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História Texas - Dollores "Way"


Escrita por: littlezackary

Capítulo 5 - Dollores "Way"


Cinzas voam, cinzas queimam
O Sol está negro e não há retorno
Cinzas voam, cinzas queimam
Mais e mais e não é preciso aprender
É tudo poeira sobre poeira
É tudo você e eu
Completamente superado e dominado
Apenas jogue um pouco mais de sujeira sobre o túmulo
As escolhas que você faz e as escolhas que são
O inferno está tão perto e o paraíso tão longe
Cinzas voam, cinzas queimam
Mais e mais e não é preciso aprender
Black Label Society - Dirt On The Grave

Frank deveria ter o coração muito bom para aguentar o ritmo frequente de ataques de pânico, sem sofrer uma parada sequer. Não sabia exatamente até quando ele funcionaria com tamanha perfeição, mas sabia que naquele instante, não poderia falhar de jeito nenhum.

Ouvir aquele arranque, sentir os faróis o iluminando, foi como... Sentir o fogo do inferno alcançando suas costas. Como... Pular de um avião e perceber quase na superfície que esqueceu de colocar a mochila de paraquedas.

E pensava... Droga! Pra que tudo aquilo? A vida seria muito mais fácil se ele simplesmente o deixasse partir em paz, seguir sua vida, tentando esquecer tudo que passou até ali. Frank jurava enquanto corria, que se isso fosse possível, sequer faria menção do nome de Gerard. Seria como um agradecimento à Deus por o ter libertado das garras da desgraça. As coisas já estavam ruins mesmo, deixar para trás o último parente de sua família não seria problema. Afinal, nem laços sentimentais eles tinham.

Havia o nojo; o asco. Havia a sede de vingança - que naquele instante estava um pouco apagada pela grande vontade de escapar de uma vez por todas, e havia o medo misturado com mágoa. Uma onda sombria já presente em Gerard, que depois daquela camisa rasgada, estava tomando Frank por inteiro, igualmente.

Algumas experiências são usadas para se evoluir, para tornar algo de ruim dentro de si em algo bom e produtivo. Mas Frank tinha um sangue genuinamente podre, claro que metade de si tinha muita bondade e força de vontade. Mas com tudo que já havia acontecido - e com o que ainda iria acontecer, esse lado bom ia sendo empurrado aos poucos para um lado escuro e esquecido de sua alma.

Agora, por que Gerard estava fazendo tanta questão de caçar o garoto? Não era nem de longe, por causa de uma "atração" ou uma paixonite idiota depois de um sexo, digamos, mal planejado. Na verdade, ele não conhecia Frank o suficiente para saber se caso ele o permitisse partir, não iria direto para uma delegacia e tornar sua vida em um completo caos, com gente xeretando cada detalhe sórdido de sua existência. O outro motivo... Bem... O outro motivo ainda estava se formando, mas o rascunho estava fixado à tela principal da sua cabeça, destacado e bem nítido.

Sua mais nova posse. Por que poder sempre é muito bem vindo. Quanto mais você tiver, melhor se sentirá.

Não iria deixar que uma preciosidade daquelas escapasse tão facilmente. Era muita idiotice se o fizesse.

Acelerou, sentindo a adrenalina tomando as extremidades de seus braços virando seu estômago. Frank que corria desajeitado - e muito, muito desesperado, olhava para trás constantemente, a fim de ver a que distância estava do carro que ele sabia que era de seu tio. Desejou intimamente sumir da face da Terra naquele instante.

Pisou mais forte no pedal, passando por seu sobrinho. Era mais que óbvio que aquelas pernas curtas, entretanto ágeis, não iriam vencer a velocidade de uma máquina. Gerard sorriu satisfeito com isso. Derrapou e freou, impedindo a passagem do garoto.

Havia muita poeira no ar, Frank passou a tossir e o pavor o tornou um pouco mais desnorteado; fora de si. Olhou para os lados, para frente e por final para trás. Um caminho livre, que poderia optar por seguir correndo. Voltou seus olhos para o veículo. Seu tio não mexia um músculo, o fitava com os olhos cerrados e desafiadores. O peito do garoto subia e descia ofegante, os lábios estavam entreabertos em busca de mais ar. Way arfava por dentro, tendo o vislumbre daquela cena.

O sobrinho não suportava mais ter que sentir tanta tensão; tanto medo. Era muito injusto. Foi girando, gradativamente para trás, como se daquela maneira, Gerard não pudesse acompanhar sua fuga com os olhos. O que era uma puta de uma burrice. Já de costas para seu tio, ele andou lentamente desesperado, parecendo um atleta de marcha olímpica.

