Faith
Fico paralisada diante de Dean, seu olhar sobre mim é cortante e posso ver com nitidez uma mistura de raiva, ódio e a tentativa de entender o que faço no estúdio de seu fotógrafo. Ele pigarreia e cruza seus braços em frente ao peito, seu terno se ajusta em seu braço ressaltando seus músculos.
— Posso saber o que está fazendo aqui, Faith? Venho ter uma conversa com o senhor Bieber e te encontro aqui. — sua voz é mansa, mas posso ver, e me arrisco a dizer que sinto toda sua raiva em minha pele.
Engulo a seco, porém não demonstro que estou com medo do que eu possa vir a acontecer. Mas, devido sua expressão tenho certeza que ele não ouviu nada, e nem viu o beijo que dei em Justin. Respiro aliviada, empino meu nariz e em passos rápidos vou até ele.
— Encontrei com o fotógrafo por acaso, ele está querendo saber se poderia contratar serviços das meninas em qualquer dia ou horário, e eu estava acabando de dizer que esse assunto deve ser tratado diretamente com você Dean. Você que é nosso chefe e quem decide como vai funcionar o contrato que ele precisa assinar para estar com uma de nós. Ou melhor, dizendo com a Luna. — sorrio maliciosa para Dean, que momentaneamente relaxa seus músculos e olha para Justin com severidade e superioridade.
Nada como palavras para massagear o ego masculino, para mostrar que ele que é o poderoso chefão e manda em todos nós, inclusive em meu marido. Sinto as mãos de Dean circundar meu quadril com seus braços, e me lançar um olhar de quem tem assuntos a tratar comigo. Olho para Justin que aperta a lente de sua câmera em mãos, e imediatamente mando um olhar para ele pedindo calma, ele não pode pôr tudo a perder, começamos agora a montar um plano para derrubar White Cube, e não podemos botar tudo a perder dessa forma.
Ele por sua vez não me olha, e isso me frustra. Maldito orgulho!
— Ela tem razão senhor Bieber, se quer uma garota é comigo que deve falar, assim poderemos combinar o horário, o lugar que a levará e o valor. Então por fim você assina o contrato. E não vejo problema em você adquirir Luna, ela é uma bela mulher, e uma ótima substituta, pois Faith não está mais disponível para meus clientes.
Isso para mim é novidade, ele não tinha me contado que não sairia mais com homens, o que de certa forma é um alívio, mas saber que ele fez isso por que ele me vê como um produto exclusivo dele me enoja.
Olho Justin, seus olhos dourados estão quase escuros. Vejo as veias de seu pescoço um pouco ressaltadas e de três em três segundos ele umedece seus lábios, talvez uma forma de não falar o que está entalado em sua garganta. Sempre o admirei por isso, mesmo com raiva, mesmo querendo matar alguém, seu caráter e dever para com seu país falam mais alto. Imagino que este deve ser um dos momentos mais difíceis de sua vida, afinal não é qualquer pessoa que ele tem que salvar, ele tem que salvar a mim. Ele tem que salvar sua esposa.
— Entretanto conversamos sobre isso mais tarde, no momento vim falar com você sobre as novas fotos que eu quero, e eu como quero que as faça desta vez. E você Faith vá para meu escritório, já fiquei sabendo o que houve com você e Joseph em frente a todas minhas preciosas. Eu disse para não me confrontar Faith, e isso irá ter consequências. Não pense que terá regalias, minha preciosa — Dean fala autoritário.
No mesmo minuto um som alto ecoa pela sala. Olho para Justin que tinha deixado cair sua máquina, enquanto olha horrorizado para mim e Dean, deixando claro que assim como eu, ele entendeu perfeitamente que serei castigada.
— Não me olhe assim Bieber, aqui as coisas funcionam assim: errou tem que pagar. — enquanto Dean encara Justin fortemente, olho para ele pedindo quase que pelo amor de Deus que ele não faça nada, mesmo com medo do que possa vir acontecer comigo, mesmo que eu venha ter uma cicatriz como Luna, eu não posso fraquejar.
Justin depende de minha força e autoconfiança para poder prosseguir como um infiltrado.
— Pode se retirar Faith, nos vemos em poucos minutos em minha sala. Caso não queira piorar sua situação comigo, vá direto para lá. — assinto calada e saio do estúdio, deixando os dois homens para trás.
Começo a esfregar uma mão na outra durante minha caminhada lenta pelo extenso corredor branco e arejado até o escritório de Dean. Antes de chegar ao meu destino final vejo Joseph me olhar satisfeito. Desgraçado, seu momento vai chegar, penso comigo enquanto abaixo minha cabeça, mesmo odiando minha tal atitude.
