Justin
Batuco meus dedos impacientemente no grosso jeans de minha calça, olhando fixamente através da pequena janela do avião. Meu nervosismo e impaciência não são pela minha fobia com locais pequenos e fechados, mas sim pelo fato de finalmente saber o que houve com Faith. Finalmente minhas perguntas foram respondidas depois de quase longos oito meses, e infelizmente não me agradou o que descobri, de verdade, no momento preferia mesmo ter sido abandonado, preferia que ela tivesse se envolvido com outro, e não ter sido traficada. As cenas que passam em minha mente, atiçando minha imaginação não são nada felizes, e sim capaz de tirar toda paz, que com muito custo comecei a ter.
Imagino-a sendo tocada por homens desprezíveis, a imagino gritando por mim, por minha ajuda. Eu falhei. Não estive lá por ela, tudo porque queria ser um policial renomado. Do que me adiantou todo nome que consegui, todo triunfo que conquistei se a pessoa que mais eu queria proteger foi um alvo fácil? Desprezo-me neste momento por ter sido tão egoísta e fútil. E Henderson, porque aquele homem a trata tão diferente das outras garotas? Isso faz minha raiva aumentar.
Percebo o avião aterrissar, e me levanto rapidamente. Pego minha bolsa pequena no compartimento de mão, e desço rapidamente dali, sem retribuir o comprimento de boa noite da comissária de bordo, sei que a educação passou longe, mas o que quero é tirar a minha esposa daquele lugar. Não sei se ela ainda me quer, não sei se tem algum caso com o dono de White Cube, o grande Dean Henderson, meu único objetivo é atender ao grito de desespero que ela deu no primeiro dia. Maldito Garcia! Aquele homem vai pagar, com a própria vida. Não me importo em perder meu distintivo, só sinto que Faith merece uma vingança.
Mostro meu distintivo para fugir de toda burocracia do aeroporto, e consigo sair dali finalmente. Pego um taxi e sigo até o pequeno apartamento que vivo no momento. Sequer entro em casa, vou até o estacionamento e pego meu carro, indo direto para a galeria, sei que estou sendo puramente movido pelas emoções, e sem pensar nas consequências, mas eu preciso saber de fato o que acontece naquele local à noite, apesar de ser praticamente impossível obter a resposta assim, sem plano nem nada.
Estaciono meu carro a alguns metros de distância. Vejo a porta de vidro fechada, porém luzes estão acessas, e a vários carros luxuosos estacionados em frente ao lugar. Filho da puta! Sem dúvida White Cube é uma bela fachada para ele vender as obras de arte. Arregalo meus olhos, agora tudo faz sentindo, as moças as quais fotografei, e o fato dele as chamar de preciosas... Elas são expostas a noites, elas são as verdadeiras obras de artes.
Às pessoas ricas e selecionadas, e é necessário um convite de Dean para poder estar a noite dentro de White Cube. Eu preciso entrar, só assim poderei conseguir uma aliada aqui dentro para descobrir os mínimos detalhes de como e quando ele compra novas garotas, e talvez assim eu tenha chance de vê-la mais uma vez
Não que eu ache que as mulheres mereçam ser traficadas, mas... Porque a minha Faith, porque ela?
E o pior que tenho a reposta, vingança, ela foi pega porque queriam me atingir e conseguiram. Aperto meus olhos quando vejo uma moça passando com um vestido de gala vermelho perto da porta, meus olham enchem de lagrimas, e as deixo escorrer livremente. Todos vão pagar, um por um, sem exceção.
Talvez aquela garota que passou ali, possa ser minha própria esposa, por mais que minha vontade seja tomar uma atitude agora, ou ao menos ficar a noite toda aqui, não é o certo. Eu estou sozinho e sei que não posso derrubar um lugar que tem o dono e própria galeria com nomes e índole intocável, preciso da ajuda e do FBI.
(...)
Justin me ajuda, por favor, não me deixe aqui, preciso de você.
Acordo em um pulo, olho e percebo que ainda estou sentado no sofá. Sentado, pois não consegui, e não quis deitar-me na cama. Apenas cochilei e o pesadelo voltou pela segunda vez na noite. Passo a mão em meu rosto, e logo em seguida em meus cabelos. Olho em cima de minhas pernas, as únicas coisas que me sobraram dela, os brincos de safira e uma única foto que guardei em uma caixa, logo após seu sumiço. Meu nariz arde pela vontade chorar.
