História The Contract - Zayn

A luz da manhã banhou todo o quarto. Ultrapassando as cortinas brancas, quase transparentes. Hannah olhou em volta com a visão ainda embaçada e por um instante teve a sensação nostálgica de ter 14 anos outra vez. Algumas lembranças se passaram rapidamente em sua cabeça. A garota levantou rapidamente e coçou os olhos. Percebeu que o rapaz que a pagara para passar a noite estava deitado ao seu  lado descamisado. Ela analisou suas costas nuas, deslizou os dedos sobre sua pele e sentiu um arrepio percorrer o corpo. Assistiu sua respiração calma por alguns minutos sem perceber que o tempo passava. Hannah gostava de observar as pessoas em seus momentos mais vulneráveis, ela achava intrigante a sinceridade de um momento como aquele poderia mostrar, o quanto não havia falsidade, fingimento, interesses ou qualquer sentimento corrompido. Zayn abriu os olhos vagarosamente e quando se deu conta do carinho da menina levantou-se e afastou-se da mesma. 

-Já acordada? - Perguntou. 

-Dormi cedo essa noite. - Brincou. - Acho que não é justo cobrar pela noite, mas preciso pelo menos de grana pra ir embora. E do seu paletó emprestado. - Ela disse movendo o quadril. 

-É claro que eu vou pagar. - Zayn respondeu revirando os olhos. - Mas antes vou pedir algo para comer. 

-Não posso já é tarde. - Hannah disse encarando o relógio. - Preciso ir, tenho uma coisa importante para resolver.  

-Não dá tempo nem de comer? 

-Nunca dá - Ela retrucou. - pelo menos de resultado eu ganhei esse corpinho aqui. - Brincou. 

-Nossa, essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi. - Ele respondeu fazendo-a parar de rir. - Mas se você prefere ir, tudo bem. - Zayn retirou a carteira do bolso e entregou uma quantia considerável nas mãos da garota. 

-Isso é bem mais do que o que eu pedi. - Ela disse antes de pegar a quantia. 

-Nunca vi uma garota reclamar tanto por ser bem tratada. 

-Não estou reclamando – Retrucou. - Se quiser virar um cliente fixo eu aceito hein? - Brincou. 

-Vou te levar em casa, coloca isso. - Ele disse jogando o paletó no colo da garota.  Não fora um pedido.  

-Me deixa na boate, minhas roupas estão lá. 

Hannah vestiu a roupa rapidamente e os dois correram até o estacionamento. Sem trocar nenhuma palavra seguiram o caminho até a boate. Hannah desceu do carro meio desajeitada e Zayn repetiu a ação. Antes de entrarem no local conseguiram avistar Mariah do lado de fora com uma expressão preocupada e aliviada ao mesmo tempo.  

-Hannah! - Mariah disse correndo até eles. - Você precisa ir ao hospital.  

-Aconteceu alguma coisa com a Sue? - Ela perguntou expressando preocupação. 

-É a Petúnia. O doutor Will ligou para o seu celular e eu me atrevi a aten... - Antes que Mariah terminasse a frase Hannah puxou Zayn até o carro que foi sem se protestar. Ela entrou no mesmo sem pedir permissão. 

-Me leva no hospital. Rápido! 

Zayn deu partida sem protestos e em pouco tempo estavam no hospital. Tudo aconteceu tão rápido que ele nem conseguia pensar no que estava acontecendo, apenas seguiu a garota para onde ela foi. Ela o puxou pelo braço enquanto entravam no hospital, como se quisesse que ele estivesse lá. Uma pequena confusão se formava na recepção. Um médico e duas enfermeiras discutiam com certa paciência com uma mulher de aparência extravagante e cheiro de cigarros e bebida. Ela usava um vestido cor de limão que lhe apertavam o corpo de uma forma desconfortável. Seu cabelo perfeitamente penteado como a de uma colegial, ainda parecia jovial apesar de passar dos trinta. Apesar da confusão a cabeça de Zayn se focava nos pequenos detalhes da situação, como ele sempre fazia. Conseguia ver dos detalhes mais invisíveis, como uma lasca de tinta faltando na parede branca do hospital, até os mais notáveis como o paletó entreaberto de Hannah, os dois lados se uniam por apenas um botão que quase se soltavam toda vez que ela fazia um movimento brusco expressando sua raiva e angustia. Zayn desceu o olhar por dentro da roupa que passava dos joelhos no corpo dela e conseguiu imaginar as mãos desabotoando a lingerie preta. Seus desejos falavam contra seu corpo, contra seus instintos. Era uma das sensações mais estranhas, como se travasse uma batalha conta si mesmo, os desejos contra a razão. Uma razão estúpida e traumatizante que lhe perseguira durante toda a sua vida. A gritaria sem sentido finalmente começou a se arrumar e Zayn começou a entender melhor. 

