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História Texas - Fique longe dos McCregor e não dirija um carro automático


Escrita por: littlezackary

Capítulo 12 - Fique longe dos McCregor e não dirija um carro automático


Frank encarou a faixada do Imperium Houston, sentindo o cheiro forte do perfume de Gerard dentro do carro. Os dois esperavam o manobrista, enquanto Way mandava sms no celular.

Pessoas passavam pela calçada, as palmeiras plantadas e alinhadas, estavam iluminadas, como nas ruas de Los Angeles.

O manobrista se aproximou na janela de Frank e sorriu. O tio olhou de relance para seu sobrinho ao que notou uma troca de olhares estranha com o desconhecido.

Antes que os dois falassem alguma coisa um com o outro, ele disse:

-Saía logo do carro Frank.

Ninguém podia chegar perto do menino que seu sangue fervia. Era raiva? Ou seria ciúmes? Bem, a definição correta era tão incerta quanto o seu caráter. Mas eram sempre sentimentos disfarçados de posse e egoísmo. E aquela coisa crescente dentro de Gerard, desabrochou ainda mais depois daquele estranho quase beijo na banheira. No entanto, sentir certo início de “paixão” não fazia dele alguém melhor. Continuava sendo o crápula de sempre.

Constrangido, o manobrista apenas abaixou a cabeça e deu a volta no carro. Frank se lembrou da frase de Noah:

“Não fale com desconhecidos fora da propriedade”

Só aquela situação – Way pensou ao que abria a porta do carro para sair, fora o suficiente para deixá-lo tenso. Já estava meio “preocupado” pois teria que levar Frank para o coquetel dos Acionistas.

Era um evento anual em que os empresários do Texas se reuniam, para promover suas empresas. Era uma baita de uma festa. Barman's; dançarinas; modelos; magnatas; imprensa... Ostentação e notoriedade. Sempre acontecia no Teatro Estadual, o mais lindo da região. Mais luxuoso também.

A sua decisão causou desconfiança e estranheza em Bert. Ele disse que não havia necessidade de levar Frank; que iria expor o menino para a imprensa local e os seus inimigos poderiam se aproveitar disso.

-E além do mais, - Completou. – pode ser uma oportunidade para ele fugir. Acha mesmo que ele vai ficar paradinho, te seguindo e pendurado no seu pescoço como uma daquelas modelos magricelas?

-Acredito que ele não vá fugir. Depois do porão, eu duvido. A não ser que ele seja burro demais e repita o erro.

-Não sei. – Bert disse sério. Seu semblante passou de normal para pensativo. – Não confio nele.

-Acho que ele vai relaxar lá. Tenho certeza, na verdade. – Sorriu minimamente.

-Desilude. Não é como se ele gostasse de estar perto de você. Se eu fosse ele, correria toda vez que chegasse perto de mim. – Zombou.


Os dois entraram no hotel, que estava movimentado com o evento em Houston. Mulheres bonitas circulavam, homens de terno e todo o tipo de gente que se pode imaginar. Frank – que por conta da impotência de estar sofrendo abusos estava com sua autoestima abaixo do inferno, se sentia completamente inferior no meio daquele pessoal indo para lá e para cá. Seu tio parecia estar à vontade, arrastando sua mala com a mão esquerda e com a mão direita digitando no teclado do celular. O garoto encolheu os ombros, abaixou a cabeça. Vendo aquilo, Way tirou a atenção de seu celular:

-O que foi? – Sussurrou.

-Nada. – Frank o olhou com nojo e falou com asco.

Gerard se inclinou, o encarando ameaçador e diretamente nos olhos:

-Já disse para você falar direito comigo.

-Eu deveria cuspir na sua cara agora mesmo! – Tentou falar um pouco mais baixo. Mas queria gritar para que todos ouvissem.

-Você não abusaria tanto assim da sua sorte, sobrinho querido. – Pousou sua mão no ombro de Frank e o empurrou para frente, em direção ao guichê da recepção. – Agora vamos. Deixe de fazer cena e se comporte.

Então, sem nenhuma outra opção, obedeceu. Fizeram o check-in e subiram para o quarto.

Frank pousou sua mochila no chão. Gerard estava a sua frente, ainda digitando sabe-se lá o que no seu aparelho. Ficou olhando aquela cena.

“Até parece alguém normal”

De repente, ele largou o celular sobre a cama e começou a tirar sua camisa. Observou as costas claras do seu tio. Gerard era esbelto e jovem. Consideráveis trinta e cinco anos de idade. E para Frank, infelizmente, ele era um homem muito bonito. Poderoso, rico...