Jogue o jogo de Dean, seja uma submissa idiota. Digo a mim mesma.
Vejo Luna me olhar junto a Dulce e Emília ao longe, seus olhos verdes estão desesperados, ela parece entender que estou encrencada, e sibila um sinto muito. Assinto ao mesmo tempo em que uma lagrima solitária escorre molhando minha bochecha.
Entro naquele escritório luxuoso secando minha bochecha esquerda. Vejo em cima da mesa um papel onde várias palavras estão destacadas com um marca texto amarela. Aproximo-me o suficiente para que consiga ler sem precisar tocar, não entendo muito bem, parece ser uma rota, parece que Dean está tentando expandir seus negócios. Embaixo vejo uma lista, e me pergunto: será novas garotas que ele vai adquirir? Quando penso em pegar o papel e tentar ler tudo para poder passar para Justin escuto sua voz exaltada no corredor, corro para o sofá e me assento ali, abaixando minha cabeça.
A porta se abre e o vejo entrar com o celular no ouvido.
— Eu disse não Emily, aqui não é lugar para você amor. Papai promete que tenta sair mais cedo hoje e seremos eu e você, tudo bem? — ele escuta algo e o vejo sorrir pela primeira vez. Pois é, até o maior brutamonte tem seu joelho de Aquiles, e o seu era sua filha pelo jeito. — Papai ama você também bonequinha.
Quando ele me nota ali, despede-se de sua filha e me encara.
— Agora somos você e eu Faith. — ele dá a volta em sua mesa e se senta-se em sua cadeira.
Sem dizer mais nada, ele junta a pasta que estava em cima de sua mesa, colocando-a em uma gaveta com chave. Observo que ele não guarda nada aqui, só quando está presente, com certeza é no seu quarto que fica tudo. Dean se mantém calado, organizando toda a sua mesa calmamente, como uma espécie de tortura que está funcionando, pois a cada movimento seu, meu coração bate descompassadamente.
— Se aproxime Faith, temos muito que conversar. — ele se levanta e eu faço mesmo indo até ele, que está com os braços cruzados. — O que eu pedi para você preciosa? — apesar da serenidade em seu tom de voz sei que tenho que ser cautelosa, ele está me analisando por inteira.
— Você pediu que não comentasse sobre sua vida privada, e não fizesse com que se arrependesse de ter me colocado em um patamar especial. — repito as mesmas palavras que ele me disse em sua casa.
— Então porque foi gritar para quem quisesse ouvir que se fosse um pedido seu, eu mandaria Joseph embora? — agora sim ele assume uma posição assustadora. — Entenda, você não é nada para mim, não passa de uma prostituta. O único diferencial que você teve das outras, foi que senti uma atração por você. A única coisa que quero de você é te foder. — meus olhos se enchem de lágrimas, ele quer me humilhar e consegue com sucesso. — O dia que eu me cansar de você Fatih, você volta a ser uma mercadoria, e aquela sempre mais barata, aquela que sempre estará em oferta, porque eu já vou ter usado tanto você que não poderá ser exclusiva da White Cube. Essa beleza e corpo que você tem um dia irão acabar vagabunda.
Não consigo me conter, e choro. Eu nunca ouvi ele falar assim com ninguém, sempre nos tratava com carinho, falso carinho, mas tratava. Meu ódio se multiplica por dez. Não, por mil.
— Estamos entendidos Faith? — ele segura meu braço com força, vejo minha pele avermelhar. Seu toque queima como brasa.
— Sim senhor. — me limito em dizer apenas isso. Ele sorrir falsamente e suas mãos vão de encontro a minha blusa branca a puxando para cima, até meus seios ficarem a mostra no meu sutiã roxo, que os deixam juntos e bem desenhados.
— Você vai me servir agora mesmo Faith, e acredite... Eu não serei nada carinhoso com você como fui noite passada.
Dean me puxa para perto de seu corpo. Um soluço escapa de minha garganta, enquanto sinto suas mãos apertarem minha bunda sobre o short jeans, e sua boca morde meu seio. Logo sua boca vai de encontro a minha em um beijo violento e cheio de posse.
(....)
Olho Dean que se levanta do sofá todo nu, indo em direção ao banheiro de seu escritório. Quando a porta é batida eu me sento, sentindo o meio de minhas pernas completamente dolorido, meu braço tem a marca de quatro dedos visíveis, meu rosto arde, e sei que deve estar marcado pelo tapa que levei. Nunca fui tão humilhada, ele me tratou pior do que lixo, e me usou como um deposito de porra. Sinto nojo ao sentir minhas pernas meladas pelo seu gozo. Enrolo meu cabelo em um coque secando uma lágrima que desce, mas não é de tristeza que choro, é de raiva.
