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História The Choice - Erros


Escrita por: Crushonjustin

Capítulo 13 - Erros


Fanfic / Fanfiction The Choice - Erros

As filhas sempre perguntavam por Selena, mas Justin não sabia o que dizer. Eram suficientemente maduras para saber que a mãe não estava bem; entendiam que, quando a visitavam no hospital, era como se a mulher que tanto amavam estivesse dormindo. Mas Justin não conseguia reunir coragem para dizer a verdade. Preferia se aninhar com elas no sofá e contar como a mãe tinha ficado animada quando engravidara ou falar sobre o dia em que a família ficou a tarde toda brincando no escorregador. Na maior parte das vezes, ficavam folheando álbuns de fotografias que Selena tinha organizado com todo cuidado. Ela era antiquada nesse sentindo e as fotos sempre provocavam sorrisos no rosto das meninas. Justin contava histórias associa das a cada imagem e sua garganta apertava quando via o rosto radiante de Selena nas fotos. Ele nunca vira uma mulher mais linda.

Faixas mornas de luz do sol se alongavam em direção a eles. No silêncio, Justin apertou a mão de Selena e fez uma careta ao sentir a dor no seu pulso. Até um mês atrás, ainda estava engessado. Os ossos de seu braço estavam fraturados e os ligamentos, rompidos. Mesmo assim, ele se recusou a tomar os analgésicos que os médicos haviam receitado, devido á sonolência que o faziam sentir.

A mão dela era macia, como sempre. Quase todos os dias Justin a segurava por horas, imaginando o que faria se ela respondesse ao toque. Ficava observando-a imaginando o que pensava. O mundo interior de Selena era um mistério.

- As meninas estão bem - começou dizer. - Christine comeu todo cereal no café da manhã e Lisa, quase tudo. Sei que você se preocupa com o que elas estão comendo, pois são meio magrinhas, mas elas têm devorado os sanduíches que sirvo depois da escola.

Lá fora, um pombo pousou no parapeito da janela. Deu alguns passos para um lado e se posicionou no lugar em que quase sempre ficava. Parecia que, de alguma forma, sabia a hora em que Justin fazia sua visita. Ás vezes ele acreditava que era uma espécie de presságio, embora não fizesse ideia de quê.

- Eu as ajudo com as lições de casa depois do jantar. Sei que prefere fazer isso logo depois das aulas, mas parece que está funcionando bem desse jeito. Você ia ficar entusiasmada com quanto Christine melhorou em matemática. Ela virou o jogo. Estamos usando aqueles cartões de memória que você comprou e ela não errou nenhuma pergunta no último teste. Tem feito a lição de casa sem minha ajuda. Você ia ficar orgulhosa.

O som dos arrulhos do pombo quase não era audível pela vidraça.

- E Lisa vai indo bem. Assistimos a Dora, a Aventureira ou Barbie todas as noites. É uma loucura assistir aos mesmos DVDs tantas vezes como ela. Lisa quer uma festa com tema de princesa no aniversário. Pensei em comprar bolo de sorvete, mas ele prefere uma comemoração no parque. Com certeza o bolo vai derreter, então acho melhor comprar outra coisa.

Justin pigarrou.

- Ah, já contei que o Joe e a Megan estão pensando em ter outro filho? Eu sei, eu sei... é loucura em vista dos problemas que teve na última gravidez, além do fato de já estar com mais de 40 anos, mas Joe disse que ela quer tentar ter um menino. Eu? Acho que é Joe quem quer isso e Megan está indo atrás dele, mas com aqueles dois a gente nunca sabe.

Justin fazia força para manter um tom de conversa normal. Desde a internação de Selena, ele tentava agir o mais naturalmente possível com ela. Como falavam muito sobre as filhas e os amigos antes do acidente, ele sempre comentava sobre esses assuntos quando a visitava. Não fazia ideia se ela o ouvia; a comunidade médica parecia dividida a esse respeito. Alguns juravam que os pacientes em coma podiam ouvir - e talvez lembrar - conversas; outros diziam exatamente o contrário. Justin não sabia em quem acreditar; mas preferia viver seus dias de acordo com os otimistas.

