História The Blind Audition - Bad Things

POV CLARKE

Quase uma semana já tinha se passado, desde a audição, mas eu ainda não acreditava no que tinha acontecido. Quando que eu iria imaginar que Lexa Woods e Murphy virariam suas cadeiras para mim? Os dois me queriam em suas equipes. Tudo parecia tão surreal.

E caramba... Lexa! Eu era muito fã dela. Tanto é que eu fiquei tão perdida quando ela virou sua cadeira para mim que acabei falando demais.

Que vergonha!

Fiquei com tanta vergonha de ter assumido meu crush, em rede nacional, que não tive coragem de escolhê-la para ser minha técnica.

E ainda bem que não a escolhi, pois teria ainda mais problemas. Isso porque, meu namorado, Finn, teve um surto de ciúmes, após o programa. Acabou que tivemos uma briga feia, já que ele achou uma falta de respeito, eu falar que tinha crush na "moça", segundo palavras dele. Sem falar no fato, dele não me apoiar. Ele nunca gostou desse meu sonho. Quando decidi me inscrever no programa, ele me disse algumas coisas ruins, em uma tentativa de me fazer desistir. Para ele, eu sonhava muito alto e isso só me fazia perder tempo de ter uma profissão de verdade.

Suspirei com as lembranças e me levantei do sofá, tentando afastá-las.

Fazia uns quinze minutos que estava ali sentada, aguardando o Murphy para o último ensaio.

Essa semana começariam as batalhas. Os membros das equipes competiriam entre si. Uma dupla era escolhida pelo mentor e eles teriam que cantar uma música juntos. Quem se saísse melhor na interpretação da música passaria de fase.

Eu estava uma pilha de nervos. Eu iria competir com Jasper, um garoto muito simpático e talentoso. Havíamos ensaiado durante dois dias e eu tinha a sensação que estava atrás dessa disputa. Primeiro, pelo fato de não ser muito a minha praia, a música escolhida. Segundo, por eu não estar acostumada a me apresentar sem meu violão.

Meu violão e eu, erámos a combinação perfeita. Assim como, morango com nutella ou banana com farinha láctea. Eu me sentia, completamente, desconfortável em me apresentar sem o apoio dele. Diria que até um pouco exposta.

- Boa tarde, crianças! – Murphy entra no estúdio. – O tio chegou! Já estão prontos? Já podemos começar?

O Murphy tinha um jeito bastante peculiar de lidar conosco. Ele vinha nos apoiando e dando vários conselhos para a batalha. Sempre procurando ser o mais imparcial possível.

A nossa apresentação já seria amanhã e tínhamos que definir os últimos ajustes. Eu ainda me sentia deslocada tentando me movimentar pelo palco. Sem contar com a minha timidez.

- Loirinha, você está muito travada. – Murphy dizia. – Você tem que se movimentar mais e sentir a pegada da música. – fiz um aceno positivo com a cabeça. – Vem aqui!

Saí do palco e fui até a poltrona, onde ele estava sentado.

- Olha, eu sei que você está acostumada com seu violão. Mas, eu preciso que você faça isso. – ele dizia, enquanto eu o olhava atenta. – Eu sei que você pode fazer! Porém, você precisa relaxar, se soltar, ok?

- Sim, claro! Eu vou tentar dar o meu máximo. – eu balancei a cabeça, em mais um aceno positivo e me dirigi ao palco, novamente.

- Vamos fazer o seguinte, Clarke, eu quero que você cante essa música como se estivesse seduzindo, provocando quem estar te vendo. Eu quero que nessa parte “I only wanna do bad things to you”, você interaja, olhe para alguém e foque nessa pessoa. Seduza-a. Quero que ela se sinta compelida a fazer coisa más com você, me entende?

- Sim! – balancei mais uma vez minha cabeça.

Isso ia ser mais difícil do que eu pensava. - eu divagava, deitada na cama do hotel. Não tinha ideia de como iria deixar de lado minha timidez e seduzir alguém. Finn com certeza também teria um surto com isso. Mas, eu precisava tentar. Afinal, cheguei até aqui. Eu não me perdoaria se não tentasse. Fui dormir com isso na cabeça.

A correria era grande no estúdio. A gravação já havia começado e faltava apenas uma dupla, antes da nossa batalha. Eu observava aquelas pessoas correndo ao meu redor e isso me deixava ainda mais ansiosa. Hoje seria, sem dúvidas, um dia especial.

Vejo Octavia passar por mim, como uma louca, com uma prancheta na mão e dando ordens para um garoto asiático. Acho que ele tinha feito alguma coisa errada e ela estava tentando corrigir e explicar pra ele a maneira correta.

Logo, vejo ela falar com alguém pelos fones e então, ela vem na minha direção.

- Ei, vocês dois! – ela falou apontando para mim e Jasper. – Se preparem, já vão chamá-los.

Ambos dissemos um ok e nos olhamos. Ele se aproximou de mim e estendeu a mão desejando boa sorte e dizendo que ia dar tudo certo. Correspondi ao aperto e falei que íamos arrasar na apresentação.

Mal desgrudamos nossas mãos e nossos nomes foram chamados. Ele foi chamado primeiro e logo depois, eu fui anunciada.

