Demoramos um tempo considerável até chegar. — Nós saímos de Lima, e agora estamos em Columbus, ainda em Ohio.
Mais uma meia hora até chegarmos ao meu destino. — O lugar parece mais uma mansão, ou um colégio interno. Bem na entrada tem uma placa dizendo: “ABRIGO DE PUNHO MILITAR”. — Um abrigo militar? Sério isso?
— Sempre achei que os abrigos fossem pequenas casas onde todos se matam. — digo.
— Aqui é diferente. — ela diz. — Uma pessoa especial pediu para te trazer para cá. — ela então me entrega uma carta assim que o carro para. — Leia quando estiver abrigado.
— O que eu faço agora? — pergunto. — Espero? Eu nem falei com meus amigos.
— Boa sorte, Jeff.
Ela me deixa na entrada do abrigo e o carro acelera. — A porta se abre e um homem de quase dois metros me recepciona, ele pega minhas malas e me puxa para dentro.
— Bem vindo ao inferno Jeff Johnson! — ele me recepciona de forma não tão amigável.
Não entendo o que estou fazendo aqui. — Qual o motivo de eu vir parar em um abrigo em Columbus?
— Esse cabelo. — ele diz. — Vai ter cortar.
— Nem ouse tocar em mim. — digo de forma tão agressiva que ele simplesmente me dá um tapa no rosto. — O que acha que está fazendo?
— O que você acha que está fazendo? — ele pergunta. — Você não está mais em casa, a partir de agora, eu vou te ensinar a ser um homem de verdade, para que possa viver nesse mundo.
Isso é ridículo, isso é inaceitável. — Eu não quero ficar aqui! — Ele então me apresenta o lugar, que é inacreditavelmente grande. — Como um lugar desses virou um abrigo de adoção? — Ele me mostrou a cozinha, os salões. — Mesmo com tantos cômodos, existem apenas dois banheiros aqui, um coletivo para todos os “internos”, e o outro para os que trabalham aqui. — Por fim ele me leva ao meu quarto. — Aqui é um abrigo de adoção militar, ou seja, a maioria dos jovens daqui perderam os pais que lutavam pelo exercito e não tem mais família. Eu por algum motivo fui trazido para cá, mesmo não sendo filho de soldados. — O abrigo só tem homens, para ser mais exato comigo aqui estamos em onze “internos”. — O quarto que estou, tem mais três pessoas. No quarto tem dois beliches, e só... Um cômodo enorme com apenas duas beliches. — É extremamente estranho e desconfortável.
— Isso é sério? — pergunto parecendo irônico. — Só tem duas camas aqui? Já viu o tamanho desse quarto? E por que tem uma porta trancada ali?
— Era um banheiro. — ele diz.
— Era?
— Sim, não precisam de banheiro privativo. — ele diz.
Ele então joga minhas coisas na parte de cima do beliche do canto direito do quarto. — A iluminação daqui é tão ruim que me sinto em uma caverna.
— Regra um. — ele começa. — O café da manhã é as seis, e vocês fazem o café. Regra dois, nada de sair da casa, regra três nada de telefones. — ele então pega o celular do meu bolso. — Regra quatro ninguém é melhor do que ninguém aqui, mesmo que um de vocês seja um modelo conhecido.
— Isso não vai durar muito tempo. — digo debochado. — Eu já tenho quase dezoito.
O homem então sai do quarto e me deixa sozinho com meus novos três colegas de quarto. — Isso é injusto, eu não tive tempo de falar com ninguém... Robert, Lucy, Max... Eu preciso avisar a alguém o que está acontecendo comigo, pelo menos para que me ajudem a descobrir onde está minha irmã.
— Ei bonitão. — o jovem da cama debaixo do beliche em que estou me chama assim que subo a cama. — Não vai achando que só...
— Cala a boca! — o interrompo.
— Com quem você acha que...
— Cala a boca! — então grito o fazendo recuar. — Não se atreva a chegar perto de mim, a tocar em mim a dirigir uma só palavra a mim... Eu não vou ficar aqui muito tempo. — digo me deitando na cama.
Então me lembro da carta que Carmem, a assistente social, me entregou. — Pego-a no bolso e a abro.
“Você deve estar se perguntando o que está acontecendo não é? Pois bem! Como você e seus amigos já acabaram com a brincadeira da G.T, não tive tempo de dar a você o seu próprio desafio, então mesmo que a aventura tenha acabado aqui vai o seu jogo. Você está agora em um abrigo, uma casa de adoção, seu pai está preso e você não tem mais nenhuma família a quem recorrer, e agora? Não encare isso como uma coisa ruim, sabe o motivo de eu ter escolhido um lar militar? É que aqui você será capaz de voltar a ser um homem, e esquecer de uma vez por todas o Maximilian Miller... Beijinhos, mamãe!”.