E cruel.

Parecia que estava se espreguiçando de propósito, apenas para evidenciar os contornos de seu corpo. Como se fosse para provocar Frank.

E estava conseguindo.

Só que de uma maneira esquisita.

Era muito complicado para o menino admirar a beleza de alguém que o machuca. Era a mesma sensação desconfortável  de gostar do carinha mais bonito do colégio, sendo que ele é um galinha filho da puta. Ou da garota que mora na sua rua que gosta de fazer todo mundo de gato e sapato. Era aquela sensação esquisita e desconfortável. Era meio desesperador também.

Talvez fosse a cor da pele que o atraía. A esbeltez do seu corpo. Talvez fosse até a cor de seus cabelos que, concentrava seu olhar por toda sua imagem, como uma miragem à beira mar de uma praia paradisíaca. Talvez fosse a crença, que estava quieta, lá no fundo da sua alma de que todos podem ter um lado bom. Que a maldade não é só o que compõe o ser humano. Talvez fosse a ideia de que se esforçasse um pouco, poderia mudá-lo de alguma forma. Talvez ele só precisasse de carinho de alguém para parar de ser tão ruim com os outros. Ou talvez, talvez, estivesse tendo pensamentos completamente utópicos; onde na realidade, seu tio era definitiva e irreversivelmente mau, e que nunca iria mudar, por que egoístas não mudam da água para o vinho.

Egoístas são egoístas.

Se algo não os beneficiar, então tanto faz quanto tanto fez para eles. Era essa a realidade.

Então ele foi tirando o relógio do braço, o cabelo escorreu para a frente dos seus olhos e Frank permanecia ali, de pé junto, o observando.

Quando Gerard se sentiu desconfortável, virou um pouco o rosto. Viu o seu sobrinho, numa mistura de maturidade, beleza e infantilidade. Considerou o fato de que os anos se tornariam evidentes em seu rosto, mas seu olhar, aquele olhar doce e puro; infantil e atrativo, nunca sofreria mudanças. Pois esta era a característica mais forte de Frank; seus olhos. Ele poderia dizer que era por causa da cor indefinida, porém  misteriosa deles. Mas não. Era apenas o conjunto da obra que tornava incrivelmente admirável.

Vendo que o sobrinho o olhava meio que com grandes olhos de uma curiosidade infantil, sentiu seu peito arfar.

Foi ali, exatamente ali, que sentiu aquela explosão. Algo que desregulou seu organismo, fazendo seu estômago ficar agitado e a ponta de seus dedos tremerem. Seu coração ficou descompassado. “Deve ser arritmia, acho que estou velho demais”. Viu em Frank abraços; beijos. Viu ternura; anseios. Viu sorrisos e volúpia. Viu desejo – o desenfreado. O desejo que Gerard não conseguia administrar; não sabia medir. Não sabia. Simplesmente não sabia.

Era uma tortura; lancinante. Estava ali, mas não estava ali. Queria muito aquele menino, mas não queria tanto assim. Ir ou ficar ali, parado? Dizer que promete que não o fará mais nenhum mal, e quebrar a promessa depois?  Dizer que não há nada de errado com ele, e sim consigo? Quebrar as paredes internas e procurar um tratamento para frear seu descontrole sexual? Pedir perdão?  Dizer que vai ficar tudo bem, beijando sua testa, quando na verdade o mundo está prestes à desmoronar?

Caros leitores, o ser humano tem uma inclinação severa à seguir o caminho mais fácil. Talvez essa seja uma das piores imperfeições do homem. Ele sabe que o caminho fácil é letal, mas simplesmente segue por ele por saber que é fácil. Quanto ao caminho difícil? Ele requer sacrifícios, estes que muitas vezes sufocam e fazem chorar no final do dia. Que te fazem por o pé pra fora do parapeito do prédio mais alto da cidade; ou olhar para a cestinha de remédios da sua casa ponderando se é certo ou não tomá-los de uma vez. Mas tudo isso – dentro do caminho difícil, leva ao bem. Leva à uma vida sem consequências de escolhas erradas; falhas.

Eu viveria pleno se escolhesse o caminho difícil” Pensou Gerard.

Mas no seu caso, seguir o caminho que leva à plenitude incluía se entregar para a polícia; fazer testes psicológicos; perder seu poder; seu sexo; perder a dignidade (mesmo que ainda a tenha de maneira hipócrita); perder seu dinheiro; perder suas terras...

...Perder Frank.

Naquele instante, ele não queria nem um pouco perder Frank.