— Não queria ser tão rude com você, mas de alguma forma você tinha que pagar pelo o que fez. E acredite não quero te machucar, te quero disponível. Beba e daqui doze horas tome o outro, não quero uma surpresinha Faith. — ele joga uma pílula, que imagino ser o anticoncepcional do dia seguinte.
Sou eu que não quero um filho seu, desgraçado.
Engulo a seco. Pego minhas roupas e as visto, mesmo querendo tomar banho. Só quero ir para aquele lugar que chamo de lar à oito meses, para poder me sentar no chão e poder chorar enquanto a água leva os rastros desse porco. Por mais que eu seja forte, não sou de ferro e hoje dói mais, porque Dean me fez gemer seu nome alto, para que todos escutassem, e Justin deve ter ouvido tudo.
— Eu posso ir para casa? Meu corpo dói e esse remédio me deixa enjoada. — pergunto de cabeça baixa. Sinto ele me olhar, mas não o olho. Ele demora a responder, e o que para mim parece ser uma eternidade sei que na verdade deve ser apenas alguns segundos. Eu que não aguento continuar na presença desse para homem.
— Pode ir, peça ao Joseph que te leve. Até a manhã preciosa.
Saio da sala sem falar nada. Ando pelos corredores com o salto na mão, sei que estou à destruição em pessoa. Meu corpo dói meu rosto está marcado, meu cabelo deve estar como um ninho de passarinho devido ao suor, sinto meu corpo bambear, como se estivesse a perto de desmaiar e não duvido que é possa acontecer a qualquer instante.
Vejo Joseph em pé olhando atentamente um ponto e quando percebo o que é, respiro fundo engolindo o choro. Justin está com todas as meninas explicando algo, provavelmente sobre as fotos que Dean pediu. Joseph me nota e sorri abertamente pelo meu estado.
— Vejo que o chefe te deu uma lição. Foi tratada como merece, como uma égua. — ele fala alto chamando atenção de todos, e dando continuidade a humilhação.
Fico calada, enquanto sou analisada por todas. Vejo algumas tentando não rir, aquelas que sabem que Dean tem uma certa cordialidade comigo e morrem de raiva. Olho para Luna que tem os olhos marejados e tenta vir para perto de mim, mas Dulce a segura, pois sabe que pode sobrar para ela.
O olhar de Justin me mata, seus olhos estão sem brilho, frios. Sua testa está unida, ele olha meu rosto e depois meu braço que está arroxeando, vejo-o passando o braço sobre os olhos e logo dá as costas saindo dali indo para seu estúdio.
Deus não permita que Justin se exalte, o dê paciência. Será uma tragédia se Justin confrontar Dean.
Oro mentalmente, logo em seguida olhando para Joseph que está mais que satisfeito.
— Dean pediu que me leve para casa. — digo somente isso e vou indo em direção a saída escutando os passos desse pau mandado atrás de mim.
Justin
Afasto a porta de forma bruta, ouvindo a mesma se chocar contra a parede do estúdio, e logo em seguida ouvindo-a se chocar contra o batente, quando eu repito meu ato, empurrando-a até que eu esteja sozinho no cômodo fechado. Ao abrir meus olhos, enxergo tudo com dificuldade. Meus olhos estão banhados por lágrimas, lágrimas que tentei conter na frente dela. Não queria que ela me visse chorar, não por achar que isso diminui minha masculinidade, mas sim, pois sei que isso a faria chorar.
Nós somos assim, Justin e Faith. Se eu choro, ela também chora. Se ela sente dor, eu também sinto a sua dor. E nesse momento, a dor é simplesmente insuportável. Seus gemidos ainda se fazem presentes em minha mente, repetindo e repetindo, me fazendo imaginar o que o desgraçado do Dean a fez passar. Sinto não apenas por sua dor física, mas também pela sentimental. Faith é forte, mas não é de ferro, e me dói não tê-la protegido de tamanha barbaridade.
Ouço o som de batidas na porta, e apesar de querer mandar quem é for se fuder, eu não o faço. Limpo minhas lágrimas, e tento me recompor.
— Pode entrar. — digo, fixando minha total atenção nos equipamentos a minha frente. Eu não suportaria encarar Dean, se o fizesse, é capaz de matá-lo imediatamente de forma lenta e dolorosa, fazendo-o pagar não só pelo sofrimento que causou a minha Faith, mas também a todas essas outras mulheres.
