Os dedos enrugados, tão trêmulos quanto o resto de seu corpo, permitiam que a senhora de aparência precária, vagando sem companhia alguma na noite à procura de algum abrigo envolvesse todo o seu corpo com a manta, que apesar de velha, encontrava-se num estado decente, mas nada o suficiente para que esquentasse-a naquele rigoroso inverno.
Ousou largar a manta com uma das mãos, podendo assim levá-la para os imensos portões daquele castelo que até então de aparência vívida jazia. Poucas batidas foram precisas para que assim o príncipe, que tinha uma carranca no rosto, atendesse a senhora. Seus braços cruzados e o peito estufado, numa postura legítima de um alfa.
— Posso ajudar...? — sua pergunta era incerta, na maior das desconfianças. O tom de voz não deixava de ser duro.
— Poderia doar-me um lugar para ficar temporariamente em troca desta linda rosa, meu jovem? — humilde fora a fala da senhora, qual esticara uma rosa do bolso de dentro do seu casaco, olhando esperançosa para o belo homem na sua frente.
— O quê? Isso só pode ser uma brincadeira. — arqueara uma das sobrancelhas e pôs-se a soltar um riso sarcástico, descruzando os braços para que pudesse passar uma das mãos pelos fios negrumes, de aspecto sedoso — Vá embora, velha asquerosa! — ditou de forma mais rude que teve a capacidade, apontando o dedo para aquela que ainda encontrava-se na sua frente. Aquela que esperava que dos lábios bem delineados e rosados sairiam palavras tão doces quanto sua aparência.
Mesmo que todas suas vontades fossem saciadas, que tivesse tudo e todos aos seus pés, ou até de mãos beijadas, Jeon Jeongguk não era nada mais do que um príncipe grosseiro, mimado e egoísta.
Satisfeito? A última coisa na qual se sentia. Sempre estava a querer mais e mais, se é que na sua atual situação fosse possível. Tinha posse de tudo que os outros que não poderiam ter almejavam.
— Eu te aconselho a não se deixar levar pelas aparências, meu jovem, pois a verdadeira beleza se encontra no interior.
— E eu te aconselho a dar o fora do meu castelo antes que eu chame meus guardas. — saíra quase que num grito; isso se não se segurasse com aquela minúscula, quase que nula porcentagem de paciência dentro de si, esta, que se dissiparia logo se a velha em sua frente continuasse a insistir — Bicho horrendo.
Prestes a virar-se para os portões afim de livrar-se daquela que tanto o importunava, surpreendido fora com o baque ensurdecedor causado ao ter os portões fechando-se sem um toque qualquer de sua parte.
— Eu avisei-te, garoto. Nunca se deixe enganar pela aparência dos outros. — atenção fora voltada para a senhora novamente, sua expressão tornando-se em horror enquanto que o corpo frágil ao seu ver flutuava, sendo envolto por uma luz ofuscante o suficiente para que cegasse o jovem príncipe no momento.
Abrindo seus olhos, deparou-se com tudo que menos estava a imaginar naquele momento, recuando com passos para trás, até que tivesse seu limite com as costas batendo nos portões. A velha irritante qual estava a oferecê-lo uma rosa em troca de um abrigo transformara-se numa bela feiticeira, um tanto atraente aos olhos de Jeongguk e de beleza invejável para qualquer outra mulher.
— Jeon Jeongguk, você é uma lastima... — sua voz era firme, poderosa; carregada até mesmo de ironia. O príncipe, agora com seus belos olhos inundados pelas lágrimas pôs-se a juntar as mãos, num sinal de reza, e a implorar por perdão, podendo notar que de ambas as mãos delicadas da mulher algo reluzia — Não há amor no seu coração, garoto! — bradou de forma assustadora, coisa que não condizia com sua aparência. Assim, tomou liberdade própria para lançar o feitiço por todo o castelo, tornando-o sombrio, tal como o príncipe, que perdendo a força de suas pernas, caíra de joelhos no chão empedrado. Seu olhar era fixo em suas mãos largadas, nas quais aos poucos cresciam pelos grossos e de coloração negra, assim como suas unhas tornavam-se maiores e pontiagudas, capazes de machucar alguém profundamente — Esta rosa florescerá até o vigésimo primeiro ano, Jeongguk. Você tem até que a última pétala caia para amar alguém e ser retribuído; caso isso aconteça, o feitiço será desfeito. Mas caso não, estará fadado a viver como a criatura terrível que é. — com sua última fala a feiticeira havia se dissipado, restando de sua aparição apenas a desgraça que havia feito na vida do príncipe, do castelo, e de todos que lá viviam. Jeongguk tentou clamar por ela de volta, mas a única coisa que conseguira soltar fora um uivo que alcançava as maiores distâncias.
Com o passar do tempo; dos anos, para ser mais específico, Jeongguk tinha como promessa que de seu castelo nunca sairia. Tinha medo de como o mundo lá fora reagiria sobre si, sobre sua aparência assustadora. Com o único auxílio afim de ver o que acontecia enquanto condenado a viver o resto de sua vida preso, a maldita feiticeira dera-lhe um espelho que deixava-o ver o que quisesse, independentemente do quão longe fosse.
O jovem príncipe não tinha mais esperanças. Conforme a flor encantada desabrochava, o pouco que lhe restava de que alguém ainda poderia livrá-lo ia se esvaindo, afinal, quem seria capaz de amar um monstro?
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