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História The Cursed Blood (O Sangue Amaldiçoado) - Pergunta sem Sentido


Escrita por: DropCandy

Capítulo 8 - Pergunta sem Sentido


[Mycaela]
 

Passei os dias seguintes mal humorada e ignorando Ezarel.

O que diabos ele queria de mim? Eu já tinha problemas demais para lidar, e não pretendia adicionar mais nenhum á lista.

E mesmo tentando deixar pra lá, eu ainda dormia pensando no desprezo de sua voz naquele dia e de seus olhos vítreos em mim.

"É você...".

Afinal, era eu o que?

 

Acordei assustada mais uma vez, olhando no relógio. Cinco da manhã.

Bufei e deitei de volta no travesseiro, fitando o teto na busca pela lembrança do pesadelo. E como sempre, a única coisa que restava era uma sensação agoniante no fundo do peito.

Revirei-me por um tempo, tendo o tic-tac dos ponteiros como única companhia, até que desisti de voltar a dormi e levantei, vestindo uma blusa quente e sai de casa, indo até o quintal e me sentei em frente ao portão, observando o céu mesclado, dia e noite brigando por seu espaço naquela imensidão, uma briga onde o Sol venceria dentro de alguns minutos.

–O que faz aqui? - a voz grave de Valkyon soou atrás de mim, sobressaltando-me. Ele veio e se sentou ao meu lado, uma blusa de moletom marrom por cima da regata branca.

–Você acorda cedo. - comentei ignorando sua pergunta e ele só deu de ombros.

Ficamos os dois em silêncio por um tempo, o vento frio da manhã preenchendo a falta de nossa conversa.

–Está tudo bem? - perguntou por fim.

Encolhi os ombros. Não, não estava tudo bem. Eu sentia falta de uma noite de sono por causa desses malditos pesadelos vindos do trauma que...

–Sim. - respondi interrompendo minha linha de pensamento antes que eu revisse aquelas lembranças, que não fariam nada além de me deixarem mal-humorada.

Valkyon me encarou de lado por um tempo, suspirando logo em seguida.

–Seu rosto não parece nada bem, mas se prefere assim...

Não respondi enquanto ele se levantava e tirava a sujeira da calça.

–Quer me ajudar nos treinos hoje? - perguntou e olhei para sua figura que erguia-se acima de mim, os braços cruzados.

Eu queria era passar algum tempo sozinha antes de ter que começar o dia, mas aceitei de imediato quando ele me estendeu a mão, ameaçando um sorriso para mim, e acabe sendo contagiada pela tentativa dele de melhorar meu humor.

Fomos para trás do prédio, aquele lugar que não se usava para nada a não ser guardar coisas velhas inutilizadas, mas que também não eram jogadas fora ou reaproveitadas.

Valkyon foi mais paciente do que eu teria sido comigo mesma, já que meus membros ainda estavam adormecidos e meu cérebro lento para acompanhar seus movimentos.

Perdi a conta de quantas vezes pedi desculpas por não estar conseguido fazer algum golpe direito.

–Quer parar para descansar? - perguntou depois que me curvei sobre os joelhos, arfando. Meu corpo parecia ter percorrido uma maratona enquanto lutava contra inimigos.

Assenti.

–Seria bom, estamos fazendo isso há muito tempo já. - deixei-me cair no chão e ele veio até mim, agachando-se a minha frente.

–Não faz nem trinta minutos que começamos.

Abri a boca para falar, mas não tinha o que dizer. Eu sabia que seria difícil recuperar o ritmo depois de tantos anos sem lutar, mas aquilo já era exagero.

Sem dizer nada, ele se levantou e foi até seu apartamento, deixando-me ali me perguntando se ele havia desistido de mim ou se eu também podia ir pra casa.

Alguns minutos depois ele voltou com um pano preto em mãos.

–Pra que isso?

Valkyon me ajudou a levantar sem se preocupar em responder, indo para trás de mim e passando o pano pelos meus olhos como venda.

–Teste de confiança.

Se pudesse o teria encarado confusa e assustada. Da última vez que fiz esse tipo de teste na escola, nunca mais confiei em ninguém.

–Olha, Valkyon, eu não...

Senti-o virando-me pelos ombros, provavelmente para ficar de frente para ele, e tive certeza de que estava pois senti os músculos de seu peito por baixo da camisa quando me apoiei para não tropeçar nos meus próprios pés.

–Vou te treinar usando os métodos com que EU treinei, deve funcionar melhor em você.

Estranhei a seriedade em sua voz, mas apenas assenti.

–Primeira lição: desviar. Vou te dizer o lado por onde vou te acertar e você apenas dê um jeito de esquivar.

Engoli em seco. Se um golpe de Valkyon me atingisse, meu esqueleto seria desmontado.

–Vamos começar. - avisou.

Respirei fundo, sabendo que não daria muito certo.