Tanto que, quando se deu conta, estava bem perto do seu pequeno corpo. A respiração forte e nervosa dele se chocando contra seu peito nu.

O menino se assustou com seu movimento, mas como era atrevido e insistente, mesmo quase não controlando os sinais de pânico que seu corpo dava, ficou ali. Firme e forte; sem ter medo da aproximação e do Gerard ali em si. Molhou os lábios olhando para seu tio, pensando no beijo que ele lhe desferiu na banheira; pensando no quão errado e vergonhoso eram as ideias e as vontades que apareciam como fogos de artificio na sua cabeça. Era errado. Muito errado. Perante  a sociedade; leis; conceitos... Era tudo errado.

Como uma pele poderia parecer tão suculenta ao invés de parecer enjoativa? Nauseante? Como aquela linha mandibular parecia ser tão atrativa, o pescoço com as carótidas pulsando, a clavícula à mostra, os traços perfeitos e inenarráveis de um assassino... Como poderiam ser tão... Incrível naquele momento? O que estava o movendo a fazer aquilo?

Suspirou.

Baixou o olhar para o cinto do seu tio. Os sapatos brilhando. O piso de mármore. Depois foi subindo seu olhar para as pernas, depois tórax e por fim o rosto tranquilo de Gerard bem ali, na sua frente, com o corpo quase encostado no seu.

O menino estava preocupado com aquelas reações. Seria o ar de Houston? Ou seria o fato de estarem em um quarto de hotel, em um lugar no qual se podia viver intensamente, misturado com o fato de precisar do carinho e da atenção de alguém de modo que terceiros nunca entenderiam.

Gerard estava apenas... Perdido em pensamentos. Levemente excitado, inclusive. O cheiro de xampu de maçã que emanavam de seus cabelos, os lábios entreabertos, a postura hesitante mas nitidamente prestes à avançar...

O garoto levantou os dedos da mão direita, indo em direção a parte de cima do peito de Way. Foi indo, indo... Mas então parou.

A guerra interna; a sensação esquisita de ser atraído por algo errado e mau... O fato de que ele era seu tio latejava junto com a dor na sua cabeça; que ele era um assassino manipulador de merda; que fazia sexo à força com o empregado e com o sobrinho...

-Faça o que sente vontade de fazer... – Gerard diz, sugerindo que Frank continuasse com o que estava prestes a fazer. Seus olhos passearam por todo o corpo do garoto , imaginando uma vasta de lugares onde tocar, sugar, brincar com a lingua e ufa...! Se deliciar.

Ao ouvir aquela voz baixa e cheia de duplo sentido, toda a voracidade dos hormônios de um garoto de 17 anos se aflorou no corpo de Frank. Seu coração passou a bater mais forte, para levar sangue o suficiente para enrijecer a parte mais estimulada pelas palavras de Gerard que ele já sentiu na vida.

“Mas é errado! Ele te estuprou seu idiota masoquista!”

Mas ignorando todos os “nãos” ele fez. Tocou com a ponta dos dedos a pele de Gerard. Viu seus poros eriçarem; sua respiração tomou um rumo diferente com o toque. Vendo que apenas aquele contato deixou Way meio que desconcertado, uma onda de satisfação o invadiu.

Mas o que estava o levando a tirar a armadura? A carência; que o levava a ilusão do lado bom de Gerard; que fazia com que ele cedesse seu corpo todo à qualquer tipo de contato. Algo que trouxesse sua auto estima de volta; seu bem estar.

Sentiu a mão dele acariciar a parte de trás de seus cabelos. Sorriu minimamente, maliciosamente. Sentiu também seu corpo sendo pressionado contra a porta, a parte quente e rija de Gerard perto de seu umbigo. Acariciando seu cabelos... Acariciando...

Até que agarrou os de sua nuca com força.

Seu olhar escureceu, pela dilatação das pupilas.

Beijou violentamente Frank, esfregando seu corpo contra o dele, numa taquicardia imoral e suja. Com vontade. Muita vontade. Frank também respondeu com voracidade. Com raiva. Afinal, não era amor nem paixão da parte dele. Era só... Uma necessidade súbita e física de carinho. Vez ou outra as línguas esbarravam com os dentes; ou até mesmo dente contra dente. Quanto mais Gerard se roçava contra ele, mais ele gostava.

A barreira fora quebrada. A barreira do lógico.

Agora, os dois estavam movidos pela força da natureza chamada sexo. Além da fome, esta é a força na qual o ser humano age genuinamente como ele realmente é. Um animal com o intuito apenas imoral e físico. Sexo.

