1. Spirit Fanfics >
  2. The Boy >
  3. The Boy's New Life

História The Boy - The Boy's New Life


Escrita por: LoveSymptoms

Capítulo 12 - The Boy's New Life


Fanfic / Fanfiction The Boy - The Boy's New Life

Carros. Motores e suas funcionalidade ruidosas. Buzinas. Pessoas que se insultam pelo retrovisor. Estrada, mais estrada, e ainda mais uma estrada.
Mais uma viagem monótona pelas ruas de Seoul, preenchendo-me a memória com o deja vu da minha viagem de carro com Betty, na noite em que ela me encontrou naquela calçada, perdido e sem norte.

Essa tivera sido a minha primeira viagem de carro. A verdade é que sempre vivi naquele ambiente pacato, onde o meu corpo apenas pertencia aos limites do pequeno bairro em que residi toda a minha vida. Nunca saí daquela atmosfera restringida a pequenos prédios, algumas mercearias pertencentes a idosos que ditavam os últimos momentos das suas vidas, nas frutas frescas e deliciosas que vendiam, pequenos negócios de mecânicos, os bares e tasquinhas onde os homens se reuniam depois do jantar, ou outros serviços menos relevantes à subsistência da vizinhança.

Mas mesmo assim, mesmo apesar dessa condição restrita, lembro-me de muitas vezes subir ao pequeno banco de madeira que meu avô me tivera construído com o propósito de ajudar minha mãe nas tarefas domésticas, empuleirar-me no parapeito escuro da janela de correr, medindo o meu meio metro de altura, e simplesmente admirar meu pai partir todos os dias rumo ao emprego naquele carro ruidoso, imaginar como seria se ele ao menos me levasse a passear com ele, sentir a brisa, ver a paisagem corrida pela velocidade do veículo, parar repentinamente para comer um gelado…enfim…cumprir esses clichês familiares que tanto lia nos livros, que tanto ansiava sentir na pele.
A verdade é que essa vontade nunca desceu de meu consciente para a realidade e com o tempo, a esperança foi-se esmaecendo, morrendo por completo quando ele partiu de vez para não mais voltar. Nunca mais voltei a vê-lo, nem seu carro, aquele ruído que todas as noites anunciava o seu regresso de mais um dia trabalhoso, deixou de se fazer ouvir.

No entanto, hoje, tivera encontrado mais uma oportunidade de viajar.

Apesar do cheiro a cidade sempre se manter o mesmo, esta manhã, tudo parece um pouco diferente.
Em primeiro lugar, Seoul amanheceu num sol quente e bem alto, mais brilhante do que nunca, como um bola de fogo prestes a explodir. A brisa que corria era abafada e ao atravessar-se na janela entreaberta, transformava-se num vento estranhamente caloroso. No céu azul reflectido no vidro, as nuvens movimentavam-se graciosamente em belos vestidos brancos, formando as mais abstratas figuras.
Seguidamente, o veículo. Era um carro deveras luxuoso, os assentos chegando a ser ainda mais moles e confortáveis do que qualquer cama em Rouge, cobertos em cabedal numa textura completamente prazerosa. Um carro de 5 lugares! 5 lugares! Podia levar a minha família aqui dentro e ainda sobraria espaço!

Em terceiro lugar, o mais marcante: a companhia. Esse homem gasto pela experiência, pelas reviravoltas da vida, permanecia em silêncio e focado na estrada, enquanto sua boca esfumassava um cachimbo pensativo. Olhei suas mãos: veljas e dobradas, uma no volante e outra nas mudanças, trocando-as de vez em quando.
Confesso, que nunca fui fã de silêncios constrangedores entre mim e outros, contudo, este não era um silêncio mininamente desconcertante, antes um silêncio praticamente obrigatório. Em situações destas, normalmente iria disparar palavras e tentar arranjar um assunto desesperado, como alguém que enloquece na tentativa de salvar alguém amado…Mas hoje, neste carro, com este homem, eu não sentia a necessidade de conversar, não tinha a vontade nem o fogo em mim, que me fizesse de facto querer ouvir o que quer que suas palavras pudessem sugerir. Preferia antes ficar assim, calado, imergido nas paisagens que corriam aceleradas pela velocidade do veículo do outro lado da janela, preferia manter-me encolhido no meu assento de passageiro, procurando o mínimo contacto possível com aquele que me levava para seu lar.

Algures entre ruas citadinas e uma enorme mansão, a viagem pareceu terminar.

