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História The Choice - Nosso tempo está se esgotando.


Escrita por: Crushonjustin

Capítulo 15 - Nosso tempo está se esgotando.


Fanfic / Fanfiction The Choice - Nosso tempo está se esgotando.

Havia uma cafeteria no térreo do hospital, e quase sempre Justin ia até lá, principalmente para ouvir outras vozes que não a sua. Costumava chegar por volta da hora do almoço e ficou conhecendo alguns frequentadores habituais ao longo das últimas semanas. A maioria era formada por funcionários, mas havia uma mulher mais velha que parecia estar sempre lá quando ele chegava. Apesar de não saber o nome dela, ficou sabendo por Amanda que o marido da mulher já se encontrava na UTI quando Selena foi internada. Tivera complicações no diabetes. Sempre que via a mulher tomando a sopa, Justin pensava no marido dela no andar de cima. Era fácil imaginar o pior: uma possível amputação, um homem sobrevivendo no limite. Ele não fez perguntas nem desejava saber a verdade, inclusive por achar que não poderia demonstrar solidariedade a ninguém naquele momento. Sua capacidade de empatia parecia ter evaporado.

Ficava imaginado, por exemplo, se o marido havia plantado roseiras para ela, algo que Justin tinha feito para Selena quando ela engravidou de Christine. Ele se lembrava do jeito como ela ficava na varanda, com uma das mãos na barriga. Em uma dessas ocasiões, mencionou que o quintal precisava de algumas flores. Ao ver sua expressão, seria mais fácil para Justin respirar embaixo d'água do que negar seu pedido. Assim, apesar de estar com as mãos arranhadas e sagrando quando acabou de plantar os arbustos, havia rosas florindo no dia em que Christine nasceu. Justin levou um buquê ao hospital.

Será que o marido daquela mulher a olhava discretamente da mesma maneira que Justin fazia com Selena enquanto as filhas se divertiam nos balanços do parque? Ele adorava como a expressão de Selena se iluminava de orgulho. Nesses momentos, costumava segurar a mão dela e ter vontade de nunca largar.

Será que o marido daquela mulher a achava bonita de manhã, toda despenteada? Ás vezes, apesar do caos sempre associado ás manhãs, eles simplesmente ficavam deitados juntos e abraçados por mais alguns minutos, como se extraindo forças para enfrentar o dia.

A cafeteria dava para uma pequena área verde, e Justin via o mundo mudando lá fora. Logo chegaria a primavera e os pequenos botões de flor começariam a brotar nos arbustos. Nos últimos tres meses, tinha visto todos os tipos de clima naquele mesmo local. Viu a chuva e sol, ventos de até 80 quilometros por hora vergando os pinheiros até se quebrarem. Tres semanas antes, presenciou granizo caindo do céu, seguindo de um espetacular arco-íris emoldurando os arbustos de azaleia. As cores, tão intensas que pareciam quase vivas, o fizeram pensar que a natureza ás vezes envia sinais, que era importante se lembrar de que o desespero pode dar lugar á alegria. Mas um instantes depois o arco-íris tinha desaparecido e o granizo havia voltado com tudo.

A alegria ás vezes era apenas uma ilusão.

                                             

 

O céu estava nublado e era hora da rotina vespertina de Selena. Apesar de já ter concluído os exercícos da manhã - e uma enfermeira iria á noite para outra rodada -, Justin tinha perguntado a Amanda se ele poderia fazer a mesma coisa á tarde também.

- Acho que ela vai gostar - respondeu Amanda

A enfermeira ensinou o processo. Cada músculo e cada junta requeriam atenção. Enquanto Amanda e as outras enfermeiras sempre começavam pelos dedos das mãos, Justin iniciava pelos dedos dos pés. Levantou a coberta e pegou no pé de Selena, flexionando o dedinho para cima e para baixo, depois mais uma vez, até passar para o do lado.