Way tirou a camisa do menino. Depois desabotou sua calça com uma agilidade de causar inveja.  A roupa escorregou por suas pernas, e ele as jogou para longe com os pés. Gerard tirou a própria roupa, e Frank tirou a própria cueca.

Segurou o menino por debaixo das coxas, e o elevou. Frank se agarrou nele envolvendo suas pernas ao redor de sua cintura, ao que era pressionado contra porta.

Way abaixou um pouco sua cueca para poder penetrar Frank. Na sua cabeça não era bem “penetrar Frank” era mais para “preciso gozar logo”.  Acostumado com as frequentes “invasões” o menino só sentiu um leve desconforto ao que Gerard o fez. Foi com força. Com toda a virilidade que ele tinha acumulado naquele dia. Com direito a um gemido arrastado ao que se colocou por completo, sentindo o calor e o aperto.

O corpo do garoto ia para cima e para baixo. Sua respiração estava forte. O que era aquilo que estava sentindo? Era prazer?

“mas que coisa mais esquisita”

Gerard arfava e balbuciava o quanto Frank era gostoso e delicioso... Às vezes as palavras não saíam por completo e eram atrapalhadas por gemidos. Quando estava sentindo que estava chegando ao seu clímax, ele desacelerou o ritmo. Sentiu seu peito suado contra o do garoto, beijou seus lábios lentamente, mas sem retirar o teor de desejo nele. Frank gostou mais quando ele desacelerou. Foi mais gostoso. Intenso. Era muito estranho para ele, sentir prazer naquela região. Mas era quase tão bom quanto na parte principal.

Não pôde controlar o pequeno gemido.

Ouvindo isso, Gerard voltou ao seu ritmo. Sentiu suas pernas tremerem. Do contrário que Frank imaginou, os movimentos rápidos dele tornaram o seu prazer mais intenso, ao ponto de ejacular tudo.

Agora sim estava exausto. Mas... Passado a sensação de prazer, Way ali, perto dele; dentro dele... Causou um desconforto.

Arrependimento.

-Eu preciso gozar Frank. Eu não... Eu não aguento mais...

-Pode ir... – Disse meio amargurado.

Gerard enfiou o seu rosto no pescoço do menino, este, posicionou seu rosto entre sua cabeça e seu ombro, agarrando suas costas com a mão e um olhar vazio no rosto.

O gemido forte e intenso de Way indicou que ele havia acabado de se satisfazer. Passou alguns instantes ainda penetrando devagar... E depois se retirou, descendo Frank e o colocando no chão. Uma baita dor nas costas ele teria mais tarde.

Way tentava recuperar o fôlego. Frank, envergonhado do que acabara de fazer, correu para o que seria o banheiro. Abriu a torneira da banheira, e a observou derramar água, com os olhos marejados.

***

Gerard havia contratado uma equipe de seguranças para acompanhá-los. Mais especificamente Frank.

Não era nem um pouco burro de deixar o garoto sozinho, apesar de que tinha certeza de que não sairia de perto dele.

Chegaram numa Hilux, automática. Daquelas que se você não tomar cuidado, saí pela rua atropelando todo mundo. O segurança que dirigia quase fez merda no caminho, mas conseguiu deixar o Sr. Way e seu sobrinho seguros no Teatro Estadual de Houston.

Os dois saíram, e deram de cara com um corredor de repórteres e jornalistas, que era contidos por divisórias de ferro, postas em fileiras para impedir avanços indevidos e dificuldar a circulação dos convidados do evento.

Tinha também um tapete vermelho ridículo e desnecessário que levava até a entrada do teatro.

A chuva de flashes recaiu sobre os dois Ways. Incomodado, Frank tampou com o braço um pouco da sua visão, e Gerard o guiou pelo ombro. Os dois agiam afetuosamente só porque haviam câmeras por perto.

Ao que entraram, algumas pessoas os olharam, mas logo perderam o interesse. Os seguranças se espalharam pelo salão, e apenas dois ficaram perto de Frank e Gerard.

-Pra que tantos seguranças Gerard? – Frank perguntou baixinho, perto do ouvido de seu tio.

-Tem muita gente aqui que não gosta de mim. De certa forma é perigoso. – Mentiu. Aliás, não mentiu completamente. Boa parte dos empresários que tinha ali, circulando ou divididos em panelinhas, eram seus inimigos. Não era nada pessoal, até certo ponto. Mas é que se tratando de negócios, misturado com o estilo de vida Texano, a cultura e os hábitos, o mercado se tornava acirrado, e os caras ficavam meio... Putos de vez em quando.