Enormíssimos portões em tons de verde escuro, abriram ao seu comando, para revelar um verdadeiro mundo novo. Desde criança que nunca acreditei que casas como estas realmente existissem, pareciam demasiado fictícias, demasiado boas e bonitas para serem verdade. Eram os tipos de palácios que descrevia nas histórias para adormecer que contava à pequena Hana: Telhados triangulares de altura tão fantástica que fariam inveja aos arranha céus dos anúncios pela sua elegância e pureza, paredes limpas e fortes em tons de claros beges iluminando os arredores, portadoras de janelas enormes e seus varandins suficientemente espaçosos para se dançar. No chão, grandes jardins em volta com canteiros das mais diversas flores, pintando o local como se fosse um livro de colorir, onde uma criança simplesmente utilizou todas as suas cores. Também altas árvores pareciam ser moldura de um céu sempre azul, iluminado pelo sol que parecia nunca desaparecer…

Claro que não passavam de fantasias feitas para entreter a minha pequena, para fazer-lhe sonhar com isso e sentir que eram reais…tal como essas histórias da fadinha dos dentes ou do Pai Natal.

Contudo, jamais em toda a minha vida, imaginei que tal local pudesse estar bem diante de mim, que tal chão alguma vez fosse calcado por meus sapatos de sola tão gasta, que as pequenas pedrinhas do caminho por lá se infiltravam. No entanto, não me importava, afinal, eram pedras de um lugar verdadeiramente surreal.

Mas as surpresas ainda não terminavam.

Mal se deu o som do motor desligado, duas aias abriram a grande porta principal da mansão e desceram a passo apressado em nossa direcção.
Ali me apercebi que este homem, não é apenas um humano, mas de facto uma águia astuta e gloriosa que vive tão bem ao ponto de ter duas aias ao seu serviço. Nunca me coube na cabeça tal ideia.

O mesmo homem que me escoltou, saiu de seu lugar de condutor abandonando o volante revestido por cabedal, fechando a porta com certa rigidez, contornando o veículo num passo custoso pela idade, abrindo a minha porta com gentileza, ao chegar a meu lado.
Eu saí, agradecendo a gentileza, com um sorriso meio forçado no qual os meus dentes pareciam cordenados o suficiente para rasgarem os meus lábios numa curva obrigatoriamente feliz.

O barulho da porta cerrada agitou o meu corpo nervoso e frágil pelo momento, tremelicando pela incerteza do que fazer a seguir. Nada. Limitei-me a erguer-me, de costas direitas, ombros relaxados, braços que apesar de contraírem em suas veias um sangue fraco e medroso, aparentavam fortes e rigorosos pela firmeza com que as mãos frias ao fundo, seguravam a minha pequena maleta com os meus pertences.

‘’Que achas da tua nova casa pequeno?’’

Os meus olhos encararam-no com certo receio, não durando mais que dois segundos, até quebrar o contacto ocular que nos aproximava. A sua expressão estava relaxada e feliz, perfeitamente descritiva de alguém que acaba de chegar ao conforto de seu lar, pronto para um descanso no terraço…Também sorriria assim, se fosse esta a minha casa.

Mas não era. Não é. Nunca será.

Tenho perfeitamente presente na minha mente que ficarei aqui por muito tempo: até ele querer livrar-se de mim, até ele falir, até ele morrer… Acompanhá-lo-ei uma boa eternidade, isso é mais do que certo. Em breve, conhecerei os cantos à casa, viverei nela, instalar-me-ei por completo. O seu carro será entitulado propriedade de nós dois e provavelmente quererá doar-me suas terras… Mas por muito que ele deseje fazê-lo, a minha companhia nunca será mais do que mera companhia, sejam muitos os passeios, seja muita a papelada…essas terras nunca serão minhas, esses campos nunca serão mais do que simples pedaços de chão em que ousaria me deitar e afundar no seu interior. Esta casa nunca será mais do que quatro paredes luxuosas que a muitos criaria cobiça, mas a mim, só incentiva o vazio e solidão…Ironia do destino, tantas as divisões, tantas as pessoas, contudo, a solidão parece petrificar ali.

Lar é onde o teu coração está, e sem dúvida que o meu não está aqui.

‘’É linda.’’ Respondi a medo.

‘’Jieun, Matilda, este é Seungri. A partir de hoje, ele viverá aqui comigo, como meu companheiro, com isto quero dizer, que tratá-lo-ão como se fosse um segundo eu. Sem perguntas, sem desculpas e sem insolências.’’ – Afirma a sua voz bruta.

‘’Sim senhor.’’- Ambas respondem ao mesmo tempo.