–Pela direita. - falou e quando estava pronta para proteger esse lado do corpo, escuto seus passos e o sinto vindo, na verdade, pela esquerda. Foi automático eu esquecer completamente do que ele havia dito e levantar minha guarda para a esquerda.

Como consequência, uma de suas mãos me agarrou á direita pela cintura e passou seus pés por trás dos meus; eu teria ido de encontro ao concreto se Valkyon não tivesse me segurado antes.

Desculpei-me constrangida. Aquilo seria mais difícil do que eu pensava.

–De novo. - ele disse e eu me posicionei, mais nervosa do que antes. Tentei colocar na cabeça que Valkyon era diferente dos outros, mas eu achava que Amanda fosse diferente também, e no fim...

–Esquerda. - ele falou tirando-me de meus pensamentos, mas mal recuperei o foco e o senti vindo por trás, e como ainda estava me lembrando do que não devia, acabei seguindo meus extintos e virei-me de costas, mas fiz isso exatamente quando ele ia realmente me atingir pela esquerda, e eu acabei tropeçando sabe-se lá onde, e teria caído se Valkyon não tivesse me envolvido em seus braços e servido como meu amortecedor.

–Me desculpe! - exclamei tirando a venda e me arrastando alguns centímetros para longe dele, constrangida mais do que eu imaginava ser possível.

–Tudo bem. - falou vagamente, também se sentando.

Ficamos assim, um de frente para o outro, encarando o chão, e me perguntei o que se passava em sua cabeça naqueles momentos em que ficava em silêncio.

–Alguma vez já sentiu como se não fosse desse mundo? .

Aquela pergunta estranha me fez olhar imediatamente para ele, sem conseguir imaginar onde ele queria chegar com aquilo.

Ele me encarou sério, então decidi levar aquela perguntar no mesmo tom.

Ponderei alguns instantes, procurando na memória algo que pudesse fazer sentido para aquela pergunta

"Já. " a resposta me passou pela cabeça "Várias vezes antes, quando eu era deixada de lado como..."

Cortei o pensamento e a lembrança junto, engolindo em seco.

–Acho que não. -respondi num fio de voz, a culpa me abatendo por ter que mentir á ele.

Senti seu olhar me atravessando, e esperei que não fosse fundo demais e visse as verdades.

Enquanto tentava retomar o controle pra esquecer essa culpa, não reparei em Valkyon se aproximando, colocando o rosto perto demais do meu.

–O-o que você está fazendo? - perguntei quando seus olhos se estreitaram, e me perguntei se eram realmente dourados ou ele que usava lentes.

–Castanho não é a cor de seus olhos, é? – ele perguntou e só me restou encará-lo confusa.

Alguns segundos se passaram com nada além da sua proximidade exagerada e silêncio.

–Mais uma vez, espero estar atrapalhando. – Nevra falou e levantei num pulo, o coração palpitando no peito.

Ele veio até mim antes mesmo de terminar de eu recuperar o equilíbrio e colocou um dos braços em meus ombros.

–Hey, Valkyon, tenho certeza de que não vai se importar de eu roubá-la de você, não é? - não esperou pela resposta e me puxou para fora dali.

–Nevra, para com isso! – quase gritei me livrando de seu abraço, indo pisando duro até a porta do meu apartamento.

–Olha, Micaela, eu só quero te mostrar uma coisa. – falou encostando-se no carro enquanto eu procurava nos bolsos a chave de casa. Minha mãe trancara quando saiu para trabalhar.

–Não, obrigada; não estou a fim de ver nada. – murmurei mal-humorada quando não consegui encontrar as chaves.

Detestava quando Nevra agia assim. Como meu dono. Por mais lindo que ele fosse. Esse tipo de atitude as vezes irritava.

–É isso aqui que está procurando? – falou rodando minhas chaves no dedo, sorrindo e olhando para outra direção, como se tudo aquilo fosse casual e divertido.

Mas não era.

Nem perguntei quando foi que ele as pegou de mim, apenas me voltei para ele e cruzei os braços.

–Devolva.

Olhou-me de lado sorrindo torto.

– Então venha comigo. – por mais que estivesse tentando me irritar, senti uma leve urgência em sua voz, para qual eu nem liguei; apenas me escorei na porta, emburrada.

–Vou ficar aqui até minha mãe chegar se for preciso, mas não vou... – interrompi-me com um grito quando Nevra me ergueu pelo abdômen e me jogou por cima de seu ombro como se eu fosse uma boneca de pano.

–Me coloca no chão. AGORA! – me esperneie, mesmo sabendo que corria o risco de derrubar os dois no chão, mas tudo o que ele fez foi inclinar um pouco o rosto.

–Nevra, você já a... – Ezarel apareceu desesperado pela porta, impedindo-se quando nos viu.

–Já estou a levando. Até mais.

Saiu comigo daquele jeito mesmo, e num último relance vi o olhar de Ezarel faiscar sobre ele antes de ir falar com Valkyon.


Notas Finais


<3


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