Way caçoou mentalmente daquilo. Teria de ensinar ao garoto, como um membro de sua família se porta diante de certas situações. Frank era um fracote medroso e descontrolado. Não sabia disfarçar nada. Não era possível que os dois fossem da mesma família. Era muita discrepância.

Gerard abriu a porta do carro tranquilamente. O garoto ao que ouviu o barulho, deu mais forças aos seus passos desajeitados e apressados pelo desespero de fugir logo das garras daquele demônio. Sem fazer muito esforço, nem ofegar ou gastar muito de suas energias, Way o agarrou pela mochila.

-Você é um garoto muito burro, sabia?

Cada célula do corpo de Frank virou gelo. A tremedeira o tomou quando, depois que fora puxado pela mochila, o corpo quente e amedrontador de seu tio encostou em si, causando uma troca de sensações não muito convencionais. Gerard estava implodindo de raiva, mais não sentia necessidade alguma de surrar o garoto ali, até porque não estava protegido pelas paredes de seu casarão e não teria anonimato. Ele costumava ficar atento até com a própria sombra. O seu sobrinho, por sua vez, xingava todos os nomes chulos possíveis em seu idioma para aliviar o impacto que aquele puxão o causou. Sentiu nojo ao que sentiu o perfume daquele homem. Tudo nele era enjoativo.

Já Gerard... Estava anotando mentalmente cada mísero detalhe daquela situação. O dia raiando, a respiração descompassada do seu garoto, o cheiro de pasta de dente de uva que ele usava, o perfume de amêndoas e chocolate que exalava de seus cabelos...

Aquilo o lembrava alguém...

Tudo começou quando, aos seus catorze anos, ele voltava da casa de Bert - seu amigo, depois de uma boa e prolongada dose de drogas e filmes de conteúdo proibido. Proibido mesmo.

O que os aproximou, certamente, fora esse interesse espontâneo e desde a infância, para coisas proibidas. Filmes, músicas, drogas e algumas ideologias.

Gerard fumava um cigarro, e sua mãe o esperava no final da rua, com uma mão no volante e uma garrafinha de bebida alcoólica na outra.

Oh sim, vamos falar de Donna Way, e de como ela estragou seu filho. Ela o criou, digamos, de uma maneira absurdamente incomum. O apresentou o lado bom e ruim da vida, usando como desculpa, estar aplicando uma didática realista. Sempre deixou que seu filho fizesse coisas ruins na escola, mexesse com drogas e se envolvesse com pessoas de uma índole não muito confiável. A verdade? Donna se importava, só que de um jeito estranho com o filho. Começou a ficar preocupada quando ele começou a apresentar certas... Características.

Caminhando em direção ao carro da mãe, ele esbarra em uma garotinha. Os seus lábios eram carnudos e vermelhos, os cabelos eram castanhos-claros e ondulados. Seus olhos eram cor de mel, e instantaneamente ele a considerou adorável. A menina o olhou assustada e meio perdida.

-Oi... - Ela falou envergonhada. Sua voz era fina e infantil.

-Oi. - Respondeu entediado.

-Eu estou perdida, você pode me ajudar?

Gerard amaldiçoou aos quatro ventos o fato de ter saído dez minutos antes. Caso tivesse demorado mais tempo, não teria dado de cara com aquele ser humano em miniatura. Sua mãe os observava do carro, paradoxalmente protetora, logo nota algo estranho. Saí de seu veículo e anda - meio que cambaleando, em direção aos dois.

Pergunta o que estava acontecendo, a menina se apresenta. Diz que seu nome é Dollores e que tem dez anos de idade. Subtamente, Donna tem um estampido.

Dolores estava perdida; os pais eram moradores de rua; ninguém daria falta dela... Sempre desejou ter uma filha mulher...

-Venha, nós vamos levar você para casa...

Sem pestanejar, Dollores foi.

O tempo foi se passando. A menina se tornara o novo xodó da casa. Os pais de Gerard eram separados, Anthony morava com o pai e ele com sua mãe. Bert continuou sendo seu amigo, então ouve o dia do pirulito.

Sim pirulito.

Foi a partir dele, que uma afeição estranha foi se criando dentro de Way. Aos seus dezesseis anos, ao que voltava da escola, comprou um pirulito, daqueles em espiral e colorido. Quando chegou em casa, Doll, como a chamava, estava montando um quebra cabeça do Pica- Pau, deitada de barriga sobre o tapete.

-Doll... - Falou jogando a mochila no sofá. - Olha o que eu trouxe para você... -Exibiu o pirulito. Dollores olhou de relance e ficou em pé de imediato.

