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História The Ascent. - Capítulo 21


Escrita por: zensponytail

Capítulo 22 - Capítulo 21


((Caspian))


 

Assim que cheguei no chalé que eu estava ficando, na floresta, me joguei no sofá. Eu estava exausto desde o baile, ainda mais com a reunião no meio da madrugada e Sophia me chamando para a ajudar depois de estupidamente ter tentado ressuscitar o dragão.

Não que eu não fosse pra lá de qualquer jeito, depois de sentir a onda de energia que o poder dela gerou. E quando o guardião veio dizer que ela precisava de minha ajuda, não pensei duas vezes antes de sair correndo até ela.

Sacudi a cabeça, tentando tirar a imagem dela completamente drenada de energia da minha mente. Me foquei no pacote a minha frente.

Ele havia chegado hoje de manhã, e sem nem abrir a nota que veio com ele eu sabia de quem era.

Do grande Rei Ragnor Allighieri.

Encarei por mais alguns segundos o selo da águia de duas cabeças antes de quebra-lo e abrir a carta.

“ Vejo que conseguiu fazer a aliança. Não arruine nada. Suas irmãs mandam lembranças. “

Amassei o papel e joguei na lareira acesa. Era tipico dele, usar um mero telegrama como um jeito de me criticar. Respirei fundo, me forçando a acalmar.

Desde que meu pai havia me dito que eu iria noivar com Sophia eu tinha a sensação de estar carregando um peso em meus ombros. Eu não queria sair de meu país, de perto dos meus amigos, para vir cortejar uma princesa que passou a vida toda achando que era humana. Tinha certeza que seria alguém odiável, fraca.

Então eu cheguei aqui e a vi pela primeira vez, o cabelo vermelho longo em seu rosto olhando para o esqueleto do dragão com tanta felicidade, como se encontrasse algo que estava procurando a tanto tempo. Por um segundo achei que estava vendo a mãe dela, quem eu havia visto apenas algumas vezes antes, mas elas não eram completamente iguais.

Sophia parecia ter saído direto de uma daquelas pinturas de como humanos imaginam que um circulo de fadas se parece. Ela não tinha a rigidez que sua mãe crescida na Inglaterra tinha.  Suas emoções nos primeiros minutos que a vi passavam direto pelo seu rosto.

Foi assim que eu pude perceber que ela estava envolvida com James quando os vi se olhando. Foi assim também que vi o quanto ela estava definhando sem poder nenhum, um cordeiro jogado aos lobos. E James não parecia estar fazendo nada para tentar ajudá-la.

Entrei no banho, lembrando de como ela havia parecido mais feliz quando eu a ajudei a começar a controlar seu poder. Sua aura iluminando o cômodo todo. Foi ai que tomei a decisão de a ajudar, com aliança ou não. Eu sabia como era ter a pressão de um reino sempre presente em sua vida. Como era ter pessoas tentando nos manipular.

Deixei a água quente aliviar um pouco a tensão em meus ombros. Fechei os olhos e a mesma imagem surgiu novamente. Ela sorrindo para mim no clube, passando seus braços pelo meu pescoço, me beijando. E sim, eu já havia a beijado antes, apenas para provocar James. Mas isso havia sido diferente. A sensação foi diferente.

Então eu senti o cheiro de James no quarto dela e percebi que ele já havia ido marcar seu território, assim como já havia feito antes. Eu nunca havia sentido tanta vontade de esmagar a cabeça dele na minha vida. E eu já tive vontade de fazer isso diversas vezes, até já tentei fazer isso. Deus sabe o quanto ele merece finalmente levar uma surra.

Pensar em James não ajudava em nada a relaxar. E eu não iria fazer nada sobre ele e ela, eu não a faria desistir dele quando ela já estava sendo forçada a se casar comigo.

Terminei o banho e sai, indo colocar minha roupa. Eu estava impaciente para ver como Sophia lidaria com Nicholas hoje. Como ela iria botar em prática seu direito a primeira cadeira, pois ele não desistiria de sua posição tão fácil.