‘’Senhor?’’- Uma delas, de cabelos  negros presos em coque, de pele pálida e baça, círculos negros debaixo de seus olhos âmbar, de voz melódica e cansada, aparentando ser mais velha do que a rapariga a seu lado, pelas rugas que se começavam a acomular em seu rosto. – ‘’Recebeu uma chamada do Secretariado. Pediram a sua comparência, mas como estava ausente na hora, falei que lhes telefonaria assim que chegasse. Também chegaram umas cartas do sindicato da vila vizinha, parecem estar interessados em colaborações.’’

‘’Sim, eu vou tratar disso. Jieun, acompanha-me até ao meu gabinete e auxilia-me com as cartas. Já tu Matilda…’’-  A rapariga levanta a cabeça, com expressão fechada – ‘’ Mostra ao Seungri o seu novo lar, fala-lhe das nossas regras, quando estiver pronto, trá-lo a meu gabinete.’’

‘’Sim senhor.’’- Responde Matilda.

Ela aparentava ser muito mais nova que Jieun. A sua pele era mais bronzeada e brilhava ao mínimo raio de sol atrevido que lhe beijasse, os seus olhos eram duas perfeitas conchas, o seu cabelo era curto e estava solto, mantendo uma madeixa por detrás de sua orelha, a sua voz era suave. Diria que Jieun seria a mais habituada, ‘’a peça da casa’’. Ela parecia estar perfeitamente confortável na presença de seu patrão, já para não falar na facilidade com que ela aparentava dominar os assuntos privados dos negócios de seu amo.
Já Matilda era mais acanhada, como uma flor que esperava desabrochar em tal clima de adversidade. O seu jeito demonstrava que tudo isto a desconcertava um pouco, como se fosse novata neste ramo. E como eu a compreendia.

Em breve tiveramos acabado sozinhos, apenas eu, Matilda, um carro e o mais luxuoso dos lugares.

‘’Começaremos pelo jardim.’’- Falou ao dar inicio à ‘’visita guiada’’. – ‘’ O jardim é um dos pontos altos de toda a mansão, inclusive é o grande orgulho do amo. São muitas as reuniões e festas que têm lugar aqui na mansão, então asseguramo-nos que o pátio, jardim, horta e estufas estão sempre saudáveis e bem tratadas. Devo avisá-lo que de duas em duas semanas, pela manhã, vem cá o Sr. Kim, o responsável pela manuntenção da relva, plantas e piscina.’’

A visita assim prosseguiu pela garagem, pelo armazém e compartimento de arrumos até finalmente entrarmos na mansão. Eram tantas as informações desnecessárias, que a certo ponto, Matilda repreendeu-me pela falta de atenção…Lamento, mas eu não estou nem um pouco interessado em saber as marcas dos carros do teu patrão.

Quando finalmente entramos na mansão, a primeira divisão a ser apresentada foi a enorme e complexa cozinha onde uma equipa de seis cozinheiros trabalhavam arduamente, percorrendo todos os balcões de aço, com mãos carregada de legumes, especiarias, carnes e utensílios de culinária. A divisão dispensava das luzes espalhadas pelo tecto, contando apenas com um grande candeeiro central, visto que as janelas altas na parede bege, proporcionavam toda a luz do dia.

Em seguida, percorremos um longo corredor repleto de portas e todas elas se abriram para que a divisão que escondiam fossem reveladas: Armazém, salão de visitas, sala de jantar, salão de baile…Tal como um verdadeiro conto de fadas.
Após um longo tempo correndo cada centímetro da casa, Matilda deu  visita por encerrada, apresentando a última divisão: O quarto onde ficaria instalado.

A grande porta que se destacava da parede em tons de vermelho vinho, abriu-se, revelando o que para mim era bem longe de um aposento.
A cama estilo casal era incrivelmente acolchoada, coberta por uma colcha branca aveludada com bainhas dependuradas, em tons dourados gloriosos… tão alta que acreditei precisar de um degrau para subir. Uma janela ao fundo que revelava uma magnifica varanda com vista para os jardins traseiros, um sofá, um toucador, uma porta que revelava uma casa de banho privada.
 

‘’É do seu agrado Senhor?’’

‘’Não há um quarto mais pequeno? Sinto que me consigo perder neste.’’

‘’Lamento mas acredito que não. Não sei de que tipo de família o Senhor é proveniente, mas aqui nesta mansão, um homem rico e de renome vive…logo tudo é desta forma. Exageradamente dramático.’’

Ao ouvi-la olhei para baixo. Não me sentia confortável neste lugar. Nada em minha casa se comparava a este lugar, aliás, este quarto conseguia ser ainda mais espaçoso que minha casa. Pensei que ficaria instalado num quarto mais modesto visto que não passo de um ‘’visitante permanente’’…confesso que me sentiria muito melhor se dormisse com as aias no piso inferior.

