. Mas os passos eram diferentes; leves. Aquele perfume suave invadiu aquele buraco fétido.

-Abra os olhos, sou eu. – A voz doce de Noah era um entorpecente para o garoto.

Quando o fez, viu um menino abatido na sua frente. Sua beleza tinha sido afetado pelo luto. Se Noah estava naquele estado, imagine ele. Sentiu seu olhar meio perdido sobre o outro. Não sabia o que faria primeiro.

-Vou tirar sua mordaça. – O fez de forma cuidadosa, o que provocou pontadas de culpa no peito de Frank.

“Ele é tão cauteloso e eu matei o cavalo dele. O que representava a memória dos seus pais"

-Me desculpa pelo seu cavalo...

Não havia raiva da parte do sobrinho. Claro que inicialmente ficou chateado pelo fato do outro ter entregado tudo, mas logo passou. Pois independente da crueldade de alguém, nunca deve-se se assemelhar a este, usufruindo do mesmo tipo de atitude.

Matar entra na lista de coisas erradas.

Não era assim que a justiça funcionava.

-Esqueça isso. – Falou com certo amargor. – quando eu soltar os seus pulsos da argola, vai doer um pouco...

E foi exatamente o que aconteceu. Frank sentiu uma dor muscular terrível nos braços e aos poucos o sangue voltou a circular normalmente em suas mãos. Noah pegou um pano húmido que trouxe junto com a garrafa de água e começou a passar nos ferimentos causados pelas argolas.

-O que ele te fez? – Perguntou, olhando rapidamente para o rosto do amigo.

-Usou o chicote e colocou aquela mordaça de bola ridícula. – Frank disse, girando o pescoço para aliviar a tensão.

-Ele gosta dessas coisas.

-Ele usa com você?

Noah o lançou um olhar sugestivo.

-Entendi. – Disse Frank. – Noah. – Falou  pegando a garrafa de água que o amigo estava o estendendo. – Por que falou para ele?

Ele suspirou. Inclinou o pescoço para trás, a luz pendurada por um fio um pouco acima deles iluminou aqueles enormes olhos azuis que tinha. Noah diria o que estava engasgado na sua garganta.

-Por que você é um egoísta. Não parou para pensar no que aconteceria se ele morresse e você fugisse?! Eu ficaria no olho da rua, ou me mandariam para um daqueles abrigos onde o governo enfia e esquece de um monte de crianças imigrantes do México. Você herdaria todo o dinheiro dele, por que todos odeiam Gerard e ninguém iria investigar a morte dele. Ou já parou para pensar se por um milagre investigassem sua morte e chegassem até a você? Pena de morte, Frank. Pra você. No final das contas não valeria à pena.

-Ele abusou da gente. Ele matou o cara que poderia ter nos ajudado... – Tentou se justificar. Amassou a garrafa de plástico com os dedos trêmulos de raiva.

-Você tentou matar ele. Seria um assassino igual a ele. Eu sei que é errado aceitar ser violentado, ocultar crimes... Mas matar, Frank? Isso não é justificável.

Frank se calou. Sabia que Noah estava completamente certo.

Os dois saíram do porão. Frank se sentindo ileso da sentença que seu tio decretara, mas ainda sim um leve trauma ainda fazia com que suas pernas tremessem.

Havia o silêncio característico da casa. O rangido do lance de escadas quando pisado. E quando os dois entraram no quarto, havia um Gerard sentado na cama esperando por Frank.

Quando ao dois se olharam, uma onda de sensações ruins tomou o peito do garoto. Noah fez tensão nos ombros, sentindo a perplexidade daquela situação. Gerard viu o menino frívolo e machucado na sua frente, o olhando com aqueles lábios entreabertos, cortados, e os olhos condenados à um choro eminente. Por um instante... Espere... Por um instante sentiu aquela pontada estranha no peito. O que era aquilo? Culpa? Ou era a beleza da palidez, do tórax nu e daquelas tatuagens que o estava deixando desnorteado?

-Saía. – Disse para Noah.

Frank e ele se entreolharam. O primeiro meio apavorado com o que possivelmente viria a seguir. Mas Noah o assegurou com um olhar reconfortante. Assim que o outro saiu, o garoto ficou petrificado perto da cama, analisando os joelhos de seu tio, sem ter coragem – nem vontade, de olhar o rosto de Gerard. Ao contrário deste que vislumbrava aquele corpo como se fosse uma bela obra de arte. Convenhamos, era.

-Sente. – Ele falou, batendo levemente na superfície do colchão. Sua voz soou calma. Não fria, nem autoritária. Apenas calma e sugestiva.

Temendo o pior, o garoto obedeceu.

Sentiu o perfume forte de seu tio. Era exatamente o mesmo aroma do sonho que teve com ele. Mas ali, o cheiro parecia ser muito melhor. Se sentiu constrangido, pois possivelmente estava fedendo à coisa morta, enquanto Gerard estava com sua higiene em dia e impecável.