-Ela vai ficar, Doutor Will. - Hannah disse por fim dando um suspiro.  

-Mal temos comido em casa e a Sue aqui, como uma princesinha. - A de vestido cor de limão disse  

-Cai fora, Petúnia! - A mais nova gritou. A mulher saiu e Zayn se permitiu aproximar-se da menina e do médico.  

-Obrigada por impedir, doutor Will.  

-Ela é a responsável legal da menina. Isso não pode ficar acontecendo sempre. - Ele disse. Hannah ouviu cabisbaixa. - Não tenho tempo para resolver essas confusões e lhe ligar o tempo inteiro. Existem outros pacientes de quem preciso cuidar.   

-Me desculpe  

-Não poderei impedir a responsável legal de Sue de buscá-la da próxima vez. Mas a assistência soci... 

-Doutor Will, sabe que eu cuido muito bem dela. Sabe que ela é minha vida. - Hannah disse interrompendo o médico.  

-Acha que isso é vida para uma garotinha especial como a  Sue? Ela merece ter seus poucos anos bem vividos. - O médico analisou Hannah dos pés a cabeça fazendo-a finalmente perceber os trajes que usava. - Não creio que vocês duas sejam bom exemplo para ela. Bem, vou atender os meus outros pacientes. 

O casal de estranhos permaneceu parado por alguns segundos, como duas estátuas, sem trocar uma palavra. Hannah moveu-se lenta como um zumbi para fora do hospital e Zayn a seguiu tão lento quanto a mesma. Os dois entraram no carro e mais alguns segundos constrangedores de silêncio. Zayn resolveu permitir a ela alguns minutos de respiração antes de dar partida. 

-Acha que sou egoísta por não deixá-la ir? 

-Se eu ao menos soubesse a história, poderia lhe dar minha opinião... que provavelmente não faria diferença nenhuma. - Ele disse balançando a cabeça.  

Depois de deixar Hannah na boate Zayn voltou para a casa do pai. Ainda estava intrigado com os acontecimentos anteriores. Aproveitou que não havia ninguém na casa e subiu para seu antigo quarto. Analisou cada mínimo detalhe, há muito tempo não entrava ali. Cada pequena coisa o fazia lembrar da infância. Até o som que a madeira fazia quando ele dava passadas lentas o fazia sentir-se nostálgico. Sentou-se na antiga cama e fechou os olhos. Quase podia ouvir a voz da mãe e conseguia enxergar a imagem desfocada da beleza dela na sua frente pronta para lhe oferecer colo. É triste como algumas memórias e desejos nos aprisionam, nos escravizam e matem parados no mesmo lugar. É difícil se livrar delas, beira o impossível. Esquecer é como travar uma batalha contra seu próprio corpo, uma tentativa desesperada de deixar de vestir a sua própria pele.  

Zayn ouviu doce de uma mulher gritar seu nome enquanto abria a porta. 

-Finalmente te vejo – Disse a mulher enchendo o rosto de Zayn de beijos. A imagem de sua mão se apagou  e ele sentiu um profundo desapontamento por isso. Mas se sentiu feliz com a presença daquela que era a imagem física e a dependência emocional da sua mãe.  

-Achei que você nunca mais voltaria a Inglaterra.  

-Reclame com o papai – Ele retrucou. - Ele que empurra trabalhos para mim.  

-O Harry me falou que você está fazendo faculdade. Ainda história, Zayn? 