Gerard se sentou no estofado, esperando que sua irmã de criação se aproximasse. Então ela o fez, pegou o doce, tirou a embalagem e passou a se deliciar, sentando naturalmente no colo do irmão. Way sentiu aquele cheiro de framboesa, era seu perfume preferido desde que a menina pousou os pés sobre aquela casa.

Ela era graciosa. A mais belas das belas. Ele lutou por muito tempo contra aquele sentimento que inicialmente parecia ser apenas afeição. Sua mão percorreu as costas da menina, que sugava distraída seu doce, ao que balançava as pernas espevitada. Sua mãe não estava em casa, tudo estava quieto. Se aproximou do pescoço da garota e o beijou levemente. Ela sorriu.

Esse fora o primeiro contato.

Depois, foi uma perna atrevida no início da manhã sobre sua cama. Os dois dormiam lado a lado; depois, um sentava na cama do outro. E gradativamente os contatos foram se tornando mais íntimos ao longo dos anos.

Dollores não se mostrava infeliz com aquilo. Na verdade, sequer fazia ideia do quão sujo e errado aquilo era. Ele sempre lhe dizia que deveria agradecer por tê-la tirado das ruas, então, deixar que ele fizesse essas coisas, era sua maneira de agradecer.

Ao que Doll completou catorze anos, sua menstruação veio. Ela e Gerard moravam em uma casa com Bert. Way ganhou a propriedade de seu pai quando completou dezoito anos, e trouxe as pessoas que considerava importantes consigo. Com isso, ele não poderia mais fazer da maneira que fazia antes. Teria que ser cauteloso, fazer com que ela tomasse anticonceptivos.

Numa noite de muita chuva, na bela e movimentava Nova Orleans, na Louisiana, Way tomava pela última vez sua menina. Porém, não conseguiu se controlar e acabou por deixar o acidente acontecer.

Na hora de sua concupiscência, sequer se importou. Mas quando a onda orgástica passou, entrou em um processo de um pânico gradativo e assolador. Dollores ficou assustada com a possibilidade de estar gravida. E de Gerard. Claro que a relação dos dois era muito estranha, mas ao mesmo tempo havia muita dependência emocional dos dois e um alto teor de temeridade.

Ambos temiam que alguém descobrisse. Temiam que Gerard fosse preso por abuso sexual, e ela temia ser colocada nas ruas novamente, e possivelmente naquele instante, grávida.

Ele andava de um lado para o outro. Suas mãos estavam no queixo, o cabelo preto bagunçado e os olhos procurando alguma solução no carpete felpudo e sujo.

-Acho que isso não vai acontecer... -Doll comentou.

-Não sei... Você sabe... Foi dentro... -Ele parou subtamente de andar. -Doll... -Se agachou e colocou as mãos nos joelhos roliços e delicados da garota. - Se você estiver grávida, e seguir em frente com isso, vai precisar ir para o hospital. Você não tem documentos, não tem registo... Seria uma grande encrenca...

-Gerard. - Olhou no fundo dos olhos dele. - Se eu estiver grávida... Eu não quero abortar... Essa criança não pode pagar pelos seus erros e... Não pode morrer pelo seu egoísmo...

Gerard a fitou irritado. Bateu levemente no seu rosto:

-Cale a boca Dollores. Vamos esperar uma semana.

A tal semana se passou. Lenta e tortuosa. Bert, trouxe o exame mais confiável do mercado. Quatro caixas para terem plena certeza da gravidez.

Os três fitavam o aparelhinho como se fosse um grande monstro ameaçador. Por que será que uma possível gravidez assusta tanto?

Indicou o banheiro para que ela fosse e acabasse logo com aquilo. De fato, a "relação" dos dois foi abalada por aquela situação. Gerard começou a enxergá-la como um problema; um estorvo. Ela, por sua vez, se sentia sufocada e com medo. Estava com muito medo de estar grávida.

Depois de alguns minutos trancada no banheiro, Dollores saí correndo, aos soluços, e se trancou no cômodo da frente. Gerard invadiu o banheiro, naquele afobamento da juventude que costumava ter e fitou aqueles quatro exames com duas listras rosas, indicando, sem vias de dúvidas, a gravidez de sua menina.

Gerard seria pai. E a mãe de seu suposto filho tinha apenas catorze anos.

Bert perguntou como seria dali em diante, e Way que sempre foi precavido o olhou ainda meio impactado, enxergando uma boa chance de conseguir algo muito importante.

Robert trabalhava como aprendiz na farmácia de um grande hospital. O tal, era referência em obstetrícia, e claro que teria Misoprostol.