Isso só pode ser brincadeira! Jéssica foi a pessoa que fez a denuncia a assistência social? Minha própria mãe me jogou em um abrigo para crianças órfãs e abandonadas? — Ela realmente acredita que me deixando aqui eu irei esquecer o Miller? — Isso é ridículo, ridículo demais, eu definitivamente preciso sair desse lugar o quanto antes. — Preciso descobrir onde está a minha irmã, preciso ajuda-la.
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POV NARRADOR
Sentado na sala de estar de sua casa está Matthew K.P Jones, ele está focado na leitura de uns papeis, até que a campainha toca. — Ele mesmo se levanta e corre para a porta, e assim que abre vê Jenny e seu advogado.
— Jenny! — ele diz aliviado a levantando em um abraço.
— Eu fiquei assustada. — ela então chora. — Eles me levaram a força. — ela insiste em chorar.
— Acabou agora acabou. — Matthew afirma. — Ninguém vai mais tirar você de mim, ouviu?
— Promete?
— Prometo. — ele então abre um sorriso tão brilhante que a faz se acalmar. — Agora vai, coloca as suas coisas no quarto.
Jenny sobe sorridente.
— E então? — o advogado pergunta a Matthew. — Tem certeza que quer fazer isso?
— Jéssica pode ter me enganado de diversas formas, mas eu me apeguei a essa criança, eu não posso deixar que a levassem sabe-se lá pra onde.
— E quanto ao outro? — ele pergunta. — O irmão.
— Eu já estou dando um jeito nisso. — Matthew então pega os papeis que estava revisando. — Vou agora falar com aquele homem, é pelo bem dos dois.
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POV JEFF
Volto para o quarto após o banho, e vejo aquele mesmo rapaz que falara antes comigo mexendo nas minhas coisas.
— O que está fazendo? — pergunto o empurrando.
Ele então levanta uma foto. — A foto que Max e eu tiramos juntos na cabine de fotos no festival do ano passado.
— Jeff Johnson, o modelo bonitão. — ele então sorri. — É gay!
Estou apenas enrolado na toalha, e ele está me encarando de uma forma que me deixa desconfortável. — Eu quero muito soca-lo!
— Me devolve isso. — peço.
— Qual foi? — ele pergunta debochado. — Aposto que debaixo dessa toalha você está todo animado não está?
Ele então se aproxima de mim.
— Eu te deixo excitado? — ele pergunta em sussurros.
— Cala a boca! — grito.
Em um ato de fúria o jogo no chão e começo a espancá-lo.
— O que está acontecendo aqui? — o mesmo homem que me recepcionou nesse lugar nos flagra.
Nesse mesmo momento todos os outros jovens aparecem, e sou tirado de cima daquele babaca.
— Levem ele pro quarto preto. — o homem diz.
— Ele está sem roupas senhor.
— Faça o que eu mandei!
Sou arrastado pelo corredor, e por mais que eu seja forte, meus esforços são em vão. — Sou trazido então para uma parte que até então não tinha visto aqui, uma pequena porta é aberta e sou jogado para dentro, a porta então se fecha.
— Que brincadeira é essa? — pergunto em gritos.
— Solitária. — alguém diz. — Ficará aqui até entender o que fez de errado.
— Aquele babaca me chamou de gay!
— E isso justifica quase mata-lo?
As vozes de repente somem. E por mais que eu grite e bata na porta ninguém aparece. — Que diabos de lugar é esse? — Está muito escuro, eu quase não vejo nada, tudo que vejo são os feixes de luz vindo do teto. — Estou nu e está frio. — Que merda de lugar é esse que vim parar?
Realmente acreditei que ficaria dentro desse buraco escuro por alguns minutos, no máximo algumas horas, mas pela movimentação, e a iluminação precária desse lugar, tenho quase certeza de que já amanheceu. — Dois meses... Pareceu tão pouco enquanto eu conversava com a assistente social. — A porta então se abre. — Um jovem de aproximadamente dezesseis ou dezessete, acho que tem a minha altura. Seus cabelos são pretos e estão cortados em estilo militar, seus olhos são puxados e pretos, acho que deve ter descendência japonesa. Ele é musculoso e definido, porém seu rosto é delicado, mas ao mesmo tempo sombrio. Como se estivesse escondendo uma grande dor. — Ele está segurando nas mãos um cobertor e um prato de comida.