Pensando em Nicholas e na reunião, olhei o relógio. Ainda faltavam duas horas até a reunião. Eu não tinha nada a fazer a não ser encarar a pequena caixa e sentir a presença dela. Eu já sabia o que tinha dentro. A abri, decidindo acabar com isso logo.

Havia duas caixas de joias, ao contrario do que eu esperava. Abri a maior, me deparando com um colar com uma esmeralda do tamanho do punho de uma criança. Sem nada escrito eu já sabia que era uma joia Dragomir, provavelmente uma ganhada em alguma batalha. Eu tinha uma igual, menor, com as cores dos Allighieri. Meu pai havia me dito para nunca tirá-la enquanto eu estivesse aqui, e eu havia o obedecido. A pedra sempre estava ali, gélida, em meu peito.

Na outra estava o anel de noivado da minha mãe. O rubi raro cintilava ao centro, seu vermelho manchado pelo que pareciam ser gotas douradas, a cor da nossa bandeira, com pequenos diamantes em volta do resto do anel. Engoli em seco. Eu sabia que as duas joias eram destinadas a Sophia.

Sentindo o peso de um futuro que eu não havia escolhido se pressionando contra mim. Acendi um cigarro, esperando que a sensação passasse.  mais do que nunca desejei estar em meu país, lutando com Azriel e Rhys, meus dois melhores amigos desde a infância. Senti uma pontada de arrependimento de não ter aceito a oferta de Rhys, que queria vir comigo como meu guardião. Se ele estivesse aqui tenho certeza que me ajudaria a ver as coisas com mais perspectiva.

Estava acendendo o segundo quando ouvi algo batendo em minha janela. A abri, pegando a noz que havia pousado no parapeito e a esmagando em minha mão.

Fadas e sua falta de tecnologia. Olhei o pedaço de folha com uma data e horário escrito, e em vez de um endereço, apenas “clareira do cipreste”.

Sophia ficaria feliz por termos conseguido um encontro tão rápido. Agarrei meu casaco, e enfiei a folha em seu bolso interno, assim como a caixa com o colar.  Peguei a menor com o anel e a enfiei na gaveta do criado mudo.

Não faltava muito até a reunião, então fui andando até onde sempre a encontrava, o corredor dos empregados. Ela, assim como eu, não parecia gostar da comoção que sempre parecia haver nos corredores principais.  Eu senti sua aura antes de conseguir vê-la. Seu dourado estava manchado com preto, o que era normal com o estresse que ela estava sofrendo. Assim como o azul, que me dizia que ela estava nervosa por ter que deixar seu papel de bibelô.

Pisei para fora da escuridão quando a senti mais perto, a fazendo levar sua mão até seu coração. Ela me olhou com uma cara tão assustada que tive que suprimir o riso.

Ela me encarou de cara feia.

—O seu passatempo favorito é quase me matar de susto? Se for, sugiro que ache um novo hobbie.

Não pude evitar sorrir para ela. Seu cabelo estava meio solto, apenas com sua franja presa em tranças que se encontravam atrás. Lizbete havia feito um bom trabalho ao fazê-la usar um vestido creme solto, com as mangas em sino.  Até mesmo conseguiu cobrir as olheiras que eu gostava tanto de a provocar sobre.

Coloquei as mãos nos meus bolsos, lutando contra a vontade de pintá-la. Eu conseguia ver o quadro se formando em minha mente. Todas os tons de laranja e vermelho que usaria em seu cabelo, o dourado que eu saltearia o centro de seus olhos. E a aura dourada a envolvendo, fazendo-se ficar iluminada.

—Me desculpe, mas a cara que você faz é engraçada demais, não consigo evitar.- notando seu olhar um tanto quanto assassino para mim, levantei minhas mão como quem se rende. - Que tal um presente como oferta de paz?

Ela deixou um de seus sorrisos pequenos escapar. —Depende do presente. Se eu gostar, posso considerar não dar um chute na sua cabeça.

Me segurei para não fazer piada com nossa diferença de altura, e peguei a caixa no meu bolso. A abri para ela, e então ganhei um sorriso completo.