Uma vez minha mãe me disse que existem dois tipos de choro: o choro de protesto tende a ser intenso e pode ser vocalizado. Não inspira simpatia, mas raiva, e a sinais de tensão muscular. Em geral a pessoa não aceita o conforto do outro porque quer uma ação ou uma mudança, foi o que tive quando perdi Faith e não entendia o porquê, não aceitava conforto, não aceitava um ombro amigo, só queria descontar a raiva que sentia em algo ou alguém, e foi exatamente que fiz por um tempo. E tem o choro de tristeza e resignação, que tende a cobrir seu rosto com as mãos, mantendo o corpo encurvado. Esse tipo de choro é mais receptivo ao auxílio do outro, nesse momento o que queria era o colo de minha mãe me dizendo que tudo vai ficar bem. Esse choro não é aquele que dói apenas o coração, e sim a alma. Me sinto vazio, me sinto em um beco saída, eu apenas queria poder dizer a ela tudo que está entalado em meu peito e que me dilacera por dentro.
Olho no meu pulso vendo ser 05:43 da manhã. Levanto-me indo em direção ao meu quarto, tirando peça por peça de minha roupa, fazendo uma trilha pela sala até meu quarto. Vou até o banheiro ligando a ducha em água quente, o que deveria acontecer, não acontece, meus músculos não relaxam, sinto-os tencionados e rígidos. Levo o sabonete até meus fios e sorrio, se Faith estivesse aqui, surtaria, segundo ela sabonete destrói o cabelo. Sendo assim pego meu shampoo, a essência de camomila sobe, percebo que foi uma coisa que não mudei, de fato nunca me livrei de Faith. Ela que escolhia o shampoo com essa essência, segundo ela a camomila deixava os fios mais claros. Vejo a claridade atravessar a janela do banheiro, indicando que o dia acaba de amanhecer. Saio do banheiro, enrolando uma toalha em meu quadril, vou até a janela que fica em meu quarto. Olho para a grande cidade a minha frente, olhando além do que meus olhos possam alcançar, em direção a White Cube.
— Me perdoe Faith, eu falhei com você, porém eu nunca desisti de você. Eu nunca desisti de nós. — sei que não posso vê-la e muito menos ela pode me escutar, porém essa é a promessa que quero fazer, e a selo em voz alta. —Eu vou lhe devolver a liberdade senhora Bieber, custe o que custar.
Faith
— Está tudo bem? — a voz suave de Luna me desperta de meus devaneios. A encaro, podendo assim ver a curiosidade tomar conta de sua feição, como se a qualquer instante fosse transbordar por sua boca, e sair aos poucos por seus poros mínimos, e perfeitamente cuidados.
— Sim. — respondo simples, quase imediatamente retomando minha atenção para a janela, por onde a luz do dia entra, e ilumina o apartamento. Mas, quase como se pudesse prever o que acontecia em breve, eu volto minha atenção para Luna no exato momento em que ela diz:
— Você está estranha. — afirma.
— O quer dizer com isso?
— Quero dizer que desde o momento em que voltou da fracassada sessão de fotos você está preocupantemente melancólica. — a princípio não nego, não tenho como negar, pois ela diz a verdade. Mas nunca, em nenhuma hipótese poderei contar a Luna quem eu vi na sessão de fotos. Apesar de ela ser a coisa mais próxima de uma melhor amiga que eu tenho por aqui, não sei se posso confiar nela o suficiente a ponto de lhe contar que o tal fotografo extremamente gostoso por quem ela estava babando no dia anterior é meu fotografo. Meu marido. Meu Justin.
Ao lembrar-me de nosso reencontro sinto vontade de chorar. Um choro de tristeza, saudade e de dor. Dor, porque suas palavras doeram mais do que qualquer outra coisa. Mas, não me permito chorar, caso contrário Luna começará a fazer perguntas que não posso responder.
— Eu estou bem eu juro. — sorrio, o máximo que consigo. O que não é muito, mas parece ser o suficiente para convencer Luna de que as palavras que saem por minha boca são verdades.
— Ótimo! Agora me conte. — ela praticamente pula no sofá, bem próxima a mim.
— Contar o que? — pergunto completamente confusa.
— O que aconteceu entre você e Dean, é claro. — responde como se fosse algo óbvio. Inevitavelmente, solto um longo suspiro.
— Ah, claro. — tento fingir animação. — Nós nos beijamos.