— Quem é você? — pergunto me encolhendo na parede.
Ele joga o cobertor para mim e coloca o prato de comida no chão. — Quem é ele? — Ele então tranca a porta por dentro, acende uma daquelas lanternas com suportes para velas. — Nem tinha notado que ele estava com isso em mãos.
— Coma antes que esfrie. — ele sugere. — A comida aqui já não é boa, fria fica pior ainda.
A voz dele não é grave, o que me causa estranheza. — Pelo seu porte achei que sua voz seria tão grave quanto a minha, porém ele tem a voz suave, me lembra um pouco a voz do Robert.
— Por que está fazendo isso? — pergunto desconfiado. — Alguém te mandou aqui?
— Rumm! Se perceberem que sumi é bem capaz de eu ficar aqui te fazendo companhia, agora coma logo. — ele me apressa. — E vê se cobre isso ai, ninguém é obrigado a te ver pelado.
Não tenho o que pensar. — Estou morrendo de fome. — Ataco a comida sem nem uma pausa. — Percebo ele me encarar com um olhar estranho.
— O que foi? — pergunto de boca cheia.
— Nada. — ele sorri virando o rosto. — Apenas acabe logo.
Assim que termino de comer ele destranca a porta e espia.
— Não sei até quando ficará preso aqui, então não se preocupe, eu volto. — digo.
— Isso é sério? — pergunto. — Eu tenho que sair daqui, eu tenho que ir para a escola.
— Em Lima? — ele pergunta. — Muito difícil
Ele ameaça sair do quarto escuro, mas hesita.
— Se cubra logo, vai acabar pegando um resfriado.
Cubro-me com o cobertor que me deu.
— Obrigado. — agradeço intimidado.
Ele então sai e me tranca aqui novamente. — Eu não vou suportar isso por muito tempo, eu preciso dar um jeito de sair desse lugar, eu preciso dar um jeito de falar com meus amigos. — Amigos... É engraçado como consigo falar isso com mais natureza agora.
Quando finalmente pego no sono a porta é destrancada. — Jogo o cobertor para o lado mais escuro e fico encolhido em posição fetal no outro canto. — Aquele mesmo homem que me recepcionou quando cheguei aqui está na porta me encarando.
— Você não está em casa, e muito menos em um abrigo qualquer. — ele diz me intimidando.
— Ele me chamou de...
— Não me interrompa! — ele então grita. — Dentro dessa casa todos vocês são irmãos, até que completem dezoito anos e caiam fora daqui, ou se desejar aos dezoito se alistar, ou... Se por um milagre alguém ainda quiser algum de vocês e os adotar.
— Eu tenho uma família. — digo o desafiando. — Eu tenho um pai e uma irmã.
— Uma irmã que está em uma casa adotiva, e um pai que passará o resto da vida na cadeia por matar um homem.
Fico em silencio, não por não ter uma resposta, mas só em pensar em ser adotado. — Até ontem tudo estava “normal” pra mim, como tudo acabou desse jeito de uma hora para outra? Jéssica, minha própria mãe, como ela tem coragem?
— Vá tomar um banho e se arrume. — ele diz agora de forma mais gentil. — O carro da assistência social está aqui.
— Para onde eu vou? — pergunto assustado.
— Sei lá, falaram algo de uma prova de S.A.T. — ele diz saindo e deixando a porta aberta.
Era só o que me faltava! Com tudo isso que aconteceu como alguém para pra pensar na bendita prova que definirá o futuro acadêmico de nossas vidas. — Pelo menos terei a chance, por menor que seja de voltar à Lima e me comunicar com meus amigos, preciso que eles me ajudem.
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POV NARRADOR
Seus cabelos pretos são soprados pelo vento úmido que entra pela janela aberta do quarto. — O quarto está completamente vazio, mas ele sabe que se acender a luz, a luz negra revelará o diário de seu pai. — Os olhos de Robert estão cheios de lagrimas que ele se esforça para não derramar, ele já está arrumado e pronto para escola. — “Pronto”... Ele está usando seu moletom cinza, sua toca marrom, sua calça jeans e seu all star preto. — Sentado no centro do quarto, o jovem está perdido em pensamentos.
— Acordado tão cedo? — Melissa pergunta entrando.
Sua irmã está de malas feitas para voltar para a faculdade. Ela vai até ele, e se senta em seu lado.
— Ele estava vivo esses anos todos. — Robert finalmente fala. — Por quê? Porque ele não veio até a gente?
— Eu não entendo o papai. — Melissa diz. — Ele perdeu as melhores coisas das nossas vidas.
— Sério...