Misoprostol ou vulgarmente chamado de Cytotec, é uma medicação usada para tratamentos estomacais. Porém, ele causa contrações uterinas, o que faz com que os médicos usem na hora do parto. E bem, nos Estados Unidos usam nas clínicas de aborto.

-Bert... Lembra daquele favor que você me deve? - Gerard perguntou.

-Sim... - Bert respondeu desconfiado.

-Você vai me pagar com uma caixa de Misoprostol.

-MAS O QUE?!

-Exatamente. - Falou tranquilo.

-Gerard, esse medicamento é muito perigoso se tomado sem supervisão médica. - Avisou, arregalando os olhos e quase não acreditando que o amigo estava sendo capaz daquilo.

No dia seguinte, Bert jogou a caixa sobre Gerard, que acordou confuso. Quando os olhos de Way bateram na embalagem, uma euforia o tomou misturada de felicidade. Foi até o quarto e acordou Dollores.

Ela lutou contra os dois, disse que não iria abortar. Então Gerard tomou a decisão de que ela teria que fazer aquilo de um jeito ou de outro. Bert saiu, dizendo que não iria fazer parte daquilo.

Way amarrou a menina sobre a cama, abriu suas pernas e colocou o comprimido na entrada vaginal. Ela chorava compulsivamente, gritava e sofria.

Gerard, depois de fazer o que tanto queria, a desamarrou e saiu em direção ao banheiro para se arrumar e ir para o trabalho.

Bert saiu do trabalho mais cedo. Queria ir para casa, tomar um banho e dormir até o dia seguinte. Ao que destrancou a porta, notou uma calmaria estranha. Sempre que chegava, Doll estava assistindo televisão, fazendo algo na cozinha ou escutando música e dançando como uma louca na sala.

Mas tudo estava escuro.

Lembrou exatamente naquele instante do Misoprostol. Correu até o quarto, chamando por ela, mas nenhuma resposta pôde ser ouvida. O pavor tomou conta dele, misturado a preocupação.

Acendeu a luz do quarto - já era noite, e um rastro de sangue estava distribuído até a porta do banheiro escuro. Correu, empurrou a porta entreaberta e quase caiu para trás.

A pele amorenada estava lívida. No queixo uma marca de vômito, e ao longo de suas pernas, ao longo de seu short... Muito sangue. Se aproximou, tremendo, tocou o pulso da garota. Estava tão gelada...

Houve a constatação.

Dollores estava morta.

Correu para a sala atordoado. Gerard entrava, estranhando a porta de entrada está escancarada. Quando seu olhar tocou os de Bert, já sabia que alguma merda havia acontecido.

-O que houve? -Largou as chaves e a bolsa no chão.

-Ela morreu. A medicação matou ela...- Bert quase não conseguiu emitir suas palavras.

Gerard caiu de joelhos no chão. Sentiu a dor assolar seu peito, uma sensação de caos o tomou... O que seria dele em diante sem ela?! Mas... Pensando bem... Era bem melhor assim. Teria sido muito pior se ela seguisse em frente... Mas pagou com sua vida... Dollores iria o prejudicar algum dia, ele tinha plena certeza disso.

Sua expressão chorosa mudou subtamente. A onda negra se formou pela primeira vez em seus olhos, a alma congelando gradativamente, se tornando escura ; sombria. Levantou- se, limpou o nariz e disse:

-Vamos nos livrar do corpo.

Voltando para Texas, na estrada de terra...

Frank sentiu aquelas mãos nos seus ombros, apertando com força, fazendo seus músculos encolherem de medo. Sufocando sua alma, fazendo o suor de seu corpo ser emanado de maneira incomum. Gerard o virou, para ficarem cara a cara, tentando controlar aquele tesão que o tomou de repente, se pudesse deitaria seu sobrinho ali mesmo...

Passeou suas palmas até as laterais do rosto do menino, apertou com força...

-Agora você vai me ouvir com atenção.

Frank desviou o olhar, derramando várias e várias lágrimas.

-Olhe para mim, anda!

O garoto o fez.

-Você não vai tentar fugir, entendeu? Frank, você é meu e não pode mais evitar seu destino. Agora, entre naquele carro e não me irrite mais. Se você se atrever a isso mais uma vez, eu te mato. Sem piedade nenhuma.

-Eu vou tentar fugir quantas vezes eu quiser! - Cuspiu na cara de seu tio.

A saliva escorreu perto de seu olho, até o canto da boca.

Oh sim, queria muito esfolar Frank. Mas não naquele instante. Não naquele lugar.

Limpou o rosto, puxou seu sobrinho pelo braço e disse:

-Amanhã vamos para Grunbury querido.



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