História The Camp - Dois

Quando Tré acordou, a primeira imagem que viu foi a de Billie dormindo tranquilo. Sua cama ficava próximo á janela, e a cama de Billie ficava encostada na parede á sua frente de modo que o punk dormia bem próximo de seus pés. Se seguisse essa lógica, aos pés de Billie ficava a cama de Mike, formando uma espécie de L.

Ele levantou-se e seguiu para o banheiro, encontrando Mike acordado e este o cumprimentou. Tré respondeu simpático e enfim entrou no banheiro. Quando terminou, Billie já se arrumava e Mike falava alguma coisa com ele.

- Estou morrendo de fome, vamos logo tomar café. – ele resmungou, terminando de retocar seu lápis de olho.

O trio desceu até o refeitório e sentaram-se juntos. Depois de terminarem a refeição, um monitor pediu que ficassem na área exterior, e disse para formarem um círculo.

- Bom dia ! – ele disse animado e Billie soltou um suspiro. – Vocês já devem se conhecer, mas eu ainda não sei nada sobre vocês. Meu nome é Rick. Quero que falem o nome, o que vocês mais gostam de fazer, e o que esperam do acampamento. Quem quer começar ?

Todos se entreolharam e depois de algum tempo em silêncio e muitos risos, uma garota levantou a mão. Depois te ter falado, foi a vez da colega que estava ao seu lado até que chegou a vez de Mike.

- Meu nome é Michael, mas todos me chamam de Mike. E eu gosto de jogar vídeo-game, sair com meus amigos e passar um tempo com a minha namorada. – ele sorriu para Brittney. – Eu espero que esse acampamento seja bom e que possa ajudar pessoas a se encontrarem.

- Muito bom Mike. Agora seu colega rockeiro... – o monitor falou e Billie revirou os olhos.

- Meu nome é Billie, eu gosto de ouvir música e o que eu espero é que eu sobreviva até o final. – terminou de falar arrancando risos de todos.

- Meu nome é Frank. – ele disse mexendo no cadarço de seu all star e evitando contato com o grupo. – Mas todos me chamam de Tré. Eu gosto de sair com minha família e de ouvir música. Espero que o acampamento seja divertido. – terminou de falar sentindo o rubor se espalhar em seu rosto.

- Nós vamos nos divertir, Tré. – Billie falou acariciando seu joelho.

- Agora todos de pé, temos uma atividade bem bacana pra fazer. – o monitor falou e apitou seguidamente até que todos levantassem. – Temos 18 pessoas aqui, então podem formar 4 fileiras de 4 pessoas e duas vão me ajudar aqui na frente. 

Eles se ajeitaram, e os amigos tentaram ficar na última fila. Rick apontou para Mike e Billie e pediu que os dois fossem até a frente.

- Isso não está acontecendo comigo. – o punk resmungou enquanto era arrastado pelo amigo.

O homem ligou o som e começou a fazer passos de dança pedindo que os outros imitassem. Tré continuava na última fileira, tentava fazer o mínimo de movimentos possíveis, e evitava olhar para qualquer outra coisa que não fosse o chão.

- Mãozinha pra cima, pro lado e dá uma viradinha. Vamos lá !

Billie fazia os movimentos sem o mínimo interesse e praguejava mentalmente usando todos os palavrões que conhecia. O monitor fez uma breve pausa e apitou, fazendo com que Tré olhasse para frente.

- Muito bem, agora batendo palmas e os pezinhos batendo no chão.

Billie estava quase chorando de raiva e fez os movimentos encontrando Tré na última fileira. Sorriu e o outro fez o mesmo, sentindo-se ridículo por ter que fazer aqueles passos enquanto era observado. Billie de repente parecia mais animado, e Tré continuava a imitar o monitor sem tirar os olhos do punk.

- Agora a viradinha, vamos lá.

Os amigos fizeram o que foi pedido e quando seus olhares se encontraram de novo, eles sorriram.

- Muito bem, estão todos de parabéns. Podem descansar agora. – finalizou apitando.

- Eu não aguentava mais.

- Para de reclamar, você dança tão bem. – Mike disse gargalhando.

- Vai se fuder ! – disse se aproximando de Tré. – Podemos apagar esses momentos da memória por favor  ?

- Foi divertido até. – ele respondeu sorrindo.