— Estou falando sério. — ela insiste. — Pra falar a verdade, eu acho que foi até bom eles nos deixar sozinhos.
— Bom? Nós quase não conseguimos fazer nada sozinhos, e não sobreviveríamos sem esse dinheiro que surge todo mês.
Melissa então tira a toca do seu irmão e acaricia seus cabelos.
— Ele perdeu de me levar ao baile. — ela sorri. — Perdeu seu primeiro amor... Minha primeira desilusão... Perdeu seu primeiro beijo, a sua primeira vez.
— Eu entendo aonde você quer chegar. — ele diz em tom baixo. — Só que não consigo entender o motivo dele nunca ter voltado.
— Chega! — Melissa grita o assustando.
Ela se levanta e o puxa pelo moletom.
— Para irmã, está me machucando.
— Você está sofrendo, até mais que eu... Já que nosso pai foi aquele que perseguiu você e seus amigos durante esses meses e você o viu ser morto, o pegou nos braços, mas eu não vou deixar que acabe com sua vida por causa daquele homem.
— Eu não vou acabar com minha vida, o que acha que vou fazer? Me matar?
— Sei lá...
— Além do mais, tem aquela outra história. — ele diz fazendo Melissa o soltar. — O Max é nosso meio irmão.
Os dois ficam em silêncio por alguns segundos, até Melissa abrir um sorriso.
— Sempre quis ter mais alguém. — ela sorri. — Mas queria que fosse uma irmã.
— Não deixa de ser. — Robert brinca.
— Preconceituoso. — ela bate na cabeça dele. — Você agora ganhou um irmão mais novo, acho que você deveria conversar com ele.
— É o que eu vou fazer. — ele diz passando a mão no local onde ela bateu. — Ele ainda está no hospital, depois daquela crise doida que ele deu... Nosso pai bateu nele, e raspou os cabelos dele.
— Você não tem culpa disso. — ela diz. — Vocês além de tudo isso continuam a ser amigos, e nada vai mudar isso, não é?
— Irmão. — ele repete um tanto orgulhoso. — Pelo menos uma coisa boa saiu de tudo isso... Eu sempre o vi como um irmão.
— Tá chega de falatório. — ela o puxa. — Vamos que você tem aquela bendita prova que eu não te vi estudar nenhum dia.
— Você não para em casa como vai me ver estudar? — Robert protesta. — Pergunta a Anna, ela me viu estudar um dia.
— Por falar nisso a Anna foi embora. — Melissa conta. — Ela voltou para o alojamento da faculdade.
— Será que a Lucy vai hoje? — Robert pergunta descendo as escadas.
— Não seja ridículo. — ela reclama. — Para de correr atrás daquela loira barriguda!
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POV JEFF
São 08h30min da manhã, hoje é doze de maio de dois mil e quinze, terça-feira. — A chuva está caindo forte. — Chegamos a Lima, e não demorou muito até chegarmos à escola. — Acho que nunca fiquei tão feliz de ler aquela placa “Sylvester Preparation High School”.
— Pode me deixar aqui. — digo. — Tenho que dizer a hora pra vir me buscar...
— Eu irei com você — o motorista diz.
— O que?
— Não vou deixar você sozinho. — ele insiste. — As regras foram claras, continuará assistindo suas aulas aqui até que termine o período letivo, mas com minha supervisão.
— Ótimo! Ganhei uma babá. — digo abrindo a porta do carro.
Corro para a escola e sou seguido pelo armário em forma de homem.
— Jeff?! — vejo Bella correr até mim, ela me abraça e me beija. — Que susto você sumiu ontem.
Olho para trás e vejo que o meu “guarda-costas” não está mais me seguindo. — Será que ele resolveu confiar em mim e esperar lá fora?
— Lucy, Max, Robert... Algum deles? — pergunto apressado.
— Nossa, estou...
— Bella, por favor, responde.
— Não! — ela grita irritada. — Nenhum dos três chegarem, nem vieram ontem também, mas acho que vi a Sarah ainda agora.
— Sarah.
Sarah? Eu não me dou bem com ela, mas eu não tenho escolha eu preciso falar com alguém, e se só sobrou ela, que assim seja.
Procuro-a por quase todos os cantos da escola. — Os boatos por aqui sobre o que aconteceu estão me mencionando mais do que nunca, já que dá última vez que o Miller foi sequestrado eu o salvei, e praticamente o mesmo aconteceu agora. — Por fim a encontro, ela está sozinha dentro da sala de química. Está usando roupas normais, e seus cabelos castanhos estão soltos.
— Sarah? — chamo.