— Faith para de bobeira, e conta direito. Eu quero os detalhes. — insiste.
— Não tem detalhes Luna, nós nos beijamos, foi só isso.
— Então ao menos me diga se ele beija bem. Ele beija bem? — bufo, e reviro os olhos. Sua persistência chega a um nível totalmente irritante, e minha vontade é xingá-la, mas não o faço, tendo em mente de que além de esse ato pode botar todo o meu plano a perder, sei que só estou desse jeito por causa dos últimos acontecimentos em minha vida.
— Sim, ele beija bem. — por mais que eu quisesse estar mentindo, não estou. Dean beija bem, e até mesmo alguém com um ódio mortal por ele como eu, não pode negar este fato.
(....)
À uma hora da tarde em ponto, pouco tempo depois de Luna e eu termos comido quase toda uma panela de macarrão com queijo, Joseph aparece na porta do apartamento, mal humorado e mandão como sempre, exigindo que eu me arrume para a sessão de fotos. Nem mesmo dá tempo de descansar meu estômago lotado, o que resulta em uma estranha dor por todo o meu corpo, seguinte de um suadouro sem fim. Ah, quem eu quero enganar? Claro que essa sensação horrível não é fruto da minha gula, e sim do meu nervosismo por ver Justin novamente.
Tento dizer a Joseph que não posso ir, afinal, acabei de comer, e ficarei inchada nas fotos. Mas, minha desculpa não o convence. Para ser sincera, parece deixá-lo ainda mais mal humorado. Frustrada, e ainda mais nervosa, me obrigo a tomar um banho, e ficar minimamente apresentável. Não para Dean, claro que não. Mas sim para Justin. Assim que me visto por completo com roupas simples e confortáveis, faço uma maquiagem, e nem ao menos preciso de blush, pois minhas bochechas ficam naturalmente ruborizadas, devido à temperatura quente de minha pele.
Quinze para duas da tarde eu saio do apartamento, deixando Luna trancada. Penso que irei me encontrar com Dean na rua, mas ele não está, apenas o carro grande e preto, que me serve como uma segunda prisão.
Ao chegar a White Cube sou violada por tremores nas pernas, que me impedem de andar. Imediatamente me lembro da minha primeira noite em Chicago, quando estava completamente sedada, e não tinha forças para andar sozinha. Joseph abre à porta, me dando a deixa para sair. O mesmo se surpreende completamente quando me agarro em seus braços, buscando por apoio.
— Qual é o problema? — pergunta, sem qualquer resquício de preocupação no tom de voz.
— Não estou me sentindo bem.
— Isso não é problema meu. — ele tenta afastar minhas mãos, mas eu o agarro com mais força.
— Ao menos me ajude a entrar. — trinco os dentes. — Ou quer que eu conte a Dean que não ajudou sua preciosa? — meu estômago embrulha quando digo tal coisa. Não quero usar a atração de Dean a meu favor, mas a julgar pelo olhar de Joseph, até ele já havia percebido que de uma forma ou outra, seu chefe não me trata como as outras garotas.
Então ele me ajuda. De muito má vontade, mas ajuda. Quando entramos em White Cube imediatamente vemos Dean caminhar em nossa direção. A camisa arregaçada até os cotovelos e os dois primeiros botões abertos revela pouco. Mas, o suficiente para eu saber que seu físico é incrível.
— Faith, está bem? — pergunta, diminuindo drasticamente a distancia entre nós. — Você já pode ir Joseph, eu cuido dela. — rapidamente sou passada para os braços de Dean, como uma bola de futebol é passada para outro jogador. Brutamente.
— Estou bem, só estou um pouco enjoada. — minto.
— Não me diga que engravidou de um dos clientes?
— Por Deus, Dean! — quase grito. — É claro que não. Só comi demais no almoço.
— Isso é ainda pior, não quero que fique gorda. — ele me encara fixamente. — Na próxima vez controle o apetite, ok? — seus lábios tocam os meus suavemente, e sou obrigada a corresponder. — Vem, você precisa se arrumar.
— Não posso fazer essas fotos outro dia?
— Faith, não confunda minha atração por você com idiotice. Já cancelei a sessão de fotos no outro dia, não farei isso novamente. Além do mais, preciso dessas fotos prontas até o fim da semana.
— Pra que? — pergunto, realmente curiosa.
— Negócios, Faith. Negócios.