Frank que não era burro, muito menos ingênuo, sabia que aquela não era a resposta completa de Way.

-Ainda não entendo porque me trouxe aqui. Isso aqui tá um porre. – Reclamou o garoto.

-Só fique quieto e não beba nada alcoólico. Se a imprensa ver que meu sobrinho menor de idade está bebendo, é capaz de me mandarem para a delegacia por sua causa. – Disse alinhando o seu blazer.

Frank revirou os olhos e olhou a banda tocando num palco com luzes demais. Tocavam clássicos americanos. Majoritariamente Elvis, Frank Sinatra, Ray Charles... Depois entrou uma mulher negra. O apresentador das atrações disse que ela era cover da Aretha Franklin. Depois ela cantou Nina Simone e Frank se sentiu definitivamente no século vinte e não vinte e um, no qual pertencia. O reportório era explicado pela quantidade de gente velha que estava no salão. Talvez Gerard fosse um dos mais novos ali. O que ajudava a chamar muito mais atenção.

Uma modelo se aproximou. Ela parecia um palmito enrolado num tecido. Sua magreza era de dar pena. Ela chegava ser mais alta que seu tio e aquilo a fazia ficar encurvada, e juntando as mãos perto do peito, ficava parecendo  um tiranossauro rex.

-Olá. Sou Anitta Gonzalez. – Sorriu e chupou seu drink cor de rosa pelo canudo.

Era estranho uma ruiva cheia de sardas com nome de mexicana.

Gerard não entendeu o que estava acontecendo ali.

-Desculpa? – Falou se inclinando um pouco na direção da Gonzalez. Achou que ouviu errado.

-Anitta. Gonzalez. Sr. Way. – Ela falou tentando controlar o piti que estava querendo dar pela nítida rejeição de um dos bonitões empresários do Texas.

-E? – Perguntou como se a existência dela não tivesse importância.

Não era propício. Nem merecia. Mas Frank tapou a boca para conter uma risada após encarar a cara de tacho da modelo.

-Sr. Way... – Disse com certa paciência. – Sou eu quem vai acompanhá-lo esta noite. – Sorriu. Um daqueles sorrisos falsificados, igual o das Barbies em prateleira de supermercado.

-...E? – Repetiu dando a mesma falta de importância de antes.

Só que desta vez não soou engraçado para Frank.

Primeiro que ele estava sendo ignorante e um grande filho da puta. Segundo que ela estava insistindo demais, como se estivesse ali a mando de alguém.

-Me diga menina... – Ele continuou. – Há quantos anos atrás você comeu pela última vez?

Notando que Gerard queria lhe expulsar dali, a modelo apenas disse:

-Roger McCregor. – E o olhou com seriedade.

Frank não entendeu nada.

-Ah, então foi ele...

Que te mandou aqui, galinha ruiva

-Exatamente. – Disse pausadamente, convencida de si.

-O que está acontecendo? – Frank puxou a barra do blazer de Gerard, que  olhou rapidamente para o garoto.

O menino entendeu que era para ficar quieto.

Anitta elevou a chave de um quarto do Hotel Imperium Houston e disse:

-Cortesia da casa. – E sorriu sexy com o canudo entre seu dentes.

Gerard sentiu uma vertigem.

-Diga à Roger para não me...

Foi interrompido por um homem de terno azul escuro no seu ouvido. Então ouviu:

-Os Acionistas querem que você vá até o segundo andar. Reunião de emergência. – E puxou o braço de Gerard.

-Espera... – Pediu e agarrou a mão de Frank.

Mas o homem de terno azul fez cara de reprovação para o menino.

-Ele não, Sr. Way.

Vendo que não havia escapatória, Way apenas disse:

-Não fale com ninguém. Ninguem, está me entendendo? – Disse meio preocupado.

E aquilo estava assustando Frank. Sabia que tinha uma coisa muito séria acontecendo  e isso envolvia Gerard, o que tornava tudo oitenta vezes pior. E seu tio sempre pôde fazer o que queria, mas se tratando daquela ocasião ele ficou subalterno à decisões de terceiros que o menino sequer sabia os nomes.

Quando perdeu Gerard de vista, viu vários homens sendo conduzidos pelos tais supostos seguranças para o andar superior àquele. Suas mãos começaram a suar. Aquela sensação de medo e pânico, como quando você é criança e se perde de sua mãe num lugar desconhecido e movimentado.