Ela então me olha. — Seu olhar ainda está assustado, seu rosto ainda está um pouco machucado. — Por mais que eu não goste dela, eu não acredito que alguém teria coragem de fazer isso com ela.
— Não sabia se viria. — ela fala. — Não sabia se nenhum de vocês viria.
— Eu estou aqui. — digo me sentando no banco em sua frente. — Como está?
Sarah hesita em falar.
— A primeira noite foi horrível. — ela finalmente fala. — Foi como reviver tudo aquilo, ontem eu acordei e tentei sair de casa, mas eu não consegui.
— Mas você está aqui hoje. — digo. — O que mudou?
— Eu não posso me esconder pra sempre. — ela diz. — Afinal, acabou não é?
Eu gostaria muito de dizer que sim, mas agora que sei que Jéssica é a verdadeira G.T, eu não tenho mais certeza de nada.
— Sarah, eu sei que do grupo nós dois somos os menos íntimos um do outro, mas... Eu peço que por uns segundos tente esquecer o que aconteceu com você, eu preciso de ajuda.
Ela me olha realmente intrigada, não sei se por eu ter dito essas coisas ou por finalmente ter abaixado a guarda em sua presença.
— O que aconteceu? — ela pergunta assustada.
— Eu fui tirado de casa. — revelo. — Foi a última jogada da G.T, fui denunciado pela assistência social, agora eu estou em um abrigo.
— Jeff eu sinto muito. — ela diz confusa. — O que eu posso fazer?
— Por mim nada. — digo. — É minha irmã, eu preciso descobrir para onde ela foi levada.
— Jenny? — ela pergunta confusa. — Jenny está com Matthew. — ela conta.
— Com o Matthew?
— Sim, eu os vi hoje antes de vir à escola, acho que eles estavam procurando por você.
Então Matthew não fugiu quando minha mãe desapareceu. Ele realmente está ajudando a minha irmã. — Isso é um alivio.
— Onde você está? — ela pergunta. — É perto daqui?
— Columbus. — conto. — Um abrigo militar.
— Columbus?! — ela exclama confusa. — Eu vou contar aos outros, certamente daremos um jeito.
— Eu agradeço, mas não vai adiantar nada. — digo desanimado. — Não é algo que a união de todo mundo vai fazer a diferença... Meu pai está preso por assassinato e eu não tenho mais ninguém.
— Então é isso? Vai desistir?
— Saber que a Jenny está a salvo com o Matthew me deixa mais tranquilo. — conto. — Vai ser mais fácil superar aquele inferno sabendo que ela está bem, além do mais vai ser só por dois meses, até eu fazer dezoito.
O sinal toca de repente, nos assustando.
— Tenho que ir, tenho o maldito S.A.T para fazer.
— Boa sorte. — ela força um sorriso.
Saio da sala apressado e vejo uma fila se formando em frente à sala 3B. — Vejo Jasper e Robert no fim da fila.
— Jeff! — Robert me chama. — Como está?
— Indo. — digo vagamente. — E você? Como está?
— Indo também. — Robert diz.
— Sério? — Jasper nos interrompe. — Deveríamos ser isentos de fazer a prova, somos heróis.
Robert e eu sorrimos. — Eu esperava esse comentário do Robert, não do Jasper.
— Se eu for mal nessa prova e tiver que trabalhar em uma lanchonete para resto da minha vida só por...
— Próximo! — o coordenador chama Jasper.
Noto o olhar distante de Robert.
— Relaxa cara. — digo dando tapinhas em suas costas. — Tudo vai voltar a ser como era antes.
— Espero que sim.
Entramos na sala e foi visível o olhar de todos para nós três. — Isso consegue ser mais irritante do que da última vez. — Nos sentamos. Vejo que Louise e Patrick já estão aqui. — Patrick... Ele que entregou aqueles arquivos para a polícia, poderia ele saber onde minha mãe está? E se souber ele estaria desposto a me ajudar?
— Silêncio! — o coordenador entra na sala. — A partir de agora vocês estarão dando o primeiro passo rumo ao futuro de vocês. Boa sorte!
Que assim seja.
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POV NARRADOR
Matthew está sentado na sala de interrogatório da delegacia, esperando, até que a porta finalmente se abre e o guarda trás Yan algemado.
— Que brincadeira é essa? — Yan pergunta. — O que está fazendo aqui?
— Eu não vim brigar. — Matthew afirma. — Vim para mostrar isso.
Matthew então mostra uns papeis para Yan, que finalmente se senta. — Yan folheia as paginas e olha confusa para o outro.
— Não entendi isso é...