-Espero que tenha refletido bastante sobre o que fez. Não quero ter que recorrer à esses métodos de novo.

Frank sentiu o olhar próximo dele. Então decidiu o encarar também. De longe, pensou, Gerard Way é tão amedontrador... Alto, branco, com aqueles cabelos vermelhos e seus dedos longos. Mas de perto, ele era tão... Contraditoriamente angelical. A cor de seus olhos, os cílios, a linha fina que eram seus lábios. Uma beleza desperdiçada pela maldade. E o que mais tirava o garoto do sério naquele instante, era a inevitável atração que estava sentindo por sua imagem. Mas lembrou do que havia dentro dele e havia outra coisa ali: “Ah, é mesmo, ele é o meu tio”.

-Não vou me igualar a você de novo. Pode ficar tranquilo. – Disse Frank, seco.

Gerard se levantou e abriu a porta do banheiro. O garoto o olhou hesitante, cogitando a possibilidade de seu tio querer sexo. Era difícil de distinguir suas vontades, pois toda vez que o olhava ele simplesmente não esboçava reação alguma em seu rosto.

-Venha. Você tem que tomar um banho.

De fato, precisava muito. Mas não era como se Gerard tivesse que entrar dentro do banheiro com ele. Mas se bem que... A “intimidade” dos dois estava bem avançada, e tomar banho na frente dele não era algo tão constrangedor assim.

Frank o obedeceu. Tirou a bermuda que usava, enquanto Way girava a torneira para a água cair dentro da banheira. Tirou algumas essências do pequeno armário acoplado debaixo da pia e derramou naquela pequena piscina, que começava a espumar conforme aumentava o volume de água.

-Venha... – Estendeu a mão para Frank, que segurou trêmulo e hesitante.

Gerard admirou aquele pezinho mergulhando na água, e se perguntou se deveria continuar com os abusos. Ele queria Frank, mas estranhamente, da maneira correta. Queria que o garoto se atraísse por ele, não o temesse. Pegou a esponja de banho, que estava pendurada ao lado da banheira no gancho de alumínio da parede. O menino se encolheu dentro da água, apoiando o queixo nos joelhos e abraçando as canelas. Way notou algumas marcas de espinhas nas suas costas, e mergulhou a esponja na banheira, em seguida passou a passeá-la por aquele dorso de pele clara.

Até então, os dois não falaram nada. Frank estava tão frágil, que sequer deixou sua indiferença por seu tio atrapalhar aquele raro momento de “carinho”. Ele queria que Way fosse daquele jeito direto, qual era a porra da dificuldade de ser assim?!

Já Gerard, queria ter mais liberdade de tocá-lo daquela maneira, mas parecia que havia uma corda amarrando os seus braços, corda esta, que o impedia de ser atencioso e cauteloso quando a possibilidade lhe ocorria em mente.

Fez um formato de concha com a mão e pegou um pouco de água para tirar a espuma de suas costas. Acariciou seu dorso, e desceu a mão até o final de sua coluna, a ponta de seus dedos tocando levemente o início das nádegas. Frank ficou ereto com o contato, os olhos assustados e a respiração cortada pelo medo. Mas o rosto de seu tio estava próximo demais. Sua mão subiu até  a nuca, seu olhar fora tomado por um teor de desejo, segurou levemente os cabelos do garoto e levou seus rostos à colisão. Testa contra testa, a pontas dos lábios superiores dos dois se tocavam sutilmente, assim como as pontas dos narizes.

-O que está fazendo? – Frank perguntou com a voz fraca. Mas não houve tempo de resposta. Gerard empurrou seu rosto para enfim fazer o que tanto queria. O garoto, naturalmente não respondeu. Mas sentir aqueles lábios pela primeira vez não foi excitante para Way. Foi apenas... Gélido e cálido. Invadiu com sua lingua a boca do garoto, que estava achando aquilo surreal. Gerard Way sendo carinhoso. Frank deveria estar gostando, fisicamente gostando. Ele beijava bem, sabia o que estava fazendo. Mas... Ainda havia o nojo, nojo este que impedia de corresponder àquele toque tão inédito.

De supetão Frank se afastou. Ofegante e indignado – e sem pensar corretamente, agarrou os cabelos de seu tio, e impulsionou sua cabeça em direção a borda da banheira, tudo isso em questão de segundos. O baque da testa de Way na borda causou o considerável barulho, e ele se sentiu levemente tonto. Apalpou a região machucada sentindo aquela dor chata. O sobrinho se encolheu no canto da banheira, assustado com a própria atitude impensada.
Gerard levantou a cabeça e o menino notou que ele estava sangrando. Mas não parecia estar com raiva.

-Des-des-culpa... Eu... Eu, não...

-Esqueça, esqueça isso porque...

Antes que ele terminasse, alguém bateu à porta:

-Gerard? É Mary. Se recomponha. O Xerife de Cresson está lá fora, e quer falar com você. 



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