“Me disseram que ela tem um sorriso lindo” minha irmã Isabella  havia dito quando eu fui reclamar para ela sobre ter que vir para Munin. “Quem sabe você goste de lá por isso.”

Ela tracejou o padrão de ondas na base que segurava a pedra na corrente.

—É do seu agrado? — eu disse, me forçando a soar irônico.

Ela me olhou ainda sorrindo, sua aura extremamente dourada novamente.

—É lindo Cas, é mesmo para mim?

Ela era a única pessoa fora as minhas irmãs que eu deixava me chamar assim. Retirei o colar da caixa. Estávamos parados na frente de um dos espelhos que havia em praticamente todos os corredores daqui. A virei em frente a ele, e ela percebeu o que eu queria fazer, já que levantou seu cabelo para me ajudar.

— Sim, sempre foi seu. É uma joia Dragomir que estava perdida em algum quarto em Andolovina. Fica muito mais bonito no seu pescoço do que em algum lugar empoeirado.

Seus olhos encontraram os meus no espelho. Ela me deu o sorriso completo agora, me fazendo sorrir de volta. O verde da pedra fez seus olhos de destacarem mais ainda.

—Obrigada, é lindo. Eu adorei.

Dei de ombros fingindo indiferença. Foi então que percebi que ainda estávamos nos olhando,minha mão descansando no fecho do colar em seu pescoço.

Me afastei, e lhe ofereci um braço para lhe acompanhar até a sala de reunião.

—Não precisa me agradecer por lhe dar uma coisa que lhe pertence, Sophie. Apenas tenha em mente que eu faço ótimas massagens quando ele começar a te dar torcicolo, de tão pesado.

Ela sacudiu a cabeça para mim, ainda sorrindo. Seguimos o caminho num silêncio confortável. A olhei de esguelha, checando sua aura novamente. Mais azul dessa vez. Ela me notou olhando, e ergueu uma sobrancelha.

—Eu estou com alguma sujeira no meu rosto?

Rolei os olhos para ela. Sempre tentando fazer piada.

— Recebi a resposta dos Seelie. Eles marcaram um encontro na floresta, amanhã a meia noite. Vamos poder tentar os convencer a nos ajudar.

Ela me olhou um pouco espantada.— Isso foi rápido, esperava que demorassem mais do que isso. Acha que eles vão aceitar?

Dei de ombros novamente.

—É difícil saber o que as fadas vão fazer em um segundo elas podem estar flertando com você e então podem querer te eviscerar vivo. Não que isso tenha acontecido comigo.

Chegamos ao corredor em que a sala se encontrava, ela começou a andar mais devagar. Se essa era a ideia dela de tentar adiar o que tinha que fazer, não iria funcionar. Apertei sua mão que estava em meu braço. e a olhei sério, para não dar chance nenhuma de ela achar que eu não estava falando sério.

—Não se esqueça, Sophie. A mais poderosa é você. Quase ressuscitou um dragão, conseguirá falar com autoridade para um bando de velhacos.

Ela sorriu ainda com um pouco do nervosismo em seu rosto. Cogitei a ideia de usar meu poder para fazer entrar na mente dela essas palavras, mas ela provavelmente perceberia. ela olhou para baixo e assentiu para si mesma. Olhou novamente para mim, seus olhos brilhando com humor.

—Você falar velhaco apenas te faz soar como um. Não é como se você fosse muito jovem, sabia?

Não a respondi, já que ela estava um pouco certa. Nos fiz continuar andando até a porta, que se abriu assim que paramos na frente. Com uma respiração profunda, ela deu um passo para dentro da sala comigo ainda ao seu lado. Todos se levantaram, como de costume. Ela sentou em seu lugar habitual na mesa redonda, diretamente na frente de Nicholas, que encarou intensamente o colar em seu pescoço. Me sentei ao seu lado, e todos sentaram novamente.

