O resto da semana passou se arrastando, já estava parcialmente cansado da rotina praiana, pelo menos, no palácio sempre havia coisa para fazer, lugar novo para conhecer naquele lugar imenso.
Eu amava andar pelo jardim real, tirar fotos e tocar lá. Era uma vida, um ambiente diferente do de casa. E ai vinha a melhor parte de tudo isso, o Lucas. Inicialmente, eu achava que ele era apenas um garota mimado e que o dinheiro disponibilizado pela família real me ajudaria a viver separada dos meus pais, quando retornasse para “casa”.
“Lu? ” Ele saiu de meus pensamentos e adentrou o quarto, sorridente.
O clima havia ficado realmente tenso entre a gente, nos encontrávamos algumas vezes, mas na maior parte das vezes, não sabíamos como um deveria interagir com o outro. Devo dizer que parte vem de mim, estou envergonhado desde o dia em que chorei em seu colo.
“Senhor... ” Quebrei os segundos de silêncio, levantando-me da cadeira e executando uma reverencia na sua frente.
Ele se aproximou enquanto eu estava abaixado, pude notar por seus pés, mudando de posição.
“Você não precisa fazer reverências enquanto estivermos sozinhos e sem supervisão de câmeras. ” Deixou um beijo leve e sensível em minha testa e em seguida, deu um abraço que eu retribui.
“Está tudo bem? ” Perguntei, quando nos desvencilhamos do abraço.
“Está sim, pode ficar tranquilo. ” Lucas me acalmou. Ou pelo menos tentava.
“Vamos voltar para o palácio hoje. ” Explicou, ainda mais calmo. “Vim pois queria te falar pessoalmente. ”
Nossa conversa foi curta, após isso, rolaram apenas algumas perguntas de um para o outro, e minutos depois ele saiu, depois de me dar um beijo.
Nós almoçamos sem Lucas, ele não estava na mesa e após tivemos ainda algumas horas para passear e tirar proveito da praia. Coisa que eu desprezei, gastando meu tempo ensaiando no quarto.
(One day later...)
Lucas Feuerschütte
Me sentei na mesa, ao lado de fora da sacada do quarto, com o caderno sobre a mesa e um lápis na mão comecei a rabisca-lo, como um velho hábito, ou apenas como alguém que sempre teve vontade, mas nunca o dom para desenhar.
Os rabiscos estavam se juntando, formando desenhos, algo simples. Ficava legal. Eu não estava com plano para nada, apenas peguei o lápis e comecei a passar sobre o papel.
Observei dois selecionados andar, um pouco mais abaixo de mim em direção ao jardim real, seus passos estavam sincronizados e o sorriso de um tomava seu rosto, parecia tão feliz. Logo, era ele quem falava, com as mãos na altura do peito, fazendo movimentos não sequenciais para acompanhar sua fala e o movimento de sua boca.
Voltei a atenção a minha sacada e notei novamente, o aroma gostoso do mate, sobre a pequena mesa redonda na sacada. O qual provei novamente mais um gole, degustando-o o mais lentamente possível, sentindo seu sabor.
“Senhor? ” A voz de Gus ecoou pelo quarto e chegou, já mais baixa à varanda assim que a porta de entrada do quarto foi batida na batente.
Me levantei, arrastando a cadeira para trás de forma silenciosa e me virando para atrás, notando, assim, outro alguém ao lado de Gus. Ambos reproduziram a reverência de onde estavam, e então voltaram a sua posição corporal, se aproximando de mim.
“Gostaria de lhe apresentar meu substituto, senhor. ” Ele retomou, arrumando sua gravata, após pôr toda a papelada que estava em suas mãos, sobre a mesa que estaria voltada ao escritório. “Este aqui é... ”
“Devito, Federico Devito, quero dizer, senhor... ” O moreno, que estava vestido de uma calça social e uma camisa, branca de botões pretos respondeu, interrompendo o outro. Executou, em seguida outra reverência. “Será um prazer servi-lo. ”
Estiquei minha mão, o cumprimentando de forma mais próxima, tentando trazer a intimidade a nós mais rápido e ele a apertou, movimentando-a lentamente, poucas vezes.
“Espero que tenha feito uma boa escolha. ” Falei, me referindo a Gus.
“Espero o mesmo, senhor. ” Ele respondeu, perdendo o restante do assunto que poderia ser dito agora. “Então, se não precisam mais de mim, o vejo daqui alguns meses. ”
Gus balançava sua caneta como o garoto lá fora, que por sua vez, utilizava a mão. Fez, novamente uma reverência e saiu pela porta, nos deixando sozinho.