Imaginou que seu tio fazia parte de uma organização secreta, tipo Maçonaria. Pensou que o pessoal de Cresson havia descoberto os abusos e estavam levando ele para um espécie de tribunal moral e logo após iria executá-lo com um magnum .44 de algum fazendeiro extravagante. Ou que de fato era algo relacionado aos seus negócios que com certeza tinha um pezinho nos ares ilegais do mercado.

Mas a única coisa que conseguia pensar era que estava num lugar que não conhecia ninguém.

Sozinho.

Exposto.

Desamparado.

“Não fale com ninguém”

“Tem muita gente aqui que não gosta de mim. De certa forma é perigoso”

Sendo perigoso, e havendo inimigos de seu tio ali, poderiam saber quem ele era. Poderiam estar armando algo para prejudicar e afetar Gerard. E já estava cansado de sofrer qualquer tipo de violência ou trauma. E para que isso não acontecesse, precisava ficar fora do centro das atenções.

-Esconder. Eu preciso me esconder... – Falou suando frio e afrouxando a gravata, que parecia uma forca ao redor de seu pescoço.

Nervoso, ele foi empurrando educadamente cada cidadão – alguns bem bêbados, que atrapalhavam seu caminho. Alguns o encarava estranhando, afinal de contas, ele estava mais para um menino de 14 anos. Não um de 17.

Como o evento estava rolando solto lá dentro, quando conseguiu sair do salão à salvo, deu de cara com um hall silencioso e cheio de sofás vermelhos que se distribuíam até a escuridão daquele cômodo em formato de retângulo. Outro hall ficava paralelo àquele. Este último era o que dava acesso à saída do local.

Do lado de fora – meio atrasado, esta a Roger McCregor, dando uma entrevista animada para uma repórter que ele mentalmente chamava de Srtª Charlote Gostosa Blake. Ao final da entrevista, ela lhe passou disfarçadamente um cartão com seu número de telefone.

Ela não contava com o fato de que seu cenegrafista tinha visto. E ele não entendia como uma mulher tão bonita poderia se atrair por um velho grisalho, que usa um chapéu branco enorme e um cinto do tamanho da frigideira da sua cozinha.

Roger subiu as escadarias, confirmou seu nome com os seguranças e andou pelo hall de entrada.

Estava ali especialmente por causa de Way, seu maior inimigo nos negócios.

Queria muito atazanar ele.

Então, viu seu sobrinho de bandeja, sentadinho em um dos sofás do hall de descanso.

-Mas olha só. Se não é o tal Frank Way. – Balbuciou cheio de veneno nos olhos.

***

Gerard tamborilou os dedos sobre a mesa redonda. Todos os Acionistas estavam muito tensos.

A hierarquia  era clara: o empresário com mais poder e dinheiro era quem regia as reuniões. Way era o terceiro na hierarquia, mas se dependesse dele, ele estaria em segundo lugar.

Se não fosse os McCregor.

-Há Gaviões aqui. – O líder disse. Fora claro e direto.

Só que essas palavras soaram três vezes pior dentro da cabeça de Gerard.

“Há gaviões aqui”

“E Frank está lá fora”

- Onde está Roger? – O quarto da hierarquia perguntou.

-Ainda não chegou. – o líder disse. – Mas pegamos um representante deles.

Quando ele se referiu a “pegar”, significava obrigar o dito cujo – se necessário dar uma surra de leve, e levá-lo à força até àquela sala.

-Devem estar chegando com ele. – O líder completou com frieza.

As portas se abriram e todos ficaram de pé.

Um homem jovem e loiro era arrastado por dois seguranças, pelos braços. Estava ensanguentado e obviamente semi consciente.

Gerard sabia quem ele era. Era o filho mais novo do clã McCregor. O nojento do Roger conseguiu fazer incríveis doze filhos. Por isso se referiam à eles como um clã.

-Então Quinn, me diga... – O líder se aproximou dele. – O que fazem os Gaviões aqui?

-Eu... – Baixou a cabeça, e um bolo de sangue escapou de sua boca, sujando todo o chão. Tossiu. – Não sei de nada... – Quinn disse.

-Não minta para mim. Seja homem. Eu conheço você antes mesmo de você começar a bater punheta vendo revista  da Playboy.  Então me responda! – Disse entredentes. – o que fazem Gaviões aqui?!

-Meu pai! Foi ele que ordenou. Foi ele! Ele disse que era para ampliar os negócios.

Caros leitores, vamos à uma breve explicação:

Gaviões e McCregor's.