Nicholas folheou alguns papeis, e começou a falar os relatórios do dia, sobre vilarejos que foram atacados. Olhei em volta, para os guardiões ao redor da sala. James não estava entre eles. Olhei para o lado, e vi Sophia fazer a mesma coisa. Seu cenho se franziu levemente.

—Não tivemos mais nenhum incidente desde ontem envolvendo invasões aqui no castelo, já que triplicamos nossos feitiços de proteção. Seria impossível até para o mais poderoso deles atravessar agora, então não devemos nos preocupar com isso no momento.

 

— E as alianças, Ancião Nicholas? Como está o progresso com elas? — Perguntou o que sempre tinha uma opinião contraria. Vasculhei minha mente até achar o nome dele. Pyotr.

Nicholas manteve o sorriso de politico falso no rosto.

—Estou trabalhando nisso, sabe como os lobos nos odeiam, e as fadas não fazem nada que não as favoreça então não acho que será fácil conseguir marcar pelo menos um encontro para negociarmos com elas. Com as feiticeiras será mais fácil, elas já se mostram dispostas a ajudar. Não que eu ache que isso seja mesmo necessário, afinal, temos a aliança de Andolovina agora ao nosso lado.

Sophia se inclinou um pouco para frente ao ouvir o descaso na voz dele.

—Será necessário sim, Ancião Nicholas. Como já lhe disse diversa vezes antes. A minha visão foi bem clara quanto a isso. Noah não tem apenas um exercito pequeno marchando em nossa direção. Ele tem um que claramente esta crescendo em proporções que não podemos estimar. Sei que não quer pedir ajuda de mais ninguém, mas a cada dia que não conseguimos são apenas mais vilarejos destruídos até a ultima gota de sangue, meu povo sendo morto todo dia pois não os defendemos.

—Eu sei que para alguém que não conhece tanto nosso mundo como você possa parecer que não estamos os defendendo, princesa. Mas lhe garanto que esse não é o caso. Não vejo motivo para esse alarde.

Decidi me manifestar quando vi sua mão tremula cerrada em punho em seu colo. A peguei, lhe enviando uma onda de confiança que esperava que aceitasse. Ela a apertou de volta, seu olhar ainda preso em Nicholas. Todos do conselho não pareciam nem mesmo estar respirando.

—Se não acha que pessoas morrendo por falta de preparação para um ataque desses, que sejamos francos  já estava para acontecer a muito tempo, seja motivo de alarde eu realmente não quero nem saber o que você considera que seja. Seu descaso com a situação está custando vidas, vidas que não deveriam ser pedidas desse jeito. Com ou sem o exercito do reino de Caspian, você devia ter planejado algo caso isso acontecesse.

Nicholas apenas sorriu com aquela falsa compreensão para ela novamente.

—Princesa, entendo que se sinta assim, mas estou cuidando da situação como acho melhor. Sei que você se sente assim, mas realmente, não tem com o que se preocupar. Mantenha seu foco em planejar seu casamento, está bem?

Senti sua aura mudar, ficando completamente escura. Eu já havia visto ela assim antes, na cabana quando estávamos treinando seu poder. Soltei minha mão da dela rapidamente. Ela se colocou de pé, olhou um a um nos olhos, até parar em Nicholas. Com as mãos apoiadas na mesa, se inclinou mais ainda, focando apenas no ancião a sua frente.

—Não vou apenas me preocupar com o meu casamento. Não sou fútil para pensar em menus e vestidos em momentos como esse, ao contrario do que você e mais alguns devem pensar. Não se esqueça do motivo que me trouxeram até aqui. Eu sou a herdeira do trono, e agirei como tal. Não verei a pessoa que tramou o assassinato dos meus pais pegar o que é meu.— ela disse com sua voz ainda não se levantando, olhei em volta ao mesmo tempo que todos quando uma por uma, todas as flores e plantas da sala começaram a secar até se desintegrarem. —E muito menos deixarei que o permitam fazer isso por puro egocentrismo. As alianças serão feitas, de um jeito ou de outro. Eu mesma cuidarei disso de agora em diante.

Nunca vi Nicholas tão bravo na minha vida. Me espreguicei na cadeira, atraindo sua atenção. Sorri para seu olhar furioso.