— Jéssica fugiu, e abandou Jenny e Jeff novamente. — Matthew revela. — Jeff foi mandado para um abrigo militar em Columbus, e eu consegui a guarda provisória da Jenny.
— Aquela maldita. — Yan grita. — O que você quer?
— Antes de ir, Jéssica me entregou isso. — ele então aponta para os papeis que estão com Yan. — Ela assinou isso antes de ir, ai ela abre mão da guarda dos filhos e os entrega para mim.
— O que? — Yan pergunta sorrindo. — Que ridículo, são meus filhos.
— Ninguém disse o contrario. — Matthew não tira sua razão. — Acontece que ai Jéssica revela que eu sou o pai biológico da Jenny.
Yan então olha enfurecido para Matthew, mas se contém.
— Como?
— Eu sou um antigo colega de classe da Jéssica, e nos reencontramos em uma festa de reencontro da escola, muito provavelmente...
— Chega. — Yan o interrompe. — Faça como quiser, tome a Jenny de mim, ela é sua afinal.
— Acontece que o acordo assinado por Jéssica só me permite adotar legalmente a Jenny, se o Jeff também for adotado. — Matthew conta.
— Jeff é o meu filho. — Yan grita.
— Você vai passar anos da sua vida preso aqui, podendo ficar aqui pra sempre, eu só quero garantir um futuro digno para os seus filhos, para a minha filha e o seu filho.
— E porque faria isso? Você é um ator, famoso o que ganharia com isso? Mais dinheiro? Mais repercussão?
— Eu dei um trabalho para o seu filho, e eu dei uma casa para sua filha, eu me apeguei a essas crianças, então me deixa ajuda-las antes que a vida as destrua.
— Eles são meus filhos! — Yan insiste.
— E continuarão a ser. — Matthew afirma. — Eles apenas estarão sob a minha proteção.
Yan então chora.
— Eu não queria nada disso, eu amo aqueles garotos, eu amo meus filhos. — ele enxuga as lagrimas.
Matthew faz um sinal para o guarda, que abre a porta para que o advogado de Matthew entre.
— Sr. Johnson, o senhor não irá perder os seus direitos como pai biológico de Jeff Johnson. — o advogado diz. — Ao assinar isso, concordará em passar a guarda dele para o meu cliente, para que ele possa cuidar e proteger o seu filho, dando a ele uma base e uma família.
Yan simplesmente, pega a caneta e assina os papeis.
— Seja um pai melhor do que eu pude ser. — Yan se levanta.
Matthew também se levanta.
— Ele tem corpo, ele tem idade, mas ele é só uma criança confusa. — Yan abre um leve sorriso. — Proteja meu garoto
O guarda entra e leva Yan.
— E agora? — Matthew pergunta.
— Agora deixa comigo, farei isso o mais rápido possível.
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POV JEFF
Logo após o termino da prova o meu “guarda-costas” reapareceu, e praticamente me arrastou junto a ele. — Nem tive tempo de me despedir adequadamente dos meus amigos, mas pelo menos agora o Robert, Jasper e a Sarah sabem onde estou. — Espero que contem ao Miller e a Lucy, pelo menos saberão que não fugi. — A viagem de volta para o abrigo em Columbus foi mais cansativa do que a primeira. — Não sei se pelo fato da prova ter exigido demais de mim, mas me sinto exausto.
— Tente não arrumar confusão. — o homem diz assim que entramos. — Vá para o seu quarto até que esteja na hora de suas obrigações.
— Sim senhor. — digo em tom de deboche.
Subo as escadas e assim que chego ao corredor vejo os outros “internos” me encarando.
— Qual foi? — pergunto de forma intimidadora.
Eles fogem de mim, me fazendo abrir um sorriso. — Tinha esquecido como é legal amedrontar os outros. — Entro no quarto e dou de cara com dois dos meus colegas de quarto. — E por coincidência, aquele cara que me levou comida hoje durante a madrugada é meu colega de quarto. — E aquele que bati também está aqui.
— Não tinha mais um? — pergunto.
— Adotado. — o que me ajudou fala. — Famílias gostam de um pré-adolescente, ele devia ter quase dez eu acho.
— E nós ficaremos aqui até fazermos dezoito, porque ninguém quer adotar um adolescente quase adulto.
Aquele rapaz que bati se levanta da cama e sai do quarto.
— Sentimental. — debocho subindo na parte de cima do beliche.
Só estamos nós dois dentro do quarto. — Já mencionei como isso é desconfortável não é? Esse quarto é enorme, e só têm dois beliches aqui, para agora três pessoas. — Ele também está deitado na cama de cima do beliche.