Segundo os documentos da Receita do Grupo McCregor, seus negócios eram: cultivo e distribuição de soja, laranja. Pecuária. Têxteis. Imobiliárias, vários imóveis de luxo no Texas e em outras cidades do país. Eles também investiram na área de entretenimento, eram donos de uma produtora de vídeos (pornô) e uma agência de modelos que frequentemente alimentava a tal produtora de vídeos.

Porém...

Para fazer parte dos Acionistas, ficha limpa ou negócios lícitos ele não tinha.

Roger McCregor era traficante.

De pessoas.

Os Gaviões serviam para atrair vítimas que sonham em ser modelos, atores ou atrizes. Quando conseguem convencê-las ( o que fazem com muita primazia) viajam para outros países e nunca, nunca mais são vistas.

Algumas morrem no caminho.

Outras viram escravas ou garotas de programa.

Por isso Gerard estava tão nervoso. Sabia que se tinha Gaviões no salão, com certeza notaram Frank. E sabendo o estado do garoto, tinha plena consciência de que cairia fácil no papo deles.

-Você tem ideia? Tem ideia de que a polícia pode saber disso? E se descobrir, será através de seu pai que todos os Acionistas vão cair?!

-Eu sei disso! – Quinn bradou com certa dificuldade. Levantou o olhar em direção à Way. – Ele me ordenou também... – Sorriu mau, mostrando todos os seus dentes banhados em sangue. – Apagar os seus seguranças Gerard Way.

Hipertensão. Ele sentia os efeitos da pressão alta. Era muito stresse para uma noite só.

Queria poder voltar para mais cedo. Quando Frank estava suspenso e totalmente entregue ao seu corpo. Suado e incrivelmente, sexualmente, atraente. Queria muito voltar àquele momento.
Percebeu ali, que a ideia de alguém poder ter Frank de alguma maneira, o apavorava. Mas ele não reagia da maneira comum, quando se está apavorado. Ele apenas:

-Me dê um motivo para não te matar de vez. Ou melhor, matar sua namoradinha e deixar você vagando na terra. Me dê só um motivo. – Disse friamente.

Quinn gargalha dramaticamente. Com um ar de você-não-sabe-de-nada-Gerard. Um teor de convencimento preencheu suas feições.

-Na hora que você menos esperar, o traidor dará as caras.

Foi o que Quinn disse antes do líder lhe desferir um soco no queixo, e desmaiar de vez.

-Deixem ele no lixão. – O líder ordenou aos seguranças, que o arrastaram para fora da sala. – Gerard? Quer que eu mande meus homens ajudar seus seguranças?

-Claro. Preciso saber onde está meu sobrinho.

***

Enquanto Quinn era interrogado pelo líder...

Frank pensou que teria um ataque cardíaco quando aquele homem se sentou ao seu lado. Ele era gordo, velho e usava um chapéu branco. Tinha cheiro de perfume de gente velha, aqueles com cheiro de desinfetante de banheiro público.

-Então você é o famoso Frank Way. O sobrinho do Gerard que tanto falam por aí...

Suas mãos suaram mais. Fechou os olhos para tentar se acalmar.

-Você e ele não tem nada em comum. – Se referiu à imagem dos dois. – Enquanto ele parece um palito de fósforo em chamas ou um daqueles... Como é que chama...? – Pareceu tentar se lembrar de algo lá do século passado.  – Um lupa Upa do Willy Wonka, sabe? Daquele filme A Fantástica Fábrica de Chocolate? Só que de cabelo vermelho ao invés de verde. Enquanto você... Tem uma beleza natural e muito atrativa... – Disse de um jeito estranho. Como se estivesse cantando Frank.

O menino franziu o cenho.

Não era possível que estava atraindo todos os homossexuais da terra. Principalmente os velhos.

Permaneceu calado.

-Você não é de falar muito não é? – Insistiu em puxar um assunto.

Onde é que os seguranças foram parar?! Mas que merda!” Pensou olhando para os lados.

-Então... Você não deseja ter sua independência? O próprio dinheiro, o próprio carro? – Silêncio. – Vamos garoto, pode falar comigo. Eu conheço o seu tio e creio que ele não vai se incomodar. Já se imaginou? – Aplicou um tom de voz sonhador e contemplativo. – Você  e esses seus olhos na capa de uma revista? Fazendo campanha para marcas famosas, entrevistas, holofotes, uh? Já se imaginou sendo desejado por todas as  garotas da sua idade? – Frank finalmente o olhou.

Sobre as garotas; estava meio fora de cogitação. Mas a palavra dinheiro o atraiu de imediato.

Dinheiro.

Precisava de dinheiro para sair daquele infeno.