—Também não devemos esquecer que a princesa já atingiu a maioridade. Ela está completamente apta a assumir a primeira cadeira, não acha? Seu treinamento para tal já devia ter começado, aliás. Não se esqueceu disso, não é?

Seu maxilar cerrou. Ele não a olhou quando disse : — Parece que já passamos por todos os topicos, e todos deixaram suas opiniões bem claras. A reunião está terminada.

Então saiu da sala, sua aura inteira vermelha mostrando sua fúria. Sorri para a porta batendo atrás dele. Sophia se levantou, para que todos pudessem sair. A segui pelo corredor, onde depois de nos afastarmos ela se encostou na parede, sua respiração rápida. Ela estava segurando o colar com uma mão, a outra abraçando sua cintura.

—Eu nunca falei tanto para um grupo de pessoas desde a quinta serie, quando eu apresentei um trabalho na feira de ciências e vomitei no final.

—Bem, essa deve ter sido muito melhor do que isso então. Achei as flores virando pó um toque dramático muito bom para você provar seu ponto. Temos sorte que seu poder não é fazer fogo com sua mente, se não o palácio todo estaria em chamas.

Ela sorriu um pouco.

—A minha vontade era fazer isso com ele. Como ele ousa não ligar para as pessoas morrendo? Acho que ele não liga, está seguro aqui no castelo. — ela me olhou então. —Obrigada por me apoiar lá.

Sacudi a mão em um gesto de pouco caso.

—Apenas fiz o que eu notei que vários deles queriam fazer, lembrar Nicholas que ele estava em seu lugar. Vários deles concordaram quando eu disse o que eu disse, não seu se percebeu isso em meio a sua nuvem de fúria.

Ela começou a andar novamente, e eu a segui.

—Não, não percebi.— andamos até a porta de seu quarto, onde ela parou, a mão ainda na pedra do colar. Ela parecia aflita.

Senti meu cenho franzir.  Ela não estava parecendo normal.

—Qual o problema, ainda está preocupada com as alianças? Nós a conseguiremos, você sabe. Temos charme de sobra para seduzi-los a nos ajudar. — ela sacudiu a cabeça, sem me olhar. Mordeu o labio, como se estivesse ponderando se me contava ou não o que estava passando por sua mente. —Você pode me contar, sabe. Tentarei lhe ajudar como puder.

Ela deve ter decidido dizer, já que soltou um suspiro.

—Estou preocupada com James, ele não atende minhas ligações, não responde minhas mensagens. e eu estou sentindo essa coisa estranha no nosso laço de sangue, uma angustia… provavelmente não é nada e eu apenas estou exagerando. —ela sorriu para mim, ou pelo menos tentou. —Eu estou cansada, acho que já vou me deitar. Boa noite, Cas.

—Boa noite, Sophie. Não se preocupe com James, ele sabe se cuidar. E você tem meu numero caso precise de mim, use-o se precisar, certo?

Antes que eu pudesse pensar no que eu estava fazendo, assim como a tarde, lhe deu um beijo na testa. Isso parecia estar virando uma mania nervosa minha. Observei sua cabeça cobre desaparecer por trás da porta e segui até a minha cabana.

Mas não antes de trombar com James, que estava entrando no castelo. Ele parou brevemente, seu cenho franzindo para mim, obviamente percebendo de onde eu estava vindo. Levantei uma sobrancelha para ele.

—Não vai me parabenizar? — eu o provoquei antes que pudesse perceber o que estava falando.

—Não acho que Sophia ser forçada a fazer isso seja motivo de te parabenizar. —ele respondeu daquele jeito terrivelmente arrogante dele. —Com licença, tenho que ir.

Antes que ele andasse muito, eu disse por cima do meu ombro, sem me importar  em encará-lo diretamente.

— Você e a princesa são muito próximos, certo? Já contou a ela sobre Anna?—Ele pausou por um segundo, seus ombros ficando rígidos, então começou a andar novamente. Eu ri, sabendo que não havia dito nada sobre isso. — Papai manda lembranças.