Justin gostava de fazer isso com ela. A sensação da pele de Selena na sua era suficiente para reacender uma dezena de lembranças: a maneira como ele massageava seus pés quando ela estava grávida, as lentas e inebriantes massagens nas costas á luz de velas que quase a faziam gemer, massagens no braço quando ela se esforçava demais para levantar um saco de ração para cães com uma só mão. Por mais que sentisse falta de conversar com a mulher, ás vezes Justin acreditava que o simples ato de tocá-la era do que mais sentia saudade. Demorara mais de um mes para pedir a permissão de Amanda para ajudar com os exercícios e, durante esse tempo, sempre que esfregava a perna de Selena, percebia que de alguma forma estava se aproveitando dela. Não fazia diferença que fossem casados; o que importava era o fato de ser um ato unilateral de sua parte, de certa forma desrespeitoso com a mulher que ele adorava.

Mas esses alongamentos...

Selena precisava daquilo. Ela exigia aquilo. Seus músculos se atrofiariam sem eles. Mesmo se ela acordasse - quando acordasse, Justin logo se corrigiu -, estaria condenada a ficar acamada. Ao menos era o que ele dizia a si mesmo. No fundo, sabia que também precisava daquilo, ao menos para sentir o calor da pele dela ou a suave pulsação do sangue em seu pulso.

Justin concluiu os dedos do pé e passou para os tornozelos, quando acabou, flexionou as pernas, levando os joelhos até o peito e esticando-as de volta.

- É bom, meu amor?

- Sim, obrigada. Eu estava me sentindo meio rígida.

Justin sabia que imaginava a resposta dela, que Selena não tinha se mexido. Mas a voz parecia sair de algum lugar de sua mente. As vezes ele se perguntava se estava ficando louco.

- Como voce está?

Absolutamente entendiada, se quer saber. Obrigada pelas flores, aliás. São muito bonitas. Voce comprou no Frick's?

- Onde mais?

- Como estão as meninas? Quero a verdade desta vez.

- Elas estão bem, mas sentem muito a sua falta. Ás vezes não sei o que fazer.

- Voce está fazendo o melhor possível, certo? Não é isso que sempre pedimos um para o outro?

- Voce está certa. - falou fazendo massagem pelas coxas de sua garota - ... Eu não tenho comido muito bem.

- Voce parece mais magro, eu estou preocupada com voce. Precisa se cuidar. Pelas meninas. Por mim.

- Eu sempre vou estar aqui com voce. Eu amo voce Selena - sussurrou com lágrimas nos olhos. - Voce sabe que precisa acordar, certo? As meninas precisam de voce. Eu preciso de voce!

- Eu sei. Estou tentando.

- Está precisando de alguma coisa? Quer que eu feche a veneziana? Quer alguma coisa de casa?

- Voce pode ficar mais um pouco comigo? Estou muito cansada.

- É claro.

- Segurando a minha mão?

Justin assentiu, voltando a cobrir o corpo dela com o lençol. Sentou numa cadeira ao lado da cama e segurou a mão dela, acariciando-a com o polegar. Lá o pombo tinha voltado e, mais ao longe, nuvens  pesadas se movimentavam no céu, transformando-se em imagens de outros mundos. Ele já tinha percebido que esse pombo sempre pousava na janela do quarto de Selena quando os dois estavam sozinhos.

Justin amava a esposa, mas detestava a vida com ele desse jeito e se amaldiçoou por chegar a pensar nisso. Beijou as pontas dos dedos dela, uma a uma, enconstando-a em seu rosto. Ficou segurando a mão junto ao rosto, sentindo seu calor e desejando algum movimento, por menor que fosse; mas, quando nada aconteceu, Justin afastou a mão dela e nem percebeu que o pombo estava olhando para ele.

                                      

 

Os amigos de Justin reagiram da forma que ele esperava, Megan, Louíse e Mia se revezavam preparando seu jantar nas seis primeiras semanas. Elas ficaram amigas de Selena com o passar dos anos, e ás vezes Justin achava que ele é quem devia ampará-las. Costumavam aparecer com olhos vermelhos e sorrisos forçados, trazendo recipientes de plástico cheio até a borda de lasanha ou assados, com acompanhamentos e vários tipos de sobremesa. Sempre faziam questão de frisar que tinham usado frango no lugar da carne vermelha para garantir que Justin comesse.