“Então, vejo que o senhor bebe algo... ” Ele analisava a caneca antes de terminar sua fala. “Mate. Gostaria que eu pedisse para que alguém resservisse? ”
“Não, obrigado. ” Respondi, entrando e me sentando na mesa voltada ao escritório. “Pode recolher as coisas lá fora, por favor? Pode se retirar após, gostaria de ficar sozinho. ”
Ele não respondeu, apenas assentiu com a cabeça e fez o ordenado rapidamente, ainda com sua pasta debaixo do braço.
Me sentei na mesa e tomei o primeiro papel da grande quantidade deles que estava sobre a mesa, analisando-o.
Em meio a tanta papelada entediante, peguei um papel em branco de uma das gavetas e a pena que utilizava para escrever em ocasiões especiais. No geral, aquela pena era apenas um enfeite, mas as vezes eu a usava, raramente, mas a usava.
Terminei de escrever a carta a Klébio e a selei com um adesivo, que seria o brasão de Illéa no encontro do papel que o convidava para uma pequena sessão de cinema, após o jantar.
Tomei o tablet já ligado no canto da mesa e mandei uma mensagem ao seu mordomo, para que recolhesse a carta e o entregasse, minutos depois.
Faltavam alguns minutos ainda e eu resolvi descer um pouco antes do jantar e passar no quarto de algum selecionado.
Abrindo a porta, escondida na parede pelo botão escondido, comecei a descer as escadas, pé ante pé, até chegar ao segundo andar, que era marcado pela luz de neon azul, com o mesmo escrito.
Saí e não havia ninguém lá fora, nenhum sinal de vida lá, então eu andei, até algum do quartos, o que mais me chamasse atenção, acabei por parar no quarto de Logan Henderson, que tinha por escrito seu nome em uma das plaquetas, ao lado da porta de entrada do quarto. O guarda me olhou, questionando-me, com o olhar.
Pus a mão – fechada – sobre a porta e dei duas batidas, simples e de força média. Logo a porta foi aberta por seu mordomo, que executou logo, uma reverência.
“Senhor. ” Levantou novamente, abrindo o braço, dando passagem para que adentrasse o quarto.
Ouvi, do banheiro, uma conversa entre alguém que não reconhecia.
“Pode abrir os olhos, senhor. ” Uma voz feminina disse. “Está pronto. ”
“Obrigado, Mary. ” A voz de Logan ecoou, baixa e abafada no quarto dele.
A porta se abriu com Logan, despreparado por visitas. Sua boca estava parcialmente aberta e seus dentes inferiores estavam a mostra, ele já estava pronto para ir para o salão real.
Seus olhos varreram o quarto até me ver, transformando sua expressão em total surpresa.
“Majestade?! ” Ele perguntou, em um tom alto. Surpreso. Ele fez, em seguida, uma reverência desengonçada, explicada pela minha repentina aparição.
“Seu quarto é bastante belo. ” Falei, observando as linhas, de uma partitura que cobriam uma parede do quarto, não sabia exatamente do que era.
“Além do Arco Íris de Luiza Possi. ” Ele, falou repentinamente, enquanto eu passava a mão sobre o adesivo que dava mais volume a parede. “Ah, desculpe. Achei que se perguntasse de que era a partitura. ”
“Além do Arco Íris, é? ” Repeti o nome, lembrando a beleza da música. Ela tocava, quase que no automático nos meus ouvidos, havia sido a música de abertura do casamento dos meus pais, há alguns bons anos atrás. “O que ela significa a você? ”
“Luiza Possi foi minha tia-avó. ” Ele respondeu, olhando para o teto, contendo as lágrimas, como se fosse uma pergunta profunda. “Ela morreu há alguns anos, assassinada por rebeldes. ”
“Sinto muito. ” Tentei concertar as coisas e ele apenas mexeu os ombros, como se não se importasse, ainda que estivesse com aquela expressão. “Vim apenas ver como estava, gostaria de me acompanhar até o salão? ”
“Seria uma honra. ” Disse, dobrando o braço, para que os nossos se entrelaçassem e foi o que fiz.
Nos olhamos, e ficamos, por alguns segundos, com os olhares cruzados, seus olhos desceram um pouco mais, chegou até minha boca. Ele abriu um sorriso, o mesmo sorriso que me encantou em sua primeira entrevista aqui.
Ele desentrelaçou nossos braços e começou a acariciar minhas bochechas com a polpa de seu dedão, até que nossos lábios se encontraram em meio à toda a escuridão. Eles se tocaram como se já tivessem feito isso em outra vida, de uma forma tão intensa e tão maravilhosa que após disso, decidiram não fazer mais nada, pelo resto da vida.
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