Então segui meu caminho novamente, a sensação de desgosto ao fundo da minha garganta me acompanhando, a mesma que sempre me seguia quando terminava de falar com ele, ainda comigo.

Quando entrei a cabana solitária, tirei todo pensamento sobre ele e tudo que ele fez da minha mente, a esvaziando. Apenas uma coisa restou, a imagem que minhas mãos estavam coçando para esboçar.

Coloquei minha calça de flanela e uma camiseta, ambas já manchadas de tinta. Puxei uma tela branca e minhas tintas, que minha irmã Morrigan havia insistido que eu trouxesse, e comecei a trabalhar no quadro que aparecia em minha mente toda vez que eu piscava os olhos. Eu não havia tocado um pincel em mais de dois anos, mas aparentemente não havia esquecido completamente de como usá-lo.

Não sei até que horas fiquei pintando, apenas parei quando ele estava pronto. Sophia me encarava na tela, a joia descansando em seu peito o mesmo tom de verde de seus olhos. Joia Dragomir, eu iria chamar esse.

Meu colar, com o rubi sempre ridiculamente gelado, começou a parecer quase quente. Segurei a pedra entre meus dedos, a encarando. Ela parecia estar pulsando. Meu estomago estava em nós. Decidi que estava na hora de dormir, eu já estava até delirando de cansaço.

Me espreguicei ao deitar na cama, notando que a sensação do colar havia passado. Não tive muito tempo para pensar sobre isso, já que a exaustão me venceu. A ultima coisa que vi foi o quadro secando, os olhos dela olhando para mim.

((Sophia))


 

Parei em frente ao espelho na penteadeira, me espantando com o brilho em meu olhar. Eu ainda estava meio trêmula por ter confrontado Nicholas. Apesar do meu nervosismo, eu havia conseguido. Com a ajuda de Caspian, eu havia conseguido.

Toquei a esmeralda do meu colar. A pedra de alguma forma parecia ter vida, seu peso em meu colo me reconfortava um pouco. Comecei a desfazer o penteado simples que Lizbete havia feito no meu cabelo. Esse devia ser o meu vestido favorito de todos que já usei, ainda mais por não ter espartilho nenhum e ser leve. Coloquei uma camisola que eu havia recebido quando cheguei aqui, uma branca que parecia antiga, descendo levemente até o chão, as mangas compridas envolvendo meu braço livremente. Me espantei com o quão confortável ela era, não é a toa que todos as usavam antigamente. Eu precisava de conforto, eu estava completamente tensa por conta do laço. Por conta de James não ter me dado nenhum sinal de vida ainda.

Estava terminando de secar meu rosto,o livrando dos litros de corretivo, quando ouvi a minha porta abrir. Minha pele formigou. Peguei minha escova de cabelo, apenas para não ter nada como defesa.

James me olhou, um sorriso brincando em seus lábios. —Vai pentear meu cabelo até a morte?

Corri para ele, senti a preocupação desaparecer. Seus braços se enrolaram na minha cintura quando os meus foram em volta do seu pescoço. Olhei bem seu rosto, notando os pequenos cortes que não estavam lá antes. Toquei o maior, perto de sua têmpora.

—Eu estava tão preocupada com você seu idiota, e tudo que tem a me dizer quando finalmente aparece é uma piada?

Ele baixou sua cabeça até a minha e me beijou. Sorri em meio ao beijo, minha mão indo se enrolar em seu cabelo. Ele logo se separou de mim, para a minha infelicidade.

—Assim está melhor? — fingi considerar,e depois sorri para ele, mostrando minha satisfação. — Me desculpe por te preocupar, não tive tempo de lhe avisar antes de ter que sair.

Tracejei novamente o corte em seu rosto.— O que houve?

—Conseguimos capturar um dos Giovanni, mas não foi facil. Ele se meteu em meio a floresta e era habilidoso com sua luta. Ficamos o questionando depois disso o dia todo, até ele indicar onde Noah pode estar.

Senti meus olhos se arregalarem.