Por essa mesma razão, consultou o relógio e pegou o controle remoto. Nos raros momentos em que não estava trabalhando, Selena sentia um prazer meio culpado em assistir ao programa da juíza Judy Sheindlin na televisão, e Justin sempre ironizou a maneira como ela se deliciava de uma forma quase perversa com as trapalhadas dos infelizes que acabavam no tribunal da juíza.

- Está passando o programa que voce gosta. Acho que ainda dá para assistir aos últimos minutos.

Um instantes depois, a juíza Judy estava falando mais alto que o réu e o requerente, o que parecia ser algo recorrente e previsível no programa.

- Ela continua em forma, hein?

Quando terminou, Justin desligou a televisão e pensou em colocar as flores mais perto, na esperança de que Selena pudesse sentir o perfume. Queria manter mais perto. Queria manter os sentindos dela estimulados. No dia anterior havia passado algum tempo escovando seus cabelos; antes disso, trouxe um perfume e passou um pouco nos pulsos dela.

- Fora isso, não há grandes novidades - falou com um suspiro. As palavras não faziam sentindo para ele, como sem dúvida soavam para ela. -  Meu pai ainda está cuidando da clínica para mim. É como se nunca tivesse se aposentando. As pessoas continuam o adorando e acho que ele está contente de estar lá. Acho que ele nem deveria ter parado de trabalhar.

Justin ouviu uma batida á porta e viu Amanda entrar. No último mês, vinha contando muito com ela. Ao contrário das outras enfermeiras, Amanda mantinha uma fé inabalável de que Selena sairia daquilo tudo em bom estado.

- Oi Justin - disse. - Desculpe a interrupção, mas preciso trocar o soro.

Justin concordou com a cabeça e ela se aproximou de Selena.

- Aposto que está com fome, querida - falou. -  Só um segundo, está bem? Depois disso vou deixá-los sozinhos. Voce sabe que não gosto de interromper um casal de pombinhos.

Amanda trabalhou depressa, retirando um frasco de soro e substituindo-o por outro, o tempo todo sem parar de falar.

- Como voce está hoje? -  Perguntou á Justin que estava á olhando no canto da sala.

- Não sei - respondeu ele.

A enfermeira pareceu arrependida de ter perguntado.

- Trouxe flores! Quem bom! Com certeza Selena gostou.

- Espero que sim.

- Voce vai trazer as meninas?

Justin sentiu um nó na garganta por um segundo.

- Hoje não.

Amanda franziu os lábios e balançou a cabeça. Pouco depois, saiu do quarto.

                                               

 

Doze semana atrás, Selena foi trazida para a sala de emergencia de maca, inconsciente e com um intenso sangramento no ombro. Os médicos se concentraram primeiro no corte, por causa da grande perda de sangue, ainda que, em retrospecto, Justin cogitava se uma diferença abordagem não teria mudado as coisas.

Jamais saberia. Assim como Selena, também foi trazido para a sala de emergencia: assim como Selena, passou a noite inconsciente. Mas aí terminaram as semelhanças. No dia seguinte, ele apenas sentia dores em um braço ferido, mas Selena nunca mais acordou.

Os médicos foram delicados, mas não esconderam sua preocupação. Traumas cerebrais sempre eram graves, mas tinham esperanças de que os danos seriam revertidos e que tudo voltaria ao normal com o tempo.

Com o tempo.