— Obrigado pelo que fez por mim. — digo ainda deitado.
Noto que ele se senta na cama e fica me encarando. — Ele está sem camisa exibindo seu corpo definido e suado. — Acho que ele estava malhando. — É tão desconfortável o jeito que ele me olha.
— Acabou que conseguiu ir à escola. — ele diz.
— Sim. — abro um leve sorriso. — Nunca pensei em dizer isso, mas senti falta daquele lugar.
— Jeff Johnson, modelo e agora órfão...
— Eu não sou órfão. — corrijo. — Eu tenho um pai e uma mãe. Só que meu pai matou um cara e minha mãe me jogou aqui, minha família é um doce de família... Deveríamos fazer um comercial de margarina.
Ele sorri. — Sento-me na cama.
— Não que pareça se importar... Mas me chamo Nicholas Jackson. — ele se apresenta me fazendo sorrir.
— Foi mal, com tudo isso acontecendo à última coisa que eu iria pensar é qual é o seu nome. — digo de forma tão grosseira que até eu me senti mal. — Foi mal... Só estou estressado com isso tudo.
— Não tem problema. — ele então aponta para mim. — Não pude deixar de perceber que você malha, vai entrar para o exercito?
— Eu não. — digo tão rápido que acho que gritei. — Eu sou o zagueiro do time de futebol americano da minha escola.
Nicholas sorri e volta a deitar.
— Por que fez aquilo? — pergunto curioso. — Me ajudar.
Ele permanece em silencio, mas o quebra assim que jogo o travesseiro nele.
— Costumava ser eu lá dentro antes de você chegar. — ele diz. — Não estou aqui há muito tempo, para falar a verdade na semana que vem eu já saio daqui.
— Sorte sua. — digo com certa inveja na fala.
— Meu pai era um soldado ele morreu em serviço. — Nicholas conta. — Minha mãe começou a beber e um dia tacou fogo na casa comigo dentro.
— Acho que nossas mães se dariam muito bem. — brinco.
— A questão é que uma tia minha descobriu que estou aqui e está tentando pegar minha guarda, ela conseguiu uns papeis, mas provavelmente eu deva sair daqui lá pra semana que vem.
— Boa sorte lá fora. — digo.
— Hey! Quantos anos têm? — ele pergunta.
— Dezessete.
— Eu também. — ele então pula da cama. — Eu vou tomar um banho.
— Também vou. — digo pulando da cama. — Aquela bendita prova acabou comigo.
Como aquele homem disse ontem, o banheiro aqui é coletivo, ou seja, todos tomam banho juntos. — Nojento. — Nicholas e eu vamos para os chuveiros.
— As toalhas estão ali. — Nicholas aponta para um armário de madeira. — Pode pegar uma pra mim também?
Vou até o armário e pego as toalhas, quando me viro já o vejo nu debaixo do chuveiro. — Mas que sensação desconfortável é essa?
— Você não vem? — ele pergunta.
Não consigo tirar os olhos dele. — O que está acontecendo comigo? — Sinto então minha calça apertar, olho para baixo e me vejo excitado.
— Err... Lembrei que eu tinha que entregar uma coisa ali, e eu... Eu volto depois. — digo saindo apressado do banheiro.
Corro de volta para o quarto, subo em minha cama e coloco minha cabeça debaixo do travesseiro. — O que diabos foi isso? Eu fiquei excitado por outro cara? — Quero dizer, eu sabia que eu ficava assim com o Miller, mas achei que fosse só com ele. — Merda! A imagem do Nicholas no banho não sai da minha cabeça, que...
— Johnson! — a voz grave do meu “guarda-costas” me assusta.
Levanto o travesseiro e olho para ele.
— Visita!
— Visita? — pergunto confuso.
Desço curioso. — Visita? Será que Sarah contou para alguém que estou aqui? Ou será Jéssica que veio me atormentar. — Sou levado para a sala de estar, e me apavoro ao ver...
— Matthew! — grito assustado. — Jenny, o que aconteceu com ela.
— Fica calmo. — ele coloca as mãos em meu ombro. — Ela está em casa, ela está bem.
Respiro, aliviado. Nos sentamos no sofá, e ele parece apreensivo com alguma coisa.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto confuso.
— Antes de tudo... Como você está? — ele pergunta.
— Não que te interesse você nunca se importou comigo antes.
— Isso não é verdade. — ele diz irritado. — Eu nunca fui a favor do que Jéssica fez com você e o seu companheiro.
Sinto um nó na garganta ao ouvir isso.
— Companheiro. — repito em sussurros.