- Talvez tenha sido... Mas acho que é porque eu estava... te vendo. – Billie terminou de falar, sem entender o que tinha acabado de dizer e ficou reflexivo por algum tempo.

Estava perto da hora do almoço e os monitores avisaram que antes da refeição ainda havia uma outra atividade para fazerem. Pediu que todos estivessem de roupas confortáveis e tênis e que de preferência as meninas prendessem o cabelo. Deu um tempo para que fossem se arrumar e depois deveriam encontrá-lo naquele mesmo lugar.

- Eu disse que você ia ter que usar short uma hora ou outra. – Mike disse fechando a porta do quarto.

- Isso tudo é uma palhaçada. – o punk bufou, tirando seu cinto e livrando-se da calça preta. Pegou uma bermuda escura e vestiu. – Pronto, mas que inferno! E pior que eu estou derretendo nesse calor. – falou enquanto procurava algo em sua mochila.

Pegou um boné preto e colocou-o virado para trás.

- Tem belas pernas Tré. – disse simpático enquanto saíam novamente do quarto.

- Cala a boca Billie, o cara é tímido e você fica enchendo o saco.

- Só estou falando a verdade Mike.

O trio se juntou aos outros e aguardou as instruções do monitor que os levou até uma quadra aberta. Pegou uma bola de futebol e disse que o jogo seria entre dois times mistos com meninas e meninos. Reforçou para tomarem cuidado e apitou iniciando o jogo.

Mal havia começado e Tré já estava no chão. Billie ajudou-o a se levantar e quando teve oportunidade entrelaçou a perna na do garoto que havia derrubado Tré, jogando-o no chão.

- Seu viadinho de merda ! – Ele começou a reclamar e o monitor disse para seguirem o jogo.

Nova jogada e Billie foi empurrado contra a trave, caindo sobre o braço. Ficou no chão e o monitor foi até ele para ver como estava. Ele reclamava de dor mas foi dito que poderia continuar o jogo que seguiu com muitos chutes, rasteiras e esbarrões.

Quando Billie ouviu o apito final sentiu-se aliviado. Andou até os amigos e passou os braços nos ombros de Tré.

- Eu não vou aguentar até o fim.- disse ofegante e o outro riu.

- Qual é Billie, para de graça. – Mike falou enquanto tirava a camisa e enxugava o rosto.

- Estou falando sério. – parou de andar fazendo os outros dois rirem. – Podem continuar sem mim.

- Deixa de frescura Billie Joe. – Mike se aproximou colocando as mãos do amigo em seus ombros e levantando-o nas costas. Billie prendeu as pernas na cintura do mais alto e mostrou a língua para Brittney que olhava de longe.

O almoço enfim foi servido e puderam comer. Billie estava implorando para que aquele momento chegasse. Pelo menos teriam o resto da tarde livre até a hora do jantar.

Tré havia acabado de sair do banho e procurava a roupa que havia separado para aquela noite. Pegou uma camisa preta de mangas curtas e vestiu uma calça da mesma cor, que ficou apertada o suficiente para marcar suas pernas.

- Volto a repetir que tem pernas lindas. – Billie comentou de sua cama, enquanto assistia o outro se vestir. – Posso arrumar seu cabelo ?

- Pode. – respondeu tímido.

- Vem cá. – chamou o outro que sentou ao seu lado. O punk levantou-se e ficou de frente para ele, passou gel nas mãos e fez um topete que Tré aprovou. – Posso passar lápis também ?

- Eu não sei...

- Vai ficar legal e não dói. – falou sorrindo e o outro concordou. Billie ergueu o queixo de Tré com uma das mãos e olhou em seus olhos azuis passando o lápis. – Você está lindo.

Tré se observou por algum tempo no espelho e não podia negar que gostava do que estava vendo. Billie havia feito um bom trabalho.

- Ei Mike quer lápis também ?

- Não precisa Billie. Você ficou legal Tré.

- Obrigado. – ele agradeceu tímido.

Enquanto desciam para o refeitório, Mike comentou que gostaria de ter uma noite especial com sua namorada, e pediu que Tré e Billie demorassem um pouco mais para voltarem até o quarto.

- Aí quando eu terminar, eu acendo a luz do banheiro e vocês vão saber que já está liberado.

- Tanto faz, mas fique longe da minha cama. – Billie respondeu.