Fui entrando e seguindo em direção ao ringue, montado no palco. O estúdio estava cheio. A plateia gritava nossos nomes, nos dando apoio. Olhei para Murphy e ele disse um mudo: relaxe e se solte. Eu acenei e mexi um pouco os ombros, na tentativa de expulsar um pouco a tensão. Foi quando olhei pra frente, novamente, na direção dos jurados que eu a vi ali. A pessoa, a qual eu assistia do meu sofá ou do meio da multidão na beira de um palco, estava em minha frente e iria assistir mais uma apresentação minha.

Ela me olhava com uma intensidade que me causava cócegas no estômago.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo início da música. Determinada a seguir os conselhos do meu mentor, fui andando a passos lentos até a extremidade do palco. Segurei firme o microfone e entoei minha voz da forma mais rouca e sexy que eu podia. Olhei para Lexa e a provoquei com a letra da música, assim como Murphy havia sugerido.

Logo, Jasper se aproximou de mim e começou a cantar a sua parte da divisão. Enquanto ele cantava, eu mexia meu corpo no ritmo da batida e interagia com ele. Eu o rodeava e dançava em torno dele. Mas, sempre trocava um olhar com ela.

Para todos os lados que eu me movia, os olhos verdes me acompanhavam e isso me motivava ainda mais. A cada palavra que eu cantava minha voz saía quase que obscena. E enquanto entoava “If you only knew the bad things I like”, desci lentamente até o chão, ao mesmo tempo em que olhava diretamente em seus olhos. Lexa pareceu se mexer desconfortável na cadeira. Inclinei minha cabeça para lado e fui subindo, novamente. Remexi, um pouco, meus quadris no ritmo da batida. A música ia chegando ao seu final e assim, eu fui deixando minha voz mais baixa, como um sussurro.

A plateia foi ao delírio. Murphy se levantou aplaudindo nossa apresentação e os outros jurados batiam palmas e acenavam com a cabeça, em sinal de aprovação.

O apresentador do programa, Lincoln, rapidamente se projetou entre Jasper e eu.

- Uoooow! A galera está pegando fogo com a batalha de vocês! Anya, o que dizer para esses dois depois dessa apresentação?

- Na verdade, eu queria saber mesmo é se a Lexa está precisando de um copo de água ou de um botijão... – disse Anya aos risos e levando todos a gargalhar. Lexa pareceu um pouco envergonhada, mas acabou rindo também. – Vocês estão rindo? Mas, eu estou falando sério! Os extintores do estúdio estão ok? – mais uma levada de risadas invade o ambiente. – Clarke, você dominou tudo! A movimentação no palco, a voz a dança... você me surpreendeu. Não imaginava que daquela garota tímida ia sair tudo isso.

- Obrigada! – eu disse tímida.

- Indra? Você tem algo a acrescentar? – falou Lincoln.

- Garota, você realmente fez uma bela apresentação. Um pouco insinuante demais, talvez, mas você foi a melhor. Quase não percebemos a presença do rapaz aí. – Indra falou séria.

- Lexa? Você consegue comentar o que vimos aqui? – brincou Lincoln, fazendo todos rirem, mais uma vez.

- Uooooooow! Eu estou, literalmente, em chamas com essa apresentação. Sabe que... semana passada você disse que tinha um crush por mim. Mas, agora eu que tenho um crush por você. – ela disse fazendo com que a plateia e os jurados fossem a loucura. Eu abaixei a cabeça, um pouco incerta pela aquela confissão dela.

- Ei, pode ir tirando seu olho da minha artista! – disse Murphy apontando o dedo pra ela. – Estou de olho em você! – ele faz sinal com os dedos em direção a seus olhos, fazendo todos rirem.

- Ok, ok! – ela fala erguendo os braços em rendição. – Mas, eu preciso falar. Clarke, eu acho que você não é apenas uma voz e um violão. Por esse show que você nos proporcionou, hoje, ficou bem claro. Você dominou os espaços aí em cima, dançou, arrasou no vocal e me provocou, Loirinha! – falou inclinando sua cabeça e balançando em aprovação. Eu estava ainda mais tímida. Só queria me enfiar num buraco e me esconder. -  E sabe o que mais? Você me deixou, realmente, pensando em “coisas más”.

- Então, vocês precisam que a gente saia daqui? Querem ficar mais a vontade? – Anya disse arrancando um coro de gargalhadas e uivos.

Senti a pele do meu rosto queimar pelos comentários. Eu devia estar mais vermelha que uma pimenta. Lexa reclamou com Anya e pediu para ela parar com as gracinhas, porque eu estava visivelmente sem graça.

Então, Lincoln cortou elas e pediu para nosso técnico decidir quem havia vencido a batalha.

Assim que o Murphy definiu o vencedor, saí quase que correndo do estúdio. Depois de todos aqueles comentários, ficou bem óbvio que eu ganharia a batalha. Acabei nem comemorando direito, pelo fato de querer correr dali. Tinha sido a última batalha da gravação e eu não conseguiria permanecer ali junto com os outros. Eu não conseguiria olhar para cara da Lexa.

Do mesmo jeito que a coragem veio e eu consegui fazer aquilo, ela logo foi embora, dando lugar a vergonha. A minha mente ficava repassando os olhares dela e aquilo estava me deixando com os nervos a flor de pele. Aqueles olhos felinos me acompanhando por todo espaço em que eu andava, me desafiaram a provocá-la e ver que eu estava conseguindo, fez com que meu corpo fervesse.

Segui pelo corredor, em direção ao camarim das equipes. Quando eu já estava alcançando a maçaneta da porta, senti uma mão puxando meu braço direito.

- Clarke, eu preciso falar com você! - ouvi uma voz familiar.