Mas também sabia que não era um completo imbecil. Ao que estava entendendo aquele desconhecido estava oferecendo um emprego para ele?

-No que exatamente o senhor  está se referindo? – Perguntou o garoto.

-Uau! Que voz marcante. Você poderia trabalhar como ator. Na minha produtora de filmes. – Disse manipulador.

-Acho que não tenho esse talento. – Frank falou com certa desconfiança.

-Ah, mas você se acostuma. Se não quiser ser ator pode ser modelo em uma das minhas agências.  E Frank, esteticamente, você tem muito potencial. – Elogiou o garoto.

Frank estava quaaaase caindo.

-E o que aconteceria se eu aceitasse ser modelo?

-Bem... – Esfregou a própria coxa e tomou um ar de empresário sério e profissional. – Eu te mandaria para Milão. A Massala está precisando de modelos masculinos para o desfile de outono/inverno deles.

A Massala era tipo... A Channel da época. A grife era conhecida no mundo inteiro e era caríssima. Frank teria que vender um rim para pagar um par de botas deles.

Mas claro que isso só aumentou a desconfiança de Frank.

“até parece que um merda como eu sou nível ‘modelo que vai pra Milão ganhar dinheiro com grife famosa' isso só pode ser sacanagem desse cara. Com certeza ele manda os modelos fazerem book rosa. Mentiroso do caralho”

- E o que mais depois disso? – Perguntou.

Mas não deu tempo de ouvir a resposta do velho. Só viu aquele punho cerrado vindo de trás de si e se chocando contra o rosto do velho.

-Seu velho filho da puta!  O que pensa que está fazendo?! – A voz de Gerard nunca fora tão envolvida em ódio como estava naquele instante.

Frank se levantou de supetão. Seu coração estava acelerado pelo susto, mas suas pernas tremiam de nervoso. Nunca vira Gerard com raiva. Nunca. Quer dizer, ele geralmente só tinha aquele tipo de atitude violenta com o próprio sobrinho. Então o tal velho deve ter feito uma coisa muito grave para ele ter quebrado a barreira de frieza dele.

Roger sorriu sarcástico, pondo a mão sobre a bochecha atingida. Se levantou meio que cambaleando.

Os curiosos começaram a sair do salão.
Gerard  deu outro soco.

Roger apenas deu passos para trás e devolveu o soco que fez Way inclinar a cabeça para trás. Sentiu algo quente escorrer pelo seu nariz. Passou os dedos e...

Sangue.

E dor.

-Eu não acredito que você quebrou meu nariz!

E avançou com tudo para cima do velho.

Os observadores se dividiam entre os que apoiavam e incentivavam a briga; e entre os que não estavam achando aquilo nada bonito.

Uns gritavam e outros diziam: “ alguém aparta essa briga!”

Frank ficou desesperado.  Muito sangue escorria do rosto de ambos. Pareciam dois animais rolando no chão; se machucando; matando um ao outro...

E tudo aquilo era culpa sua. Somente sua.
Num ato de descontrole, ele saiu apressado da multidão esbaforida.

Correu hall à fora, vendo a Hilux que tinha vindo para o teatro, com o manobrista do lado, provavelmente esperando Gerard aparecer.

Correu e entrou no carro. A chave estava engajada, mas o sistema de marchas era diferente do que tinha aprendido nas aulas de direção.

Apertou um botão que ficava no lugar da alavanca de marcha e pressionou o acelerador.

Daí por diante foi só desgraça.

O carro saiu desgovernado pela rua. Destruiu duas latas de lixo e por sorte não atingiu um casal que andava na beira da calçada. Mas quase no final da rua, para desviar de uma mulher que passeava com um labrador, Frank desviou de forma errónea o carro.

E Booom!

O estrondoso barulho da Hilux se chocando contra um árvore ecoou.

Um dos espectadores da cena viu o airbag inflado e um garoto que usava blazer, debruçado, completamente ensanguentado e inconsciente.


Dentro do teatro, a briga só parou quando um Gerard desesperado saiu afobado, depois que o manobrista chegou correndo, avisando que seu sobrinho havia roubado seu carro.

Mas quando viu, à alguns metros da entrada, a sua Hilux pegando fogo e chocada contra uma árvore, toda e qualquer raiva que estava sentindo desapareceu.

-...Frank...

Balbuciou o nome do menino, meio desnorteado.

Como... Ah, como ele queria estar dentro do quarto de hotel, transando com ele contra a porta de entrada, ao invés de estar vendo ele provavelmente morto.

-...Frank! – Disse antes de correr em direção ao acidente. 



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