Ao chegarem, Mike disfarçou um pouco e depois subiu com a namorada para o quarto, sem que os monitores percebessem.

Billie fazia algum comentário sujo quando um cara se aproximou.

- Você está muito fudido quando isso acabar. Seu próximo ano na escola vai ser um inferno, viadinho. E pro seu namorado também.

- Por que você não vai se fuder ? – Billie falou levantando-se e encarando o rapaz.

- Ou você vai fazer o que ? – ele falou se aproximando mais.

- Eu posso entrar no seu quarto durante a noite, tirar seus órgãos e deixar tudo empilhado numa caixa endereçada á seus pais.

- Olha pra você. - disse com desprezo. -  Não encosta em mim nem que eu esteja doente.

- Doente você já é, e a proposito está ridículo. Vamos embora Tré.

- Olha só, o namoradinho de estimação obedece bem. – zombou enquanto Tré se levantava.

- Não devemos satisfação a você. – Billie falou e puxou Tré para o lado de fora. – Odeio esses caras ! E o pior é que nem podemos ir para o quarto, vamos achar um lugar...

Sem que Tré pudesse responder, ele puxou o mesmo para fora da trilha que levava aos quartos e chegaram até o alto de um morro. O céu estava repleto de estrelas e a lua crescente parecia brilhar.

Eles sentaram-se por ali e Billie pegou uma caixa de cigarros do bolso, acendendo um. Tré tentou se segurar mas começou a tossir, ainda tentando disfarçar.

- Desculpe, você é alérgico ? – levantou-se e afastou-se um pouco. – Eu ainda estou aqui Tré, não tenha medo. – falou já de longe.

Quando terminou de fumar voltou para perto do amigo.

- Eu sou um merda.

- Não é. – Tré respondeu imediatamente. – Sabe, eu as vezes também me sinto sozinho, como se precisasse de algo para me completar.

- Incompleto. – Billie falou. – Acho que é exatamente assim que eu me sinto. E é como se nenhuma substância desse conta de preencher esse vazio.

- Nenhuma substância é tão grande o suficiente. – Tré completou.

- Acho que você me entende bem. Obrigado por estar aqui Tré. – ele falou deitando a cabeça no ombro do outro que ficou com os batimentos acelerados.

Ficaram algum tempo contemplando o céu até perceberem que os demais já voltavam para os dormitórios. Ao chegar em frente ao quarto, notaram a luz do banheiro acessa e Billie destrancou a porta.

- Mas que cheiro de sexo está aqui. – zombou passando por Mike, que inicialmente sorriu mas depois sua expressão ficou séria e ele puxou Billie pelo braço.

- Você estava fumando ? – disse cheirando a roupa do amigo.

- Foi o primeiro desde que cheguei aqui, eu juro que estou tentando parar.

- Nós chegamos aqui ontem, não fale como se já estivéssemos há dias.

- Ele ficou nervoso com uns caras... e nem fumou tudo. – Tré comentou tentando ajudá-lo.

- Billie, se te pegam com isso vão falar pro seu pai e você sabe o que vai acontecer ? Que porra você tem na cabeça ! Você está acabando com você, está se destruindo, e eu não posso pegar na sua mão e te levar pro caminho certo. Eu estou tentando mostrar pra você o caminho mas se você não quiser ir eu não posso obrigar você.  – Mike continuou, o tom de voz aumentando a cada palavra.

- Me desculpe Mike. É tão difícil para mim quanto para você.

- Eu não quero que algo ruim te aconteça Billie. – ele passou a mão no rosto e soltou um longo suspiro. - Eu te desculpo, mas minhas palavras permanecem. Eu estou fazendo minha parte, faça você a sua. –  falou sério e Billie se jogou em seus braços, abraçando-o e ele retribuiu. – Boa noite.

- Boa noite Mike, me desculpa por estragar sua noite.

- Boa noite Tré. – Mike falou simplesmente e apagou a luz.

Tré não conseguia pegar no sono e quase deu um grito quando sentiu alguém puxando seus pés. Olhou e viu a mão de Billie esticada. Foi até o pé de sua cama, ficando de frente para Billie.

- Desculpe, é que estou me sentindo sozinho. Você pode dormir desse lado ?

- Claro. – ele respondeu simpático, puxando o travesseiro e deitando-se.

- Obrigado Tré, boa noite.

- Boa noite Billie.