A maquiadora contratada faz um ótimo trabalho. Encaro meu reflexo no espelho, e gosto do que vejo. Minha pele está iluminada, brilhante como a joia em meu pescoço, a mesma que eu deveria ter usado alguns dias antes. A mulher loira com batom vermelho, e aparentemente de quarenta e poucos anos com uma pochete de pincéis na cintura, me entrega uma bolsa preta onde eu deduzo estar à roupa.
— O que é isso? — pergunto ai ver ali dentro apenas uma lingerie.
— O senhor Henderson pediu para lhe entregar, é o que vai usar para as fotos.
— Não brigue com a mulher, Faith. — seu tom de voz grave se faz presente. Olho para trás e o vejo entrar na pequena sala.
— Todas as outras garotas usaram vestidos, porque eu tenho que usar isso?
— Porque você é especial. — ele toca meu queixo com o polegar, mas eu me esquivo.
— Não quero ficar seminua na frente de um homem que eu não conheço. — protesto.
— Para de charme Faith, já tirou a roupa pra no mínimo cinco homens desde que chegou aqui. Então do que importa se o fotografo te verá de calcinha e sutiã? — sua fala me fere. Dói ouvir da boca de outra pessoa que sou uma vadia, por mais que eu mesma tenha consciência disso, não é algo que eu precise ou queira ouvir. — Não quis ser grosso com você, preciosa. Mas, precisa parar com essa merda. Agora se vista, preciso sair pra resolver algumas coisas, então Joseph vai acompanhar suas fotos.
Então ele sai, não me dando a oportunidade de protestar. Sem ter como fugir, eu tiro minhas roupas e visto o conjunto íntimo de cor clara, com renda preta, e alças também. Por cima jogo o roupão para me cobrir e quase imediatamente Joseph me puxa até a sala onde todo o cenário está organizado.
Ao ver Justin meu coração acelera, quase como se quisesse saltar para fora. O mesmo não me encara, nem ao menos dirige seu olhar a mim, o que faz meus olhos se encherem de lágrimas.
— Anda logo com isso. — ordena Joseph.
— Não vou fazer nada com você aqui dentro. — digo firme. Ele bufa. — Você pode me vigiar do lado de fora, afinal não tem por onde eu fugir. — ele rodeia a sala com os olhos, e ao perceber que eu tenha razão bufa novamente.
— Se você não fosse à vadia do patrão... — ele não termina, apenas sai.
Mesmo estando sozinho comigo, ele ainda não me olha. Sei que está incomodado, afinal, não tem como não estar. Sem saber o que fazer, a ponto de ter um ataque cardíaco, eu desato o nó do roupão, e o deixo cair no chão, na esperança de que isso chame sua atenção para mim, ao invés de fingir estar focando em seu equipamento fotográfico.
A calcinha é tão pequena que o pano se perde em meio a minha bunda, me deixando completamente sem graça. O que é estranho, quase engraçado, afinal Justin conhece cada centímetro de meu corpo, melhor do que eu o conheço. Mas, ao pensar que outros homens me tocaram, me tiveram, sinto-me envergonhada, e suja. Imediatamente recolho o roupão, e me cubro.
— Será que pode ao menos me encarar? — mantenho o tom de voz firme, tentando não fraquejar.
— Faith... — sussurra.
— Não! — o interrompo. — Naquele dia você falou, Justin. Falou um monte de coisas e eu ouvi calada, mas agora sou eu quem vai falar. — quase grito. — Se você pensa que aquela maldita carta era verdade, então você não é homem por quem me apaixonei. Eu te amava Justin, jamais faria uma coisa daquelas, não importa o quão irritada eu estivesse. Eu te jurei meu amor, lembra?
— Faith, eu...
— Sete meses, Justin. — novamente o interrompo. — Eu fiquei aqui por sete meses, sento maltratada, e humilhada. Mas, você acha que eu me importava com isso? Não, eu não me importava. Tudo o que eu pensava era em você, como você estava, se estava bem, e se estava procurando por mim. Mas, ao julgar pelas merdas que me falou é óbvio que não conhece sua esposa bem o suficiente para saber o tipo de pessoa que eu sou. O tipo de pessoa que jamais acabaria com uma relação de anos, por causa de uma briga idiota, e sem ao menos olhar na sua cara.
A essa altura não controlo mais minhas emoções. As lágrimas escorrem por minha face, como um rio veloz.
— Amava? — ele dá um passo à frente. — Quer dizer que não me ama mais?
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