‘’Devo avisar-lhe menino Seungri, o primeiro armário é pertencente ao Sr. Kim, mas o segundo a seu lado está disponível para si. Devo também informá-lo que o chefe prefero o lado esquerdo da cama.’’

O lado esquerdo da cama? Como assim? Olhei-a assustado.

‘’O que quer dizer?’’

‘’Este aposento é do Sr. Kim, ele deixou bem explicito que queria que partilhasse o quarto com ele…afinal, o menino agora é o companheiro dele…não seria de bom tom deixá-lo a dormir sozinho. Já não bastam os longos anos de solidão desde que sua esposa faleceu.’’

Então era isto…claro que este quarto era grande demais para uma pessoa, claro que eu não iria escapar de estar longe dele. É melhor acostumar-me o mais rápido possível a esta ideia.

‘’Entendo.’’

‘’Bem já que finalmente se instalou, aproveito para dar-lhe umas últimas indicações: Todas as manhã deverá acompanhar o sr. Kim no pequeno almoço, durante o dia, o chefe trabalha por isso ele precisa de alguém que cuide de seus negócios por ele…por isso contamos com a sua presença no seu gabinete, controlando os seus negócios. Finalmente, ele regressa a casa por volta da hora do jantar, e depois da refeição ele costuma sair para passear.’’

‘’Está certo Matilda, obrigado por tudo.’’

‘’Então irei deixá-lo só para que possa organizar as suas coisas por aqui. Depois de pronto, encontre o Sr. Kim no seu gabinete, ao fundo deste corredor, a primeira porta à direita.’’

‘’Sim, obrigada.’’

‘’Com licença.’’

Ao abandonar o quarto, fiquei apenas eu o aroma floral e doce que pairava no quarto. Tentei afastar-me ao máximo dos pensamentos que me corriam pela cabeça: Mãe, Hana…o que estariam elas a fazer? Se ao menos pudessem ver este lugar…Uma cozinha gigante para minha mãe cumprir seu sonho de confeccionar os pratos mais requintados, bibliotecas onde eu poderia resguardar-me e sonhar, jardins incríveis onde Hana poderia correr, este quarto…esta cama onde caberíamos os três e faríamos batalhas de cócegas…esta cama onde minha mãe deitar-se-ia lendo seus livros de romances acompanhada por Hana que saltava a seu lado, completamente eléctrica.

Caminhei em frente até o guarda roupa que Matilda me indicou. Por dentro, as prateleiras pareciam nunca terem fim, as cruzetas sobravam para a pouca roupa que trazia de Rouge. Simplesmente pousei a mala no fundo do armário e abandonei aquela divisão para dirigir-me até ao gabinete.

‘’Entre.’’-Autorizou após o meu bater na porta maciça. Entrei.- ‘’Ah Seungri. Senta-te.’’

Obedeci à sua ordem. Ao andar pelo piso  de madeira escura, não pude deixar de reparar num escritório tão grande. As estantes de livros eram enormes e todas elas bem recheadas de conhecimento, no chão, um tapete de padrões clássicos e antiquados. O grande candelabro em formato de castiçal no topo da divisão, iluminava-a em tons de laranja. Uma secretária em tamanho médio, também ela em tons escuros com detalhes desenhados em dourado e, atrás dela, uma poltrona com um homem de idade que esperava por mim, de perna alçada, expressão escondida pelo fumo do cachimbo que o sobrevoava como uma auréola.

‘’O que achaste das instalações? Espero que tenham sido de teu gosto.’’

‘’São de facto magníficas Senhor, contudo, queria perguntar-lhe algo se é que me permite.’’

‘’Mas é claro.’’

‘’Matilda falou-me que estarei à frente de seus negócios durante o seu horário laboral…Eu não me sinto apto para tal.’’

‘’Não é nada com que tenhas que te preocupar, com o tempo aprendes e habituas-te. Além do mais, Jieun está ao teu dispôr em qualquer dúvida que possas ter.’’

‘’Mas eu…’’

‘’Não sejas teimoso rapaz, não o suporto.’’- Calei-me, intimidado.- ‘’Falando em algo de teu interesse: Amanhã estarei em trabalho todo o dia e à noite irei voltar muito tarde, mas no dia seguinte, levar-te-ei até tua casa para me apresentares a tua família e também para trazeres algo que queiras.’’

Os meus olhos brilharam com a ideia. Finalmente irei vê-las, mais uma vez.

Mas talvez…Seja a última.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...