O ônibus seguia por uma estrada de terra que parecia não ter fim. Os jovens no interior do veículo pareciam não precisar dos bancos, tão pouco do cinto de segurança. Gritavam, cantavam e falavam sobre assuntos aleatórios.
Apenas um olhava pela janela. Seus fones tocando no último volume, estava aleatório ao resto, e era exatamente assim que gostaria de ficar. Pretendia passar os próximos seis dias sem que fosse notado, assim os riscos de apanhar seriam consideravelmente menores.
O veículo fez uma curva despertando-o de seus sentimentos. Desligou o aparelho e preparou-se para desembarcar. Foi o último a descer e encontrar um monitor animado, com um apito pendurado em seu pescoço. O mesmo o orientou a pegar sua bagagem e seguir em fila para a área de convivência.
Pegou a mala e pôs a mochila nas costas seguindo como lhe foi indicado. Um outro monitor lia nomes, indicando o número do quarto e entregando chaves. Ele ainda tinha esperanças de ficar sozinho em algum quarto, mas agora percebia que teria de dividi-lo com alguém, e seja lá quem fosse não parecia haver ninguém simpático por ali.
O primeiro quarto foi entregue a três caras altos e musculosos, que provavelmente integravam alguma equipe de esporte da escola. Os rapazes pegaram as chaves e seguiram com um monitor.
Sobraram ainda três rapazes com jeito de popular, um cara alto e tatuado e um outro com roupas pretas e os olhos marcados por delineador preto.
- Michael Ryan Pritchard. – o monitor chamou e o rapaz com tatuagem no braço ergueu a mão. – Billie Joe Armstrong. – foi a vez do punk erguer o braço sem muito entusiasmo. – Frank Edwin. – ele levantou a mão engolindo em seco.
Pensava estar no quarto dos horrores. Sem dúvidas seria um saco de pancadas nos próximos seis dias.
Pegou suas coisas e seguiu com os outros até o quarto. Ao chegar deixou a mochila sobre uma cama ao lado da parede, já que as outras duas já haviam sido ocupadas.
- Frank não é ? – o punk perguntou sentando em sua cama.
- Sim. – respondeu tímido.
- Não lembro de ter visto você na escola. Meu nome é Billie, e ele você pode chamar de Mike.
- Pode me chamar de Tré. Eu vou começar no ano que vem. Minha mãe foi fazer minha matrícula e disseram que havia vaga para o acampamento. Ela achou que seria bom para me enturmar. – disse ficando vermelho.
- Que sorte a sua. – Billie falou irônico. – Bom, eu tinha que escolher entre isso ou a clínica de reabilitação. Se bem que não vejo muita diferença. – ele deu de ombros.
- Não seja dramático. - Mike falou.
- Você ouviu bem o meu pai Mike, se for expulso desse acampamento ele vai me internar. – ele virou-se novamente para Tré. – Mike me conhece desde pequeno, nossos pais são amigos de longa data. Ele está aqui para garantir que não irie tentar me matar de novo.
- Cala a boca Billie.
- Desculpe, estou assustando você ? – perguntou para Tré. – Bom, eu matei minha própria mãe, sou um monstro.
- Billie não matou a mãe, ela morreu no parto. E o pai dele não quer interna-lo de fato, ele só quer que ele fique bem. – Mike explicou ao perceber a feição assustada de Tré.
- Ele me mandou pra um lugar sem internet, sem celular, sem música e com um monte de esportistas chatos.
- E você tem que aprender alguma coisa com tudo isso Billie. Sabe que não quero que algo ruim te aconteça. – disse abraçando o punk lateralmente.
Tré apenas assistia, mas sentia-se aliviado. A dupla parecia legal. Um monitor passou na janela do quarto avisando que deveriam se arrumar para conhecerem as proximidades.
Billie coçou a cabeça e levantou-se. Mike seguiu atrás e Tré os acompanhou. Encontraram os outros rapazes e seguiram o monitor. Passaram por uma trilha descendo até a enorme casa que ficaram anteriormente. Foi explicado que as refeições e festas seriam feitas ali e do lado de fora podiam ver uma enorme piscina com tobogã.
Caminharam pelo gramado, onde o homem mostrou alguns animais. O grupo de garotas também se aproximou e foi pedido que todos sentassem em círculo. Mike acenou para uma garota loira que retribuiu o gesto delicadamente.
- Primeira tarefa de vocês. As garotas vão recolher ovos e ordenhar as vacas. Os meninos podem limpar o viveiro dos coelhos e lavar os cavalos.