Eram especialmente boas com suas filhas. No começo, abraçavam as meninas quando elas choravam e Christine se apegou muito a Mia, que fazia tranças no cabelo dela, ajudava a fazer pulseiras de miçangas e costumava passar pelo menos meia hora jogando bola com Christine. Lisa, por sua vez, era mais próxima de Megan. Coloriam desenhos na mesa da cozinha ou ficavam assistindo á televisão.

Louíse, por sua vez, era a que fazia as meninas entenderem que, mesmo estando tristes e chateadas, ainda tinham responsabilidades: arrumar os quartos, lições de casa e lavar os pratos sujos na pia. Com a presença das amigas e da mãe dele e de Selena que revezavam em vir em todas as tardes e a maioria dos fins de semana, Justin poucas vezes ficava sozinho com as filhas.

                                   

 

Ao lado de Selena, Justin olhou para o relógio. Eram quase duas e meia da tarde e ele deveria se preparar para se despedir da esposa para estar em casa quando as meninas chegassem da escola. Tinha uma reunião mais tarde com o neurologista e o administrador do hospital. Sabia do que se tratava e não tinha dúvidas de que os dois se mostrariam totalmente solidários, cheios de observações moderadas e tranquilizadores. O neurologista ia dizer que Selena teria que ser transferida para uma casa de saúde, já que o hospital não podia fazer mais nada. Explicaria que a situação dela era estável, os riscos eram mínimos e haveria um médico para examiná-la semanalmente. O que não percebiam era que a decisão não era assim tão simples. Abaixo da superfície subjazia a realidade de que, enquanto Selena estivesse no hospital, podia-se supor que acordasse logo. Precisavam de médicos e enfermeiras por perto para monitorar mudanças que indicassem melhoras que eles sabiam que logo iriam surgir. Em uma casa de saúde, previa-se que Selena nunca mais despertaria. Justin não estava preparado para aceitar isso, mas parecia não haver alternativa. Mas Selena tinha uma escolha e a decisão de Justin não se basearia no que o neurologista ou o administrador dissesse. Ele basearia sua decisão no que Selena iria querer.

Do outro lado da janela o pombo tinha ido embora e Justin ficou imaginando se ele visitava outros pacientes, como um médico. Se outros notavam o pombo como ele?

- Desculpe ter chorado mais cedo -  sussurrou Justin. Olhando para Selena, via o peito dela subir e descer a cada respiração. - Não consegui evitar.

Não tinha ilusão de ouvir a voz dela agora. Só acontecia uma vez por dia.

- Sabe uma coisa de que eu gosto em voce? Além de quase tudo? - Forçou um sorriso. - O jeito que voce age com a Esther. A propósito, ela está bem. Eu adorava ver voce rindo quando perseguia ela em círculos tentando bater na bunda dela. Ela ficava louca quando voce fazia isso, com um brilho nos olhos e a língua de fora.

Fez uma pensa, notando com surpresa que o pombo havia voltado. Ele deve gostar de me ouvir.

- A propósito, foi por isso que soube que voce seria ótima com crianças. Pelo jeito que se dava bem com Esther... - Balançou a cabeça, retornando ao passado. - Quando vi como voce era com Esther, todo seu amor e atenção, com tantas preocupações, e que ninguém no mundo se atrevesse a mexer com ela, soube que voce seria exatamente igual com nossas crianças.

Passou um dedo pelo braço dela.

- Sabe quanto isso foi importante para mim? Saber quanto voce ama nossas filhas? Voce não faz ideia da alegria que isso me proporcionou todos esses anos.

Chegou o rosto mais perto do dela.

- Eu amo voce, Selena, mais do que poderá saber. Voce é tudo o que eu quis numa mulher. Voce é toda a esperança e todos os sonhos que já tive, e me fez mais feliz do que qualquer homem seria capaz de ser. Eu não quero abrir mão disso. Não posso. Voce consegue entender isso? - Justin esperou por uma resposta, mas nada aconteceu. Nunca acontecia nada, como se Deus estivesse dizendo que o amor que ele sentia não era suficiente. - Por favor - murmurou - Voce precisa acordar, querida. Por favor? - falou chorando - Nosso tempo está se esgotando.

 

 

 



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