O acidente era fácil de explicar, e semelhante a muitos outros em que uma série de erros isolados e aparentemente inconsequentes de alguma forma se uniam para explodir da maneira horrível. Em meados de novembro, foram de carro ao Teatro Wegol em Nova Orleães para assistir a uma apresentação do David Copperfield, um mágico e ilusionista americano. No último anos, costumavam assistir a um ou dois espetáculos por ano, ao menos como desculpa para saírem uma noite sozinhos. Costumavam jantar antes, mas naquela noite não fizeram isso. Justin saiu tarde da clínica, o casal saiu tarde de Beautmont e o espetáculo estava quase começando quando estacionaram. Na pressa, Justin se esqueceu do guarda-chuva, apesar das nuvens ameaçadoras e do vento forte. Esse foi o primeiro erro..

Assistiram ao show e gostaram muito, mas o tempo havia piorado quando saíram do teatro. Chovia forte e Justin se lembrava de ter ficado ao lado de Selena, pensando na melhor forma de chegar até o carro. Por acaso encontraram amigos que também haviam assistido ao espetáculo e Chris se ofereceu para levar Justin até o carro. Mas ele não quis incomodá-lo e declinou da oferta, preferindo sair embaixo de chuva, pisando em poças de água até as canelas a caminho do automóvel. Quando entrou no veículo, estava encharcado até a alma, principalmente os pés. Esse foi o segundo erro.

Como já era tarde, e os dois precisavam trabalhar na manhã seguinte, Justin dirigiu depressa, apesar do vento e da chuva, tentando ganhar alguns minutos num trajeto que normalmente levava quatro horas e meia. Apesar da dificuldade de enxergar pelo para-brisa, ele trafegava pela via expressa, excedendo o limite de velocidade, ultrapassando veículos cujos motoristas eram mais cautelosos. Esse foi o terceiro erro.

Selena pediu repetidas vezes que ele reduzisse a velocidade. Quando passaram por Lake Charles, ainda a uma hora e meia de casa, ela estava tão brava que tinha parado de falar com ele. Inclinou o encosto para trás e fechou os olhos, recusando-se a falar, frustada pela maneira como Justin a ignorava. Esse foi o erro número quatro.

O acidente foi o erro seguinte, e poderia ter sido evitado se não tivesse acontecido nenhuma das outras coisas. Se tivesse levado o guarda-chuva ou aceitado a oferta do amigo, Justin não teria corrido até o carro debaixo do aguaceiro e seus pés não estariam molhados. Se tivesse reduzido a velocidade, poderia ter sido capaz de controlar o carro. Se tivesse respeitado os desejos de Selena, não teriam discutido e ela teria visto o que ele pretendia fazer e impediria antes que fosse tarde demais.

Perto de Condado de Orange, uma curva fácil e aberta na estrada é interrompida por um sinal de transito. A partir daquele ponto da viagem, menos de vinte minutos de distância de casa, a coceira em seus pés o estava deixando maluco. Seus sapatos eram de amarrar, os nós estavam mais apertados por causa da umidade e, por mais que tentasse se livrar dos calçados, a ponta de um deles escorregava no calcanhar do outro. Justin abaixou-se um pouco, o olhar mal ultrapassando o painel, para tentar tirar o sapato com a mão. Olhando para baixo, lutou com o laço e não viu o sinal ficar amarelo.

Quando o nó finalmente se desatou, Justin ergueu os olhos, mas aí já era tarde demais. O sinal tinha ficado vermelho e um caminhão prateado entrou pelo cruzamento. Por instinto, ele pisou no freio e a traseira do carro começou a derrapar no asfalto molhado. O automóvel adernou, fora de controle. No último segundo, as rodas travaram e ele evitou a colisão com o caminhão, só para continuar em linha reta pela curva, saindo da estrada em direção aos pinheiros,

A lama ficava cada vez mais escorregadia e não houve nada que ele pudesse fazer. Virava a direção e nada acontecia. Por um instante, o mundo pareceu se mover me camera lenta. A última coisa de que se lembrava antes de perder a consciencia foi doentio ruído de vidro quebrado e metal retorcido

Selena não teve tempo nem de gritar.

 

 



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