— Eu não vim para discutirmos, eu vim aqui para te avisar que vou te tirar daqui. — ele diz me surpreendendo.
— Oi? Como assim?
Ele me mostra uma carta, e na carta revela que Matthew é o pai biológico de Jenny.
— Você é o pai dela! — digo surpreso. — Está explicado porque ela foi até você.
— Eu não tenho muito tempo, tenho que ir ao fórum e...
— Você vai pegar a guarda da Jenny?
Matthew hesita em falar, mas finalmente revela.
— Jeff eu vou adotar vocês dois. — ele diz me deixando em choque.
— O que? — pergunto forçando um riso. — Como assim? Eu tenho um pai e uma mãe, eu entendo que por ser pai da Jenny você queira fazer isso, mas...
— Seus pais assinaram um documento que já foi oficializado, os dois abriram mão da sua guarda para mim.
O que? Jéssica fazer isso eu até entendo, já que ela é uma psicopata maluca, mas o meu pai?
— Não. — recuso. — Eu não quero isso, eu tenho o meu pai, e por pior que ele seja...
— Ele vai ficar na cadeia por muito tempo e ele sabe disso, ele só concordou em assinar isso, pois sabe que você vai ficar perto da Jenny, sabe que eu vou garantir a você o melhor futuro possível.
— Isso é ridículo. — então choro. — Eu não posso ter um novo pai, eu tenho um pai. E mesmo que ele não me queira e não me aceite, daqui a dois meses eu faço dezoito então qual será o sentido de você me adotar?
— Você terá uma família! — ele diz. — Um lugar para retornar quando as coisas não estiverem boas, pessoas que te amam e te apoiam independentemente de tudo... Você terá a sua irmã, e a mim que por mais que pareça que eu nunca dei importância a vocês, isso não é verdade, tanto que agora estou aqui arriscando tudo por vocês.
— Arriscando o que? — pergunto.
— Acabei de perder um contrato por não comparecer em uma reunião em Los Angeles.
— E porque não compareceu?
— Porque eu estava ocupado demais tentando encontrar você.
Sinto um aperto no peito. — Eu tenho um pai, e eu tenho uma mãe, eu vou fazer dezoito anos logo, e na minha cabeça não faz sentido eu ser adotado agora, mas ao mesmo tempo eu sei quão importante isso será, não só pra mim, mas para a Jenny também. — O que eu faço?
— Você não precisa dizer sim se não quiser, eu não estou te obrigando a me aceitar como um novo pai, ou a me chamar de pai. — ele afirma. — Eu só quero garantir a você um futuro descente que sua mãe tirou de você e da sua irmã.
— Isso é confuso demais. — digo atordoado. — Tá tudo acontecendo tão rápido eu...
— A audiência vai acontecer daqui a uma semana, não se decida agora, pense... E na hora você decide o que é melhor para você.
Matthew se levanta, acompanho-o até a porta.
— Por favor, cuide da Jenny. — peço assim que ele abre a porta.
— Não precisa pedir. — ele diz.
Matthew sai da casa. — Subo as escadas com certa pressa e volto para o quarto, onde Nicholas já está ainda enrolado na toalha.
— Que cara é essa? — ele pergunta confuso. — Aconteceu alguma coisa?
Sento-me na cama debaixo do beliche em que durmo. Nicholas vem até mim e se senta do meu lado.
— Meu padrasto. — digo confuso. — O marido, namorado, noivo sei lá... Da minha mãe, ele é o verdadeiro pai da minha irmã.
— Você tem uma irmã. — ele diz sorridente.
— Ele quer nos adotar. — revelo. — Ele quer nos adotar. — repito.
— Isso é ótimo. — Nicholas se levanta animado.
— Eu não entendo, por que meus pais fariam isso comigo? Eles me odeiam tanto assim, é tão vergonhoso o fato de eu poder ser... — olho então para os olhos de Nicholas fixos em mim.
— “É tão vergonhoso o fato de eu poder ser...”. — ele repete esperando uma conclusão. — Você é engraçado, você não é honesto consigo mesmo.
Nicholas se levanta e eu me levanto junto.
— Você quer ser adotado, pois tem medo de ficar sozinho. — ele diz como se tivesse lendo através de mim. — E você tem vergonha de ser o que você é.
— E o que eu sou? — pergunto confuso. — Não venha você querer me dizer que...
Suas mãos geladas de repente tocam meu rosto, e antes que eu possa reagir, nossos lábios se tocam. — Ele me beija. — Sinto cada parte do meu corpo estremecer.
— Seja mais honesto consigo mesmo, e será bem mais feliz. — Nicholas diz em sussurros.
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