-Nem fale isso aqui, seu pai fica bravo só de lembrar que o  herdeiro quer ser professor. - Ele disse. 

-Eu mesma achei que depois da infância esse sonho besta ia passar. - Ele respondeu intrigada. 

-Ah, você também não, nana! - Ele disse fazendo-a sorrir.  

-Sou a irmã mais feliz do mundo toda vez que você me chama assim. Que tal passear um pouco hoje a noite? - Ela perguntou animada. 

-Tenho outros planos para essa noite. -Imediatamente a imagem da doce garota ruiva veio a sua cabeça. - Mas prometo que nos meus próximos planos eu acho uma vaga pra te encaixar. 

                                                                             *** 

Zayn encarou seu reflexo no vidro do carro e pensou por alguns segundos antes de entrar na boate, mas decidiu por entrar. Apertou os olhos quando as luzes coloridas o atingiram. O lugar era o exemplo perfeito da promiscuidade, mas isso nem importava mais. Ele caminhou entre os homens e as mulheres e sentou-se uma das mesas. Observou Hannah caminhando por alguns minutos pela boate. Quando ela notou sua presença foi até ele. 

-Olha só quem gostou tanto da minha dança que voltou. - Hannah disse com um sorriso de canto. 

-Estava agora mesmo me perguntando por que você não está se apresentando. 

-Só nas sextas.  

-Então poderia dançar só pra mim de novo, que tal? 

-Ótima ideia. - Ela mordeu o lábio. Foi como se nada que eles viveram naquela manhã não existisse mais. Como se ela tivesse vestido uma fantasia de mulher promíscua e continuado a viver. Como se não houvesse fragilidade nem perigo em sua vida. 

Zayn lhe ofereceu o mesmo paletó e os dois voltaram para o hotel da noite anterior. Como se fosse reviver a mesma noite. Dessa vez Hannah entrou sem protestar. Ignorou os olhares de desaprovação e subiu para o quarto com o homem. 

Hannah sentou-se no colo do rapaz e alcançou seu rosto, seus lábios roçaram no pescoço do rapaz que se sentiu desconfortável por alguns segundos. Teve uma sensação de prazer esquisita com aquela garota em seu colo.  

-Algum pedido especial? - Ela perguntou, referindo-se a música. Zayn puxou o celular do bolso e ligou a primeira música da sua lista. - The Weeknd? – Hannah saiu do colo de Zayn arrastando o bumbum por sua perna como se fosse ímãs. Ela sabia exatamente como provocar desejo em um homem, mas não era nada muito diferente do que as outras garotas, profissionais ou não, tentavam para tirar o fôlego, mas nenhuma conseguia fazê-lo sentir-se em êxtase. Ele estava ansioso para vê-la tentando. Hannah retirou o sobretudo revelando a lingerie vermelha que ele havia visto mais cedo. Seu corpo se moveu lentamente de acordo com a música. Suas mãos deslizavam sobre seu próprio corpo desenhando todas as suas curvas. Ela o deixava intrigado tanto quanto ele a intrigava. Ele permaneceu sentado seguindo-a com o olhar enquanto seu corpo subia e descia no meio do cômodo. Hannah mordeu o lábio inferior, sentia-se atraída pelo mistério daquele homem. Sentia mais prazer em vê-lo ali parado do que ele sentia ao vê-la em um movimento desesperada em lhe chamar atenção. Zayn sentiu um enjoo súbito com a situação. Queria permanecer ali, queria vê-la, mas seu corpo lhe passava outra mensagem. Antes que a música terminasse ele foi em direção ao banheiro deixando Hannah sozinha no quarto até que o celular silenciasse. Hannah sentou-se na cama sentindo um certo desapontamento. Ouviu Zayn vomitar no banheiro. Poucos minutos depois ele voltou secando a boca carnuda com uma toalha branca, 

-Danço tão mal assim? - Perguntou com um sorriso de lado. 

-Pelo menos não vomitei em cima de você. Já é um progresso. 

-Isso acontece sempre? - Perguntou caminhando até ele. Zayn deu um passo para trás e sentiu uma irritação súbita formando-se dento de si.  

-Isso não é da sua conta. Eu pago. Eu faço as perguntas.