—Ele contou onde fica o covil deles?

James passou a mão por seu cabelo, como se estivesse meio frustrado.

—Indicou onde talvez possa estar, é fora de nossas fronteiras. Robert me designou para liberar um grupo até lá, para checar a área, ver se é verdade. Se for, planejaremos um ataque direto, isso nos dará uma vantagem sobre ele.

Senti uma pontada em meu peito. Me afastei dele, indo sentar em minha cama. Parece que eu ainda estava fraca, afinal de contas. Quando o olhei novamente, seus olhos claros me encaravam de volta.

— Você vai quando? Por quanto tempo?

Ele andou até ficar na minha frente, onde se ajoelhou e pegou minhas mãos, que estavam no meu colo.

—Partiremos ao amanhecer. Ficarei fora até completarmos a missão, não sei quanto tempo isso vai durar. — o aperto em meu peito se intensificou. Toquei a esmeralda, procurando conforto. —Eu te disse que eu teria que ajudar na guerra, se lembra? Não fique assim.

Eu tentei sorrir, mas acho que falhei, ja que seu olhar de preocupação continuou lá.

—Eu sei, eu entendo que precisam de você para isso.Apenas não esperava que fosse tão cedo assim. Achei que teria mais tempo com você antes de ter que ir.

Ele segurou minha cabeça em suas mãos, me olhando mais intensamente. —Te verei todos os dias em seu sono, não vá achando que se livrou de mim. Eu vou ficar bem, eu prometo.  Afinal, eu sou…

—O melhor que tem, eu sei disso.—encostei minha testa na sua. — Apenas tenho um mal pressentimento sobre isso.

—Não tenha. Eu voltarei para você, eu sempre voltarei.

Eu o beijei então, o puxando para cama comigo. Eu tinha até o amanhecer com ele, e eu faria valer. O calor de seu corpo através da minha camisola apagou toda a sensação ruim que eu estava sentindo o dia todo. Puxei sua camiseta sobre sua cabeça, e ele logo fez o mesmo com a minha camisola.

—Me promete? — eu disse ofegante, quando ele separou nosso beijo para a camisola passar. Aqueles olhos prata seguraram meu olhar.

— Eu prometo.

Assenti com a cabeça uma vez. — Pode tirar sua calça então.

Ele riu e me obedeceu prontamente.

Depois de algumas horas, eu estava deitada ao lado dele, decorando mais ainda seu rosto. Ele me perguntou o que eu havia feito hoje e o contei sobre enfrentar Nicholas no conselho. Sua mão nunca deixou de me fazer carinho. Nem nossos corpos se desgrudaram.

—Eu entendo o motivo de ter feito isso, Tess. Mas você sabe que agora Nicholas te odiará mais ainda, não sabe?

Suspirei, minha mão tracejando uma cicatriz em sua clavícula. Eu esperava que ele me parabenizasse, não me dissesse que o que eu fiz foi perigoso.

—Eu sei, mas era necessário. Estava na hora de eu tomar uma atitude.

Ele beijou o topo da minha cabeça em forma de compreensão. Fiquei o olhando por mais um tempo, até que ele olhou o relógio e grunhiu. Eram cinco da manhã, e o sol nasceria em breve. Senti meu coração afundar enquanto ele colocava sua roupa novamente. Me enrolei no cobertor. Ele se virou para mim já todo vestido, seus olhos provavelmente tão tristes quanto os meus deveriam estar. Me ajoelhei para ficar mais próxima da altura dele, que me segurou pela cintura, unindo nossas testas.

—Eu te amo, volte logo. Volte inteiro, de preferência.

—Voltarei. Eu também te amo, tenha cuidado aqui, certo? Não faça nada impensado. Aqui, use isso de arma e não seus ursinhos da próxima vez.—  Ele tirou uma adaga de sua bota, a entregando para mim. Me deu um último beijo então, que acabou cedo demais. — Até mais, Tess.

Então o observei sair pela porta. Contei até 15 antes de começar a chorar, caso ele conseguisse ouvir.



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