— Justin. — surpreendo-me ao ouvir um tom de voz receoso, completamente diferente do de Dean. Ao virar-me vejo Luna encolhida próxima à porta, como se tivesse com medo de falar comigo. — Desculpe, mas eu vi como você saiu de lá e precisei vir até aqui saber se está bem.
— Eu quero matá-lo. — digo ríspido, sem me importar com o fato de mal conhecê-la.
Se Faith confia nessa mulher, eu também confio.
— Eu sei, e acredite, eu também quero. — ela dá um passo à frente. — Mas, a morte seria um castigo muito leve para Dean. Ele merece sofrer, apodrecer na cadeia, e implorar por liberdade, assim como todas nós aqui. — noto a mágoa em seu tom de voz, também presente em seu olhar.
— Desculpe se me exaltei, eu só...
— Não precisa se explicar. — ela me interrompe. — Deve ser realmente muito difícil presenciar tudo isso, e ver sua mulher desta forma. Mas, seja forte Justin. Eu sei que não é justo lhe dizer isso, mas... Você é a minha única esperança de ser livre.
— Você vai ser livre Luna, você e todas as outras. E Faith e eu, seremos felizes novamente.
(....)
Os segundos passaram. Os minutos passaram, e logo eu estava a exatamente duas horas com Luna dentro do estúdio. Dean mandão como é, já havia saído de sua sala, e vindo até nós, mas graças ao fabuloso teatro de Luna ele não desconfiou de nada, e acreditou que era apenas um teste para a sessão de fotos. Eu por minha vez não consegui dizer nada, nem uma mísera sílaba. Durante todo o momento que passei no mesmo cômodo que ele, me mantive virado de costas, fingindo estar focado em meu material, tentando controlar a vontade de socar sua cara.
O que Dean tem de monstruoso, ele também tem de estúpido. Mas, sua estupidez não me incomoda, pelo contrário, apenas facilita o meu trabalho.
— Pense Luna. — insisto.
— Eu não sei, Justin. Dean é muito cauteloso, nunca nos deu brecha alguma. — ela diz com o olhar fixo ao chão. — A única coisa que eu posso te dizer é o nome de cada capanga e funcionário dele, desde a maquiadora, a lixeira. Estou aqui a tanto tempo que decorei o nome de todos.
— Tudo bem, então me faça uma lista com o nome de cada um e sua função. Pode ser que algum deles sirva para alguma coisa. — suspiro, passando as mãos por meus fios loiros.
— Desculpe, eu queria poder ajudar mais. — ela lamenta. — A verdade é que Dean nunca se envolveu muito conosco, quando falava com uma de nós era para nos oprimir ou castigar. As coisas mudaram desde que Faith chegou aqui.
— Vá pra casa Luna, e descanse. — é tudo o que digo. — E não esqueça a lista.
— Não vou. — ela diz ao sair.
Sento-me em um dos bancos aqui presente, soltando um longo suspiro, e apoiando meus cotovelos nos joelhos, curvando meu corpo para frente. Estou cansado, semanas se passaram e White Cube permanece intacta, sem qualquer sinal de abalo. Não pensei que seria tão difícil afinal o que acontece aqui dentro não chega perto de ser um segredo nacional, todos os homens de Chicago cuja conta bancária possui no mínimo sete dígitos reconhece as beldades de White Cube.
Ao movimentar meus braços, minha mão direita acaba tocando o bolso de minha calça jeans, e imediatamente sinto o volume ali presente. Por alguns instantes eu penso se devo realmente fazer isso, e se é seguro, mas logo percebo que se não o fizer irei provavelmente ter um ataque a qualquer momento.
Tiro o celular do bolso, não o meu celular fixo, que uso no dia a dia, mas sim o celular que comprei para poder me comunicar com Faith, pequeno, e fácil de esconder.
O telefone toca. Toca. Toca. E quando eu penso em desistir ouço o seu suspiro. Por longos minutos nós ficamos em silêncio, apenas ouvindo a respiração abafada um do outro, como se nenhum dos dois tivesse coragem de dizer algo.
— Você está bem? — pergunto, quebrando o silêncio.
— Sim, eu estou bem.
— Não minta pra mim. — peço, sentindo uma dor em meu peito.
— Estou com vergonha, Justin. Meu corpo dói, mas eu estou bem.
— Ah, amor... — suspiro, sem saber como reagir a sua dolorosa confissão.
— Apenas diga que me ama e eu ficarei bem.
— Eu amo você.
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