- Está brincando... – Billie jogou a cabeça para trás resmungando.
Um enorme cavalo preto foi entregue aos três, com esponja e baldes com água e shampoo. Mike aproveitou um banco para subir e começar a lavar as costas do animal.
- Ei garotão, como você está hoje ? – Tré sorria encostando a testa no focinho do bicho.
- É a primeira vez que te vejo sorrindo e sem estar assustado. – Billie observava a cena sorrindo.
- Eu gosto de animais. – Tré sorriu sem mostrar os dentes.
Billie pegou uma esponja e ajudou os outros. De repente começou a rir de forma sarcástica.
- Qual é Billie ? – Mike perguntou.
- Queria pegar uma mangueira e molhar todo mundo. Mas não to afim de ser expulso agora, relaxa. – ele respondeu e Mike revirou os olhos levando o cavalo para dentro da baia.
O trio seguiu para o viveiro dos coelhos, onde Tré sentou-se e pegou um dos bichinhos no colo. Billie aproximou-se, agachando ao lado dele.
- Ele não morde ?
- Acho que não. – Tré acariciava o animalzinho que parecia tranquilo.
- Segura bem que vou tentar. – pediu tocando no coelho devagar. Sentiu uma sensação agradável com o pêlo em seus dedos. Ele olhou para Tré e os dois sorriram.
Mike observava a cena de braços cruzados. Havia tempo que não via os olhos do amigo brilharem tanto. Talvez a natureza trouxesse de volta o lado bom de Billie. Talvez aqueles próximos dias pudessem salvá-lo realmente.
No final da tarde eles retornaram para o dormitório, onde deveriam tomar banho e se arrumarem para a festa de boas-vindas.
- Sinceramente, não sei pra que essas festas terem que ser temáticas. – Billie bufou, ajeitando sua gravata. Ao menos amanhã é noite punk e não tenho que ir fantasiado.
- Não estamos fantasiados, a festa a fantasia é a última.
- Pra mim, essa roupa parece uma fantasia.
- Vamos logo. – Mike disse vestindo seu smoking.
Tré também desceu pela trilha com os demais e chegaram ao refeitório. Mike foi rapidamente abraçado por sua namorada e puxado para uma mesa onde as amigas dela estavam sentadas.
- Mas que saco. – Billie revirou os olhos. – Vou sentar aqui mesmo Tré.
- Eu posso ficar aqui com você ?
- Mas é claro que sim !
Um garçom trouxe pizza e refrigerante.
- Ao menos tem pizza.
- Se pensar não é tão ruim assim. Olha só pra aqueles caras dançando. – apontou para um grupo e Billie riu.
- Tem razão, são uns palhaços. E a roupa de vadia daquela ali ? – apontou para uma menina com um decote enorme.
Ficaram rindo de mais algumas pessoas, até mesmo do modo com Mike conversava com sua namorada. Billie gargalhava, engasgando vez ou outra com seu refrigerante.
- Eu preciso ir ao banheiro. – Tré falou depois de alguns pedaços de pizza e muitos copos bebidos.
- Ok, eu te espero aqui.
Ele levantou-se e seguiu até o local. Já estava lavando as mãos para ir embora, quando dois caras aproximaram-se da porta e cruzaram os braços.
Tré respirou fundo, enxugou as mãos e tentou passar por eles.
- Aonde vai com tanta pressa novato ?
- Queremos apenas dar as boas-vindas.
- Por favor, deixem-me passar. – ele pediu com a voz trêmula.
- Claro, mas antes temos um presentinho pra você. – ele deu um soco na barriga de Tré, deixando-o sem ar.
O outro fez o mesmo e quando ele caiu no chão ainda deram alguns chutes e saíram rindo, ameaçando que se ele falasse algo ganharia muito mais.
Tré ficou ali no chão enquanto chorava. Levantou-se com alguma dificuldade, e ouviu alguns passos.
- Tré ! O que houve ? – Billie perguntou ajudando-o a se levantar.
- Nada, eu tropecei e cai. – ele forçou um sorriso.
- Não foi isso. Você está chorando. – ele pegou o rosto do outro em suas mãos, secando as lágrimas com seu polegar. – Desculpe ter deixado você vir sozinho. Aqueles idiotas vão se ver comigo.
- Não Billie ! Ninguém fez nada, não quero confusão. E não quero que você seja expulso. – ele disse abaixando a cabeça ainda mais.
- Tudo bem Tré. Vamos voltar pro quarto, tirar essas roupas ridículas e descansar. Está bem ?
- Está. – ele respondeu, levantando o olhar e sorrindo.
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